Apoteose: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Removendo "Symmachus_apotheosis_diptych.jpg", por ter sido apagado no Commons por Lupo: Per commons:Commons:Deletion_requests/Image:Symmachi_diptych.jpg
MauritsBot (discussão | contribs)
m Bot: Modificando: zh:神化; mudanças triviais
Linha 1:
 
A '''apoteose''' consiste em elevar alguém ao estatudo de [[divindade]], ou seja, endeusar ou deificar uma pessoa devido a alguma circunstância excepcional. No mundo antigo esta circunstância era geralmente considerada para os heróis.
 
Linha 6 ⟶ 5:
O termo apoteose remete para o tema da divindade e tem duas acepções principais: uma ligada à [[Roma Antiga|civilização romana]] ou civilizações anteriores, e outra que constituiu o seu prolongamento para o domínio da [[história da arte]].
 
== Apoteose antiga ==
=== Antigo Egito ===
Antes do período helenístico, o culto imperial era exercido no [[Antigo Egito]] (aos faraós) e na [[Mesopotâmia]]. A partir do [[Império Novo]], todos os faraós falecidos foram deificados como [[Osíris]].
 
=== Grécia Antiga ===
Na [[Grécia Antiga]], e pelo menos desde o chamado [[período geométrico]] no século IX a.C. os heróis há muito falecidos estavam ligados a mitos fundadores das cidades gregas sendo-lhes prestados cultos [[ctónico]]s nos seus [[heroon]], os templos dedicados aos heróis.
 
No mundo grego, o primeiro líder a dar a si próprio honras divinas foi [[Filipe II da Macedónia]], que era um príncipe, quando os gregos já tinham afastado as monarquias, e que tinha extensas ligações económicas e militares, embora por vezes antagonísticas, com a [[Aqueménidas|Pérsia Aqueménida]], onde os reis eram divinos. No seu quinto casamento a imagem de Filipe entronizado foi levada em procissão entre os deus do Olimpo. "O seu exemplo em Aigai tornou-se um hábito, passado aos reis da Macedónia que mais tarde seriam venerados na Ásia Grega e daí para Júlio César e para os imperadores de Roma"<ref>Robin Lan Fox, ''Alexander the Great'' (1973:20)</ref> Estes líderes helenísticos poderiam ser elevados a um estatuto igual ao dos deuses antes da sua morte (como, por exemplo, [[Alexandre, o Grande]]) ou depois (por exemplo, os membros da [[dinastia ptolemaica]]). O culto aos heróis similar à apoteose era também uma honra concedida a alguns artistas do passado distante, como [[Homer]].
 
=== Roma Antiga ===
A apoteose na [[Roma Antiga]] era um [[funeral|rito funerário]] da [[Religião na Roma Antiga|religião romana]], porventura o mais honorífico, e que elevava o defunto à categoria dos deuses. A apoteose era marcada pelo voo de uma águia desde o leito fúnebre até à morada celeste dos deuses. O defunto recebia o qualificativo de ''divinus'' (divino). [[Júlio César]] foi o primeiro a receber a apoteose segundo a decisão do [[Senado romano]]. O Senado decidiu aplicar a apoteose para a maior parte dos seus sucessores, incluindo [[Constantino I]] e o seu filho [[Constâncio II]].
 
=== Antiga China ===
O épico da [[dinastia Ming]] ''[[Fengshen Yanyi|Investidura dos Deuses]]'' inclui muitas lendas de deificação. Vários mortais foram deificados no panteão [[Daoismo|daoista]], tais como [[Guan Yu]], [[Iron-crutch Li]] e [[Fan Kuai]]. O general [[Yue Fei]] da época da [[dinastia Song]] foi deificado durante a dinastia Ming e é considerado ser um dos três generais de mais alto posto no exército celestial.<ref>Liu, James T. C. "Yueh Fei (1103-41) and China's Heritage of Loyalty." ''The Journal of Asian Studies''. Vol. 31, No. 2 (Feb., 1972), pp. 291-297, pg. 296
</ref><ref>Wong, Eva. ''The Shambhala Guide to Taoism''. Shambhala, 1996 (ISBN 15706216911-57062-169-1), p. 162</ref>
 
=== No Cristianismo ===
A teologia cristã tradicionalmente faz uma distinção entre [[teose]] e [[apoteose]]. A fé ortodoxa vê [[Jesus Cristo]] como uma deidade pré-existente que tomou existência mortal, e não como um mortal que atingiu a divindade (ver [[arianismo]]). Em relação aos seres humanos, a teologia mística da [[Igreja Ortodoxa Oriental]] descreve a situação como "theosis": os seres humanos entram na vida divina da Trindade através de Jesus Cristo.
 
