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'''Marisa dos Reis Nunes''' <small>[[Ordem do Infante D. Henrique|ComIH]]</small> ([[Moçambique]], [[16 de Dezembro]] de [[1973]]) é o nome de nascimento da [[fado|fadista]] [[Portugal|portuguesa]] '''Mariza''', segundo ela própria corrige na [[TSF]] à conversa com [[Carlos Vaz Marques]] em [[2003]], «cantadeira de fados».
 
Tem sido presença regular em palcos como o [[Carnegie Hall]], em [[Nova Iorque]], o [[Walt Disney Concert Hall]], em [[Los Angeles]], o [[Lobero Theater]], em [[Santa Barbara (Califórnia)|Santa Bárbara]], a [[Salle Pleyel]], em [[Paris]], a [[Ópera de Sydney]] ou o [[Royal Albert Hall]]. O jornal britânico ''[[The Guardian]]'' considerou-a «''uma diva da música do mundo ''».
 
==Biografia==
===Infância e juventude===
 
Marisa dos Reis Nunes nasceu na freguesia de Nossa Senhora da Conceição, na antiga [[Lourenço Marques]], à época capital da província ultramarina portuguesa de [[Moçambique]]. É filha de pai português, José Brandão Nunes, e mãe [[Moçambique|moçambicana]], Isabel Nunes. Nasceu prematura, de seis meses e meio sem qualquer justificação clínica aparente<ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref>, e, segundo declarações da cantora à [[SIC]], o pai considerava-a o [[bebé]] mais feio que alguma vez vira. Segundo ela «''Aindaainda tinha as orelhas coladas e os olhos por abrir.''» <ref>[http://sic.sapo.pt/online/noticias/sic+tv/primeira+pessoa/Mariza+na+Primeira+Pessoa.htm Reportágem da SIC, 2007]</ref> e o próprio pai pensou que não sobreviveria.
 
Ao colo da mãe<ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref>, com três anos, chegou ao [[Aeroporto da Portela]] em [[Lisboa]], pela primeira vez em [[1977]]. Na actual [[Maputo]], o pai conservara por vários anos o confortável emprego de chefe de armazém numa empresa de electrodomésticos portuguesa.<ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref> Durante o êxodo das famílias portuguesas nas antigas colónias ultramarinas portuguesas, o pai abandonou Moçambique com a família mais chegada, escolhendo Lisboa para recomeçar uma nova vida. Instalaram-se em [[Corroios]] e mais tarde no n.º 22 da Travessa dos Lagares, na Mouraria.
 
Em [[1979]] reabriram o [[restaurante]] ''Zalala'' no bairro típico de Lisboa, [[Mouraria]], ondeberço moroudo afado e frequentado por inúmeros fadistas de referência, como [[SeveraFernando Maurício]] e [[Fernando Farinha]]. ''Zalala'', hoje fechado, o restaurante onde Mariza cresceu, erafoi assim nomeado em homenagem a uma homenagem a uma praia moçambicana. <ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref>
 
Foi o pai que determinou o gosto da cantora pelo [[fado]]. Segundo ela, o pai estava «''sempre a ouvir fado e, na hora das refeições, nunca se via [[televisão]]; ouviam-se discos, sempre de fado...''» <ref>[http://sic.sapo.pt/online/noticias/sic+tv/primeira+pessoa/Mariza+na+Primeira+Pessoa.htm Reportagem da SIC, 2007]</ref>[[Fernando Farinha]], [[Fernando Maurício]], [[Amália Rodrigues]], [[Carlos do Carmo]], entre muitos outros, eram os predilectos de José Nunes, e foram os que mais influenciaram a forma de cantar de Mariza.
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{{quote2|''Foi aqui que toda a história começou. Se calhar é aqui que vai acabar. Tudo pode acabar de repente, tal como começou, e eu volto à minha Mouraria e à taberninha dos meus pais para servir dobradinhas e copos de vinho que não me chateia nada!<ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref>''}}
 
Ali cruzou-se «''com tantos fadistas que as suas caras já se esfumam na memória''»<ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref>. O [[restaurante]] permanece fechado há vários [[ano]]s mas ainda conserva na porta a placa com o seu nome e uma legenda que diz «O cantinho do artista».
 
