Francisco Fernandes Lopes: diferenças entre revisões

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nova página: '''Francisco Fernandes Lopes''' (Olhão, 27 de Outubro de 1884 - 6 de Junho de 1969) formou-se em medicina, mas notabilizou-se porém pelo seu...
 
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==Biografia==
Nascido no seio de uma família olhanense, Francisco Fernandes Lopes fez a escola primária em [[Olhão]], passando posteriormente a estudar no Liceu de [[Faro]]. Logo aí começou a destacar-se, senão pelo seu génio, pelo menos pela sua memória, pois chegou a saber de cor todo o primeiro Canto d'''[[Os Lusíadas]]'', e mais duas centenas e meia de versos de outros episódios. Segue então para [[Lisboa]], para finalizar os estudos que o conduzirão à Universidade, tendo sido aparentemente influenciado por [[Francisco Pulido Valente]] para cursar medicina. Francisco Fernandes Lopes também conheceu, ainda em Lisboa, uma plêiade de futuras personalidades ilustres e reconhecidas nas mais diversas áreas: os irmãos Pedro e [[Luís de Freitas Branco]], [[Ivo Cruz]], , [[Leonardo Rey Colaço de Castro Freire]], [[Câmara Reis]], [[Almada Negreiros]], [[Ruy Coelho]] e [[Fernando Pessoa]].
 
Ingressou então na [[Faculdade de Medicina de Lisboa]], onde finalizou a licenciatura, em [[1911]], com uma média de 18 valores. Em [[1916]] finalmente doutorou-se, com a brilhante média de 19 valores, depois de apresentar uma tese sobre "Drogas e Farmacopeia". Obteve logo convites para leccionar nesta Faculdade, mas renuncia e regressa à sua vila natal. Resposta negativa semelhante deu a [[Leonardo Coimbra]] que o viria a convidar para ser professor de [[Filosofia]] da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e a [[Fernando Pessoa]], que, segundo três cartas datadas de 1919, convidou-o para um projecto de edição de uma revista sobre cultura portuguesa dedicada a estrangeiros. Para Fernando Pessoa, apenas Francisco Fernandes Lopes e mais uns poucos (nunca referidos mas que seriam "[quase] numericamente ninguém"...) teriam os golpes de génio necessários para mostrar no estrangeiro a grandeza intelectual da cultura portuguesa.
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Mas Francisco Fernandes Lopes preferia ficar em [[Olhão]], vila de pescadores que vivia um momento de prosperidade económica atendendo ao labor das pescas, navegação de cabotagem e, sobretudo, à indústria conserveira. Nessa vila viveu praticamente toda a sua vida, tendo-se retirado pontualmente em algumas ocasiões, sobretudo por motivos de investigação ou de divulgação cultural, retirando-se definitivamente daí para Lisboa apenas alguns anos antes de morrer. Divulgou como poucos o fizeram a cultura e o património de [[Olhão]], sendo também da sua autoria o célebre epíteto de [[vila cubista]]. Publicou vários artigos sobre [[Olhão]] (em jornais e na [[Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira]]) e estudou a gesta colonizadora dos marítimos olhanenses no sul de [[Angola]], em finais do séc. XIX. Foi ainda em [[Olhão]] que serviu de cicerone de várias figuras intelectuais, políticas e militares nacionais estrangeiras, como o Marechal Carl Gustaf Emil Mannerheim (herói das guerras fino-russas e Presidente da República da Finlândia), a Princesa de Lichtenstein, o Barão [[Boris von Skossyreff]] (auto-proclamado Rei de Andorra), os escritores [[Georges Duhamel]], [[Jean-Louis Vaudoyer]], [[Emile Henriot]], [[Daniel Rops]] e [[Simone de Beauvoir]], o arabista [[Lévy-Provençal]], os pintores [[Mário Eloy]], [[Fausto Sampaio]] e [[Eduardo Viana]], o crítico musical austríaco [[Paul Stefan]]...
 
