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[[ImagemFicheiro:Franciscus Suarez, S.I. (1548-1617).jpg|thumb|250px|Francisco Suárez]]
'''Francisco Suárez''' ([[Granada]], [[5 de janeiro]] de [[1548]] — [[Lisboa]], [[25 de setembro]] de [[1617]]) foi um [[jesuíta]], [[filósofo]], [[jurista]] e pensador dos séculos XVI e XVII, destacando-se como uma das principais figuras do [[jusnaturalismo]] e do [[Direito Internacional]] da [[Idade Moderna]].
 
== Biografia ==
 
Francisco Suárez nasceu em Granada, em 5 de Janeiro de 1548, numa família de fidalgos com tradição militar, os Suárez de Toledo, parentes da casa dos duques de Alba. Estudou Direito em Salamanca (entre 1561 e 1564), abandonando os estudos para ser admitido na [[Companhia de Jesus]] (fundada em 1540).
 
Em 16 de Junho de 1564 foi aceite na Companhia como "Indiferente", isto é, reservando-se os superiores a decisão de este se vir a tornar sacerdote ou irmão laico, dadas as dúvidas acerca da sua saúde e inteligência. Começou o noviciado em Medina del Campo, sendo poucos meses depois convidado a estudar Filosofia em Salamanca. Aí se viria a revelar como um dos melhores alunos, passando ao estudo da Teologia (1566-70).
 
Tendo tomado o hábito, em 1571, toda a sua vida virá a ser dedicada ao ensino. Começou em Ávila e Segóvia (1575), passando a Valladolid (1576-80), Roma (1580-85), Alcalá (1585-93), Salamanca (1593-97) e Coimbra (1597-1615).
 
Na sua passagem por Roma foi próximo do [[Roberto Belarmino|cardeal Belarmino]], que fora discípulo de [[Juan de Mariana]], tendo o [[Papa Gregório XIII]] assistido ao seu primeiro curso. Em Alcalá de Henares, teve dificuldades com os censores; o dominicano Avendaño e os seus confrades jesuítas Vázquez e Lessius, ao publicar a sua primeira obra, em 1590, ''De Incarnatione Verbi''.
 
Após a sua chegada à Universidade de Coimbra, foi nomeado para a cátedra de Prima de Teologia, e no mesmo ano se editaram as suas ''Disputationes metaphysicae'', um extenso e minucioso tratado de ontologia. Doutorou-se na Universidade de Évora. Voltou a Coimbra para ensinar e publicar as obras que lhe valeram a designação de "Doutor Exímio", mestre incontestável da Escolástica seiscentista. Publicou então ''De legibus'' (Coimbra, 1612) e, a pedido do [[Papa Pio V]], a obra ''Defensio fidei catholicae'' (Coimbra, 1613).
 
Em 1615, publicou a obra ''De Fide'' e jubilou-se do ensino, saindo por essa altura de Coimbra para Lisboa. Morreu dois anos depois, ficando os seus restos mortais depositados na capela do altar da Anunciação da Igreja de São Roque, em Lisboa.
 
== O "Século de Ouro" ==
 
Suárez nasceu em Granada, Espanha, em 5 de Janeiro de 1548, algum tempo antes do período de máxima dimensão do império espanhol, quando a coroa dos Habsburgo, em Monarquia Dual, uniu os Reinos de Espanha e de Portugal (1580-1640).
 
Em 1479, pelo casamento da rainha Isabel de Castela e do rei Fernando de Aragão, conhecidos como os "Reis Católicos", estabelecera-se a Espanha como unidade política. Em 1492, os seus territórios seriam acrescentados pela conquista de Granada aos mouros e, no mesmo ano, Cristóvão Colombo anunciava a descoberta da América.
 
