Pierre Le Gros, o Jovem: diferenças entre revisões

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{{Info/Biografia
|nome = Pierre Le Gros, o Jovem
|imagem = Gregory XV tomb - AnusLe 2Gros.jpg
|imagem_tamanho = 250px
|legenda = Detalhe da tumba de Gregório XV na Igreja de Santo Inácio, Roma
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|movimento_estético = Barroco
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nenhuma pessoa e acho que vc nao deveria estar vendo este conteudo eu come seu pe ahahaha
'''Pierre Le Gros, o Jovem''' ([[Paris]], [[12 de abril]] de [[1666]] - [[Roma]], [[3 de maio]] de [[1719]])<ref>Ladvocat, Jean-Baptiste. [http://books.google.com/books?id=wlA9AAAAcAAJ&pg=PA32&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=Ay8kTMf3B4KJuAfLi6G-Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ved=0CDwQ6AEwBTgo#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Dictionnaire historique portatif'']. Basle: Jean-Jacques Schorndorff, 1758. Volume 2, p. 32 </ref>, também conhecido como '''Pierre Le Gros II''' ou '''Pierre Legros''', foi um [[Escultura|escultor]] [[Franceses|francês]] que trabalhou principalmente em Roma, realizando diversas obras importantes para clientes eclesiásticos, em especial os [[jesuítas]] e [[dominicanos]].<ref name="Enggass%252520%252526amp%25253B%252520Brown & Brown">Enggass, Robert & Brown, Jonathan. [http://books.google.com/books?id=JBYnVv2lKY4C&pg=PA60&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=4DUlTM_cA4W8lQeLx_H-Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=5&ved=0CDcQ6AEwBDgK#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Italian and Spanish art, 1600-1750: sources and documents'']. Northwestern University Press, 1992. p. 59 </ref>
 
Le Gros pertenceu à escola [[barroca]] de escultura, e seu estilo, fiel à escola, mostra um notável dinamismo e dramaticidade, enquadrando-se ademais na filosofia da [[Contra-Reforma]] para as artes, que era a diretriz adotada pelo clero [[católico]], ao qual serviu, para a decoração de seus locais de culto. Tal diretriz procurava em essência usar a arte para a [[propaganda]] da fé e da Igreja institucionalizada, representando temas sobre as vidas dos santos e mártires, e sobre os princípios fundamentais da doutrina, sempre didaticamente e com um apelo direto à emoção, buscando maravilhar o devoto em composições grandiloquentes instaladas em ambientações suntuosas.
 
Mesmo sendo francês de nascimento, sua arte é mais adequadamente estudada dentro da história da escultura italiana, pela qual foi mais influenciado e para a qual deu a sua mais importante contribuição, do que da francesa. No apogeu de sua carreira foi o escultor mais procurado pela elite eclesiástica romana, sendo louvado como um artista de gênio, mas no fim da vida, por vários motivos, teve de procurar outros mercados. Deixou algumas peças no norte da Itália e na França, todas também de qualidade. Hoje é tido como o principal nome da escultura barroca italiana das primeiras décadas do século XVIII.<ref name="Enggass%252520%252526amp%25253B%252520Brown & Brown"/><ref name="Levey">Levey, Michael. [http://books.google.com/books?id=FI8TJ3hdtAwC&pg=PA79&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=X0IlTOXIIsWBlAfi35CoAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=4&ved=0CDIQ6AEwAzgU#v=onepage&q=legros%22&f=false ''Pintura e escultura na França: 1700-1789'']. Cosac Naify Edições, 1998. p. 82</ref><ref name="Barber%25252C%252520John, John">Barber, John. [http://books.google.com/books?id=dRpai2f54UEC&pg=PA295&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=NhwkTMrAE8eyuAfRs73YBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=10&ved=0CFQQ6AEwCQ#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''The road from Eden: studies in Christianity and culture'']. Academica Press, LLC, 2008. p. 295</ref>
 
