Funaná: diferenças entre revisões

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[[ImagemFicheiro:Bino Branco.jpg|thumb|rightdireita|300px|O cantor '''Bino Branco''' do grupo '''Ferro Gaita''', atuando com o grupo do músico '''Vadú'''.]]
[[Ficheiro:Dançarinas de funaná.jpg|300px|thumb|Dançarinas de funaná na [[Ilha do Sal]].]]
O '''funaná''' é um [[Gênero musical|género musical]] e de dança originários de [[Cabo Verde]]
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== Características ==
A estrutura da composição do funaná não é muito diferente da estrutura de outros géneros musicais em Cabo Verde, ou seja, basicamente, a música estrutura-se num conjunto de [[Estrofe musical|estrofes]] principais que se alternam com um [[refrão]]. Só que, intercalando as estrofes e os refrãos existe um solo executado na gaita.<ref name="Gonçalves" />. As músicas são geralmente [[Monotonia (música)|monotónicas]].
 
O acompanhamento é executado com a mão esquerda na gaita, fornecendo os [[baixo]]s e os [[acorde]]s. O modelo rítmico é executado no [[Ferrinho (instrumento musical)|ferrinho]].<ref name="Gonçalves" />
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As letras do funaná geralmente abordam situações do quotidiano, fazendo menções às amarguras e felicidades do dia-a-dia, mas também críticas sociais, reflexões sobre a vida e situações idílicas. Compositores mais recentes, no entanto, têm alargado o leque de temas. Uma característica das letras do funaná tradicional é que a poesia não é feita de um modo directo, mas usa frequentemente figuras de estilo, provérbios e ditados populares. Exemplos:
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== História ==
O funaná é um género musical relativamente recente. Segundo a tradição oral,<ref name="Gonçalves" /><ref name="Veiga">Veiga, A. G., ''Badjo di Gaita na Ilha de Santiago'', in ''Voz di Povo'' — edições de 14 e 23 de Agosto de 1982</ref><ref name="Gonçalves" />, o funaná surgiu quando, numa tentativa de aculturação, o acordeão teria sido introduzido na [[ilha de Santiago]] no início do [[Século XX|séc.século XX]], para que a população aprendesse géneros musicais portugueses. O resultado, no entanto, teria sido completamente diferente: seria a criação de um género novo e genuíno. Não existem no entanto, documentos musicológicos a corroborar isso. Mesmo assim, não deixa de ser curioso o facto de, mesmo sendo um género musical totalmente diferente, o uso da gaita e do ferrinho no funaná é análogo ao uso do acordeão e dos [[Triângulo (instrumento musical)|ferrinhos]] em certos géneros musicais portugueses ([[malhão]], [[corridinho]], [[Vira (género musical)|vira]], etc.).
 
Outras fontes, também de tradição oral,<ref name="Gonçalves" />, referem outra origem. Situam a origem do funaná no incremento da importação de acordeões como um substituto barato de [[Órgão (instrumento)|órgãos]] para interpretar música religiosa. O funaná teria então surgido da adaptação para acordeão de outros géneros musicais então em voga.
 
O próprio nome «funaná» também é recente,<ref name="Veiga" />, e data provavelmente dos [[anos 60]] e [[Anos 70|70]]. Para uns, o nome deriva da palavra portuguesa «fungagá». Para outros o nome vem da junção dos nomes de dois exímios tocadores, um de gaita e outro de ferrinho, chamados '''Funa''' e '''Naná'''. As palavras mais antigas para designar o funaná<ref name="Fernandes">Fernandes, A. N., ''O dialecto crioulo — Léxico do dialecto crioulo do Arquipélago de Cabo Verde'' — 1969</ref> eram «fuc-fuc» e «''badju l’ gaita''».
 
Inicialmente um género exclusivo de Santiago, durante muito tempo o funaná foi relegado para um contexto rural e/ou para as camadas mais desfavorecidas da população. Chegou mesmo a ser proibida a sua interpretação na capital, onde era a [[morna]] que gozava de prestígio e de um carácter nobre.
 