== Tema artístico ==
=== Pintura e escultura ===
[[ImagemFicheiro:Anne-Louis Girodet-Trioson 001.jpg|thumb||250px|Apoteose dos soldados franceses caídos na guerra (por [[Anne-Louis Girodet]], inícios do [[século XIX]]).]]
A apoteose na história da arte constitui um tema iconográfico (usado na escultura e também na pintura) onde é representada a recepção de uma personagem principal entre os [[divindade|deuses]], no domínio celestial ou no [[panteão]] da civilização em que se enquadre.
 
Linha 34 ⟶ 33:
A apoteose é a suprema glorificação para a figura representada. Enquanto [[encenação do poder político]], o [[Palazzo Vecchio]] de [[Florença]] apresenta uma impressionante apoteose do seu soberano, o Grão-Duque de Médicis, na Sala dos Quinhentos, no [[tecto]]; o [[tondo]] central representa-o em majestade com todos os brasões das cidades conquistadas, e as armas heráldicas da família Médicis; um anjo entrega-lhe o seu ceptro, e outro coloca-lhe uma coroa sobre a cabeça.
 
[[ImagemFicheiro:Firenze.PalVecchio.500.ceiling.JPG|thumb|left|O tondo do Palazzo Vecchio de Florença, no centro do plafond da sala de armas]]
O visitante deve levantar a cabeça para o alto para ver esta pintura que está mais de oito metros acima de si: é a apoteose do Grão-Duque.
 
Linha 43 ⟶ 42:
Muitos líderes modernos exploraram as imagens artísticas se não mesmo a teologia apoteótica. Exemplos disto são as figurações de [[Jaime I de Inglaterra]] por [[Rubens]] na "Banqueting House" (uma expressão do divino direito dos reis) ou de [[Henrique IV de França]], ou Appiani e a sua apoteose de [[Napoleão Bonaparte]]. O termo é usado figurativamente para se referir à elevação de um líder morto, frequentemente assassinado ou martirizado) para o estatuto de figura super-humana carismática e à remoção de todas as faltas ou controvérsias que estiveram a si ligadas em vida - por exemplo, [[Abraham Lincoln]] nos Estados Unidos, [[Yitzchak Rabin]] em Israel, ou, num plano diferente, [[Kim Jong-il]] e [[Kim Il-sung]] na Coreia do Norte.
 
=== Música ===
O termo ''apoteose'' na música refere-se ao surgimento de um tema de forma majestosa ou exaltada. Representa o equivalente musical do género apoteótico nas artes visuais, especialmente onde o tema está ligado de algum modo a personagens históricas ou caracteres dramáticos. Ao coroar uma cena musical a apoteose funciona como uma [[peroração]], ou seja, a utilização de um desfecho forte para impressionar o auditório, seguindo uma analogia com a arte da [[retórica]].
 
Os momentos de apoteose são abundantes na música, e a própria palavra surge por vezes. [[Hector Berlioz]] usou-a como título para o andamento final da sua ''Grande symphonie funèbre et triomphale'', um trabalho composto em [[1846]] para a dedicação do monumento aos mortos da França nas guerras. O compositor checo [[Karel Husa]], preocupado em 1970 com a proliferação de armas e a deterioração do meio ambiente, chamou ao seu responso musical ''Apoteose desta Terra''.
 
=== Literatura ===
[[Joseph Campbell]], no seu livro ''[[The Hero With a Thousand Faces]]'', escreve que o Herói Universal do [[monomito]] deverá passar por um estado de apoteose. De acordo com Campbell, a apoteose é a expansão da consciência de que o herói terá experiência após derrotar o seu inimigo.
 
Linha 58 ⟶ 57:
Embora esta prática possa parecer estranha ou mesmo ridícula aos olhos do observador actual, convém relembrar que a apoteose era um meio de glorificar o poder; esta demanda artística perpétua, com a associação ao poder temporal, à classe política e à religião, prestou-se a servir os senhores do poder temporal.
 
== Ver também ==
* [[Culto da personalidade]]
{{Commons|Apotheosis|apoteose}}
 
== Bibliografia ==
* Arthur E.R. Boak, "The Theoretical Basis of the Deification of Rulers in Antiquity", in: Classical Journal vol. 11, 1916, pp. 293-297.
* Franz Bömer, "Ahnenkult und Ahnenglaube im alten Rom", Leipzig 1943.
Linha 71 ⟶ 70:
* Stephen King "The Dark Tower: The Gunslinger
 
=== Referências ===
{{reflist}}
 
Linha 96 ⟶ 95:
[[tr:Apotheosis]]
[[uk:Апофеоз]]
[[zh:運動]]