Ordem equestre: diferenças entre revisões
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m "manteram" não existe em português. |
|||
Linha 1:
[[
A '''Ordem Equestre Romana''' (''ordo equester'') formava a mais baixa das duas classes [[aristocrcia|aristocráticas]] da [[Roma antiga]], estando abaixo da [[Senado romano|Ordem Senatorial]] (''ordo senatorius''). Um membro desta ordem era conhecido como um ''eques'' (plural: ''equites''), que em [[latim]] significa qualquer pessoa a cavalo (''equus''), mas neste contexto tem o significado específico de "cavaleiro". Os cavaleiros proviam os oficiais veteranos e muita da cavalaria das legiões manipulares até [[88 a.C.]], quando a cavalaria legionária foi abolida. No período tardio da [[República de Roma|República]], os [[Senado romano|Senadores]] e os seus filhos tornaram-se numa elite não-oficial dentro da ordem dos cavaleiros.
Linha 5:
Sob o fundador do [[Império Romano]], [[Augusto]], a elite senatorial foi constituída como uma ordem separada e com estatuto e privilégios superiores aos cavaleiros. As duas ordens aristocráticas, compostas principalmente por Italianos, dominavam os postos administrativos e militares mais altos no governo imperial até ao [[século III]]. Nesse século, o poder mudou para uma secção dos cavaleiros que incluía oficiais com carreira militar e que tomaram o lugar dos aristocratas Italianos.
==
De acordo com a lenda Romana, Roma foi fundada pelo seu primeiro rei, [[Rómulo]], em [[753 a.C.]] Contudo, provas arqueológicas sugerem que Roma não era uma cidade-estado unida até 625 AC.<ref>Cornell (1995) 94, 102</ref> Segundo o historiador Romano [[Tito Lívio]], Rómulo estabeleceu um regimento de cavalaria de 300 homens chamados ''[[Celeres]]'' ("Céleres") para agirem como a sua escolta pessoal, e cada uma das três tribos originais de Roma (os Ramnes, Tities e Luceres) deu uma ''centuria'', ou seja, um grupo de 100 homens, e mais 1000 para fazerem de infantaria do exército.<ref>Lívio I.15, 36</ref> Este regimento de cavalaria foi supostamente redobrado para 600 homens pelo rei [[Tarquínio Prisco]] (datas convencionais de 616-578 a.C.).<ref>Lívio I.36</ref> P. Fraccaro interpreta as reformas Sérvias feitas ao exército como sugerindo que sob o rei [[Sérvio Túlio]] (r. 578-535 a.C.), a infantaria [[hoplita]] (com armadura) foi também redobrada em tamanho para uma única [[Legião romana|legião]] de 6,000, que, juntamente com 2,400 ''[[velites]]'' (infantaria sem armadura) e cavalaria de 600 homens faz um total de 9 000 ''iuniores'' (homens entre os 16 e 45 anos).<ref>Cornell (1995) 181-2</ref> Até recentemente, a teoria de Fraccaro não era muito aceite porque a teoria dominante dos anos
Uma questão importante é se a cavalaria real vinha exclusivamente dos [[Patrícios]] (''patricii''), a aristocracia da Roma antiga que era puramente hereditária.<ref>Cornell (1995) 245</ref> Esta é a opinião da maioria dos historiadores, a começar com [[Mommsen]]. Áparte da associação tradicional da aristocracia com cavalos, as provas para esta opinião é o facto que, durante a República, 6 ''centuriae'' de equites na ''[[comitia centuriata]]'' (assembleia eleitoral) mantiveram os nomes das 6 ''centuriae'' reais originais.<ref
