Consonância e dissonância: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Lucia Bot (discussão | contribs)
m retirando predefinição de artigos na qual ela não é necessária + Checkwiki fixes
m
Linha 42:
* quarta aumentada e quinta diminuta (trítono).
 
Portanto, a história da música ocidental pode ser interpretada como iniciando com uma definição bastante limitada de consonância e progredindo em direção a uma definição cada vez mais ampla. Na história antiga, apenas os intervalos baixos na série de ''sobretons''<ref>DUARTE, Pedro, '''Percepção e Multimédia-A Base Acústica da Escala: A Série Harmónica e Temperamento igual''', http://www.citi.pt/estudos_multi/pedro_duarte/10.html, acesso em 26/03/07.</ref> eram considerados dissonâncias. À medida em que se avançava no tempo, mesmo intervalos mais altos na série de ''overtones'' eram considerados consonantes. O resultado final desta corrente de eventos foi, nas palavras de [[Arnold Schönberg]], a ''emancipação da dissonância'' por alguns compositores do século XX. O compositor americano do início do século XX, [[Henry Cowell]], via o bloco sonoro (''tone clusters'') como o uso de ''overtones'' cada vez mais altos.
 
Apesar desta idéia da progressão histórica da aceitação de níveis cada vez maiores de dissonância ser algo simplificada e excluir desenvolvimentos importantes na história da música ocidental, a idéia geral se mostrou atraente a muitos compositores modernistas do século XX e é considerada uma [[metanarrativa]] do [[Música moderna|modernismo musical]].
Linha 54:
Os estilos musicais são como idiomas no sentido de que certos fatos físicos, fisiológicos e neurológicos criam conexões que afetam enormemente o desenvolvimento de todas as linguagens. Não obstante, culturas e tradições diferentes têm incorporado as possibilidades e limitações criadas por tais fatos neurológicos e físicos a uma vasta gama de sistemas vivos da linguagem humana. Não se deve minimizar a importância dos fatos subjacentes, nem a importância da cultura, ao atribuir um significado específico a esses fatos.
 
Por exemplo, duas notas tocadas simultaneamente mas com freqüências ligeiramente diferentes produzem um [[Batimentos|batimento]] sonoro perfeitamente audível. Alguns estilos musicais consideram esse efeito objetável ("desafinado") e fazem todos os esforços para eliminá-lo. Outros estilos musicais conisderamconsideram este som uma parte atraente do timbre musical e igualmente envidam todos os esforços em criar instrumentos que tenham essa leve "aspereza" como uma propriedade de seu som (Vassilakis, 2005)
 
A dissonância sensorial e sua manifestações perceptivas (batimento sonoro e aspereza) estão intimamente relacionadas às flutuações de amplitude do sinal sonoro. Flutuações na amplitude descrevem variações no valor máximo do sinal sonoro (amplitude) em relação a um ponto de referência e são resultantes da interferência entre as ondas sonoras. O princípio da interferêniainterferência define que as amplitudes de duas ou mais fontes vibratórias combinadas (ondas sonoras) pode resultar numa amplitude maior do que as amplitudes das fontes vibratórias (interferência construtiva) ou menor (interferência destrutiva), dependendo da relação entre suas fases. Duas ou mais fontes vibratórias (ondas) com freqüências diferentes, oscilando periodicamente, produzem alternadamente interferências construtivas e destrutivas, gerando o fenômeno conhecido como flutuação da amplitude (a amplitude aumenta e diminui em ciclos correspondentes às interferências que ocorrem entre as fontes vibratórias).
 
As variações de amplitude podem ser enquadradas em três categorias perceptíveis, superpostas, relacionadas às taxa de variação da flutuação. Flutuações lentas da amplitude (≈≤20 por segundo) são percebidas como variações de sonoridade chamadas de batimentos sonoros. À medida em que aumenta a taxa de variação da amplitude, ou seja a velocidade com que a amplitude muda de valor, o som resultante parece ser constante para o ouvinte e é percebido como uma aspereza. Se a velocidade de variação da amplitude aumenta ainda mais, a aspereza atinge uma tensão máxima e, a seguir, diminui gradualmente até desaparecer (≈≥75-150 flutuações por segundo, dependendo da freqüência dos tons interferentes).
 