Mas durante a década de 70, e sobretudo depois da independência, houve tentativas de fazer ressurgir certos géneros musicais, entre os quais o funaná. A ideologia socialista do pós-independência, com a luta contra a desigualdade entre as classes sociais coinstituiu terreno fértil para o (re)surgimento do funaná, que até então era considerado música das camadas mais desfavorecidas.<ref name="Catchás">Martins, C. A., ''Funaná, a maior conquista'' in Tribuna — Dezembro de 1986</ref>. Essas tentativas não foram muito bem sucedidas sobretudo porque «o funaná não conseguiu desgarrar-se da [[coladeira]]»{{semCarece de fontes|data=Dezembro de 2008}}.
 
Foi necessário esperar pela década de [[Anos 80|80]] para que o conjunto [[Bulimundo]] e sobretudo o seu mentor Carlos Alberto Martins (mais conhecido por [[Catchás]]) viessem fazer ressurgir o funaná.<ref name="Gonçalves" />. Indo «beber» directamente à fonte (o interior da ilha de Santiago), Catchás aproveitou os seus conhecimentos de [[jazz]] e [[música clássica]]{{semCarece de fontes|data=Dezembro de 2008}} para inventar um novo estilo de tocar o funaná, apoiando-se em [[Electrofones#Instrumentos eléctricos|instrumentos eléctricos]] e [[Electrofones#Instrumentos electrónicos|electrónicos]],<ref name="Catchás" />, que viria a influenciar quase todos os artistas em diante. Graças ao sucesso do conjunto Bulimundo, o funaná foi exportado para todas as ilhas em Cabo Verde. Hoje, o funaná já não é visto como um género exclusivo de Santiago, sendo composto, interpretado e apreciado por pessoas de todas as ilhas.<ref name="Fragata">''Funaná — O cartão de Visita de Cabo Verde'' in Fragata, n.º 10 — Janeiro de 1996</ref>.
 
Se os anos 80 foram os anos da divulgação do funaná em Cabo Verde, os [[anos 90]] foram os anos da internacionalização.<ref name="Gonçalves" />. O conjunto [[Finaçon]], nascido de uma cisão do conjunto Bulimundo, foi um dos responsáveis pela divulgação internacional deste género musical, graças a um contrato com uma prestigiada firma distribuidora estrangeira.<ref name="Fragata" />. Não só o funaná passa a ser conhecido internacionalmente, como é também interpretado por conjuntos musicais no estrangeiro, cabo-verdianos ou não.
 
A nível de técnicas musicais não se registam grandes inovações ao «estilo Catchás», talvez apenas no que diz respeito à [[orquestração]] (exploram-se as possibilidades dos instrumentos electrónicos). Verifica-se também, nesta altura, a excessiva comercialização e banalização do funaná. Durante um ano, houve a tentativa de divulgar o funaná em [[França]]. Essa tentativa não teve sucesso porque tentou-se vender o funaná como «música de moda para dançar no Verão» (logo a seguir à [[lambada]]), e não explorar as particularidades etno-musicais do funaná.
 
A partir dos fins dos [[anos 90]] assiste-se a um retorno às raízes,<ref name="Gonçalves" />, onde os conjuntos preferem interpretações com gaitas e ferrinhos autênticos (ocasionalmente adiciona-se um baixo, uma bateria e/ou uma guitarra). Um dos principais conjuntos dessa nova vaga é o conjunto [[Ferro Gaita]].
 