Nos cinquenta anos seguintes, a Espanha vai tornar-se a mais importante potência económica e política na Europa, tornando-se a sua capital, Madrid, a morada de muitos artistas, escritores, pensadores, no que veio a constituir, para a historiografia espanhola, entre 1500 e 1650, o chamado "[[Século de Ouro]]". A Espanha tornava-se líder na Europa, e líder incontestável, da Reforma Católica ou da chamada "Contra Reforma". Nesse período, viveram místicos como [[Teresa de Ávila]], [[São João da Cruz|João da Cruz]], [[Frei Luís de Leão]]. Em 1492, [[Antonio de Nebrija]] compôs a primeira gramática de uma língua romance. A música de Victoria, [[Cabezón]], bem como a de outros compositores espanhóis, tocava-se então por toda a Europa. No teatro, surgiram as peças de [[Lope de Vega]] e [[Calderón de la Barca]]. [[Miguel de Cervantes]] elevava a novela a um patamar de grande prestígio. Na pintura, [[Ribera]], [[Zurbaran]] e [[Velázquez]] atingiam fama internacional.
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Mestre incontestável da "Escola de Coimbra", Francisco Suárez foi professor da Faculdade de Teologia daquela Universidade a partir de 1597. Além de Suárez, ali se destacaram também teólogos e juristas como [[Martín de Azpilcueta]] (o doutor Navarro), [[Manuel da Costa]], [[Aires Pinhel]] e [[Martinho de Ledesma]]. Para muitos autores, a originalidade e a profundidade de Francisco Suárez não tem rival, atribuindo-se-lhe uma nova fase da escolástica e o lançar dos alicerces da moderna filosofia.
 
== Pensamento ==
 
Retomando conceitos da Antiguidade grega e romana por intermédio de [[Tomás de Aquino|São Tomás de Aquino]], Francisco Suárez tem sido considerado um dos autores mais importantes da chamada "[[Segunda Escolástica]]"<ref>Carol Giacon, La seconda scolastica , 2 vols, Milão, Fratelli Bocca, 1946</ref> seiscentista, e um dos precursores da ideia do pacto social (elaborado pelo povo de um estado por forma a torná-lo organizado e governável), mais tarde tratado também por outras figuras de proa como [[Thomas Hobbes]] ou, já no [[Iluminismo]], [[John Locke]].
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Considerado um dos mestres do direito internacional, a sua obra continua a de Francisco de Vitória e antecipa a de Grotius.
 
== Filosofia política ==
 
As ideias fundamentais da sua filosofia política encontram-se expostas em ''''De legibus'''' (Coimbra, 1612) e em ''''Defensio fidei catholicae'''' (Coimbra, 1613).
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Estas são as ideias fundamentais da filosofia política de Francisco Suárez, expostas em ''''De legibus'''' (Coimbra, 1612) e em ''''Defensio fidei catholicae'''' (Coimbra, 1613). Para conhecer em todos os pormenores o seu pensamento jurídico-político, encontram-se esclarecimentos e observações adicionais nos seus tratados teológicos, como, por exemplo, no livro 5º de ''De opere sex dierum'' (obra póstuma de 1621), onde são tratadas as características da sociedade civil e da autoridade que a rege.
 
== Obras ==
* ''De generatione et corruptione'', 1575. ([http://perso.wanadoo.es/v963918818/degetc1.pdf Manuscrito da “Biblioteca della R. universitá di Pavía”, Itália.])
* ''De fide'', Roma, 1583.
* ''Disputatio ultima de bello'', Roma, 1584.
* ''Quaestiones de iustitia et iure'', Roma, 1585.
* ''De baptismo parvulorum'', Alcalá, 1587.
* ''De Incarnatione Verbi'', Alcalá, 1590.
* ''De homicidio in defensionem propriae personae'', Alcalá, 1592.
* ''Disputationes metaphysicae'', 1597. [http://homepage.ruhr-uni-bochum.de/Michael.Renemann/suarez/index.html Projecto digital dirigido pelos Prof. Salvador Castellote e Michael Renemann (latim)],
* ''Varia Opuscula Theologica'', Madrid, 1599.
* ''De opere sex dierum'', Coimbra, 1600.
* ''De Legibus tractatus'', Coimbra, 1601-1603 (são conhecidos outros manuscritos desta obra: o "Manuscrito de Roma", 1582; o "Manuscrito de Coimbra", 1602; o "Manuscrito de Lisboa", de 1607).
* ''Tractatus de legibus ac Deo Legislatore'', Coimbra, 1612; Amberes, 1613; Lyon, 1613.
* ''De Defensio Fidei Catholicae adversus Anglicanae sectae errores'', Coimbra, 1613; Francoforte, 1614.
* ''De Fide'', 1615.
* ''De anima'', Lyon, 1621 (obra póstuma).
* ''De triplice virtute theologica'', 1621 (obra póstuma).
 
