Aquisição da linguagem: diferenças entre revisões

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'''Os processos de aquisição da linguagem e a influencia da interação adulto criança'''
 
 
1. Introdução
 
A linguagem é o uso de meios organizados de palavras para que haja comunicação entre as pessoas, porém nem toda comunicação necessariamente se da pela linguagem oral. Desta forma a criança tem acesso, antes mesmo de aprender a falar, a valores crenças e regras, adquirindo os conhecimentos envoltos na sua cultura.
A criança tem grande capacidade de aprender coisas novas e no processo de aquisição da linguagem a interação adulto-criança vai ser significativa para que ela desenvolva a motricidade, atenção, percepção. Tudo isso progredindo para adquirir a fala.
“A linguagem é considerada um bloco de conjunto das aquisições da criança: atenção, sentimentos, motricidade, percepções” (Aimard 1998, p.57).
Assim iremos compreender melhor o papel do adulto e da participação da criança no processo de aquisição da linguagem.
Analisaremos as interações comunicativas da criança desde um período muito precoce de seu desenvolvimento, e a influencia da fala materna e do meio como um todo na aquisição da linguagem.
 
2.A aquisição da fala e o envolvimento adulto-criança
A linguagem é especifica da espécie humana, mesmo que uma pessoa nasça com problemas na produção da fala, ela vai de alguma outra forma, encontrar qualquer meio de se expressar, pois nem toda comunicação – troca de pensamentos e sentimentos – se da por meio da linguagem oral, outros aspectos influenciam a comunicação, como as formas não verbais, caracterizadas com os gestos, olhares, abraços, sorrisos e outros. Esta comunicação não verbal pode ser situada no inicio da aquisição da linguagem, a interação da mãe com a criança vai despertando-a no desenvolvimento da fala, esse envolvimento adulto-criança é de suma importância.
Este principio não é algo palpável, e muitas vezes passa despercebido por muitos pais, para eles não quer exprimir nada, até porque, muitos não tem conhecimento de como se da o inicio da linguagem, e de como momentos que parecem tão insignificantes, na verdade, são de grande valor, e desempenham um grande papel na aquisição da fala.
Um dos primeiros processos da aquisição da linguagem das crianças é o balbucio, de acordo com Aimard,(1998) “os primeiros sons do balbucio são mais ou menos os mesmos em diferentes línguas o [a] inaugura as vogais, seguidas de [e], [i] [u]; as consoantes anteriores [p] e [b] são seguidas pelas nasais [m] e [n]”.
Desde o primeiro dia, os bebês parecem estar programados para sintonizar com seu ambiente lingüístico, e tem aptidão bastante sensível de aprendizagem da linguagem. Sabe-se que os bebês produzem seus próprios sons, uma forma que eles usam de se comunicar, seja intencional ou não é o choro que funciona muito bem.
Os bebês geralmente observam fixamente o rosto das mães ou adultos que interagem com eles começam então, a imitar e emitir alguns fonemas – isso a partir, dos cinco meses- no começo um balbucio chamado por Aimard (1998) “balbucio selvagem”. Depois esse vai evoluindo e se adequando aos modelos fonêmicos escutados.
Sternberg (1998) classifica o balbucio dos bebês como inarticulado e articulado, na etapa do balbucio inarticulado eles ouvem e também conseguem discriminar todos os fones, e não apenas os característicos de sua própria língua, o balbucio inarticulado é igual para todos os bebês não importa em que região ou país eles se encontram, até mesmo os que são surdos o produzem.
Quando evoluem para o balbucio articulado, a produção preferencial dos bebês é em grande parte dos fonemas distintos - tanto vocálicos quanto consonantais – que são típicos de sua própria língua.
No balbucio, os bebês imitam, tanto as pessoas como eles mesmos, e ao fazerem se divertem com os sons produzidos por sua fala. Eles fazem repetidamente até se cansarem de forma a adquirir uma importância cada vez maior no esboço do dialogo.
Depois de passar pela fase de balbuciar, o bebê desenvolve a reduplicação silábica, nela a criança gosta de repetir as mesmas silabas, como por exemplo, (papa, pipi, mama) e outras. A partir dessa reduplicação vão surgir as primeiras palavras.
Geralmente as primeiras palavras são “papai” e “mamãe”, e isso não é muito de surpreender, pois as primeiras consoantes adquiridas pela criança, de acordo com Aimard (1998), são [p] e [b].Com o tempo a criança produz outras palavras, e muitas vezes só entende o significado quem convive com elas.