Também em [[Olhão]] fortaleceu o dinamismo cultural que já existia, organizando entre [[1924]] e [[1928]] uns "Serões Musicais", no Grémio Olhanense, onde executou dezenas de palestras, ilustradas por excertos musicais executados por um grupo ensaiado por ele próprio. Estas palestras adquiririam grande notoriedade nacional, tendo trazido a Olhão nomes importantes da música como Luís de Freitas Branco (director artístico do Teatro de S. Carlos), Rui[[Ruy Coelho]], Francine Benoit, e a musicóloga Ema Romero da Câmara Reis (esposa de [[Câmara Reis]]). Esta acaba por convidar Francisco Fernandes Lopes para repetir algumas das suas palestras em Lisboa (integradas num ciclo de conferências chamado ''Divulgação Musical''), e publica-as na sua obra ''Seis anos de divulgação musical'' (Lisboa, 1929-1930). Foi no âmbito deste convite que Francisco Fernandes Lopes fez ouvir em Portugal, pela primeira vez, em 25 de Janeiro de 1932, o ''[[Pierrot Lunaire]]'', de [[Schoenberg]].
 
Francisco Fernandes Lopes escreve ainda sobre música em vários jornais regionais, nacionais e em revistas francesas da especialidade, continua os seus ''Serões Musicais'' em Olhão (1929-30) e é convidado a participar em novas conferências musicais em Lisboa ([[1934]]) e em programas radiofónicos na [[Emissora Nacional]] , onde fica célebre uma sua palestra, pela polémica - ''A evolução do Fado, da guitarra à sinfonia''(1935).
Estudou profundamente a música das ''[[Cantigas de Santa Maria]]'' da autoria de [[D. Afonso X de Castela]]. Estas cantigas tinham um problema de decifração e Francisco Fernandes Lopes recebeu uma bolsa da [[Junta de Educação Nacional]] para as decifrar, tendo-se deslocado a [[Madrid]], ao [[Escorial]] e a [[Sevilha]]. Em [[1944]], apresentou uma comunicação muito aplaudida sobre o assunto no Congresso Luso-Espanhol em Córdova e, em [[1950]], no II Congresso Regional Algarvio.
Francisco Fernandes Lopes também foi compositor, sendo peças suas o bailado ''Cristóvão Colombo'', as óperas ''Belkiss'' em 1907-1908 (esta ópera, a partir de um poema em prosa de [[Eugénio de Castro]], foi acabada por [[Ruy Coelho]]) e ''Balada de Fumo'' (publicada em [[1913]]), assim como várias melodias para poemas de poetas nacionais, como [[Camões]], [[Antero de Quental]], [[António Sardinha]], [[João de Deus]], [[Cândido Guerreiro]], [[Fernando Pessoa]] e [[João Lúcio]], entreterá iniciado a composição de uma ópera com o libreto da ''Belkiss'', a partir de um poema em prosa de [[Eugénio de Castro]], que por manifesta falta de tempo não terá chegado a concluir. O seu amigo [[Ruy Coelho]] ter-lhe-á pedido para utilizar esse libreto, tendo escrito uma ópera em três actos que venceu um concurso internacional em Madrid em outros1924.
Em [[1937]], presumivelmente a convite de [[Ivo Cruz]], faz a primeira tradução para português da ''[[Ode à Alegria]]'', de [[Shiller]], muito apreciada pelos críticos da época. Luís de Freitas Branco no jornal "O Século" escreve: "Lamentamos que o tempo e o espaço nos não permitam fundamentar largamente a nossa admiração pelo trabalho de do dr. Francisco Fernandes Lopes, que traduziu para português a ''Ode à Alegria'' de Shiller, que as vozes entoam no final. Não resistimos porém ao impulso de salientar o modo feliz como foi resolvido o difícil problema da entrada do coro sob as duas sílabas de Freude".
Francisco Fernandes Lopes também compõe a música de fundo para o ''Auto das Rosas de Santa Maria'', escrito pelo poeta algarvio [[Cândido Guerreiro]], que é executado em público pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (maestro Pedro de Freitas Branco), em [[Sagres]], no ano de [[1940]] no âmbito das [[Comemorações da Fundação da Nacionalidade]].