▲De acordo com a lenda Romana, Roma foi fundada pelo seu primeiro rei, [[Rómulo]], em [[753 a.C.]] Contudo, provas arqueológicas sugerem que Roma não era uma cidade-estado unida até 625 AC.<ref>Cornell (1995) 94, 102</ref> Segundo o historiador Romano [[Tito Lívio]], Rómulo estabeleceu um regimento de cavalaria de 300 homens chamados ''[[Celeres]]'' ("Céleres") para agirem como a sua escolta pessoal, e cada uma das três tribos originais de Roma (os Ramnes, Tities e Luceres) deu uma ''centuria'', ou seja, um grupo de 100 homens, e mais 1000 para fazerem de infantaria do exército.<ref>Lívio I.15, 36</ref> Este regimento de cavalaria foi supostamente redobrado para 600 homens pelo rei [[Tarquínio Prisco]] (datas convencionais de 616-578 a.C.).<ref>Lívio I.36</ref> P. Fraccaro interpreta as reformas Sérvias feitas ao exército como sugerindo que sob o rei [[Sérvio Túlio]] (r. 578-535 a.C.), a infantaria [[hoplita]] (com armadura) foi também redobrada em tamanho para uma única [[Legião romana|legião]] de 6,000, que, juntamente com 2,400 ''[[velites]]'' (infantaria sem armadura) e cavalaria de 600 homens faz um total de 9 000 ''iuniores'' (homens entre os 16 e 45 anos).<ref>Cornell (1995) 181-2</ref> Até recentemente, a teoria de Fraccaro não era muito aceite porque a teoria dominante dos anos 60 era a de [[A. Alfoldi]], que dizia que Roma era um acampamento insignificante até [[500 a.C.]] e não podia ter tido um exército tão poderoso (ou cavalaria) na era real.<ref>Cornell (1995) 209</ref> Mas arqueologia recente estabeleceu que Roma era uma das maiores cidades na região do Mediterrâneo no período de 625-[[500 a.C.]] Com uma população estimada de 35 000 habitantes, uma soma militar de 9 000 é plausível.<ref>Cornell (1995) 204-7</ref> Segundo Lívio, Sérvio Túlio também criou mais 12 ''centuriae'' de cavalaria.<ref>Lívio I.43</ref> Mas isto é improvável, visto que acrescentar a cavalaria para 1800 cavalos era demasiado, quando comparado com uma infantaria de 8 400 homens (na Itália peninsular, a cavalaria normalmente constituía cerca de 8% de um exército).<ref>Baseado em números em Políbio II.24</ref>. Isto é confirmado pelo facto que no início da República, a cavalaria continuou a ser feita por 600 pessoas (2 legiões com 300 cavalos cada uma).<ref>Cornell (1995) 193</ref> Aparentemente, os cavaleiros recebiam dinheiro do estado para comprar um cavalo para o serviço militar e comida para o animal. Isto era conhecido como um ''equus publicus''.<ref>Lívio I.43</ref>
▲Uma questão importante é se a cavalaria real vinha exclusivamente dos [[Patrícios]] (''patricii''), a aristocracia da Roma antiga que era puramente hereditária.<ref>Cornell (1995) 245</ref>Esta é a opinião da maioria dos historiadores, a começar com [[Mommsen]]. Áparte da associação tradicional da aristocracia com cavalos, as provas para esta opinião é o facto que, durante a República, 6 ''centuriae'' de equites na ''[[comitia centuriata]]'' (assembleia eleitoral) mantiveram os nomes das 6 ''centuriae'' reais originais.<ref>Lívio I.43</ref> Estas são provavelmente as ''centuriae'' de nobres patrícios na ''comitia'' mencioned pelo lexicologista [[Festus]]. Se esta hipótese estiver correcta, implica que a cavalaria era exclusivamente patrícia (e portanto hereditária) no período real.<ref>Cornell (1995) 250 (apesar de Cornell considerar as provas como sendo talvez insuficientes)</ref>
== Inícios da República (509 - 338 a.C.) ==▼
É normalmente aceite que a monarquia Romana foi abolida por um golpe de estado patrício, provavelmente provocado pelas medidas populistas a favor da classe plebeia feitas pelo governo monárquico. De facto, Alfoldi sugere que o golpe foi feito pelos próprios ''Celeres''.<ref>Cornell (1995) 238, 446 note 32</ref> De acordo com a interpretação de Fraccaro, quando a monarquia Romana foi substituída por dois ''praetores'' (mais tarde chamados cônsules) eleitos anualmente, o exército real foi dividido igualmente entre eles para as suas respectivas campanhas, e se isto for verdade, então explica porque é que mais tarde Políbio diz que uma das legiões de cavalaria tinha 300 homens.<ref>Cornell (1995) 182</ref>