Podemos perceber, que é freqüente a criança imitar a fala dos pais, e como isso é um grande estimulo para a afirmação da linguagem muitos pais, prestam bastante atenção ao que seus filhos dizem, e os corrigem quando falam de forma errada, isso ajuda na construção do vocabulário.
Entre 1 ano e meio e 2 anos, elas começam a combinar palavras, para produzir enunciados de duas palavras, geralmente essas frases são curtas, pois as crianças omitem alguns fonemas.
“O vocabulário se expande de modo ágil, mais do que triplicando de cerca de 300 palavras, aos 2 anos de idade para cerca de 1000, próximo aos 3 anos” (STERNBERG, 2008).
A criança adquire a linguagem a partir da interação dos aspectos biológicos com os processos sociais. A interação social é um componente necessário para a criança adquirir a linguagem. Sendo assim, a relação entre adulto-criança é de fundamental importância para o desenvolvimento das habilidades lingüísticas principalmente interação com os pais, visto constituir-se como um sistema dinâmico, ambos, no entanto, contribuem com seus conhecimentos e experiências a caminho da interação recíproca e bidirecional.
Porem essa vertente da participação do adulto como interlocutor, buscando aproximar o nível lingüístico da criança ao seu, recebeu criticas dos inatistas, especialmente de Chomsky (1973), os quais argumentavam que a fala dos adultos apresentada às crianças é mal formada, limitada e contem hesitações e, portanto, a criança não poderia aprender a linguagem a partir de fontes externas. Para Chomsky, a linguagem teria origem em mecanismos inatos.
As colocações inatistas de Chomsky suscitaram uma serie de estudos, a partir dos anos 1960. “Por outro lado vemos como Piaget (1979) descreve a aquisição da linguagem segundo o qual o aparecimento da mesma se da na superação do estágio sensório-motor, por volta dos 18 meses”. A linguagem é entendida por Piaget, como um sistema simbólico de representações. Em contraposição ao modelo inatista a aquisição é vista como resultado da interação entre o ambiente e o organismo, através de assimilações e acomodações, responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência em geral, e não como resultado do desencadear de um módulo ou órgão especifico para a linguagem.
Na proposta de Vygotsky (1984) ele parte do principio de que os estudiosos separam o estudo da origem e desenvolvimento da fala, do estudo da origem do pensamento prático da criança. Compreendemos então que o estudo do uso dos instrumentos tem sido isolado do uso dos signos.
Há uma visão que se distancia tanto do cognitivismo piagetiano quanto do inatismo chomskyano, é o dito “interacionismo social”.Os estudiosos desta teoria passaram a realizar os primeiros estudos sobre a fala materna apresentada as crianças. Eles afirmavam que os pais especialmente as mães, apresentam uma forma especial de falar a seus filhos.
Segundo esta postura passa a ser levados em conta fatores sociais, comunicativos e culturais para a aquisição da linguagem. “Assim, a interação social e a troca comunicativa entre a criança e seus interlocutores são vista como pré- requisito básico no desenvolvimento lingüístico” (SCARPA, 2001).O input lingüístico de acordo com Luques e Villa (1995) refere-se,
“a toda experiência proporcionada pelo uso que as demais fazem da linguagem em suas interações e, especialmente, ao comunicar-se como o próprio sujeito, é sua principal fonte de informação sobre a própria linguagem, sobre a cultura, e sobre o papel da linguagem na cultura”
(Luques e Villa, 1995, p.153)
Aimard (1998) fala que “desde o nascimento, o bebê é mergulhado num universo significativo por seus interlocutores básicos, que atribuem significados e intenção as suas emissões vocais, gestos, direção de olhar”.
O bebê é, assim, visto como potencial parceiro comunicativo do adulto que empreende uma “sintonia fina” com as manifestações potencialmente comunicativas e significativas da criança, qualquer que seja seu conteúdo expresso (gesto, voz, balbucio, palavras ou frases).
Desta forma, vemos a participação do adulto como interlocutor linguisticamente mais habilitado exerce o papel de mostrar-se sensível as intenções comunicativas da criança, buscando aproximar o nível lingüístico desta ao seu. E a figura materna é particularmente privilegiada no desenvolvimento da linguagem da criança.
Para reforçar o estudo do processo de aquisição da linguagem, foram realizadas pesquisas com algumas crianças com idade variante entre 3 meses e 36 meses. Fazendo-se possível observar mais de perto o desenvolvimento oral das mesmas e o papel das mães durante esse processo de aquisição da fala. Foram entrevistadas duas mães com a finalidade de coletar dados sobre o desenvolvimento da fala de suas crianças e comparar assim com os estudos já apresentados.
