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[[imagem:Aviso Cdt Birot.jpg|thumb|right|400px|Moderno aviso francês ''Commandant Birot'' da classe ''D'Estienne d'Orves''.]]
Um '''aviso''' é um tipo de [[navio de guerra]] com diversas caraterísticas e funções, que variaram ao longo do tempo e conforme o operador. O termo "aviso" resulta da abreviação de "'''barco de aviso'''".
 
Originalmente, designava-se, por "aviso", um navio pequeno e rápido, que servia de ligação para o comando de uma [[esquadra#Esquadra no âmbito naval|esquadra naval]], sendo utilizado na transmissão de avisos e de outras mensagens, entre os diversos navios e, entre estes e terra. Paralelamente, pela sua rapidez e agilidade, os avisos também realizavam operações de reconhecimento e exploração em proveito da esquadra. Normalmente, desempenhavam a função de aviso, navios do tipo [[brigue]], [[escuna]] e [[cúter]].
 
Com a desaparição da marinha à vela, na segunda metade do [[século XIX]], a função de aviso continuou a ser desempenhada por embarcações de pequeno e médio porte, propulsadas a vapor, como [[torpedeiro]]s, [[canhoneira]]s e [[cruzador|cruzadores ligeiros]]. Na primeira metade do [[século XX]], o termo "aviso" já era usado, pelas [[marinha]]s de vários países para designar diversos tipos de navios como canhoneiras para serviço [[colónia|colonial]], [[navio de escolta|navios ligeiros de escolta oceânica]], [[navio hidrográfico|navios hidrográficos]], condutores de torpedeiros, [[navio de guerra de minas|draga-minas]] e outrasoutros.
 
Até à [[década de 1990]], o termo "aviso" ainda era usado pela ''[[Marinha Francesa|Marine nationale]]'' francesa para designar as suas [[fragata]]s concebidas para operação ema partir de bases ultramarinas. O termo mantém-se em uso pela [[Marinha do Brasil]] e por algumas outras marinhas da [[América Latina]] para designar alguns dos seus navios auxiliares, normalmente vocacionados para trabalhos hidrográficos.
 
 
==Avisos nos séculos XVIII e XIX==
[[imagem:SMS Hela.jpg|thumb|right|300px|Aviso alemão SMS ''Hela'' - [[1895]].]]
No [[século XVIII]], o termo "aviso" era aplicado pelas marinha da França para designar as embarcações ligeiras empregues na transmissão de mensagens. Estes navios - muitos dos quais resultaram da transformação de anteriores embarcações mercantes - eram também utilizados na exploração em proveito das esquadras navais e na escolta à navegação mercantes. O termo continuou a ser aplicado no [[século XIX]] para designar embarcações com missões semelhantes.
 
Em meados do século XIX, a ''Marine nationale'' dispunha de diversas embarcações classificadas como avisos. Regra geral, eram navios a vapor, de propulsão por rodas ou por hélice, armados com artilharia de pequeno calibre, com um deslocamento médio de cerca de 500 t, que eram empregues em funções diversas, onde se incluia a de patrulhamento e, cada vez mais, as de presença naval e de apoio às operações militares nas colónias, sobretudo àsas de ocupação de território e de supressão de rebeliões indígenas contra o domínio francês. No final do século XIX, os Franceses desenvolveram avisos armados com torpedos, que foram classificados como avisos-[[torpedeiro]]s - mais tarde, parte deles passariam a ser classificados como [[contratorpedeiro]]s.
 
A ''[[marinha da Alemanha|Kaiserlische Marine]]'' alemã usava também o termo "aviso" para classificar as suas embarcações com caraterísticas e funções semelhantes às dos avisos franceses. No final do século XIX, alguns avisos da ''Kaiserlische Marine'' tinham já caraterísticas de pequenos cruzadores não protegidos, com cerca de 1000 [[tonelada]]s de deslocamento. O último aviso alemão, lançado em [[1895]], foi o SMS ''Hela'' de 2000 [[tonelada|t]], armado com [[canhão|peças]] de tiro rápido de 88 [[milímetro]]s, tubos lança-[[torpedo]]s e coberta blindada, o que lhe dava as caraterísticas de um autêntico [[cruzador protegido]]. Em [[1899]] o ''Hela'' e os restantes avisos alemães foram reclassificados como ''Kleine Kreuzer'' (pequeno cruzador).
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==Avisos no século XX==
[[imagem:HMS Azalea IWM SP 000329.jpg|thumb|right|350px|''Sloop'' britânica HMS ''Azalea'' da classe Flower - [[1915]].]]
[[imagem:Aviso-colonial-3.jpg|thumb|right|300px|Aviso colonial francês da classe ''Bouganville'' - [[1932]].]]
[[imagem:Commandant Bourdais.jpg|thumb|right|300px|Aviso-escoltador francês ''Commandant Bourdais'' da classe ''Commandant Rivière'' - [[1963]].]]
Durante a [[Primeira Guerra Mundial]], a ''[[Royal Navy]]'' britânica desenvolveu uma série de avisos a que chamou "''sloops''" (literalmente: "[[chalupa]]s"). O termo "''sloop''" tinha sido usado pela ''Royal Navy'', no século XVIII, como classificação genérica de todos os seus navios de guerra de um ou dois mastros, menores que as fragatas. As ''sloops'' da Primeira Guerra Mundial eram pequenos navios de guerra não concebidos para operar com a esquadra, mas sim para tarefas de escolta de comboios de navios mercantes - como as da classe Flower - e para a dragagem de [[mina marítima|minas]] - como as da classe ''Hunt''. Alguns dos navios da classe Flower foram utilizados pela ''Marine nationale'' que os classificou como avisos. Navios desta classe, também foram usados, depois da guerra, pela [[Marinha Portuguesa]], sendo, inicialmente, classificados com cruzadores e, depois, como avisos.
 