== Variantes do funaná ==
O funaná conta com diversas variantes,<ref name="Gonçalves" />, nem todas elas bem conhecidas, e nem todas elas conhecidas pelo verdadeiro nome. Eis a descrição de algumas variantes:
 
[[ImagemFicheiro:Funaná rhythm.png|thumb|rightdireita|300px|Modelo rítmico do funaná – ''kaminhu di ferru'', ± 150 [[Batidas por minuto|bpm]].]]
=== Funaná ''kaminhu di férru'' ===
 
=== Funaná ''kaminhu di férru'' ===
Esta é a variante mais conhecida do funaná. Geralmente quando se emprega apenas a palavra «funaná», refere-se a esta variante que obteve maior sucesso, sobretudo a nível de dança. Trata-se de uma variante que faz lembrar uma [[Marcha (música)|marcha]], mas com um andamento ''vivace''.
 
[[ImagemFicheiro:Funaná rhythm.png|thumb|rightdireita|300px|Modelo rítmico do funaná – ''maxixi'', ± 120 [[Batidas por minuto|bpm]].]]
=== Funaná ''maxixi'' ===
 
=== Funaná ''maxixi'' ===
O nome desta variante provavelmente vem do género musical [[maxixe]] que outrora esteve em voga em Cabo Verde. É uma variante parecida com a anterior, mas com um andamento ''allegro''.
 
[[ImagemFicheiro:Tuada rhythm.png|thumb|rightdireita|300px|Modelo rítmico do funaná – ''samba'', ± 92 [[Batidas por minuto|bpm]].]]
=== Funaná ''samba'' ===
 
=== Funaná ''samba'' ===
Apesar do nome, esta variante não tem nenhuma relação com o género brasileiro [[samba]] actual. Parece tratar-se de uma adaptação do [[lundu]]m às técnicas do acordeão. O andamento é mais lento<ref name="Brito">Brito, M., ''Breves Apontamentos sobre as Formas Musicais existentes em Cabo Verde'' — 1998</ref> (''andante'') e o ritmo é diferente das outras variantes do funaná, é bastante similar à [[Coladeira#A coladeira lenta|toada]].
 
[[ImagemFicheiro:Funaná lentu rhythm.png|thumb|rightdireita|300px|Modelo rítmico do funaná lento, ± 96 [[Batidas por minuto|bpm]].]]
 
=== Funaná ''morna'' ===
Praticamente não é conhecido por este nome, é mais conhecido por como '''funaná lento'''. Parece tratar-se de uma adaptação da morna às técnicas do acordeão, com um andamento ''andante''. Enquanto que, durante muito tempo, foi a [[morna]] (''badju di viulinu'') que gozou de prestígio em ambientes urbanos e salas nobres, em ambientes rurais desenvolveu-se, em contraposição,<ref name="Gonçalves" />, uma variante mais lenta do funaná (''badju di gaita''). Curiosamente, esta variante tem o mesmo andamento que a morna da Boa Vista e não da morna da Brava.
 
== Exemplos de funanás ==
Praticamente não é conhecido por este nome, é mais conhecido por como '''funaná lento'''. Parece tratar-se de uma adaptação da morna às técnicas do acordeão, com um andamento ''andante''. Enquanto que, durante muito tempo, foi a [[morna]] (''badju di viulinu'') que gozou de prestígio em ambientes urbanos e salas nobres, em ambientes rurais desenvolveu-se, em contraposição<ref name="Gonçalves" />, uma variante mais lenta do funaná (''badju di gaita''). Curiosamente, esta variante tem o mesmo andamento que a morna da Boa Vista e não da morna da Brava.
 
