Rota das especiarias: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Santosga (discussão | contribs)
m Manutenção (E081) utilizando AWB
Linha 1:
As '''rotas das especiarias''' foram [[Rota de comércio|rotas comerciais]] geradas pelo comércio de [[especiarias]] provenientes da [[Ásia]]. Estas rotas remontam à [[antiguidade clássica|antiguidade greco-romana]] interligando diversos povos ao longo do tempo, da [[Europa]] à Ásia. Ligando importantes pontos comerciais e cruzando grande parte do mundo então conhecido, as rotas de especiarias para a Europa foram sucessivamente dominadas por mercadores do norte de [[África]] e do médio Oriente, pela [[República de Veneza]] no Mediterrâneo e, mais tarde, pelos portugueses que, com a [[descoberta do caminho marítimo para a Índia]] iniciariam uma rota marítima alternativa. A [[rota do Cabo]], contornando [[África]], viria a ser explorada também pelos [[Holanda|Holandeses]], entre outras potências europeias.
 
== Rotas antigas ==
As civilizações asiáticas desenvolveram o comércio de especiarias desde a antiguidade e o mundo greco-romano deu-lhes continuidade, comerciando ao longo das chamadas "rota do incenso" e "rota romana da índia".<ref>Fage, John Donnelly; et al. (1975). The Cambridge History of Africa. Cambridge University Press. ISBN 0521215927-p.164</ref>
 
Linha 7:
Um mercador de [[Lisboa]] descreve a rota das especiarias antes da descoberta do caminho marítimo para a Índia da seguinte forma:
 
: "''Desta terra de [[Calecute]] vai a especiaria que se come em [[Portugal]] e em todas as províncias do [[Mundo]]; vão também desta cidade muitas [[pedra preciosa|pedras preciosas]] de toda a sorte. Aqui carregam as [[nau]]s de [[Makkah|Meca]] a especiaria e a levam a uma cidade que está em Meca que se chama [[Judeia]]. E pagam ao grande sultão o seu direito. E dali a tornam a carregar em outras naus mais pequenas e a levam pelo [[Mar Vermelho|Mar Ruivo]] a um lugar que está junto com [[Mosteiro Ortodoxo de Santa Catarina|Santa Catarina do Monte Sinai]] que se chama [[Tunes (Tunísia)|Tunis]] e também aqui pagam outro direito. Aqui carregam os mercadores esta especiaria em [[Camelus|camelos]] alugados a quatro cruzados cada camelo e a levam ao [[Cairo]] em dez dias; e aqui pagam outro direito. E neste caminho para o Cairo muitas vezes os salteiam os ladrões que há naquela terra, os quais são alarves e outros.''»
[[Ficheiro:Silk Route extant.JPG|thumb|400px|As importantes rotas comerciais terrestres (vermelho) e marítimas (azul) bloqueadas pelo Império Otomano em [[1453]] após a [[queda de Constantinopla]].]]
: «''Aqui tornam a carregá-la outra vez em umas naus, que andam num rio que se chama o [[rio Nilo|Nilo]], que vem da terra do [[Preste João]], da Índia Baixa; e vão por este rio dois dias, até que chegam a um lugar que se chama [[Roxete]]; e aqui pagam outro direito. E tornam outra vez a carregá-la em camelos e a levam, em uma jornada, a uma cidade que se chama [[Alexandria]], a qual é porto de mar. A esta cidade de Alexandria vêm as [[galé]]s de [[Veneza]] e de [[Génova]] buscar esta especiaria, da qual se acha que há o grande [[sultão]] 600 000 cruzados; dos quais dá, em cada ano, a um rei que se chama Cidadim 100 000 para que faça guerra ao Preste João.''" Dos mercados de [[República de Veneza|Veneza]] e [[República de Gênova|Génova]] só então eram espalhadas para toda a [[Europa]] estas especiarias, acrescidas imensamente no seu custo, e sem chegada garantida.
 
== Rota marítima do Cabo ==
[[Ficheiro:Descobrimentos e explorações portuguesesV2.png|thumb|400px| Datas e primeiros contactos dos portugueses de 1415-1543 e rotas no [[Oceano Índico]] (azul)]]
As rotas terrestres iniciais viriam a ser substituídas por rotas marítimas, dando um enorme impulso no crescimento do comércio. <ref name="Encyclopedia Britannica 2002">"spice trade". Encyclopedia Britannica. Encyclopædia Britannica. 2002.</ref>
Durante a [[Idade Média]] comerciantes muçulumanos dominaram as rotas marítimas de especiarias no oceano Índico, dominando áreas chave e enviando as especiarias da India para ocidente pelo [[ Golfo Pérsico]] e pelo [[mar Vermelho]], a partir de onde seguiam por terra para a Europa com enormes custos.
 
