José Oiticica: diferenças entre revisões

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|data_nascimento = [[{{nascimento|22 de Julho]] de [[|7|1882]]|lang=br}}
|local_nascimento = [[Oliveira]], [[Minas Gerais]] ([[Brasil]])
|data_morte = [[30{{morte dee Junho]] de [[idade|30|6|1957]] (aos 75 anos)|22|7|1882|lang=br}}
|local_morte = [[Rio de Janeiro]] ([[Brasil]])
|ocupação = [[Professor]], [[Filólogo]] e [[Escritor]]
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===Contato com o anarquismo===
Em [[1912]] José Oiticica já colaborava sistematicamente para o semanário [[anticlericalismo|anticlerical]] [[A Lanterna]], sendo o autor
de um artigo especial dedicado à memória do terceiro aniversário do fuzilamento do pedagogo anarquista [[Francisco Ferrer]]. Conta-se no entanto, que seu primeiro contato com o movimento operário anarquista ocorreu somente um ano depois em [[1913]], quando compareceu na modesta sede da [[Federação Operária do Rio de Janeiro]] no momento em que seus membros se articulavam para a reconstituição da [[Confederação Operária Brasileira]], pedindo para falar com seu presidente ou diretores. Obteve a resposta de um capinteirocarpinteiro que se colocou a explicar-lhe que naquela federação não havia presidente ou diretores, funcionando por "comissões administrativas que executam as decisões de suas assembléiasassembleias".{{quote|"''No dia 30 de abril de 1913 o Grupo Dramático Anticlerical organizou nova festa no teatro do Centro. Na ocasião representaram-se as peças Amanhã, O Primeiro de Maio e O Operariado. A conferência ficou a cargo de um jovem e muito culto professor, um inconformista filho de senador, que no ano anterior havia se descoberto anarquista e publicado seu primeiro texto no jornal anticlerical A Lanterna de São Paulo, seu nome era José Oiticica.|Memória Anarquista, Maré Negra<ref>(pt)[http://www.ainfos.ca/04/jul/ainfos00192.html Maré Negra n1: MEMÓRIA ANARQUISTA DO CENTRO GALEGO DO RIO DE JANEIRO (1903-1922)]</ref>}}No soneto ''A Anarquia'' o então jovem poeta Oiticica expressou suas opiniões sobre esta filosofia política e a perseguição a qual sofriam muitos de seus entusiastas.
 
:''Para a anarquia vai a humanidade''[[File:Fazenda riachão.png|thumb|right|300px|Fazenda Riachão, perto de [[Rio Largo]], [[Alagoas]], local onde vivia a família Oiticica.]]
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:''Façam da ação dos subversivos crime,'
:''Persigam, matem, zombem... tudo em vão...''
:''A idéiaideia, perseguida, é mais sublime,''
 
:''Pois nos rude ataques à opressão,''
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Paralelamente a vida de literato e libertário, José Oiticica constituiu uma ampla família: Foi pai de cinco filhas - Vanda Oiticica, [[Sônia Oiticica]], Selma Oiticica, Laura Oiticica, Dulce Oiticica, e um filho que receberia o nome de seu pai: José Rodrigues Leite e Oiticica Filho.
 
A época a casa dos Oiticica era freqüentadafrequentada por figuras como [[Coelho Neto]], [[Viriato Correia]] e [[Monteiro Lobato]]. Ao longo de sua carreira como professor de letras e línguas teve como seus alunos [[Antônio Houaiss]], [[Antônio de Pádua]] e [[Manuel Bandeira]] entre outros .
 