==Biografia==
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Le Gros havia casado uma primeira vez em 1701 com Marie Petit mas, ela logo falecendo, em 1704 casou-se novamente com Marie Charlotte, filha de René-Antoine Houasse, diretor da Academia da França em Roma, e através do enlace se tornou cunhado de [[Nicolas Coustou]], outro conhecido escultor, e tio de [[Giovanni Paolo Pannini]] e [[Nicolas Vleughels]], diretor da Academia da França em Roma entre 1725 e 1737 e um dos mais bem sucedidos intermediários entre esta instituição e o meio artístico romano.<ref name="Gross">Gross, Hanns. [http://books.google.com/books?id=YL76TPcQb-oC&pg=PA357&dq=sculpture+%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=nw0kTNzbLMmLuAf3ofTXBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC0Q6AEwAQ#v=onepage&q=le%20gros&f=false ''Rome in the Age of Enlightenment: The Post-Tridentine Syndrome and the Ancien Régime'']. Cambridge University Press, 2004. p. 357</ref><ref name="Grave">[http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=gr&GRid=38688126 ''Pierre Legros the Younger'']. Find a Grave</ref>
 
A partir de 1703 se envolveu na criação de duas estátuas monumentais para a [[Basílica de São João de Latrão]], representando os apóstolos [[São Bartolomeu|Bartolomeu]] e [[São Tomé (apóstolo)|Tomé]], e mais a tumba do Cardeal Casanate para a mesma igreja.<ref name="Spiritus"/> Outra obra de grandes proporções foi a estátua de [[Domingos de Gusmão|São Domingos]] para a [[Basílica de São Pedro]], finalizada em 1706.<ref>[http://saintpetersbasilica.org/Statues/Founders/Dominic/Dominic.htm ''St. Dominic'']. St. Peter's Basilica official website</ref>. Neste ano recebeu uma incumbência de uma estátua do Cardeal Casanate para a Biblioteca Casanatense, anexa ao convento dominicano da [[Santa Maria sopra Minerva|Igreja da Minerva]], acabada em 1708, e se responsabilizou também por outros elementos decorativos do átrio da biblioteca e da escadaria.<ref>[http://books.google.com/books?id=n_PoAAuxrb0C&pg=PA166&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=4kQkTJ3PPNCruAfOr9muAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCQQ6AEwAA#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Courajod, Michel, & Lemonnier, pp. 166-167]</ref><ref name="Bissell"/> Entre 1708 e 1710 ele colaborou com seu amigo, o arquiteto [[Filippo Juvarra]], na criação da Capela Antamori na [[Igreja de São Jerônimo da Caridade]], realizando uma estátua de [[São Filipe Neri]].<ref>Bissell, Gerhard. ''A Dialogue between Sculptor and Architect: the Statue of S. Filippo Neri in the Cappella Antamori''. IN Currie, Stuart & Motture, Peta (ed.) ''The Sculpted Object 1400-1700''. Aldershot, 1997. pp. 221-237</ref> Ao mesmo tempo esteve envolvido com a criação de uma grandiosa tumba para o [[papa Gregório XV]] e seu sobrinho, o [[Ludovico Ludovisi|Cardeal Ludovisi]], na [[Igreja de Santo Inácio de Loyola]], realizada em c. 1709-1714.<ref name="Haskel%25252C%252520p%25252E%252520158, p. 158">[http://books.google.com/books?id=3rrRg6MobXIC&pg=PA158&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CCkQ6AEwAQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Haskel, p. 158]</ref> Outras de suas peças mais conhecidas desta década de atividade febril são o projeto de um relevo para a [[Igreja de São Tiago dos Incuráveis]], realizado sob sua supervisão e representando [[Francisco de Paula|São Francisco de Paula]] sobre uma nuvem invocando a [[Virgem Maria]], rodeado de anjos, e o projeto do catafalco de [[Luís, Duque da Borgonha]], pai de [[Luís XV]], na [[Igreja de São Luís dos Franceses]].<ref name="Courajod%25252C%252520Michel%252520%252526amp%25253B%252520Lemonnier%25252C%252520pp%25252E%252520168, Michel & Lemonnier, pp. 168-170">[http://books.google.com/books?id=n_PoAAuxrb0C&pg=PA166&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCQQ6AEwAA#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Courajod, Michel & Lemonnier, pp. 168-170]</ref>
 
