Noivado: diferenças entre revisões

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Atualmente, com o declínio do número de casamentos católicos e da proporção de casamentos católicos, em comparação com casamentos civis, dois eventos simultâneos têm lugar: (1) o enfraquecimento do caráter católico do casamento e (2) a folclorização do que resta dos casamentos católicos. Dois movimentos parecem combinar-se: ao mesmo tempo uma baixa do número de casamentos católicos e um grande número de casamentos na Igreja que não são casamentos católicos, mas casamentos de não-praticantes e não-crentes. A resposta de uma parte da Igreja foi assimilar o casamento à uma demanda crente e fazer dele um modo de re-socialização religiosa (através de pastorais familiares e cursos de noivos). Assim, o caráter sacramental do casamento católico não se encontra mais na cerimônia (desvalorizado), mas o que precede esta mesma cerimônia.
 
Seria pertinente conceber os noivados católicos como um dos lugares de acomodação de jovens católicos conservadores e das suas famílias às evoluções do conjugalidade contemporânea. Neste sentido, é necessário compreender os compromissos como preenchendo uma função (para os noivos): fazer aceitar formas flexíveis de coabitação, e ao mesmo tempo impor regras. Um exemplo seria a recusa do termo “namorado” em algumas famílias. Os noivados funcionam porque alteram verdadeiramente as relações familiares: a crença nos efeitos do rito é compartilhada tanto pelos noivos quanto pelos seus pais. Certos noivos interrogados sublinharam com admiração o caráter performativo dos noivados: enquanto que dois casamentos foram comemorados no intervalo de algumas semanas na família de sua noiva (Carla), Cícero não foi convidado para o primeiro casamento, que teve lugar antes do noivado, mas ele foi convidado para o segundo casamento, que aconteceu poucos dias após o noivado. Era, diz-me, realmente a entrada na família através do noivado, e o convite era a prova.
 
Sendo assim o noivado católico, pouco sujeito a codificações jurídicas e litúrgicas, permanece como um rito frouxo, pouco praticado, de existência incerta, o que torna possível sua adaptação permanente às mudanças sociais. E por serem percebidos como uma “tradição” é que seu caráter “antigo” não é questionado, permitindo assim que certas transformações sociais, como coabitação, seleção individual e não mais familiar do/da noivo/a como no início do século, sejam aceitos pelos grupos sociais.