Dos rumos tomados por seus filhos, Sônia Oiticica enveredou mais tarde para as artes cênicas conquistando fama no teatro e na televisão, enquanto José Oiticica Filho tornou-se a seu tempo um grande entomólogo e fotógrafo de renome.
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===Rio de Janeiro 1918===
{{Artigo principal|[[Insurreição anarquista de 1918]]}}
Para os anarquistas brasileiros o ano de [[1918]] começou com as comemorações do Primeiro de Maio, colocando a cidade do Rio de Janeiro em estado de sítio, e inspirando meses depois, em agosto, greves em diversas companhias com a Cia Cantareira e a Viação Fluminense, exigindo aumento nos salários e jornada laboral de 8 horas. Durante todo o ano os confrontos nas ruas entre trabalhadores e o aparato repressivo do estado se tornam freqüentesfrequentes.
 
É neste contexto que as notícias que a [[Revolução Bolchevique]] na [[Rússia]] havia alcançado êxito são recebidas. Sem saber muito bem quem eram de fato os "[[Bolchevique]]s", diversos grupos anarquistas passaram a se organizar também com a intenção de derrubar o governo central no Brasil.
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Na tarde do dia 18 José Oiticica e outros membros do chamado "conselho revolucionário" foram presos. Em contrapartida, anarquistas e sindicalistas revoltados reuniram-se em São Cristóvão e tomaram de assalto a delegacia do Décimo Distrito Policial. Os insurgentes foram julgados e condenados à prisão sendo enviados para a [[Ilha Rasa (Rio de Janeiro)|Ilha Rasa]].
 
Após a misteriosa fuga de José Eduardo de Macedo Soares da ilha, os carcereiros passaram a instituir um regime descrito pelos prisioneiros como "um inferno", "dos mais iníquos e aviltantes". Na ocasião Oiticica compôs o Hino da Rasa cantado pelos encarcerados como exercício de ânimo e liberdade.{{quote|"''Sr. Senador Bueno Brandão</br>Em discurso de 10 do corrente, referindo-se V. Ex. a presos que assinaram documentos comprobatórios de maus tratos sofridos nas prisões, acentua-se que, entre os signatários, há desordeiros, desclassificados e alguns anarquistas.</br>Como de entre os signatários só eu sou anarquista, vejo-me classificado por V. Ex. abaixo de desordeiro e desclassificado.</br>Era meu propósito não retorquir à ofensa, pois não julgo mais digno ser senador que ser anarquista, porquanto se qualquer anarquista x*poderia ser senador, nem todo o senador poderá ser anarquista.</br>- Como, porém, temos decidido, entre nós, não deixar sem pronta repulsa qualquer insulto ou inverdades e isso para mostrar que estamos vivos, escrevo a V. Ex. estas linhas somente para agradecer a V. Ex. o favor que aos anarquistas ínvoluntariamenteinvoluntariamente fez.</br>Em primeiro lugar, mostrando-se V. Ex. tão intrasigenteintransigente inimigo dos anarquistas, chama sobre eles toda a simpatia nacional.</br>Em segundo lugar, deixa V. Ex. bem patente que pode V. Ex. ser tudo neste mundo, menos anarquista, o que muito nos distingue.</br>Em terceiro lugar, torna-se evidentíssimo que, entre os anarquistas, pode haver desordeiros, vagabundos, dinamiteiros, assassinos, salteadores, etc., etc., mas nunca, e de fato não há, nenhum Bueno Brandão.</br>Sem maís, sou de V. Ex.</br>indiferente conterrâneo.''"|Carta de [[13 de Junho]] de [[1925]] de José Oiticica ao senador [[Júlio Bueno Brandão|Bueno Brandão]]}}Lá Oiticica escreveu também ''Princípios e fins do programa comunista-anarquista'' publicado no ano de [[1919]], mesmo ano em que saiu da prisão da [[Ilha Rasa (Rio de Janeiro)|Ilha Rasa]] por conta da pressão de diversos intelectuais. Naquele mesmo ano fundou junto a [[Astrojildo Pereira]] o periódico ''[[Spartacus (periódico)|Spartacus]]'' no Rio de Janeiro.{{quote|"''Hoje, de fato, não há quem creia ofensiva a espécie de 'loucura mansa' do velho professor. Mas tempo houve em que, quando se falava em revolução, em prender gente perigosa' logo surgia a pergunta: "E o Oticica?" E lá ia o professor parar na cadeia, fôssefosse a baderna uma tenentada, uma greve operária...''"|Revista O Cruzeiro, 1953}}Volta a ser preso em julho de [[1924]] por conta da eclosão da Revolta Paulista, (segunda revolta do Tenentismo) desta vez foi encarcerado na [[Ilha das Flores (Rio de Janeiro)|Ilha das Flores]] onde escreveu ''A doutrina anarquista ao alcance de todos'' e também criou o esboço da peça teatral ''Azalan!''.
 
