Afonso VI de Portugal: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 59:
 
===A Batalha da Linha de Elvas===
Mereceu D. Afonso o cognomeepíteto de ''O Vitorioso'', por no seu reinado [[Portugal]] ter vencido a [[Espanha]] em várias batalhas da [[Guerra da Restauração]]. Em dez anos, mais ou menos o tempo em que combateu o país vizinho, diz António Pereira de Figueiredo, que «alcançou tão grande nomeada, que ninguém se pode comparar com ele no número de vitórias e na glória que delas resultou». <ref name="História4"> FIGUEIREDO, António Pereira, ''[http://books.google.com/books?id=vX3Rumhai8UC&printsec=frontcover&dq=reis+de+portugal&as_brr=3&hl=pt-PT#PPA211,M1 Elogios dos reis de Portugal: em latim e em portuguez, illustrados de notas historicas e críticas]'', p. 211, 1785</ref>
 
Foram cinco as vezes em que os portugueses combateram os castelhanos durante o seu reinado, por ocasião da [[Guerra da Restauração]], sempre em menor número que os adversários. Logo no ínício do ano de 1657, a regente é informada pelo Conde de Soure que os espanhóis reunião tropas para invadir [[Portugal]] na [[Primavera]]<ref name="História8"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref> <ref> Carta à rainha D. Luísa de Gusmão, Elvas, 15 de Janeiro de 1657.</ref>. Pouco tempo depois André de Albuquerque, general português, precisa o local de ajuntamento das tropas: [[Badajoz]]. Constava ainda que o próprio monarca vizinho viria dirigir um poderoso exército a Mérida<ref> Carta à rainha D. Luísa de Gusmão, Elvas, 21 de Janeiro de 1657.</ref>. Substituído o [[conde de Soure]] no comando das operações militares nacionais no [[Alentejo]], é o [[conde de São Lourenço]] que se encarrega de tal tarefa<ref name="História10"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 44, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>.
[[Imagem:BLElvas 01.jpg|170px|left|thumb|Pedra comemorativa da [[Batalha das Linhas de Elvas]], 1659, com menção a D. Afonso VI.]]
Providencia a nomeação de capitães nas praças de [[Castelo de Vide]], [[Marvão]] e [[Vila Viçosa]] e chama reforços de [[Trás-os-Montes]], das [[Beiras]] e do [[Algarve]]. A zona do Guadiana é, em princípios do mês de Abril, dominada pelos espanhóis. Não resistiram as praças de [[Olivença]] e [[Mourão]]. Já em [[1658]], sabe-se então da pretenção das tropas de Filipe em ocupar [[Vila Viçosa]]. Eis que surge um dos grandes generais da Restauração, D. [[Sancho Manoel]], governador da Praça de Elvas. D. Luis de Haro e as suas tropas, de cerca de 20 mil homens e muita artilharia, cercam [[Elvas]], cerco este que se mantém durante três meses. Dentro das muralhas, resistiram os portugueses sob diário fogo de artilharia. Trezentos mortos por dia foi o resultado da [[peste]] que também se abateu sobre os [[militar]]es. Esperavam-se os reforços vindos de todo o país, comandados pelo [[conde de Cantanhede]], António Luís de Menzes, que não tardaram a chegar. A batalha era decisiva, pois estava em causa o controlo de [[Lisboa]]. É a [[14 de Janeiro]] de [[1659]] que se dá a batalha nos campos de Elvas, tendo vencido os portugueses. D. Sancho recebe em troca da sua valentia em Elvas, o título de [[Conde de Vila Flor]]. Porém, a [[batalha]] - viriam os portugueses a perceber mais tarde - não foi definitiva, pois o [[Tratado dos Pirinéus]] deixa a Espanha sem outros encargos militares.<ref name="História11"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 46, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>
 
Porém, a [[batalha]] - viriam os portugueses a saber mais tarde - não foi definitiva, pois o [[Tratado dos Pirinéus]] deixa a Espanha sem outros encargos militares.<ref name="História11"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 46, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>
 
{{quote2|''(...) em breve, o Rei voltaria a sentir os efeitos de uma ameaça, porventura mais grave.|Joaquim Veríssimo Serrão.}}
 