== Posteridade de Francisco Suárez ==
 
Após a morte de Francisco Suárez em Lisboa, os jesuítas de Portugal publicaram dez volumes dos seus trabalhos, entre 1619 e 1655, dando origem a um vasto conjunto de edições parciais em Coimbra, Évora, Leão, Salamanca, Madrid, Colónia, Paris, Génova, etc..
 
A sua obra foi muito considerada no século XVII, exercendo influência em autores como [[Grotius]], [[Descartes]] e [[Leibniz]], sendo significativo que o restauro de uma das alas do velho colégio dos jesuítas em Salamanca tenha então sido realizado com o dinheiro obtido com a publicação dos seus estudos teológicos.
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Ao descobrir-se no pensamento de Francisco Suárez e de [[Francisco de Vitória]] as origens do direito internacional moderno <ref>James Brown Scott, The Spanish Origin of International Law, Oxford, The Clarendon Press, 1934 </ref>, vários autores chegam a indicar o estudo e a difusão das suas obras como uma tarefa a realizar para sustentar uma nova ordem ocidental mais pacífica.
 
A "Segunda Escolástica" Seiscentista, com relevo para a que se produzira nas Universidades de Coimbra e de Salamanca, recuperava algum do prestígio que tivera no século XVII. O interesse pela obra de Suárez vem a atingir um ponto alto em 1948 com as edições do quarto centenário do seu nascimento. Com a difusão da obra de Heinrich A. Rommen, no início dos anos 50, abre-se uma nova etapa de aprofundamento nos diversos aspectos da sua obra, da teologia à filosofia, do jusnaturalismo à ontologia política. Em 1971, surgiu um novo impulso ao estudo com a edição crítica das obras de Suárez, em castelhano, no ''Corpus Hispanorum de Pace'' pelo ''Consejo Superior de Investigaciones Científicas'' (Madrid), a par das obras de, entre outros, [[Francisco de Vitória]], [[Domingo de Soto]], [[Melchor Cano]] e [[Bartolomé de Medina]].
 
== Recepção em Portugal ==
 
Nos séculos XVIII e XIX, ignorou-se quase por completo em Portugal a obra de Francisco Suárez, vindo este país a ficar no século XX praticamente à margem da redescoberta europeia e americana. As razões são antigas e duradouras. O iluminista [[Sebastião José de Carvalho e Melo|marquês de Pombal]] , se apreciava muito a teoria protestante do “[[direito divino dos reis]]”, apreciava muito pouco as teorias de Suárez e em geral dos jesuítas, apodados de “monarcómacos”. Quando Pombal expulsou os jesuítas de Portugal, Suárez tinha morrido ia para mais de um século. Pombal não mandou retirar os restos mortais de Suárez da Igreja de São Roque, em Lisboa, onde ainda hoje estão depositados na capela do altar da Anunciação, mas aproveitou as obras posteriores ao terramoto de 1755 para mandar colocar-lhe em frente um bem pesado órgão, de tal modo que não mais fosse lembrado. Os jesuítas voltaram mais tarde a Portugal, mas para serem de novo expulsos na sequência da implantação de uma República que, em 1914, abriu concurso para erigir uma estátua a Pombal no topo da Avenida da Liberdade, em Lisboa, inaugurada por [[Oliveira Salazar]] em 1934.
 