Supondo que, conforme indicado pela lei acústica de Ohm (ver Helmholtz, 1885; plomp, 1964), o ouvido realize uma análise de freqüência dos sinais que chega até ele, as categorias perceptuais descritas acima podem ser diretamente relacionadas à largura de banda de filtros de análise hipotéticos (Zwicker et al. 1957; Zwicker 1961). Por exemplo, no caso mais simples de flutuações de amplitude resultantes da adição de dois sinais senoidais com freqüências ''f''<sub>1</sub> and ''f''<sub>2</sub>, a velocidade de variação das freqüências (taxa de variação) é igual à diferença entre os dois senos |''f''<sub>1</sub>-''f''<sub>2</sub>| (largura de banda do filtro hipotético), e as afirmações a seguir podem ser consideradas válidas:
Linha 72:
As sensações de batimento sonoro e aspereza, associadas a certos sinais complexos são, portanto, frequentemente entendidas em termos de interações do componente senoidal dentro da mesma faixa de freqüência do filtro auditivo hipotético, chamado de [[banda crítica]].
 
{{Audio|Dissonance-M2-to-unison.ogg|Dois tons movendo-se de uma 2ª maior para um uníssono.}}<ref>Este arquivo ilustra a rudeza e as oscilações do batimento sonoro que gradualmente diminuem à medida em que o intervalo se move para o [[uníssono]]</ref>
 
* Razões entre freqüências: Razões com números inteiros maiores são mais dissonantes do que as razões com números menores (Pitágoras)
Linha 92:
 
* No ouvido humano o efeito dessas razões diferentes podem ser percebidas por meio de um dos seguintes mecanismos:
** Fusão ou coincidência de padrões: as freqüências fundamentais podem ser percebidas por meio de uma coincidência de padrões dos parciais analisados separadamente para melhor se ajustar a um modelo harmônico exato (Gerson & Goldstein, 1978) ou sub-harmônico (Terhardt, 1974); ou os harmônicos podem ser perceptivelmente fundidos, transformando-se numa entidade única, com as dissonâncias sendo os intervalos menos propensos a serem confundidos com o uníssono, os intervalos imperfeitos, devido às múltiplas estimativas, nos intervalos perfeitos, dos fundamentais, para um tom harmônico (Terhardt, 1974). Segundo essas deiniçõesdefinições, os parciais inarmônicos dos espectros harmônicos, usualmente são processados separadamente (Hartmann et al., 1990), a menos que as freqüências e as amplitudes tenham sido moduladas de forma coerente com os parciais harmônicos (McAdams, [[1983]]). Para algumas dessas definições, conforme mostrado a seguir, o disparo neural fornece os dados necessários para se processar a coincidência de padrões (e.g., Moore, 1989; pp.&nbsp;183-187; Srulovicz & Goldstein, 1983).
** '''Duração do período ou coincidência com o disparo neural''': coincidência com a duração do disparo neural periódico, resultante do estímulo feito por duas ou mais ondas: números inteiros maiores criam períodos maiores ou menos coincidência entre o disparo neural e, portanto, disssonância (Patternson, 1986; Boomsliter & Creel, 1961; Meyer, 1898; Roederer, 1973, p.&nbsp;145-149). Tons puros estimulam o cérebro (disparo neural), que responde exatamente com o mesmo período ou com múltiplos do período do tom puro produzido.
* Dissonância também é definida como a quantidade de batimento sonoro entre dois harmônicos não comuns ou parciais (''sobretons'') (Helmholtz, 1877/1954). Terhardt (1984) chama isso de "dissonância sensorial". Segundo esta definição, a dissonância não depende apenas da qualidade do intervalo entre duas notas, mas dos harmônicos e, portanto, da qualidade ([[timbre]]) dessas notas. A dissonância sensorial, isto é, a presença de batimento sonoro e/ou rudeza no som, é associada à inabilidade do ouvido interno resolver plenamente os componentes espectrais com padrões de excitação que se sobreponham às bandas críticas.
 
A [[cadência]] [[Homofonia (música)|homofônica]] (harmônica), a cadência autêntica, que vai da domintedominante para a tônica (D-T, V-I or V<sup>7</sup>-I), é em parte criada pelo trítono dissonante que, por sua vez, é criado pela sétima, também dissonante, no acorde de sétima dominante que precede à tônica.
 
== {{Ver também}} ==