Pierre Le Gros, o Jovem: diferenças entre revisões
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m |
|||
Linha 8:
==Biografia==
Nasceu em uma família de fortes raízes artísticas. Era filho de [[Pierre Le Gros, o Velho]], também escultor, com quem se iniciou na arte, e de Jeanne, a primeira esposa de seu pai, filha do escultor Gaspard Marsy.<ref name="Grove">[http://www.artnet.com/library/05/0501/T050106.asp ''Pierre Legros II'']. The Grove Dictionary of Art </ref> Várias fontes do século XIX dão seu nascimento em 1656, e discordam em algumas outras datas.<ref name="Biographie">[http://books.google.com.br/books?id=qhkIAAAAQAAJ&pg=PA585&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=jLsmTJKLH86GuAfA0tS3Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEoQ6AEwBzhQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Biographie universelle, ancienne et moderne, ouvrage rédigé par une société de gens de lettres'']. Paris: L. G. Michaud, 1819. Vol, 23. p. 584-586</ref><ref>Bordier, Henri Léonard & Charton, Édouard. [http://books.google.com.br/books?id=70wWAAAAYAAJ&pg=PA346&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=O8EmTN5Xx4-4B7bH5asC&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CDEQ6AEwAjiCAQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Histoire de France depuis les temps les plus anciens jusqu'a nos jours: d'aprés les documents de l'art de chaque époque'']. Aux Bureaux du Magasin Pittoresque, 1860. p. 346 </ref><ref>Dalmières, M. [http://books.google.com.br/books?id=OloOAQAAIAAJ&pg=PA784&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=O8EmTN5Xx4-4B7bH5asC&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=5&ved=0CDsQ6AEwBDiCAQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Itinéraire du voyageur catholique a Rome: en passant par Gênes, Pise, Florence, Assise et Lorette, suivi d'un pèlerinage au tombeau de Saint Janvier, a Naples'']. Avignon: Seguin Aîné, 1846. Volume 2, p. 785</ref> Com três anos perdeu a mãe. Convencido de que o [[desenho]] era fundamental para uma carreira bem sucedida, o Velho fez o filho tomar lições com Jean Le Pautre, seu parente. Também manteve contato com os seus parentes maternos, os escultores Gaspard e Balthazard Marsy, de quem recebeu instrução, e de quem herdou o atelier aos quinze anos. Ingressou na [[Academia Real de Pintura e Escultura]] e em 1690 conquistou o [[Prêmio de Roma]], sendo enviado à [[Itália]] para aperfeiçoamento, estabelecendo-se nas dependências da [[Academia da França em Roma]].<ref>D'Argenville, Antoine-Nicolas Dézallier. [http://books.google.com/books?id=rwMFAAAAYAAJ&pg=PA417&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=kCAkTO3DGcmOuAfW8IHYBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEYQ6AEwBzge#v=onepage&q=le%20gros&f=false ''Vies des fameux architectes depuis la renaissance des arts: avec la description de leurs ouvrages'']. Paris: Valade, 1791. Volume 2, pp. 267-268</ref><ref name="Spiritus">[http://www.spiritus-temporis.com/pierre-le-gros-the-younger/biography.html ''Pierre Le Gros the Younger'']. Spiritus Temporis </ref> Ali realizou uma cópia de uma estátua antiga de Vetúria, a mãe de [[Caio Márcio Coriolano|Coriolano]], então exposta na [[Villa Medici]],<ref name="Grove"/> que suscitou viva polêmica quando finalmente foi