No período entre-guerras, os Britânicos continuaram a construir ''sloops'' que, além de servirem para as missões de escolta a navios mercantes em caso de guerra, se destinavam a ser empregues em missões hidrográficas, no serviço colonial e na, chamada, "[[diplomacia das canhoneiras]]". Nestas últimas missões, as ''sloops'' eram uma versão moderna do antigo conceito de canhoneira para serviço nas colóniascolonial. Neste período, foram construidas as classes ''Grimsby'' e ''Kingfisher''. Como não se destinavam a acompanhar a esquadra, estes navios atingiam velocidades inferiores aos 20 [[nó (unidade)|nós]].
 
Conceitos de navios semelhantes ao dadas ''sloops'' britânicas foram desenvolvido pela [[Marinha Portuguesa]] e pela ''Marine nationale'' na [[década de 1930]], especificamente para o serviço colonial. Estes navios foram classificados como '''avisos coloniais''' - designação usada tanto pelos Portugueses como pelos Franceses - destinando-se a realizar missões de patrulhamento de longo alcance e de soberania nos territórios coloniais. Portugal utilizou as classes de avisos coloniais ''Carvalho Araújo'', ''Afonso de Albuquerque'', ''Gonçalo Velho'' e ''Pedro Nunes'' e a França utilizou a classe de avisos coloniais ''Bougainville''.
 
Os avisos coloniais franceses e portugueses eram navios com um deslocamento situado entre as 1200 t e as 2600 t, com uma grande autonomia, armados com peças de 120 mm ou de 138 mm, peças antiaéreas de 40 mm ou de 38 mm e [[carga de porfundidade|cargas de profundidade]]. Estavam, especialmente adaptados à operação em ambientes tropicais e dispunham de alojamentos para transportarem forças de desembarque. Os navios das classes ''Afonso de Albuquerque'' e ''Bougainville'' dispunham, ainda, de um [[hidroavião]] embarcado. As suas capacidades permitiam-lhes operar isolados, realizar longos cruzeiros de patrulha no ultramar e desenvolver operações anfíbias. O seu reduzido calado permitia-lhes penetrar nos [[rio]]s [[áfrica|africanos]] e [[asia|asiáticos]]. Como não se destinavam a operar com a esquadra, a sua velocidade era baixa, não atingindo mais de 21 nós.
 
Durante a [[Segunda Guerra Mundial]], os Britânicos lançaram as ''sloops'' da classe ''Black Swan'', concebidas para a escolta de comboios, tais como as ''Flower'' da Primeira Guerra Mundial. No entanto, os elevados padrões de construção e os armamentos sofisticados deste tipo de navios tornava-os demasiado caros e complexos para poderem ser construídos em massa. Foram assim, desenvolvidos conceitos de navios de escolta mais simples que pudessem ser construídos em grandes quantidades. Esses navios foram, inicialmente, as [[corveta]]s - a primeira classe das quais também chamada "''Flower''" - e, posteriormente, as [[fragata]]s.
 
Depois da Segunda Guerra Mundial, a ''Royal Navy'' reclassificou toda as suas ''sloops'' ainda em serviço - e também todas as suas corvetas - como fragatas. A Marinha Portuguesa também equiparou os seus avisos coloniais a fragatas. Os últimos avisos portugueses em serviço foram transformados em navios hidrográficos, no início da [[década de 1960]].
 
Já os Franceses mantiverem o uso do termo "aviso" para designar os seus escoltas oceânicos que se destinavam a operar baseados no ultramar. Na ''Marine nationale'', a classificação "aviso colonial" foi substituída pela de '''aviso-escoltador''', a partir da [[década de 1950]]. A França desenvolveu os avisos-escoltadores da classe ''Commandant Rivière'', - lançados em [[1962]] - e os da classe ''D'Estienne d'Orves'', - lançados em [[1976]]. Na [[década de 1990]] os avisos-escoltadores franceses, ainda ao serviço, foram reclassificados como fragatas.
 