==Exemplos de funanás==
<!-- Estes exemplos não pretendem ser uma lista exaustiva de todos os funanás. Estão aqui apenas para que, quem não conhecer este género musical, tenha pelo menos uma referência discográfica. Pede-se aos editores que não sobrecarreguem esta lista com exemplos desnecessários. -->
* Funaná kaminhu di férru
** «Djonsinho Cabral», tradicional<br /><small>interpretado por Os tubarões no álbum «Djonsinho Cabral» (Ed. Os Tubarões, Ref. T-003 — 1978)</small>
** «Sant’ Antoni la Belêm», tradicional<br /><small>interpretado por Bulimundo no álbum «Batuco» (Ed. Bulimundo, Ref. Lp 2233 — 1980)</small>
** «Si manera» de Zeca di Nha Reinalda<br /><small>interpretado por Finaçon no álbum «Funaná» (Ed. Mélodie, Paris — 1990)</small>
** «Matrialistas» de Kino Cabral<br /><small>interpretado por Kino Cabral no álbum «?» (Ed. ?, ? — 1992)</small>
** «Moças di Mangui» de Eduíno, Chando Graciosa e Bitori Nha Bibinha<br /><small>interpretado por Ferro Gaita no álbum «Fundu Baxu» (Ed. ?, ? — 1997)</small>
* Funaná maxixi
** «Canta cu alma sem ser magoado» de Pedro Rodrigues<br /><small>interpretado por Bana no álbum «Bana» (Ed. Discos Monte Cara, — 19??)</small>
** «Pomba» de Codé di Dona<br /><small>interpretado por Codé di Dona no álbum «Codé di Dona» (Ed. Globe Music, ? — 1997)</small>
** «Nôs cultura» de Eduíno<br /><small>interpretado por Ferro Gaita no álbum «Bandêra Liberdadi» (Ed. ?, ? — 2003)</small>
** «Puxim Semedo» de Kaká di Lina e Eduíno<br /><small>interpretado por Eduíno e Petcha no álbum «Terra Terra Vol. 1» (Ed. ?, ? — 2007)</small>
* Funaná samba
** «Fomi 47» de Codé di Dona<br /><small>interpretado por Finaçon no álbum «Rabecindadi» (Ed. ?, Lisboa — 1987)</small>
** «Djentis d’ aságua» de Zezé di Nha Reinalda<br /><small>interpretado por Zezé di Nha Reinalda no álbum «Djentis d’ aságua» (Ed. ICL, Praia — 19??)</small>
** «Codjeta» de Kaká Barbosa<br /><small>interpretado por Simentera no álbum «Raiz» (Ed. Mélodie, Paris — 1992)</small>
* Funaná lento
** «Sema Lopi» de Sema Lopi<br /><small>interpretado por Bulimundo no álbum «Bulimundo» (Ed. Black Power Records, Rotterdam, Ref. L.P. 1943 — 1982; Reed. Sons d’África, Lisboa — 2005)</small>
** «Pombinha Mansa» de ? <br /><small>interpretado por Bulimundo no álbum «Batuco» (Ed. ?, ? — 198?)</small>
** «Kortel di rabidanti» de Kaká Barbosa<br /><small>interpretado por Zeca & Zezé di Nha Reinalda no álbum «Konbersu’l tristi, korbu nha xintidu» (Ed. ?, Lisboa — 1983)</small>
** «Li qu’ ê nha tchon» de Pedro Rodrigues<br /><small>interpretado por Os tubarões no álbum «Bote, broce e linha» (Ed. ?, ? — 1990)</small>
 
{{Referências}}
 
== {{Ligações externas}} ==
{{ref-section}}
*[ {{Link||2=http://www.attambur.com/Recolhas/PDF/FormasMusicaisCaboVerde.pdf |3=Breves Apontamentos sobre as Formas Musicais existentes em Cabo Verde] |4=em pdf, }}
*[ {{Link||2=http://www.caboindex.com/musica/ |3=Música e Cabo-verdianos em Lisboa]}}
 
{{Portal3|Música}}
== Ligações externas ==
*[http://www.attambur.com/Recolhas/PDF/FormasMusicaisCaboVerde.pdf Breves Apontamentos sobre as Formas Musicais existentes em Cabo Verde] em pdf,
*[http://www.caboindex.com/musica/ Música e Cabo-verdianos em Lisboa]
 
{{DEFAULTSORT:Funana}}
[[Categoria:Música de Cabo Verde]]
[[Categoria:Géneros musicais de Cabo Verde]]