Em 1695 foi realizado um concurso pelos jesuítas para a elaboração da estátua de [[Santo Inácio de Loyola]] em sua capela na [[Igreja de Jesus (Roma)|Igreja de Jesus]]. Le Gros submeteu um projeto e saiu-se vencedor, e quando o resultado da votação foi publicado ele foi carregado em triunfo pelas ruas pelos estudantes da academia francesa. Le Gros também concordou em criar o grupo representando ''A Religião açoitando a Heresia e o Ódio'' a ser instalado à direita do altar.<ref>Haskel, Francis. [http://books.google.com/books?id=3rrRg6MobXIC&pg=PA158&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CCkQ6AEwAQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Mecenas e Pintores: Arte e Sociedade na Itália Barroca'']. EdiUSP, 1997. pp. 155-158</ref> Contudo, ele havia aceito a encomenda dos jesuítas sem pedir autorização prévia da Academia francesa. La Teulière escreveu para Paris informando a seus superiores da irregularidade, mas dizendo que era uma honra para um artista tão jovem ter seu projeto escolhido entre os de vários mestres concorrentes, e que o de Le Gros havia sido objeto de aplauso geral, sendo visto como um escultor de gênio. Na resposta da sede acadêmica, foi aceito o afastamento Le Gros da academia para atender à encomenda, mas perderia a sua bolsa de estudos, pois o rei não havia ficado satisfeito com a conduta do pensionário. Mesmo assim, foi recomendado a La Teulière que desse ao jovem a assistência possível para que seu trabalho resultasse bem.<ref>[http://books.google.com/books?id=n_PoAAuxrb0C&pg=PA166&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=4kQkTJ3PPNCruAfOr9muAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCQQ6AEwAA#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Courajod, Michel & Lemonnier, pp. 167-168]</ref>
Partindo de forma amigável, não chegou a cair em desgraça junto aos franceses, continuando a manter laços com seus conterrâneos. Por outro lado, conseguiu ser patrocinado pela família Farnese, estabelecendo
[[File:Duc de Bouillon.jpg|thumb|left|''Frédéric-Maurice de la Tour d'Auvergne'', Hôtel-Dieu de Cluny]]
[[File:Thomas San Giovanni in Laterano 2006-09-07 n2.jpg|thumb|left|''São Tomé'', Basílica de São João de Latrão]]
Linha 20:
Le Gros havia casado uma primeira vez em 1701 com Marie Petit mas, ela logo falecendo, em 1704 casou-se novamente com Marie Charlotte, filha de René-Antoine Houasse, diretor da Academia da França em Roma, e através do enlace se tornou cunhado de [[Nicolas Coustou]], outro conhecido escultor, e tio de [[Giovanni Paolo Pannini]] e [[Nicolas Vleughels]], diretor da Academia da França em Roma entre 1725 e 1737 e um dos mais bem sucedidos intermediários entre esta instituição e o meio artístico romano.<ref name="Gross">Gross, Hanns. [http://books.google.com/books?id=YL76TPcQb-oC&pg=PA357&dq=sculpture+%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=nw0kTNzbLMmLuAf3ofTXBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC0Q6AEwAQ#v=onepage&q=le%20gros&f=false ''Rome in the Age of Enlightenment: The Post-Tridentine Syndrome and the Ancien Régime'']. Cambridge University Press, 2004. p. 357</ref><ref name="Grave">[http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=gr&GRid=38688126 ''Pierre Legros the Younger'']. Find a Grave</ref>
A partir de 1703 se envolveu na criação de duas estátuas monumentais para a [[Basílica de São João de Latrão]], representando os apóstolos [[São Bartolomeu|Bartolomeu]] e [[São Tomé (apóstolo)|Tomé]], e mais a tumba do Cardeal Casanate para a mesma igreja.<ref name="Spiritus"/> Outra obra de grandes proporções foi a estátua de [[Domingos de Gusmão|São Domingos]] para a [[Basílica de São Pedro]], finalizada em 1706.<ref>[http://saintpetersbasilica.org/Statues/Founders/Dominic/Dominic.htm ''St. Dominic'']. St. Peter's Basilica official website</ref>. Neste ano recebeu uma incumbência de uma estátua do Cardeal Casanate para
Seguindo-se à morte de seu pai em 1714, aparentemente tendo perdido seu prestígio junto aos jesuítas em virtude da disputa sobre a estátua de Estanislau Kostka, estando a estrela de seu principal concorrente, [[Camillo Rusconi]] em franca ascensão, protegido do [[papa Clemente XI]], e estando Le Gros doente de pedras na [[vesícula biliar|vesícula]],