==Avisos na Marinha Portuguesa==
[[imagem:NRP Afonso de Albuquerque.JPG|thumb|right|300px|Aviso colonial de 1ª classe português NRP ''Afonso de Albuquerque'' - [[1935]].]]
[[imagem:Fragata da Marinha Portuguesa no Porto de Pipas, Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores, Portugal.jpg|thumb|right|300px|Corveta portuguesa [[NRP António Enes (F471)|NRP ''António Enes'']] da classe ''João Coutinho'' - [[1971]].]]
O primeiro navio da Marinha Portuguesa a ser classficadoclassificado como aviso foi o [[iate Amélia IV|NRP ''Cinco de Outubro'']] em [[1912]]. O ''Cinco de Outubro'' era o antigo [[iate]] ''[[Iate Amélia IV|Amélia]]'', utilizado pelo Rei [[D. Carlos I]] nas suas campanhas de investigação oceanográfica. Como aviso, o ''Cinco de Outubro'' continuou a desempenhar missões desse tipo.
 
O programa naval português da [[década de 1930]] prevê a construção de uma série de navios de guerra especialmente concebidos para a atuação no [[Império Colonial Português]] que são classificados como avisos coloniais. Os avisos coloniais correspondem a um conceito semelhante ao das canhoneiras da transição do século XIX para o XX, mas mais avançadoavançados e com muito mais capacidades. No entanto, o plano de 1930 ainda prevê canhoneiras que seriam de deslocamento inferior ao dos avisos. Os novos avisos são lançados a partir de [[1932]]. São construídos avisos de 1ª classe ([[Classe Afonso de Albuquerque|classe ''Afonso de Albuquerque'']] de 2400 t) e avisos de 2ª classe ([[Classe Pedro Nunes|Classeclasse ''Pedro Nunes'']] de 1200 t e [[Classe Gonçalo Velho|classe ''Gonçalo Velho'']] de 1700 t). Também foram reclassificados, como avisos de 2ª classe, os cruzadores, já em serviço, da [[classe Carvalho Araújo|classe ''Carvalho Araújo'']] - originalmente, ''sloops'' britânicas da classe ''Flower''.
 
Os avisos da classe ''Afonso de Albuquerque'', lançados em [[1935]], acabaram por se tornar nos maiores navios combatentes, construídos ao abrigo do programa naval de 1930. Estes navios dispunham de um deslocamento de 2420 t e velocidade de 21 nós. Estavam armados com quatro peças de 120 mm, dois lançadores de cargas de profundidade, quatro peças antiaéreas de 77 mm, 4quatro metralhadoras antiaéreas de 40 mm e um [[hidroavião]] embarcado.
 
A seguir à Segunda Guerra Mundial, os avisos coloniais portugueses foram equiparados a fragatas, passando a ostentar um [[número de amura]] com o prefixo "F". No entanto, individualmente, cada navio, continuava a ser referido como "aviso". Nas décadas de [[década de 1940|1940]] e de [[década de 1950|1950]], os avisos foram consideravelmente modernizados, nomeadamente com a instalação de sensores e armamentos mais avançados para a luta antisubmarina. Na [[década de 1960]] os avisos, ainda em serviço, foram transformados em navios hidrográficos. A [[19 de dezembro]] de [[1961]], durante a [[Invasão de Goa]], o aviso [[NRP Afonso de Albuquerque|NRP ''Afonso de Albuquerque'']] tornou-se no último navio de guerra português da História a ser afundado em combate. Já classificado como navio hidrográfico, mas ainda mantendo alguma da sua artilharia, o antigo aviso [[NRP Pedro Nunes|NRP ''Pedro Nunes'']] participou em diversas ações de apoio de fogo e em outras operações de combate na costa da [[Guiné Portuguesa]], durante a [[Guerra do Ultramar]], só sendo abatido ao serviço em [[1976]].
 
No final da década de 1960, a Marinha Portuguesa introduziu ao serviço as fragatas da [[Classe João Belo|classe ''Comandante João Belo'']] e as corvetas da [[Classe João Coutinho|classe ''João Coutinho'']]. Estes novos navios destinavam-se à operação no Ultramar Português e correspondiam à modernização do antigo conceito de aviso colonial. A designação "aviso" já não foi, contudo, reavivada - apesar da classe ''João Belo'' ter origem na classe ''Commandant Rivière'', cujos navios eram classificados como avisos pelos Franceses - sendo, os antigos avisos de 1ª classe, substituídos pelas novas fragatas e, os de 2ª classe, pelas novas corvetas. Na [[década de 1970]] ainda foram lançadas as corvetas da [[classe Baptista de Andrade|classe ''Baptista de Andrade'']], também para serviço ultramarino.