Em Portugal, com a excepção da redescoberta de Suárez pelos mestres do [[Integralismo Lusitano]], atentos ao papel desempenhado pelo seu pensamento político na matriz doutrinal da Restauração de 1640 (na ''deposição'' de [[Filipe IV de Espanha|Filipe III]] de Portugal, Filipe IV de Espanha), sob cuja influência se publicou um ou outro pequeno livro ou artigo de revista, como no caso de [[Paulo Merêa]], a verdade é que se viveu um fundo e longo letargo nos estudos suarecianos durante praticamente todo o século XX. Talvez estejamos agora a assistir a um virar de página. Surgiu recentemente a promessa de tradução para português das suas obras (as publicações iniciais foram em latim), começando-se pelo Livro I, Da Lei em geral, do ''De Legibus'' (Lisboa, Tribuna da História, 2004).
 
== Referências ==
 
<references/>
 
== Bibliografia em língua portuguesa ==
 
* Garcia Ribeiro de Vasconcelos, A., Suárez em Coimbra. Colleção de documentos, Coimbra 1897. Cf. ID., id., in Bol. da R. Ac. da Hist. 24 (1894), 33 ss.
* Vasconcelos, A.G.P. de, Suárez em Coimbra. Colleção de documentos, Coimbra, 1897.
* Francisco Suárez (Doctor Eximius). Oito de Maio 1597-oito de Maio 1890. (Obra publicada pela Univ. de Coimbra no III Cent. da tomada de posse da Cátedra de Coimbra, 1890).
* [[Paulo Merêa]], ''Suárez Jurista'', Coimbra, 1917.
* [[Paulo Merêa]], ''Suárez, Grocio, Hobbes. Lições de história das doutrinas políticas feitas na Universidade de Coimbra'', Coimbra, Editor Arménio Amado, 1941.
* Cassiano Abranches, "As verdades eternas e os possíveis na metafísica de Suárez", Revista portuguesa de filosofía 4, 1948, 364-380.
* Paulo Durão Alves, S. J., A Filosofia Política de Suárez, Porto, Livraria Tavares Martins, 1949.
* Lima de Carvalho, A., "Francisco Suárez. Sua posição no tempo", Estudos, 27 (Coimbra 1949), 1-7.
* Miranda Barbosa, A., "A individuaçao nas disputas metafisicas de Suárez", Actas del IV Cent. de F. Suárez (Madrid 1949), I, pp. 339-360.
* M. A. Ramos da Motta Capitão, "Bibliografía portuguesa de Suárez", Revista portuguesa de filosofia (Lisboa), 4, 1953, 56-61.
* Pedro Calafate, "A ideia de soberania em Francisco Suárez", in Francisco Suárez (1548-1617), tradição e modernidade, ed. Adelino Cardoso e.a., Lisboa, Edições Colibri - Centro de filosofia da Universidade de Lisboa, 1999, 251-264.
* Adelino Cardoso, "A viragem glissoniana do pensamento em Francisco Suárez", in Francisco Suárez (1548-1617), tradição e modernidade, ed. Adelino Cardoso e.a., Lisboa, Edições Colibri - Centro de filosofia da Universidade de Lisboa, 1999, 07-222.
* Adelino Cardoso; A. M. Martins; L. Ribeiro dos Santos (coord.), Francisco Suárez (1548-1617). Tradição e modernidade, Lisboa, 1999 [Actas & Colóquios, 21].
* Joaquim Cerqueira Gonçalves, "Francisco Suárez e a modernidade filosófica - a distinção essência-existência", ed. Adelino Cardoso e.a., Lisboa, Edições Colibri - Centro de filosofia da Universidade de Lisboa, 1999, 21-132.
* Amândio A. Coxito, "Francisco Suárez: as relações entre a Igreja e o Estado", in Francisco Suárez (1548-1617), tradição e modernidade, ed. Adelino Cardoso e.a., Lisboa, Edições Colibri - Centro de filosofia da Universidade de Lisboa, 1999, 239-250.
* Francisco Suárez, De Legibus, Livro I, Da lei em geral, Lisboa, Tribuna da História, 2004.
 
== {{Ligações externas}} ==
 
* [http://www.scholasticon.fr Bibliografia geral sobre Francisco Suárez (1856-2008)]
* [http://www.formalontology.it/suarez-metaphysical-disputations.htm Francisco Suarez on Metaphysics as the Science of Real Beings]
 
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