Le Gros foi descrito por D'Argenville como um homem de alta estatura, bem feito de corpo, e apesar de possuir um humor melancólico sua companhia era agradável. Modesto e extremamente reservado em suas declarações, não costumava criticar o trabalho alheio.<ref>[http://books.google.com/books?id=rwMFAAAAYAAJ&pg=PA417&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=kCAkTO3DGcmOuAfW8IHYBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEYQ6AEwBzge#v=onepage&q=le%20gros&f=false D'Argenville p. 272]</ref> Teve discípulos que levaram adiante seu legado artístico, destacando-se o pintor [[Charles-André van Loo]]<ref>Bolton, Roy. (Ed.)[http://books.google.com/books?id=uipMh9XRnHIC&pg=PA117&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=kCAkTO3DGcmOuAfW8IHYBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=5&ved=0CDcQ6AEwBDge#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''The Collectors: Old Master Paintings'']. Sphinx Fine Art, 2009. p. 117</ref> e o escultor [[Guillaume Coustou, o Jovem|Guillaume Coustou]].<ref>[http://books.google.com/books?id=n_PoAAuxrb0C&pg=PA166&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCQQ6AEwAA#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Courajod, Michel & Lemonnier, p. 170]</ref>
Linha 32:
A carreira de Pierre Le Gros floresceu numa época em que as [[academismo|academias de arte]] haviam ganhado enorme prestígio, tornando-se a mais importante instância educativa e consagradora de um artista, e praticamente dominando todo o sistema de arte. Na França a mais célebre era a [[Academia Real de Pintura e Escultura]] de Paris, fundada por [[Luís XIV]] em 1648. Para os franceses, que então nutriam uma forte admiração pelo [[Classicismo]], mesmo em plena vigência do Barroco, a arte [[renascentista]] italiana era uma referência central. A fim de melhor preparar os acadêmicos franceses o prêmio máximo da academia, o [[Prêmio de Roma]], remetia o vencedor para a cosmopolita capital italiana, a fim de que se aprimorasse no contato em primeira mão com as obras-primas da arte local e com os mestres da melhor tradição. A França marcou sua presença na Itália também criando uma ramificação de sua própria academia em Roma, que deveria prover a infra-estrutura necessária para os estudos dos vencedores do Prêmio.<ref name="Gross, p. 335">[http://books.google.com/books?id=YL76TPcQb-oC&pg=PA357&dq=sculpture+%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=nw0kTNzbLMmLuAf3ofTXBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC0Q6AEwAQ#v=onepage&q=le%20gros&f=false Gross, p. 335]</ref><ref>Barasch, Moshe. [http://books.google.com/books?id=n07eWPU1RnAC&pg=PA316&dq=%22academic+art%22&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=95#v=onepage&q=%22academic%20art%22&f=false ''Theories of art'']. Routledge, 2000. Vol. 1, pp. 310-330</ref><ref>Schwarcz, Lilia Moritz. ''O Sol do Brasil: Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de d. João''. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. pp. 65-66 </ref>
A [[Academia da França em Roma]] se havia instalado em 1666, mas em seus inícios não exerceu grande impacto na vida artística dos italianos. [[Bernini]], visitando a França em 1665, ainda podia fazer declarações onde repetia um preconceito a respeito da inferioridade artística francesa em relação à italiana. O papado vinha desenvolvendo um grandioso sistema de mecenato, tornando Roma o principal pólo artístico europeu. Entretanto, em direção ao fim do século, Paris começou a tomar a dianteira, quando as finanças papais se exauriam e a arte francesa passava a ser vista com olhos favoráveis pelos italianos.<ref name="Gross, p. 335"/> Um primeiro sinal nesse sentido foi dado em 1644, quando os membros da [[Accademia di San Luca]], a principal academia romana, designaram [[Jean-François de Troy]] seu próprio ''princeps'', criando uma tradição.