A algum ponto nos inícios da República, uma reforma constitucional importante foi introduzida, chamada organização centuriada Sérvia. Apesar de ser atribuída ao rei Sérvio Túlio, é geralmente aceite que foi feita mais tarde. Cornell sugere que foi introduzida em [[406 a.C.]], acompanhada pela introdução de pagamento por serviço militar para recompensar os soldados pelo tempo longe dos campos deles.<ref>Cornell (1995) 193</ref> Para os propósitos de actividade eleitoral e taxação, o corpo de
Em [[403 a.C.]], de acordo com Lívio, numa crise durante o cerco de [[Veii]], o exército precisava urgentemente de mais cavalaria, e "aqueles que possuíssem estatuto esquestre mas não tinham cavalos públicos" voluntariaram-se para pagar pelos seus cavalos do seu próprio bolso. Como compensação, pagamento para o serviço de cavalaria foi introduzido, como já tinha sido para a infantaria (em 406 a.C.).<ref>Lívio V.7</ref> Este incidente parece ter sido o início do ''equites equo privato'', que, estando abaixo da classe ''equo
Segundo o historiador Grego [[Políbio]], cujas ''Histórias'' (escritas ca. [[140 a.C.]]) são o maior relato antigo da República, a cavalaria Romana originalmente não tinha armadura, usando apenas uma túnica e estando armados com uma lança leve e escudo de couro de má qualidade que se deterioravam depressa em acção.
==
O período a seguir ao fim da [[Guerras Latinas|Guerra Latina]] (340-338 a.C.) e das [[Guerras Samnitas]] (343-290) viu a transformação da República Romana de uma cidade-estado poderosa mas cercada, no poder hegemónico da península Itálica. Isto foi acompanhado por profundas mudanças na sua constituição e no exército. Internamente, o desenvolvimento crítico foi o papel do [[Senado romano|Senado]] como o órgão omnipotente do estado. Em 280 a.C., o Senado tinha assumido o controlo total da taxação do estado, quanto gastavam, declarações de guerra, tratados, do recrutameto de legiões, da criação de colónias e de assuntos religiosos. Noutras palavras, tudo estava sob a sua
A batalha exaustiva pela hegemonia Italiana que Roma lutou contra a Liga Samnita resultou na transformação do exército Romano de uma [[Falange (infantaria)|falange]] [[hoplita]] de estilo Grego para o exército manipular Italiano descrito por Políbio. Acredita-se que os Romanos copiaram essa formação dos Samnitas, aprendendo através de experiência própria o quão eficaz era esta estrutura no terreno montanhoso da Itália central.<ref name="Cornell 1995 354">Cornell (1995) 354</ref> Foi também a partir deste período que cada exército romano em acção fosse acompanhado por pelo menos o mesmo número de tropas dadas pelos ''socii'' (aliados latinos).<ref>Cornell (1995) 366</ref> Cada legião devia ter uma ''ala'' confederada, uma formação que continha mais ou menos o mesmo número de infantaria que uma legião, mas três vezes mais cavalos (900).<ref>Políbio VI.26</ref> ▼
▲=== Transformação do estado e do exército (338 - 290) ===
A cavalaria legionária provavelmente também mudou neste período, e passou de cavaleiros leves sem armadura para os couraceiros de estilo Grego descritos por Políbio.<ref>Políbio VI.25</ref> Há provas para isto num dos murais das tumbas de Paestum na Lucânia (ca. 350-300 a.C.), um dos quais mostra um cavaleiro Samnita, usando uma variante de um elmo de estilo Coríntio e armadura de bronze.<ref>Reproduzido em Goldsworthy (2003) 19</ref> Visto que os Romanos estavam em guerra com os Samnitas, é provável que tenham querido estar tão tecnologicamente avançados como eles, especialmente porque, nas palavras de Políbio, "nenhum povo tem mais vontade [do que os Romanos] de adoptar novos costumes e de adoptar o que eles vêm que é feito melhor por outros.".<ref>Políbio VI.25</ref> Como resultado das hostilidades Samnitas, um exército consular normal foi redobrado em tamanho para 2 legiões, fazendo 4 legiões anualmente. A cavalaria romana foi então aumentada para cerca de 1,200 cavalos.<ref