===Senioridade===
[[Imagem:Jose Oiticica4.jpg|left|thumb|400px|Fotos publicadas na primeira página da matéria ''Confissões de um anarquista emérito'', publicada na revista [[O Cruzeiro (revista)|O Cruzeiro]] em [[1953]].]]
Liberto em [[1929]], funda o periódico clandestino ''[[5 de Julho]]'' e lança o primeiro número do jornal anarquista ''[[Ação Direta (jornal)|Ação Direta]]''. Publica também textos prosáicosprosaicos, poéticos e/ou políticos em vários periódicos da imprensa operária libertária como os jornais ''[[A Lanterna]]'', ''[[Spartacus (periódico)|Spartacus]], ''[[Livre Pensador (periódico)|Livre Pensador]]'', ''[[A Plebe]]'', e a revista ''[[A Vida]]''. Produz ainda peças inúmeras releituras de teatrais dramáticas-libertárias intercalando sua produção com o ofício de professor.
 
Em fins de 1929 é convidado à lecionar [[filologia]] portuguesa na Universidade de [[Hamburgo]], na [[Alemanha]], onde permanece até o ano seguinte. Em 1930 volta para o Rio de Janeiro onde publica ''Do método de estudo das línguas sul-americanas'' e passa a lecionar na hoje extinta Universidade do Distrito Federal.
 
José Oiticica, que se manteve sempre fiel a seus ideais voltou a editar o periódico ''Ação Direta'' em 1946 que continuou sendo produzido com alguma interrupção, mesmo depois de seu falecimento. Em 1955 publicou ainda seu ''Roteiro de fonética fisiológica, técnica do verso e dicção'' e ''A teoria da correlação''.{{quote|"''Episódios de uma vida atribulada - Sete concursos para uma nomeação - Três mil réis no bôlsobolso e uma teoria de Estado na cabeça - Da utilidade de passar temporadas na cadeia - A galhardia e o entusiasmo de um espírito moço e prodigiosamente ativo, com setenta anos nominais.''"|Revista O Cruzeiro, 1953}}No dia [[29 de Junho]] de [[1957]], após participar do aniversário de um de seus netos, faleceu aos 75 anos de idade, com LapisLápis e caderno de notas nas mãos, sentado em sua cama enquanto preparava uma aula a ser apresentada no dia seguinte. No dia seguinte seus restos mortais foram sepultados no [[Cemitério São João Batista (Rio de Janeiro)|Cemitério São João Batista]] na cidade do Rio de Janeiro onde se encontram desde então.
 
==Legado==
Ainda que reduzido, jamais esquecido nos meios libertários brasileiros, o legado de José Oiticica tem sido recuperado nas duas últimas décadas por grupos de estudos e coletivos organizados. No ano de [[1971]] (em plena [[ditadura militar]]) foi fundada na periferia da cidade de [[Salvador]], na [[Bahia]] por [[AntonioAntônio Fernandes Mendes]] a Escola Comunitária Professor José Oiticica. Ativa desde então em 2005 por iniciativa de particulares e coletivos envolvidos a escola recebeu uma [[biblioteca]]. José Oiticica sua história e a importância de militância para o contexto brasileiro têm sido reconhecida entre círculos anarquistas não só no Brasil mas também em inúmeros outros países.
 
==Obras==