<ref>Arcidiacono, Maria. [http://books.google.com/books?id=MEtOo_I7ntYC&pg=PA19&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=aDAkTK2LBYqDuAe13-yoAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CC0Q6AEwAjgy#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Artisti Francesi nella Cità Eterna'']. IN Marcucci, Roberto (ed). [http://books.google.com/books?id=MEtOo_I7ntYC&pg=PA19&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=aDAkTK2LBYqDuAe13-yoAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CC0Q6AEwAjgy#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Fiamminghi e Altri Maestri: Gli Artisti Stranieri nel Patrimonio del Fondo Edifici di Culto del Ministero dell'Interno'']. L'Erma di Bretschneider, 2008. p. 19</ref> Em 1672 foi a vez de [[Charles Errard]], diretor da Academia da França em Roma, ser eleito ''princeps'' no lugar de [[Nicolas Poussin]], que havia sido a primeira escolha em eleição unânime, mas não pudera assumir. Um passo adiante neste processo foi a fusão das duas academias em 1676, embora apenas nominalmente, quando [[Charles Le Brun]] foi nomeado ''princeps in absentia'' da Accademia di San Luca.<ref
Mesmo em declínio, o sistema de arte italiano ainda exibia um vigor notável, tendo o papado e as ordens religiosas entre seus principais mecenas. Esta elite italiana, ciente da ascensão de outras potências no cenário político e cultural europeu, tentou continuar a manter as aparências através do patronato artístico, empregando uma multidão de artistas em criações suntuosas de glorificação de sua classe, sua pátria, e também da fé cristã e da Igreja institucionalizada, resultando num rico conjunto de obras que tinham em essência uma função pública. Le Gros trabalhou em toda a sua carreira para clientes eclesiásticos católicos, associando-se intimamente em especial com os jesuítas e dominicanos, para quem produziu algumas de suas mais importantes obras.<ref>[http://books.google.com/books?id=3rrRg6MobXIC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Haskel, pp. 637-638]</ref><ref name="Barber, John"/>
Linha 48:
[[File:SStanislausKostka01.jpg|thumb|270px|Estátua do Beato Estanislau Kostka, Noviciado Jesuíta, Roma]]
A polêmica que foi desencadeada em 1713 em torno da estátua do Beato Estanislau Kostka
Le Gros considerou que a localização do monumento, na capela privada dos noviços, ficava inacessível ao público, e sugeriu que se a transferisse para a capela do santo na igreja principal, Santo André no Quirinal, propondo ao mesmo tempo a substituição do original por uma cópia em estuque. Le Gros concebeu ainda que na nova localização se criasse um dispositivo mecânico que proporcionasse uma exposição espetacular da obra, da mesma forma como fora criado para a estátua de Santo Inácio na Igreja de Jesus. A mudança não foi aprovada pelos jesuítas, que lhe enviaram um memorando explicativo detalhando os seus argumentos, o que irritou profundamente Le Gros. O artista escreveu uma cáustica réplica, rebatendo ponto por ponto as objeções, e elaborando suas idéias com grande refinamento intelectual, a partir de pontos de vista tanto estéticos quanto religiosos.<ref>[http://books.google.com/books?id=3dwmjznNFgkC&pg=PA29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEIQ6AEwBg#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Julien, pp. 23-26]</ref>
Linha 60:
===Na Igreja de Jesus===