Apenas na [[adolescência]] começou a ser levada a sério como cantora, mas os pais admitiram em várias entrevistas saberem que a filha tinha um «dom». Sempre que cantava tinha a casa cheia, e só cantava caso reinasse o silêncio na sala. O primeiro fado que interpretou no ''Zalala'' foi ''Os Putos'', de [[Carlos do Carmo]], que o seu pai lhe ensinou fazendo desenhos em toalhetes de papel. <ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref> Ainda a menina não sabia ler, e era a forma de decorar os fados preferidos pelo pai, assim como ''Cheira bem, cheiraCheira a Lisboa'' e ''Menina das trançasTranças pretasPretas''.
 
O recreio da escola primária da Mouraria era um palco para a menina de seis anos. Em entrevista ao [[Correio da Manhã]], a antiga auxiliar de educação da escola, Dª. Fernanda, referiu qua a jovem fazia uma roda com as colegas e depois ia para o meio delas onde cantava, com as professoras de vigia nos vestíbulos ou atrás das janelas, para que não se sentisse constrangida. <ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref>
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Já na adolescência, Mariza passa a frequentar a Escola Secundária Gil Vicente. Era hábito seu fugir de casa para ir ouvir as noites de fado para o Grupo Desportivo da Mouraria, onde permanecia à porta, já que não lhe permitiam a entrada.
 
Até se assumir como fadista cantou diversos géneros musicais como, [[pop]], [[gospel]], [[soul]] e [[jazz]]. NãoNa época, não caía bem entre os amigos dizer que um dos seus ''hobbies'' era cantar [[fado]]. Formou com alguns amigos uma banda de ''covers'' de nome Vinyl, e costumavam cantar no bar Xafarix, em Lisboa. Mais tarde formou os Funytown.
 
Mariza cantava regularmente num bar da [[Madragoa]], o "Berimbar", cuja proprietária era mãe de João Pedro Ruela. A [[música brasileira]] era uma atracção para Mariza que viveu durante cinco meses no [[Brasil]], no ano de [[1996]].
 
[[Imagem:Mariza 8.jpg|thumb|right|270px|Mariza, Foto de José Goulão]]
Foi numa das mais típicas casas de fados de Lisboa, o ''Sr. Vinho'', propriedade de [[Maria da Fé (fadista)|Maria da Fé]] e de [[José Luís Gordo]], situada na [[Lapa]], que Marisa dos Reis NunesMariza começou a cantar mais profissionalmente. «''Maria da Fé foi praticamente a professora dela aqui''», segundo José Luís Gordo<ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref>, que chegou a escrever dois fados para a intérprete. A primeira música que cantou em público foi ''[[Povo que lavas no rio]]''. Cantou também no ''Café Café'', propriedade de [[Herman José]].
 
===Primeiro disco e internacionalização===
Em [[1998]] actua, a convite da Caixa Económica Luso-Belga, em [[Bruxelas]] e [[Amesterdão]].
 
Em [[1999]] é convidada por [[Filipe La Féria]] para a lista de cantores que homenagearam [[Amália Rodrigues]] num espectáculo no [[Coliseu de Lisboa]] (e depois no [[Coliseu do Porto]]), transmitido em directo pela [[TVI]]. Entre as músicas que cantou estava ''Oiça lá ó Sr. Vinho'' e ''Estranha Forma de Vida''.
 
O disco de estreaestreia era para ser apenas uma edição privada, feita por insistência de João Pedro Ruela<ref>Miguel Azevedo in ''Êxito'', suplemento do ''Correio da Manhã'', Sábado, 3 de Novembro de 2007</ref>, mas acabou por ser editadaeditado em 32 países <ref>[http://www.mariza.com/discopop.aspx?id=2 Informações sobre ''Fado em mim'' no website oficial da fadista]</ref>. Não conseguiu contrato de nenhuma editora discográfica portuguesa. No entanto, uma editora holandesa, a [[World Connection]], decidiu apostar na fadista editando o seu primeiro disco em vários países.
 
[[2002]] foi o [[ano]] em que Mariza viu o seu primeiro álbum, ''Fado em Mim'', editado em [[Portugal]]. Entre as principais faixas do disco encontram-se ''Chuva'', ''Ó genteGente da minhaMinha terraTerra'' e ''Oiça lá ó senhor vinho''.
 
