Polaridade nas relações internacionais: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Lechat bot (discussão | contribs)
Checkwiki: limpeza de sintaxe, Replaced: Categoria:Relações Internacionais → Categoria:Relações internacionais, utilizando Project:AWB
Linha 1:
'''Polaridade nas relações internacionais''' é o que se descreve como distribuição de poder dentro de um sistema internacional. Refere-se a natureza do sistema internacional em qualquer período de tempo.
 
Há basicamente três modalidades de polaridade do Sistema Internacional: [[Unipolaridade]], [[Bipolaridade]] e [[Multipolaridade]]. Um quarto tipo, menos utilizado, refere-se à [[Tripolaridade]], quando existem claramente apenas três grandes pólos de poder.
 
A maior parte dos teóricos da área de relações internacionais considera que a conformação do Sistema Internacional é completamente dependente da distribuição de poder e da influência de [[Estados]] em uma região ou a nivel internacional.
 
== Poder, potência e polaridade ==
Grande parte dos problemas relacionados à classificação da polaridade do sistema internacional está relacionado aos diferentes critérios utilizados para se clasificar uma potência. Alguns autores diferenciam aspectos como a capacidade de atuação ou a capacidade de [[projeção de poder]] de uma potência (potência global, continental, [[potência regional]], local) da dimensão ou "tamanho" do poder ([[superpotência]], [[grande potência]], [[potência média]] e pequenas potências). O grande problema que aparece neste caso é que, dependendo dos critérios utilizados para se mensurar poder, o número de pólos de poder muda. O tipo de poder a ser considerado também muda o resultado da classificação, pois é diferente considerar o [[poder]] real ou de uso imediato (geralmente político-militar), do [[poder]] potencial, que geralmente inclui economia, finanças, capacidade industrial, demografia e tamanho da população, tamanho do território, recursos naturais, capacidade de engenharia e de desenvolvimento tecnológico, além de aspectos diplomáticos, como o padrão de alianças e inimizades regionais.
 
Considerando critérios de poder real, por exemplo, autores americanos como Lieber & Press (1996), chegaram a defender que a supremacia nuclear americana era suficiente para garantir a [[supremacia]] militar global e, portanto, a [[unipolaridade]] do [[sistema internacional]]. Isto foi contestado diretamente por Cepik, Avila e Martins (2007 e 2009), que defendem que os Estados Unidos não possuem supremacia nuclear incontestável (seria apenas superioridade nuclear), e que mesmo que os Estados Unidos obtivessem a supremacia nuclear, isso não seria suficiente para impor e manter a [[unipolaridade]] absoluta no sistema mundial.
 
Este tipo de controvérsia envolve claramente definições distintas do que vem a ser poder, como mensurar o poder de um país, quais os elementos de [[poder]] (real e imediato ou potencial) mais relevantes e em que hierarquia de importância este devem ser considerados. Simplesmente não há concenso a respeito desta hierarquização em nenhuma grande corrente teórica das [[relações internacionais]], de estudos da [[geopolítica]] ou de [[estudos estratégicos]].
Uma das definições interessantes é a de [[John J. Mearsheimer]], que considera que o primeiro critério para definir as grandes potências ou [[superpotências]], é verificar se estas possuem capacidade nuclear de segundo ataque (ver [[Destruição Mútua Assegurada|MAD]]), ou seja, a capacidade de sobreviver a um [[ataque nuclear]] e retaliar o país agressor com um outro [[ataque nuclear]]. Somente [[Estados Unidos]], [[Rússia]] e [[China]] teriam esta capacidade, portanto seriam as únicas três "grandes potências mundiais". Hierarquicamente abaixo deste critério principal, um segundo conjunto de critérios levantados por Mearsheimer envolveria o tamanho do [[Exército]], como principal capacidade dissuasória de um país após a capacidade nuclear. Uma terceira categoria, mais complexa e difícil de ser mensurada envolve a capacidade política e econômica de sustentar umaa "[[estratégia]] de [[grande potência]],". ouAs "logísticacapacidades denecessárias grandepara potência".que Oum primeiropaís critériomantenha destauma categoria"estratégia de grande potência", portanto, seriasão principalmente a capacidade de uma potência de conseguir manter seu arsenal nuclear em pronto uso (incluindo os meios de lançamento como bombardeios estratégicos, Míssil balístico intercontinental|mísseis balísticos intercontinentais]] e submarinos nucleares lnaçadoreslançadores de mísseis) e também de manter e sustentar por longo período de tempo, um grande exército[[Exército]]. Estas capacidades precisariam ser mantidas mesmo diante das pressões da competição internacional. Pode-se considerar, por exemplo, que na segunda metade da [[Guerra Fria]], a [[URSS]] não coseguiu manter sua estratágia de grande potência e sucumbiu frente às pressões estratégicas impostas pelo seu maior competidor, os [[Estados Unidos]] e seus aliados.
 
Mesmo uma categorização simultaneamente clara e complexa como esta é questionável, pois novas categorias de [[armas estratégicas]], ou armas de uso estratégico (como canhões a laser e armas de energia direta, aeronaves aeroespaciais hipersônicas), tenderiam a substituir com vantagens as atuais [[armas nucleares]] e a tríade de lançadores nucleares, formada pelos bombardeios estratégicos, mísseis balísticos intercontinentais e submarinos nucleares lançadores de mísseis (AVILA, CEPIK & MARTINS, 2009).
 