O comércio seria transformado na era dos [[descobrimentos]] <ref>Donkin, Robin A.</ref> durante os quais o comércio de especiarias seria um importante motor.<ref name="Corn, Charles 1999">Corn, Charles; Glasserman, Debbie (March 1999). The Scents of Eden: A History of the Spice Trade.-Prólogo</ref>
Face ao custo das rotas convencionais, o proveito dos portugueses em estabelecer uma rota marítima, praticamente isenta de assalto, embora coberta de perigos no mar, mostrava-se recompensador e prometia um grande rendimento à Coroa. Portugal, que vinha avançando nos seus descobrimentos marítimos, iria ligar directamente as regiões produtoras das especiarias aos seus mercados na Europa. A [[Rota do Cabo|rota marítima para a Índia contornando África]], pelo Cabo da Boa Esperança, foi [[Descoberta do caminho marítimo para a Índia|descoberta]] em 1497 por [[Vasco da Gama]], resultando em novas rotas comerciais.
Este comércio - que moveria a economia mundial desde o fim da idade média até aos tempos modernos, <ref> name="Corn, Charles; Glasserman, Debbie (March 1999). The Scents of Eden: A History of the Spice Trade.-Prólogo<"/ref> impulsionaria uma era de domínio europeu no Oriente.
Canais, como a [[Baía de Bengala]], serviram de pontes para trocas culturais e comerciais entre diferentes culturas<ref>Donkin, Robin A. (August 2003). Between East and West: The Moluccas and the Traffic in Spices Up to the Arrival of Europeans.</ref> à medida que diferentes países procuraram ganhar controlo do comércio ao longo das muitas rotas.<ref name="Encyclopedia Britannica 2002"/>
As rotas portuguesas foram limitadas pelos percursos, portos e nações difíceis de dominar. Os Holandeses viriam mais tarde a dominar, conquistando território aos portugueses e fazendo a navegação directa desde o Cabo da Boa Esperança até ao [[estreito de Sunda]], na Indonésia.
 
== Notas ==
{{reflist|2}}
{{refbegin}}
 
== {{Bibliografia}} ==
* "spice trade". Encyclopedia Britannica. Encyclopædia Britannica. 2002.
* Donkin, Robin A. (August 2003). Between East and West: The Moluccas and the Traffic in Spices Up to the Arrival of Europeans. Diane Publishing Company. ISBN 0871692481.
* Corn, Charles; Glasserman, Debbie (March 1999). The Scents of Eden: A History of the Spice Trade. Kodansha America. ISBN 1568362498.
* Collingham, Lizzie (December 2005). Curry: A Tale of Cooks and Conquerors. Oxford University Press. ISBN 0195172418.
* Rawlinson, Hugh George (2001). Intercourse Between India and the Western World: From the Earliest Times of the Fall of Rome. Asian Educational Services. ISBN 8120615492.
* Fage, John Donnelly; et al. (1975). The Cambridge History of África. Cambridge University Press. ISBN 0521215927.
* Ray, Himanshu Prabha (2003). The Archaeology of Seafaring in Ancient South Asia. Cambridge University Press. ISBN 0521011094.
* Crone, Patricia (2004). Meccan Trade And The Rise Of Islam. Gorgias Press LLC. ISBN 1593331029.
* Shaw, Ian (2003). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxford University Press. ISBN 0192804588.
* Ball, Warwick (2000). Rome in the East: The Transformation of an Empire. Routledge. ISBN 0415113768.
* Lach, Donald Frederick (1994). Asia in the Making of Europe: The Century of Discovery. Book 1.. University of Chicago Press. ISBN 0226467317.
 
== {{Ligações externas}} ==
* [http://www.metmuseum.org/toah/hd/silk/hd_silk.htm Trade between the Romans and the Empires of Asia. Department of Ancient Near Eastern Art, The Metropolitan Museum of Art]
 
== {{Ver também}} ==
* [[Rota da seda]]
* [[Especiarias]]
* [[Rota de comércio]]
* [[Galeão de Manila]]
 
[[Categoria:Especiarias]]