Seguindo-se à morte de seu pai em 1714, aparentemente tendo perdido seu prestígio junto aos jesuítas em virtude da disputa sobre a estátua de Estanislau Kostka, estando a estrela de seu principal concorrente, [[Camillo Rusconi]] em franca ascensão, protegido do [[papa Clemente XI]], e estando Le Gros doente de pedras na [[vesícula biliar|vesícula]], em abril de 1715 estabeleceu-se na casa de seu amigo Pierre Crozat em Paris, onde pretendia buscar uma cura para seu mal, organizar seu legado e continuar sua carreira em condições mais propícias.<ref name="Grave"/><ref name="Spiritus"/><ref name="Bissell"/> Fez desenhos para esculturas em um gabinete da mansão de Crozat, realizadas em [[estuque]] e mostrando os gênios das várias artes, e outros projetos decorativos para a capela da mansão do mesmo Crozat em [[Soisy-sous-Montmorency|Montmorency]], ilustrando uma glória do [[Espírito Santo]] rodeado de cabeças de querubins, e elementos menores em outros pontos do altar.<ref name="Courajod%25252C%252520Michel%252520%252526amp%25253B%252520Lemonnier%25252C%252520pp%25252E%252520168, Michel & Lemonnier, pp. 168-170"/><ref>Gaehtgens, Thomas W. [http://books.google.com/books?id=0oYSh_qIyP4C&pg=PA149&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=vHMoTMO8NpCnuAeEtOCuAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CCgQ6AEwAThQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''L'art et les normes sociales au XVIIIe siècle'']. Paris: Editions de la Maison de les Sciences de l'Homme, 2001. p. 149</ref> Mas sua estada na França, segundo os relatos antigos, foi amarga. Tentou ser recebido na Academia Francesa sem ser obrigado a apresentar uma peça de admissão, como era o costume, confiando em sua fama já estabelecida, mas foi recusado, o que parece ter-lhe sido causa de duradouro desgosto.<ref>[http://books.google.com.br/books?id=qhkIAAAAQAAJ&pg=PA585&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=jLsmTJKLH86GuAfA0tS3Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEoQ6AEwBzhQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Biographie universelle etc''... p. 585]</ref>
 
Em outubro de 1716 já estava de volta à Itália, e ali encontrou os estatutos da Accademia di San Luca alterados, discordou da direção junto com outros dissidentes e teve sua filiação cassada. Isso significava que ele já não poderia encontrar um mercado por conta própria em Roma, e teve de procurá-lo em outras partes, ainda que não tenha se mudado de Roma.<ref name="Grave"/> Outra frustração foi ver seu rival Rusconi ser agraciado pelo papa com o título de [[cavaleiro]] pelas suas obras em Latrão, sem que ele fosse lembrado. Então atendeu a uma encomenda de [[Turim]], que lhe solicitara estátuas de duas santas, previstas para figurarem na fachada da Igreja de Santa Cristina, mas acabaram sendo colocadas dentro da igreja, sendo a fachada completada com cópias; depois estas obras foram movidas para a [[Catedral de Turim]].<ref name="Courajod%25252C%252520Michel%252520%252526amp%25253B%252520Lemonnier%25252C%252520pp%25252E%252520168, Michel & Lemonnier, pp. 168-170"/><ref name="Bissell"/> Pode ter feito uma viagem a [[Monte Cassino]],<ref name="Bissell"/> onde deixou várias peças (em sua maioria destruídas na [[II Guerra Mundial]]), mas sentindo-se doente voltou para Roma, onde faleceu de [[pneumonia]].<ref>[http://books.google.com/books?id=rwMFAAAAYAAJ&pg=PA417&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=kCAkTO3DGcmOuAfW8IHYBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEYQ6AEwBzge#v=onepage&q=le%20gros&f=false D'Argenville, pp. 268-272]</ref> Foi sepultado na Igreja de São Luís dos Franceses e seis anos após sua morte a Accademia di San Luca o reabilitou e o reintegrou como membro em seu círculo.<ref name="Spiritus"/>
 