Antes, todavia, deflagra uma crise política no sei da corte, que opõe D. Luísa a D. Afonso, mãe e filho, pelas rédeas do Poder. A rainha chegou a encarar a hipótese de o infante D. Pedro, seu 3º filho, vir a ser jurado herdeiro do trono, para o que recebeu a Casa do Infantado, ainda no tempo de D. João. Mas tendo falhado o golpe palaciano de 1662, que visava o desterro de António Conti no [[Brasil]] ou, talvez mesmo, a prisão do monarca, abriu-se o processo que levou ao termo da regência em [[23 de Junho]] de [[1662]], à entrega do poder efectivo ao rei.
 
===Tensão entre mãe e filho e o fim da regência===
No ano de [[1663]] ocorreu em Lisboa um perigoso motim perante a perda de [[Évora]] e de outras terras [[Alentejo|alentejanas]], que desassossegou a corte. Sucede-se então, no mesmo ano, a [[Batalha do Ameixial|terceira batalha]] deste reinado, no [[Ameixial]], junto a [[Extremoz]], comandada por D. [[Sancho Manoel]].<ref name="História5"> TOSCANO, Francisco Soares, ''[http://books.google.com/books?id=nedHAAAAMAAJ&pg=PA3&dq=Sancho+Manoel&as_brr=3&hl=pt-PT#PRA2-PA380,M1 Parallelos de principes]'', p. 380, 1733</ref>
 
[[Imagem:Frederick Schomberg.jpg|thumb|left|130px|O estratega alemão, [[Armando Frederico|Frederico, conde e duque de Schomberg]], que apoiou militarmente as campanhas de Afonso VI contra a [[Espanha]].]]
{{Quote2|(...) D.Sancho Manoel depois Conde de Villa Flor ganhou huma grande ventagem [...], e na batalha do Ameixial em que D. João de Austria ficou inteiramente derrotado, e restaurando Évora, e outras Pracas se sossegou Lisboa, e assegurou a Monarquia.|Francisco Soares Toscano <ref name="História5"> TOSCANO, Francisco Soares, ''[http://books.google.com/books?id=nedHAAAAMAAJ&pg=PA3&dq=Sancho+Manoel&as_brr=3&hl=pt-PT#PRA2-PA380,M1 Parallelos de principes]'', p. 380, 1733</ref>}}
 
A quarta batalha travada foi a de [[Batalha de Castelo Rodrigo|Castelo Rodrigo]], também em [[1663]], comandada por Pedro Jacques de Magalhães, e a quinta a de [[Batalha de Montes Claros|Montes Claros]], cujo comando coube ao terceiro [[conde de Cantanhede]], D. [[António Luís de Meneses]], depois [[Marquês de Marialva]]. Porém, as vitórias levadas a cabo desde [[1660]] foram amparadas por um estratega alemão, o [[Armando Frederico|Conde de Schomberg]], contratado naquele ano pelo [[conde de Soure]].
 
A rainha chegou a encarar a hipótese de o infante D. Pedro, seu 3º filho, vir a ser jurado herdeiro do trono, para o que recebeu a Casa do Infantado, ainda no tempo de D. João. Mas tendo falhado o golpe palaciano de 1662, que visava o desterro de António Conti no [[Brasil]] ou, talvez mesmo, a prisão do monarca, abriu-se o processo que levou ao termo da regência em [[23 de Junho]] de [[1662]], à entrega do poder efectivo ao rei.
 