[[Imagem:Hollywood bowl and sign.jpg|thumb|right|220|Já na sua primeira digressão pelo estrangeiro, Mariza pisa palcos como o New Jersey Performing Arts Center e o [[Hollywood Bowl]].]]
 
O [[disco]] é uma espécie de tributo a [[Amália Rodrigues]], já que muitas das músicas eram do seu repertório. Uma das músicas que conseguiu melhor repercussão foi ''Chuva''. Uma música instrumentalmente iniciada pela guitarra de António Neto. ''Barco Negro'' surge também numa versão bastante diferente da original, ritmada pela percussão de João Pedro Ruela. ''Por tiLoucura'', umuma temadas mais emblemáticas músicas do seu repertório, iniciou não só este disco como dois dos seus principais concertos: o concerto em queLisboa, falanos jardins da sua vida[[Torre de formaBelém]], metafóricado equal intimista,se conjugaoriginou um álbum que recebeu uma atitudenomeação depara forçaum eGrammy sagacidadeLatino, e o concerto no [[Pavilhão Atlântico]] com convidados especiais, a aparatosa[[8 mestriade Novembro]] de [[Luís Guerreiro2007]], nadado guitarrasimultaneamente portuguesa,à umfesta de entrega dos melhoresGrammys guitarristaspara portuguesesos daquais estava actualidadenomeada.
 
''Loucura'', uma das mais emblemáticas músicas do seu repertório, iniciou não só este disco como dois dos seus principais concertos: o concerto em Lisboa, nos jardins da [[Torre de Belém]], do qual se originou um álbum que recebeu uma nomeação para um Grammy Latino, e o concerto no [[Pavilhão Atlântico]] com convidados especiais, a [[8 de Novembro]] de [[2007]], dado simultaneamente à festa de entrega dos Grammys para os quais estava nomeada.
 
Com este CD surgiram as primeiras ''tournés'' no estrangeiro e os primeiros prémios e nomeações. O primeiro prémio que recebe foi atribuído, em [[2001]], ao álbum ''Fado em Mim'' pela crítica alemã - ''Deutscheschalplatten Kritik'', com Mariza.
 
Mesmo assim, muitos dos concertos que deu foram a convite de instituições oficiais como embaixadas, entre outras. Nos [[EUA]], por exemplo, entre a plateia de um espectáculo estava a esposa do secretário de estado do país, [[Colin Powell]], que se fazia acompanhar pela esposa de um [[senado]]r. Apresentou o seu disco no [[Central Park]] de [[Nova Iorque]] e no [[Hollywood Bowl]] de [[Los Angeles]], mas numa entrevista referiu ter gostado mais do espectáculo que deu no grande auditório do New Jersey Performing Arts Center, por ser um espaço mais pequeno e intimista.
 
O CD vendeu muito bem em [[Portugal]], liderando os tops portugueses, tal como todos os restantes álbuns da fadista viriam a liderar (tendo em [[2007]] conseguido a proeza de ter 3 álbuns seus simultaneamente no top dos 15 mais vendidos de [[Portugal]]). Nos [[Países Baixos]] também vendeuobteve bemsucesso comercial, assim como no [[Reino Unido]] e na [[Finlândia]]. Nos [[EUA]] o álbum chegou a atingir o sexto lugar dos mais vendidos na área de ''world music''<ref>[http://www.arlindo-correia.com/061104.html Miguel Francisco Cadete, ''in Público'', Sexta-feira, 27 de Setembro de 2002]</ref>.
 
No Mundial de Futebol de 2002, interpretou o [[A Portuguesa|hino nacional português]] antes do início do jogo entre a [[Coreia do Sul]], que jogava em casa, contra a selecção de [[Portugal]].
 
====Primeira digressão====
Faz uma digressão pelo mundo, passando pela [[Tailândia]], [[Itália]], [[Holanda]], [[EUA]] ou [[Espanha]]<ref>[http://www.attambur.com/Noticias/20023t/mariza_ao_vivo_em_lisboa_e_porto.htm ''Mariza ao vivo'', in At-Tambur]</ref>. A convite da entidade reguladora do espectáculo, participou no Festival Womad 2002 (organização da ''Real World'' de [[Peter Gabriel]]), em [[Reading]], no [[Reino Unido]]. O seu concerto no festival de ''world music'' foi gravado e lançado numa edição limitada, depara coleccionadorcoleccionadores, ''Live at WOMAD 2002''. Entre as faixas, as que mais se denotam são ''Primavera'' e uma imponente interpretação de ''Estanha forma de vida''.
 
