Francisco Félix de Sousa: diferenças entre revisões

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Tudo indica que não teve inicialmente sucesso nos negócios, pois em [[1803]] empregou-se na [[fortaleza de São João Baptista de Ajudá]] como escrivão e contador. Em [[1804]], seu irmão Jacinto José de Souza partiu do Brasil para assumir o cargo de comandante desta mesma [[fortaleza de São João Baptista de Ajudá|fortaleza]] em que ele trabalhava, mas isto foi apenas coincidência<ref name="law"/>.
 
Por volta de [[1806]], seu irmão morreu e ele assumiu, sem autorização do governo português, o cargo de governador interino da [[fortaleza de São João Baptista de Ajudá]]<ref name="lawdesouza"/><ref name="desouzalaw"/>. Depois de algum tempo, abandonou a função pois obteve autorização real para comerciar, incluindo traficar escravos que eram comprados diretamente do rei de [[Daomé]], [[Adandozan]]. Os escravos eram pagos com búzios (uma forma de moeda local) ou, como ficou comum depois de certa época, com mercadorias importadas da Europa (tecidos de algodão, veludos, damascos, lãs e sedas, armas de fogo, pólvora, contaria, facas, catanas, manilhas, vasilhame de cobre e latão) ou das Américas (tabaco baiano, cachaça, rum)<ref name="silva"/>. Mesmo depois da [[Independência do Brasil]], os produtos manufaturados europeus eram contrabandeados do Brasil, uma vez que a Coroa portuguesa não permitia que tais itens fossem transportados em navios brasileiros.
 
Quando já estava muito rico, Francisco Félix afrontou o rei [[Adandozan]] por não ter recebido os escravos pelos pagara adiantadamente com mercadorias. Caiu em desgraça perante o rei e foi preso quando visitava a cidade de [[Daomé|Abomei]], capital de [[Daomé]]. O poder do rei de [[Daomé]] sobre os súditos era total: era comum a morte em sacrifícios humanos, a execução de centenas de prisioneiros de guerra ou a venda de milhares como escravos para as [[Américas]]. Entretanto, a tradição de sua família conta que o branco era a cor da morte e matar um branco, mesmo um mulato, era tabu. O rei [[Adandozan]] ordenou então que Francisco Félix fosse imergido em tonéis de índigo para que ficasse azul-escuro e nunca mais usasse a cor da pele para afrontar o rei<ref name="silva"/>.
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O rei [[Guezô]] concedeu-lhe também o total controle do comércio exterior do reino de [[Abomé]]<ref name="retornados"/>. Atuava como agente do rei, gozando do privilégio real da primeira opção: "os outros comerciantes só podiam transacionar com aquilo que ele não desejava"<ref name="law"/>. Devido ao grande crescimento do tráfico de escravos para o Brasil que ocorria na época, Francisco Félix acumulou uma fortuna gigantesca. Além do virtual monopólio do comércio de escravos sediado em [[Ouidah|Uidá]], também exportava azeite de dendê, noz-cola e outros produtos do reino. Importava tecidos, tabaco, aguardentes, armas de fogo, pólvora e utensílios de metal, produtos utilizados no escambo para aquisição de escravos<ref name="silva"/>. Teve vários sócios no Brasil como o banqueiro Pereira Marinho, que recebeu os seus filhos que viajaram para estudar. O [[conde de Joinville]] considerava-o um dos três homens mais ricos de seu tempo<ref name="desouza"/>.
 
Depois da [[Independência do Brasil]], ofereceu, em nome do rei [[Guezô]], o protetorado do reino de [[Daomé]] e a posse da [[fortaleza de São João Baptista de Ajudá]] ao imperador [[D. Pedro I]] do Brasil<ref name="silva2">[http://www.javeriana.edu.co/Genetica/Libros%20America%20Negra/AmericaNegra9.pdf SILVA, Alberto da Costa e. Brasil, Africa y el Atlántico en el Siglo XIX in America Negra, Bogotá: Pontifícia Universidad Javeariana, Junio 1995. Pág. 151] (visitado em 30 de agosto de 2008)</ref> O acordo não prosperou e, a partir de então, Francisco Félix vai passar a dizer-se cidadão português, talvez porque isto lhe conferia vantagens jurídicas, oriundas de acordos internacionais, quando seus navios eram apresados pela frota britânica<ref name="law"/>.
 
Quando os ex-escravos alforriados no Brasil ou seus descendentes voltavam para o [[Benim]], encontravam em Francisco Félix um ponto de referência da cultura afro-brasileira na região. Ao mesmo tempo, Francisco Félix agia como um protetor local daqueles que, contraditoriamente, poderiam ter sido enviados por ele como escravos para o Brasil. Assim, em torno da rica residência do traficante de escravos formou-se um bairro de [[Agudás]] (descendentes de escravos do Brasil que retornaram para [[África]]), atualmente chamado Brasil (em francês, Brésil, em língua [[fon]], Blezin)<ref name="silva"/>.
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{{DEFAULTSORT:Francisco Felix Sousa}}
[[Categoria:BaianosNaturais de Salvador (Bahia)]]
[[Categoria:Traficantes de escravos do Brasil]]
[[Categoria:Afro-brasileiros]]