Le Gros foi descrito por D'Argenville como um homem de alta estatura, bem feito de corpo, e apesar de possuir um humor melancólico sua companhia era agradável. Modesto e extremamente reservado em suas declarações, não costumava criticar o trabalho alheio.<ref>[http://books.google.com/books?id=rwMFAAAAYAAJ&pg=PA417&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=kCAkTO3DGcmOuAfW8IHYBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEYQ6AEwBzge#v=onepage&q=le%20gros&f=false D'Argenville p. 272]</ref> Teve discípulos que levaram adiante seu legado artístico, destacando-se o pintor [[Charles-André van Loo]]<ref>Bolton, Roy. (Ed.)[http://books.google.com/books?id=uipMh9XRnHIC&pg=PA117&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=kCAkTO3DGcmOuAfW8IHYBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=5&ved=0CDcQ6AEwBDge#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''The Collectors: Old Master Paintings'']. Sphinx Fine Art, 2009. p. 117</ref> e o escultor [[Guillaume Coustou, o Jovem|Guillaume Coustou]].<ref>[http://books.google.com/books?id=n_PoAAuxrb0C&pg=PA166&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCQQ6AEwAA#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Courajod, Michel & Lemonnier, p. 170]</ref>
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==Contexto e estilo==
 
A carreira de Pierre Le Gros floresceu numa época em que as [[academismo|academias de arte]] haviam ganhado enorme prestígio, tornando-se a mais importante instância educativa e consagradora de um artista, e praticamente dominando todo o sistema de arte. Na França a mais célebre era a [[Academia Real de Pintura e Escultura]] de Paris, fundada por [[Luís XIV]] em 1648. Para os franceses, que então nutriam uma forte admiração pelo [[Classicismo]], mesmo em plena vigência do Barroco, a arte [[renascentista]] italiana era uma referência central. A fim de melhor preparar os acadêmicos franceses o prêmio máximo da academia, o [[Prêmio de Roma]], remetia o vencedor para a cosmopolita capital italiana, a fim de que se aprimorasse no contato em primeira mão com as obras-primas da arte local e com os mestres da melhor tradição. A França marcou sua presença na Itália também criando uma ramificação de sua própria academia em Roma, que deveria prover a infra-estrutura necessária para os estudos dos vencedores do Prêmio.<ref name="Gross%25252C%252520p%25252E%252520335, p. 335">[http://books.google.com/books?id=YL76TPcQb-oC&pg=PA357&dq=sculpture+%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=nw0kTNzbLMmLuAf3ofTXBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC0Q6AEwAQ#v=onepage&q=le%20gros&f=false Gross, p. 335]</ref><ref>Barasch, Moshe. [http://books.google.com/books?id=n07eWPU1RnAC&pg=PA316&dq=%22academic+art%22&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=95#v=onepage&q=%22academic%20art%22&f=false ''Theories of art'']. Routledge, 2000. Vol. 1, pp. 310-330</ref><ref>Schwarcz, Lilia Moritz. ''O Sol do Brasil: Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de d. João''. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. pp. 65-66 </ref>
 