Em [[2002]], no decorrer da promoção deste disco participou pela primeira vez no programa da [[BBC]], [[Later wiht Jools Holland]], noutro programa de TV [[frança|francês]] e foi capa da revista ''Folk Roots''. Depois retornou a Portugal onde actuou para sala cheia, no [[Rivoli]], a [[27 de Setembro]], e no Grande Auditório do [[CCB]], a [[1 de Outubro]], duas das grandes salas portuguesas de espectáculos. Sobre esses dois espectáculos e em resposta à pergunta feita por vários jornalistas de várias publicações, Mariza fez uma declaração que ficou famosa e se tornou um emblema da comunicação social sempre que regressa das tournés do estrangeiro a [[Portugal]]:
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Um ano depois de ''Fado em mim'' edita ''[[Fado Curvo]]'', que repete o sucesso do anterior obtendo a quadrupla platina novamente. O tema principal desta produção de [[Carlos Maria Trindade]] foi ''Cavaleiro Monge''.
 
APorém, a música que mais se destaca é ''Primavera''., Poemapoema sublime da autoria do escritor e poeta lisboeta [[David Mourão-Ferreira]], e proveniente do repertório amaliano. Tornou-se uma das grandes paixões de Mariza, algo que refere semprecada emvez todosque oso seuscanta espectáculosao vivo, e que, antes deste disco ser gravado, já fazia parte do repertório dos espectáculos da intérprete. É o expoente máximo da voz de Mariza, atingido na recta final da canção, nos versos «''Ninguém fale em Primavera/Quem me dera, quem nos dera/Ter morrido nesse dia''». Na sua voz, estes três versos tornaram-se os mais conhecidos da música e, aparece várias vezes ao vivo, em reportagens televisivas, a cantar a dita parte da música.<ref>[http://sic.sapo.pt/online/noticias/sic+tv/primeira+pessoa/Mariza+na+Primeira+Pessoa.htm Reportagem da SIC, 2007]</ref> A [[8 de Novembro]] de [[2007]], no concerto no [[Pavilhão Atlântico]], a intérprete foi aplaudida de pé durante seis minutos consecutivos no final da interpretação de ''Primavera''. Sobre a música Mariza referiu numa entrevista:
 
A par desta, destacam-se outras músicas, entre elas, uma homónima do disco, ''Fado Curvo'', da autoria de [[Carlos Maria Trindade]], música esta que estreita a relação do fado com a [[dança]], devido ao seu teor alegre e mais contemporâneo. Segundo a intérprete, este fado relaciona-se com a sua vida pessoal e com a vida de qualquer ser-humano, já que esta nunca é linear.
 
No álbum interpreta ''Caravelas'', baseado num poema de [[Florbela Espanca]], da qual também já havia gravado um fado no CD anterior, e logo a seguir canta um poema de [[Gil do Carmo]], um registo mais leve e aprazível, de teor contemporâneo, que se refere à [[cidade]] de [[Lisboa]] e ao [[Tejo]]. É igualmente a música mais curta do disco, com 1:59 min. ''Anéis do meu cabelo'' é outro dos temas do álbum, com base num poema de [[António Botto]] que parece ter sido feito à medida da imagem da intérprete.
 
O álbum inclui um [[fado de Coimbra]], da autoria de [[Zeca Afonso]]. Mariza, pelo que ela própria conta em entrevista ao ''[[Público]]'' com Miguel Francisco Cadete, interrogou-se com a interpretação deste fado, pelo seu significado político e pelo simples facto de que não é costume as mulheres cantarem fados de Coimbra:
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* ''[[Transparente (CD)|Transparente]]'' (2005), 3x Platina
* ''[[Concerto em Lisboa]]'' CD (2006), 3x Platina
* ''[[Terra (CD)|Terra]]'' (2008), 2x3x Platina
 
==Videografia==