Feitas algumas perguntas a Maria Vanuzia sobre os processos da fala de seu filho Miguel (3 anos) a mãe identificou que a primeira palavra emitida por Miguel foi “papa” isso reforça o que foi dito por estudiosos da aquisição da linguagem na criança. Aimard (1998) fala que “o [a] inaugura as vogais, seguidas de [i],[u]; - as consoantes anteriores [p] e [b]. Depois de falar “papa” começou a falar varias palavras de duas silabas “pipi, neném, lelé” (irmã) e outras. Quanto às primeiras frases ditas por Miguel – identificadas pela mãe- foram “me da”, “neném quer acua” seguidas de perguntas como “cadê leitim” , “cadê lelé” e outras. Pôde-se notar que a criança observada (Miguel) tem grande dificuldade de falar palavras com “gu” um exemplo é a palavra “água” no qual, Miguel pronuncia “acua” trocando o “gu” por “cu” e assim acontece com todas as palavras que levam “gu” na pronuncia.
A mãe chegou a questionar que a troca de letras podia ser hereditário pois a mesma apresenta as mesmas dificuldades de pronuncia identificadas na criança. Porem foi descoberta durante a pesquisa que a irmã de Miguel , Mariana(13 anos), também apresentava essas dificuldades, trocando o “g” pelo “c” quando Mariana começou a freqüentar a escola e ser corrigida foi aos poucos aprendendo a pronunciar corretamente as palavras. O que pode se ver como a interação adulto-criança influencia na aquisição da fala, retommos a questão do “interacionismo social” .
“Uma das questões a que se tem colocado é se o bebê será atingido por toda e qualquer amostra lingüística ou manifestações lingüísticas ao seu redor ou se as amostras que irão ter influencia na aquisição tem um caráter seletivo.Embora essa questão não tenha ainda tido uma resposta definitiva, as pesquisas tem apontado para a segunda alternativa: a criança é afetada pela fala dirigida a ela”
(SCARPA, 2001,p.215)
Num segundo momento em entrevista com outra mãe em relação a fala de seu filho, observamos como a interação mãe e filho reforça o que foi dito por Aimard (1998) “os processos: mãe e filho ou adulto e criança. O adulto não tenta ensinar nada a criança; eles são felizes juntos. A comunicação passa por olhares, sorrisos, postura, voz”.
Hilana tem 10 meses de idade e está, no inicio no inicio de aquisição da linguagem a mãe relata que ela produz diversos sons e adora falar “papa” com a boca dentro de um copo, fica repetindo por varias vezes, a mãe incentiva batendo palmas e Hilana se enche de felicidade com o gesto da genitora.
As palavras que Hilana mais pronuncia são: “papa” -inclusive ela chama a mãe de “papa”- “não” e “dada”.Identificamos nas produções sonoras de Hilana, a reduplicação silábica, característica na fase dos 10 meses.
“Por volta dos 10 meses ou um pouco depois, a criança começa a gostar de brincar com formas repetidas juntando dois fonemas como “dada”, “papaba” ou “papapa”. Falamos da reduplicação silábica” (Aimard, 1998, p.61)
Esses exemplos mostram a importância da interação adulto-criança na formação da linguagem.
2. Considerações finais
Em suma, nota-se que a interação social dos estudiosos da linguagem, destaca o papel desempenhado pelo input no processo de aquisição da linguagem infantil, porem sendo analisado seguindo as características individuais e dos aspectos sociais relacionados a criança e ao adulto.
É importante analisar essas características, pelo fato de existirem inconstância, de uma criança para outra, de uma mãe para outra, na forma que cada um, faz uso diferente da linguagem. É considerável ainda, que existam diferenças no ambiente sócio-cultural, em que os indivíduos vivem.
Para concluir, pode-se levar em conta, as diferenças nos modelos de uso da linguagem, e tudo isso é enfatizado, pela teoria da interação social.
 
3. Referencias Bibliográficas
 
AIMARD, Paule. O surgimento da criança na criança. Tradução de Cláudia Schilling. Porto alegre: Artemed, 1998
 
Luque, A & Villa,l.(1995) Aquisição da linguagem. Em C.Coll.J.Palacios & A.Marchesi(Orgs.), Desenvolvimento psicológico e educação (Vol.1,pp. 149-164). Porto Alegre
 
SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina .(orgs.) Introdução a lingüística domínios e fronteiras, v.2. São Paulo: Cortez, 2001
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STERNBERG, Robert J. Psicologia cognitiva. 4 ed. Porto Alegre. Artmed, 2008.
 
 
(As colaboradoras Camila Maria Rodrigues Gonçalves, Hilana Aparecida do Vale Oliveira e Maria Renata Borges receberam orientação acadêmica do professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.