===Alcance do Poder efectivo===
{{Casa de Bragança - Descendência}}
Foi a regente quem nomeou os condes de Castelo Melhor e Atouguia como aios do jovem monarca, mas essa nomeção iria voltar-se contra as suas pretensões e afastá-la definitivamente do poder do reino.
Linha 90 ⟶ 79:
O golpe palaciano que a depôs é assim descrito:
{{quote2|''O conde de Castelo Melhor, auxiliado por alguns fidalgos, conseguiu que o monarca saísse para Alcântara, e daí fizesse saber a sua mãe que resolvera assumir o poder. A rainha tentou resistir por boas razões e conselhos, porém nada conseguiu, porque o [[conde de Castelo Melhor]], disposto a subir ao poder, não desistia por caso algum. A [[29 de Junho]] de [[1662]], el-rei assumiu definitivamente o governo do reino, ou antes, em seu nome o conde de Castelo Melhor, que se fez nomear escrivão da puridade. O conde empregou sua astúcia em afastar de junto do rei as pessoas que podiam ofuscar-lhe o seu valimento; até conseguiu que a própria rainha se afastasse, acolhendo-se ao convento do Grilo. É certo porém, que se o conde se serviu de meios nem sempre dignos para subir ao poder, mostrou-se digníssimo em exercê-lo. O reinado de D. Afonso VI deveu-lhe a glória que o iluminou, e o inepto soberano pôde alcançar na história o epíteto de ''o vitorioso''.''}}
 
===O conde de Castelo Melhor===
D. [[Luís de Vasconcelos e Sousa]], terceiro [[conde de Castelo Melhor]], com apenas 26 anos vivera exilado em [[França]] durante dois anos, devido a suspeitas do seu envolvimento na morte do [[conde de Vimioso]]. Quando regressa a Portugal, combate em defesa do [[Minho]], ficando ferido com gravidade. Retornado à corte, recebe em [[1659]] o ofício de reposteiro-mor do Paço, em já em [[1662]] exercia funções de camareiro de serviço, estando constantemente em contacto com as figuras régias e a família real, o que o tornava uma das personalidades mais distintas na corte portuguesa<ref name="História13"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 48, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref> Hoje equivaleria às funções de um Primeiro-Ministro.. Terá encabeçado o golpe que destituiu a regente, e colocou o soberano à cabeça do poder do reino, juntamente com o Conde de Atouguia e outros fidalgos de nobreza média. Todos veriam no rei um espaço para a sua ascensão social e política.
 
Após a crise de 1662 que lhe concede o poder efectivo, D. Afonso VI logo reconheceu os préstimos do conde D. Luís ao nomeá-lo criado de escrivão da puridade, fiando-lhe «os maiores negócios do reino»<ref>Carta patente de 21 de Julho de 1662, J. J. Andrade e Silva, Collecção Chronologica de Legislação Portugueza (1657-1674), pp. 76-77.</ref> Este cargo, ao longo da segunda disnatia, tinha sido quase sempre destinado ao funcionário régio de maior confiança.<ref name="História13"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 48, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref> Hoje equivaleria às funções de um Primeiro-Ministro.<ref>Conde de Tovar, «O escrivão da Puridade», in Estudos Históricos, vol. 6, t. III, Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1961.</ref> Portanto, com este ofício, à mercê da centralização do poder que a [[Restauração]] impunha, era-lhe confiada a máquina de administração pública. <ref name="História13"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 48, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref> Hoje equivaleria às funções de um Primeiro-Ministro.
 
Se o reino usufruiu da eficiente regência de D. [[Luísa de Gusmão]], também nada perdeu com a troca, pois D. Luís, aos comandos da administração pública demonstrou a garra de um verdadeiro estadista, como refere Veríssimo Serrão. Essa firmeza política demonstrou-a na condução das grandes batalhas que se seguiriam à tomada de posse de D. Afonso.
 