Le Gros criou para a [[Igreja de Jesus (Roma)|Igreja de Jesus]] em Roma duas peças importantes. A primeira delas foi o modelo da estátua de Santo Inácio de Loyola (1697-1698),<ref>Levy, Evonne Anita. [http://books.google.com.br/books?id=m7oqNRfxVUIC&pg=PA170&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=cakmTMzJCI-duAeYlJGtAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEUQ6AEwBjgo#v=onepage&q=%22legros%22&f=false ''Propaganda and the Jesuit Baroque'']. University of California Press, 2004. p. 308. nota 146</ref>) realizada em prata e fundida por Giovanni Frederico Ludovici.<ref>Keyssler, Johann Georg. ''Travels through Germany, Bohemia, Hungary, Switzerland, Italy and Lorrain''. Printed for A. Linde, and T. Field, 1757. p. 81</ref> A encomenda fazia parte do projeto jesuíta de glorificação do seu santo fundador, que havia sido canonizado em 1622, e que já havia rendido a criação de várias outras peças de arte. A estátua concebida por Le Gros é considerada por Mullett um dos ápices desse projeto, ainda que não se destinasse ao [[altar-mor]], permanecendo em uma capela lateral da igreja.<ref>Mullett, Michael A. [http://books.google.com.br/books?id=0ZRgVhHoQOkC&pg=RA1-PA202&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=J6UmTKTJFI2suAeW64S8Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CCwQ6AEwATge#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''The Catholic Reformation'']. Routledge, 1999. p. 202</ref> Entretanto esta capela foi adornada com riquezas excepcionais mesmo para os padrões barrocos, a iniciar pela própria estátua do santo, em tamanho acima do natural, toda em prata, com um peso de seiscentas libras,<ref>Keyssler, Johann Georg. [http://books.google.com/books?id=aJuUM8hZTH0C&pg=PA81&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=-YwoTJTgMMuwuAeNsuitAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCMQ6AEwADgK#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Travels through Germany, Bohemia, Hungary, Switzerland, Italy and Lorrain... etc'']. London: A. Linde and T. Field, 1757. Vol. II, p. 81</ref> com a [[casula]] cravejada de pedras preciosas, além de sua moldura arquitetônica, de autoria de [[Andrea Pozzo]], empregar mármores raros, bronzes dourados, [[alabastro]] e as maiores peças de lápis-lazúli então conhecidas, sendo complementada com outras estátuas revestidas de prata e dois grandes grupos escultóricos laterais em mármore branco. A decoração, como era a praxe barroca, foi programada para exercer um poderoso efeito de movimento e drama, objetivando provocar espanto, admiração e aprovação. Para realçar o efeito cênico do conjunto foi aberta na parede traseira da capela uma pequena janela exatamente no nível da cabeça da estátua, e a luz era captada por espelhos que a direcionavam para a face e sua auréola dourada, criando um efeito irradiante. Em acréscimo, foi concebido um mecanismo que possibilitava ocultar a imagem dentro do nicho do altar atrás de um painel pintado, e em ocasiões especiais a estátua era desvelada triunfalmente. A escolha da prata, além de ser uma honra especial, por seu alto valor, estava ligada a uma simbologia tradicional referente à natureza interior do santo, considerada semelhante à prata. O motivo temático da obra é o momento da visão de Santo Inácio em La Storta, quando Cristo ter-lhe-ia aparecido, dizendo ''"Eu te serei propício em Roma"'', o que levou Inácio a desistir de seu plano de peregrinação à [[Terra Santa]] e dirigir-se àquela cidade, onde fundou a [[Companhia de Jesus]].<ref>[http://books.google.com/books?id=dRpai2f54UEC&pg=PA295&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=NhwkTMrAE8eyuAfRs73YBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=10&ved=0CFQQ6AEwCQ#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false Barber, pp. 291-295]</ref><ref> [http://books.google.com.br/books?id=m7oqNRfxVUIC&pg=PA170&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=cakmTMzJCI-duAeYlJGtAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEUQ6AEwBjgo#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Levy, pp. 213-214; 169-171]</ref> A estátua que hoje se vê sobre o altar é uma réplica realizada
[[File:Legros - religion.jpg|thumb|270px|''A Religião açoitando a Heresia e o Ódio'']]