== Polaridade e estabilidade do Sistema Internacional ==
É comum a confusão de [[unipolaridade]] com [[supremacia]] ou [[hegemonia]], embora sejam três conceitos distintos.
A maior parte dos pensadores das relações internacionais que seguem a chamda escola realista geralmente utilizam o termo hegemonia como sinônomo de supremacia militar. Uma pequena parte dos autores realistas, a grande maioria dos teóricos construtivistas, liberal-institucionalistas e marxistas, consideram supremacia como sendo diferente de hegemonia (ANDERSON, 2002; ARRIGHI, 1996; KEOHANE, 1984). Para este grupo de autores, geralmente, hegemonia vai além da força e inclui, em algum grau, liderança, ou seja, a capacidade de influência político-diplomática, e (ou) econômica e (ou) ideológica e cultural. Já a supremacia estaria associada diretamente à existência de uma superioridade militar incontestável. Neste sentido os Estados Unidos, no mundo de hoje, teriam hegemonia global, mas supremacia militar apenas na América do Norte.
 
[[Kenneth Waltz]], criador da corrente teórica do [[realismo estrutural]], considera que a [[bipolaridade]] é o sistema mais estável e a [[multipolaridade]] o mais instável, ou propenso à um [[guerra]] central, como as Guerras Mundiais. Para este autor, a bipolaridade seria caracterizada pela divisão do mundo ou de um continente em duas grandes áreas de influência de duas potências com superioridade militar (supremacia) regional, como na época da [[Guerra Fria]].
 
[[John Mearsheimer]], por sua vez, considera que é muito difícil uma supremacia global, mas que os Estados Unidos ficariam satisfeitos em continuar sendo a única potência mundial com hegemonia (no sentido de supremacia) regional, na [[América do Norte]]. Assim, a estratégia americana para impedir o surgimento de hegemonias regionais e continuar sendo a única potência com hegemonia-supremacia regional estaria correta, pois garantiria a liderança global. Assim, a [[unipolaridade]] seria o sistema menos propenso a guerras centrais.
 
Ao mesmo tempo, autores brasileiros consideram que a [[multipolaridade]] equilibrada é o padrão de distribuição de poder mais estável e, portanto, menos propenso às guerras centrais. O problema, portanto, estaria no desequilíbrio entre as capacidades das potências, como principal causador de conflitos centrais, e, não necessariamente, no número de pólos de poder.
 
== {{Bibliografia}} ==
* ARON, Raymond (1986). '''''Paz e Guerra entre as Nações'''''. Editora UnB, Brasília, DF. Brasil.
* ANDERSON, Perry (2002). ''Force and Consent'', '''New Left Review''', n. 17, p. 5-30
* ARRIGHI, Giovanni (1996). '''''O Longo Século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo'''''. Ed. Contraponto: Rio de Janeiro, RJ; Ed. UNESP: São Paulo, SP; Brasil.
* CEPIK, Marco A. C.; AVILA, Fabrício S.; MARTINS, José Miguel Q. (2007). ''O escudo anti-míssil americano e a resposta russa''. '''Radar do Sistema Internacional'''. Brasil. [http://rsi.cgee.org.br/documentos/4241/1.PDF]
* CEPIK, Marco A. C.; AVILA, Fabrício S.; MARTINS, José Miguel Q.(2009). ''Armas estratégicas e poder no sistema internacional: o advento das armas de energia direta e seu impacto potencial sobre a guerra e a distribuição multipolar de capacidades''. '''Revista Contexto Internacional''', vol.31, n.1, p. 49-83. Rio de Janeiro, Brasil. [http://www.scielo.br/pdf/cint/v31n1/02.pdf]
* KEOHANE, Robert (1984). '''''After Hegemony: Cooperation and Discord in the World Political Economy'''''. Princeton University Press, Princeton, Oxford.
* LIEBER, Keir A. & PRESS, Daryl G. (2006) ''A ascensão da supremacia nuclear dos Estados Unidos''. '''Revista Política Externa''', v. 15, nº 1, jun/jul/ago de 2006, p. 47-56.
* MEARSHEIMER, John (2007). '''''A Tragédia da Política das Grandes Potências'''''. Tradução: Tiago Araújo. Ed. Gradiva: Lisboa, Portugal.
* WALTZ, K. (1979). '''''Theory of International Politics'''''. Reading: Addison-Wesley .
* WALTZ, K. (2000).''Structural Realism after the Cold War'', '''International Security''', Vol. 25, No. 1, p. 5-41.
 
{{Poder internacional}}
 
[[Categoria:Relações internacionais]]
[[Categoria:Política Internacional]]
[[Categoria:Guerra]]
 
Mesmo uma categorização simultaneamente clara e complexa como esta é questionável, pois novas categorias de [[armas estratégicas]], ou armas de uso estratégico (como canhões a laser e armas de energia direta, aeronaves aeroespaciais hipersônicas), tenderiam a substituir com vantagens as atuais [[armas nucleares]] e a tríade de lançadores nucleares, formada pelos bombardeios estratégicos, [[Míssil balístico intercontinental|mísseis balísticos intercontinentais]] e [[submarino|submarinos]] nucleares lançadores de [[Míssil balístico intercontinental|mísseis]] (AVILA, CEPIK & MARTINS, 2009).
[[da:Magtbalanceordning]]
[[en:Polarity in international relations]]
[[ru:Баланс сил (геополитика)]]