===As grandes batalhas===
 
«Depois de Afonso VI tomar posse da governação de Estado, D. [[João de Áustria]], filho bastardo do rei de Castela, invadiu o Alentejo, tomou Évora, e chegou quase às portas de Lisboa. O conde de Castelo Melhor tratou de organizar importantes forças para repelirem esta invasão, colocando à frente dessas forças D. Sancho Manuel, [[conde de Vila Flor]], e o conde de Schomberg. Seguiu-se uma série de combates a de vitórias; a reconquista de Évora, a tomada de Assumar, Ouguela, Veiros, Monforte, Crato e Borba; Figueira de Castelo Rodrigo, Ameixial, batalha que se deu em [[1663]], em que muito se distinguiram os generais marquês de Marialva, e conde de Schomberg. A decadência de Portugal era inevitável, com um rei tão fraco que tudo sacrificava à quietação do espírito e às suas comodidades. Nas colónias ainda essa decadência mais se pronunciava. As complicações da Índia, a aliança da Inglaterra, com o casamento da infanta D. [[Catarina de Bragança]], filha de D. João IV, com o rei de Inglaterra, Carlos II, que levou em dote duas praças, Bombaim e Tânger, a tomada, pelos holandeses, de Ceilão, Cranganor, Negapatam, Cochim, Coulam, e Cananor, as negociações a que foi indispensável entrar com eles e a traição do [[duque de Aveiro]] e de D. Fernando Teles de Faro. A campanha contra os espanhóis, terminou por assim dizer, com a batalha de Montes Claros, ganha pelo marquês de Marialva e o conde de Schomberg. Depois desta batalha, só houve escaramuças a guerras de fronteira. Os espanhóis, já cansados de tanto lutar, começaram a tratar da paz, que o conde de Castelo Melhor só queria aceitar com as condições a que nos dava direito a nossa constante supremacia militar. Assim o conde exigia que a Espanha nos cedesse uma porção do seu próprio território, queria a Galiza, e com certeza o conseguiria, se as intrigas da corte o não houvessem precipitado do poder.»
 
No ano de [[1663]] ocorreu em Lisboa um perigoso motim perante a perda de [[Évora]] e de outras terras [[Alentejo|alentejanas]], que desassossegou a corte. Sucede-se então, no mesmo ano, a [[Batalha do Ameixial|terceira batalha]] deste reinado, no [[Ameixial]], junto a [[Extremoz]], comandada por D. [[Sancho Manoel]].<ref name="História5"> TOSCANO, Francisco Soares, ''[http://books.google.com/books?id=nedHAAAAMAAJ&pg=PA3&dq=Sancho+Manoel&as_brr=3&hl=pt-PT#PRA2-PA380,M1 Parallelos de principes]'', p. 380, 1733</ref>
 
[[Imagem:Frederick Schomberg.jpg|thumb|left|130px|O estratega alemão, [[Armando Frederico|Frederico, conde e duque de Schomberg]], que apoiou militarmente as campanhas de Afonso VI contra a [[Espanha]].]]
{{Quote2|(...) D.Sancho Manoel depois Conde de Villa Flor ganhou huma grande ventagem [...], e na batalha do Ameixial em que D. João de Austria ficou inteiramente derrotado, e restaurando Évora, e outras Pracas se sossegou Lisboa, e assegurou a Monarquia.|Francisco Soares Toscano <ref name="História5"> TOSCANO, Francisco Soares, ''[http://books.google.com/books?id=nedHAAAAMAAJ&pg=PA3&dq=Sancho+Manoel&as_brr=3&hl=pt-PT#PRA2-PA380,M1 Parallelos de principes]'', p. 380, 1733</ref>}}
 
A quarta batalha travada foi a de [[Batalha de Castelo Rodrigo|Castelo Rodrigo]], também em [[1663]], comandada por Pedro Jacques de Magalhães, e a quinta a de [[Batalha de Montes Claros|Montes Claros]], cujo comando coube ao terceiro [[conde de Cantanhede]], D. [[António Luís de Meneses]], depois [[Marquês de Marialva]]. Porém, as vitórias levadas a cabo desde [[1660]] foram amparadas por um estratega alemão, o [[Armando Frederico|Conde de Schomberg]], contratado naquele ano pelo [[conde de Soure]].
 
Grupos palacianos se aproveitaram da situação. Um grupo de nobres que incluía também o [[marquês de Marialva]], o [[conde de Sarzedas]], o [[conde de Vila Flor]], conseguiu derrubar o [[conde de Castelo Melhor]]. A [[27 de Outubro]] a Câmara de Lisboa pediu a convocação imediata das Cortes, enquanto Castelo Melhor se exilava num mosteiro de arrábidos perto de [[Torres Vedras]], exilando-se depois nas cortes de [[Sabóia]], [[França]] e da [[Inglaterra]] (sua situação só se desanuviou depois da morte da Rainha em [[1683]]). A Rainha deixou o Paço em 21 de Novembro, recolhendo-se ao convento da Esperança em clausura com suas damas e oficiais, no que se considerou grande escândalo.