[[File:Tumba de Gregório XV - Le Gros.jpg|thumb|270px|Detalhe do monumento a Gregório XV]]
Linha 68:
===Na Igreja de Santo Inácio===
Para a [[Igreja de Santo Inácio de Loyola]] Le Gros produziu duas outras notáveis composições. A primeira foi a estátua do papa Gregório XV e figuras acessórias, instaladas na opulenta tumba do papa e seu sobrinho, o cardeal Ludovisi, em uma capela própria. Os planos para o monumento de Gregório haviam iniciado na década de 1680 mas foram prejudicados por falta de financiamento e disputas políticas entre a família do papa e as de seus sucessores;
[[File:Sao Luis Gonzaga - Le Gros.jpg|thumb|270px|Detalhe do relevo ''São Luís Gonzaga na Glória'']]
Linha 95:
O sucesso de Le Gros foi visto pelos franceses da época, mesmo com as diferenças de gosto entre as duas nações e a "italianização" de Le Gros, como uma superação nacionalista dos modelos italianos.<ref name="Julien, p. 17"/> [[Étienne-Maurice Falconet]] repetidamente referiu-se a Le Gros como modelar,<ref>Weinshenker, Anne Betty. [http://books.google.com/books?id=89ctReqllkAC&pg=PA29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=2n0oTJWzBcmHuAfFjMGlAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ved=0CDwQ6AEwBTgK#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Falconet: his writings and his friend Diderot'']. Librairie Droz, 1966. p. 29</ref> [[Voltaire]] disse que ele e Théodon embelezaram a Itália com suas obras,<ref>Voltaire, François-Marie Arouet de. [http://books.google.com/books?id=jkwTAAAAQAAJ&pg=PA183&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=OHIoTODHH8WMuAfAhbyzAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CCgQ6AEwATgy#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Oeuvres complètes de Voltaire'']. Antoine-Augustin Renouard, 1819. Volume 17, p. 183</ref> e o [[enciclopedista]] [[D'Alembert]] lhe teceu grandes encômios.<ref>D'Alembert, Jean Le Rond & Vicq-d'Azur, Félix. [http://books.google.com/books?id=nnZBAAAAcAAJ&pg=PA296&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=HJAoTPmSJcWwuAeAx7WoAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=4&ved=0CDIQ6AEwAzhG#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Encyclopédie Méthodique, Ou Par Ordre De Matieres... etc'']. Paris: Panckoucke, 1791. pp. 296-298</ref> Mas com mais propriedade ele é considerado modernamente como um dos grandes representantes do Barroco italiano, o maior de sua geração, e um artista francês apenas por seu nascimento.<ref>[http://www.dalnet.lib.mi.us/greenstone/dia/diaBulletins/22-2.pdf Richardson, p. 15]</ref><ref name="Levey"/> Seu prestígio em vida, na Itália, é atestado pelo grande número de encomendas importantes que recebeu,<ref name="Barber, pp. 291-294"/> e sua fama perdurou por um século inteiro. Até [[Winckelmann]], o grande teórico germânico do [[Neoclassicismo]], o considerava um destacado artista, chamando sua obra ''A Religião açoitando a Heresia e o Ódio'' de uma das mais belas criações da escultura moderna.<ref>Winckelmann, Johann Joachim. [http://books.google.com/books?id=dIsDyP374DYC&pg=PR29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=4DUlTM_cA4W8lQeLx_H-Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEEQ6AEwBjgK#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Essays on the philosophy and history of art'']. Continuum International Publishing Group, 2005. p. xxix</ref>