▲O período a seguir ao fim da [[Guerras Latinas|Guerra Latina]] (340-338 a.C.) e das [[Guerras Samnitas]] (343-290) viu a transformação da República Romana de uma cidade-estado poderosa mas cercada, no poder hegemónico da península Itálica. Isto foi acompanhado por profundas mudanças na sua constituição e no exército. Internamente, o desenvolvimento crítico foi o papel do [[Senado romano|Senado]] como o órgão omnipotente do estado. Em 280 a.C., o Senado tinha assumido o controlo total da taxação do estado, quanto gastavam, declarações de guerra, tratados, do recrutameto de legiões, da criação de colónias e de assuntos religiosos. Noutras palavras, tudo estava sob a sua juridição. De um grupo ''ad hoc'' de conselheiros nomeados pelos Cônsules, o Senado tinha-se tornado numa instituição permanente de cerca de 300 membros vitalícios que, como ex-oficiais executivos, se gabava de uma enorme experiência e influência.<ref>Cornell (1995) 369</ref> Ao mesmo tempo, a união política da nação [[Latinos|Latina]] sob o governo Romano depois de 338 a.C deu a Roma uma base regional populosa de onde ela podia lançar as suas guerras contra os seus vizinhos.<ref>Cornell (1995) 351</ref>
▲A batalha exaustiva pela hegemonia Italiana que Roma lutou contra a Liga Samnita resultou na transformação do exército Romano de uma [[Falange (infantaria)|falange]] [[hoplita]] de estilo Grego para o exército manipular Italiano descrito por Políbio. Acredita-se que os Romanos copiaram essa formação dos Samnitas, aprendendo através de experiência própria o quão eficaz era esta estrutura no terreno montanhoso da Itália central.<ref>Cornell (1995) 354</ref> Foi também a partir deste período que cada exército romano em acção fosse acompanhado por pelo menos o mesmo número de tropas dadas pelos ''socii'' (aliados latinos).<ref>Cornell (1995) 366</ref> Cada legião devia ter uma ''ala'' confederada, uma formação que continha mais ou menos o mesmo número de infantaria que uma legião, mas três vezes mais cavalos (900).<ref>Políbio VI.26</ref>
▲A cavalaria legionária provavelmente também mudou neste período, e passou de cavaleiros leves sem armadura para os couraceiros de estilo Grego descritos por Políbio.<ref>Políbio VI.25</ref> Há provas para isto num dos murais das tumbas de Paestum na Lucânia (ca. 350-300 a.C.), um dos quais mostra um cavaleiro Samnita, usando uma variante de um elmo de estilo Coríntio e armadura de bronze.<ref>Reproduzido em Goldsworthy (2003) 19</ref> Visto que os Romanos estavam em guerra com os Samnitas, é provável que tenham querido estar tão tecnologicamente avançados como eles, especialmente porque, nas palavras de Políbio, "nenhum povo tem mais vontade [do que os Romanos] de adoptar novos costumes e de adoptar o que eles vêm que é feito melhor por outros.".<ref>Políbio VI.25</ref> Como resultado das hostilidades Samnitas, um exército consular normal foi redobrado em tamanho para 2 legiões, fazendo 4 legiões anualmente. A cavalaria romana foi então aumentada para cerca de 1,200 cavalos.<ref>Cornell (1995) 354</ref> Mas isto apenas representava 25% da cavalaria total do exército, enquanto o resto vinha dos confederados Italianos. Desta forma, a cavalaria foi aumentada de 7% (de um total de 4,500) para 12% num exército confederado, comparável com (ou mais alto do que) qualquer outras forças em Itália, excepto os Gauleses, e parecida com a dos exércitos Gregos, tal como o de Pirro.<ref>Sidnell (2006) 152</ref>
▲== Citações ==
{{Reflist|3}}
[[Categoria:Roma Antiga]]
|