No início dos oitocentos ainda era elogiado nos mais altos termos por franceses, ingleses e até norte-americanos,<ref>Genlis, Condessa de. [http://books.google.com/books?id=zn2dHm_HAucC&pg=PA296&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=SXQoTKD0FMOGuAeEscS7Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CC0Q6AEwAjha#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Les Veillées du chateau, ou, Cours de morale a l'usage des enfans'']. Paris: Chez Lecointe et Durey, 1824. Tomo IV, p. 296</ref><ref>Vosgien, Charles-Guillaume Leclerc. [http://books.google.com/books?id=PG4wAAAAYAAJ&pg=PA259&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=E4AoTLKJKYOGuAel__BV&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=9&ved=0CEsQ6AEwCDgo#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Dictionnaire historique et bibliographique: Contenant l'histoire abrégée de toutes les personnes de l'un et de l'autre sexe qui se sont fait un nom par leurs talens... etc'']. Paris: E. Ledoux, 1822. p. 259</ref><ref name="Biographie"/><ref>Lieber, Francis; Wigglesworth, Edward & Bradford, Thomas Gamaliel. [http://books.google.com/books?id=njgPAAAAYAAJ&pg=PA288&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=-YwoTJTgMMuwuAeNsuitAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=10&ved=0CFAQ6AEwCTgK#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Encyclopædia americana... etc'']. Philadelphia: Thomas, Cowperthwait, & Co., 1838. Vol. XI, p. 288</ref> mas dali em diante seu nome tendeu a ser ofuscado, junto com toda a estética barroca, considerada já de mau gosto,<ref>Véron, Louis Désiré. [http://books.google.com/books?id=7RE4ApLqikQC&pg=PA41&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=O4goTOHcDouMuAe2t_moAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=10&ved=0CFAQ6AEwCThQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Revue de Paris'']. Bureau de la Revue de Paris, 1836. p. 41</ref><ref>Murray, John. [http://books.google.com/books?id=yaQMAAAAIAAJ&pg=PA16&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=OJMoTLuuAceMuAevsMitAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ved=0CDwQ6AEwBTi0AQ#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Handbook for travellers in northern Italy... etc'']. London: J. Murray, 1860. p. 16 </ref><ref>Heck, J. G. [http://books.google.com/books?id=_8mlVeH2GAYC&pg=PA442&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=OJMoTLuuAceMuAevsMitAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=9&ved=0CEsQ6AEwCDi0AQ#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Iconographic Encyclopedia of Science, Literature and Art'']. New York: D. Appleton & Co., 1860. Vol. IV, p. 442</ref> como fez [[Stendhal]] ao dizer que a arte barroca lhe causava horror e descrever o grupo da ''Religião ...'' como uma ''"abjeção indizível"''.<ref>Guillerm, Jean-Pierre. [http://books.google.com/books?id=5FFg3Tp_bYAC&pg=PA164-IA16&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=SXQoTKD0FMOGuAeEscS7Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCMQ6AEwADha#v=onepage&q=legros%22&f=false ''Vieille Rome: Stendhal, Goncourt, Taine, Zola et la Rome baroque'']. Presses Univ. Septentrion, 1998. p. 45 </ref> Entretanto, continuou a ser citado por outros como um autor de interesse em resenhas críticas e guias de turismo da época, e algumas de suas obras de fato até meados do século XIX continuaram a merecer atenção definidamente positiva, como a sua estátua do Beato Estanislau, ao contrário dos seguidores mais literais de Bernini, que caíram de moda bem antes disso diante da progressiva ascensão dos ideais neoclássicos.<ref name="Julien, pp. 36-39"/> Em 1849 Vasi e Nibby chamavam a tumba de Gregório XV de esplêndida, e o relevo de São Luís de obra de grande mérito.<ref>Nibby, Antonio & Vasi, Mariano. [http://books.google.com/books?id=igkJAAAAQAAJ&pg=PR24&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=lokoTPKpIoanuAfW3MSlAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ved=0CDwQ6AEwBThu#v=onepage&q=legros%22&f=false ''New guide of Rome and the environs... etc'']. Roma: M. Piale, 1849. p. 31</ref> Sua estátua de Vetúria também teve uma extensa sobrevida crítica. Ao ser
{{Referências|col=3}}
|