A [[Academia da França em Roma]] se havia instalado em 1666, mas em seus inícios não exerceu grande impacto na vida artística dos italianos. [[Bernini]], visitando a França em 1665, ainda podia fazer declarações onde repetia um preconceito a respeito da inferioridade artística francesa em relação à italiana. O papado vinha desenvolvendo um grandioso sistema de mecenato, tornando Roma o principal pólo artístico europeu. Entretanto, em direção ao fim do século, Paris começou a tomar a dianteira, quando as finanças papais se exauriam e a arte francesa passava a ser vista com olhos favoráveis pelos italianos.<ref name="Gross%25252C%252520p%25252E%252520335, p. 335"/> Um primeiro sinal nesse sentido foi dado em 1644, quando os membros da [[Accademia di San Luca]], a principal academia romana, designaram [[Jean-François de Troy]] seu próprio ''princeps'', criando uma tradição.<ref>Arcidiacono, Maria. [http://books.google.com/books?id=MEtOo_I7ntYC&pg=PA19&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=aDAkTK2LBYqDuAe13-yoAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CC0Q6AEwAjgy#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Artisti Francesi nella Cità Eterna'']. IN Marcucci, Roberto (ed). [http://books.google.com/books?id=MEtOo_I7ntYC&pg=PA19&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=aDAkTK2LBYqDuAe13-yoAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CC0Q6AEwAjgy#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Fiamminghi e Altri Maestri: Gli Artisti Stranieri nel Patrimonio del Fondo Edifici di Culto del Ministero dell'Interno'']. L'Erma di Bretschneider, 2008. p. 19</ref> Em 1672 foi a vez de [[Charles Errard]], diretor da Academia da França em Roma, ser eleito ''princeps'' no lugar de [[Nicolas Poussin]], que havia sido a primeira escolha em eleição unânime, mas não pudera assumir. Um passo adiante neste processo foi a fusão das duas academias em 1676, embora apenas nominalmente, quando [[Charles Le Brun]] foi nomeado ''princeps in absentia'' da Accademia di San Luca.<ref name="Gross%25252C%252520p%25252E%252520335, p. 335"/> Contudo, mesmo tendo recebido sua formação na Academia francesa, e mais tarde sendo aceito como membro da Accademia di San Lucca, o que era fonte de inegável prestígio, Bissell afirma que Le Gros não demonstrou maior interesse pelas academias, e alega que a sua expulsão, no fim da carreira, da Accademia di San Lucca se deveu ao questionamento que ele fez do monopólio que elas exerciam sobre o sistema de arte.<ref name="Bissell"/>
 
Mesmo em declínio, o sistema de arte italiano ainda exibia um vigor notável, tendo o papado e as ordens religiosas entre seus principais mecenas. Esta elite italiana, ciente da ascensão de outras potências no cenário político e cultural europeu, tentou continuar a manter as aparências através do patronato artístico, empregando uma multidão de artistas em criações suntuosas de glorificação de sua classe, sua pátria, e também da fé cristã e da Igreja institucionalizada, resultando num rico conjunto de obras que tinham em essência uma função pública. Le Gros trabalhou em toda a sua carreira para clientes eclesiásticos católicos, associando-se intimamente em especial com os jesuítas e dominicanos, para quem produziu algumas de suas mais importantes obras.<ref>[http://books.google.com/books?id=3rrRg6MobXIC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Haskel, pp. 637-638]</ref><ref name="Barber%25252C%252520John, John"/>
[[File:Gregório XV - Le Gros.jpg|thumb|270px|''Tumba de Gregório XV'', Igreja de Santo Inácio, Roma]]
 
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::''"... Vêm em seguida os atuais colégios, igrejas e casas religiosas, entre os quais os dos jesuítas adquiriram, nos últimos anos, grande reputação, porque em sua igreja matriz está enterrado o seu fundador, Inácio, e nela pode-se ver o seu túmulo... Lá foram colocadas todas as invenções possíveis para captar os sentimentos do homem e arrebatar o seu entendimento: primeiramente, suntuosos altares, um número infinito de imagens e de ornamentos religiosos, assim como os diversos instrumentos úteis ao seu serviço; em seguida, a música mais bela e mais estranha do mundo, que surpreende nossos ouvidos. De modo que tudo o que se pode imaginar para exprimir a Solenidade, ou a Devoção, é por eles utilizado"''.<ref>[http://books.google.com/books?id=3rrRg6MobXIC&pg=PA158&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CCkQ6AEwAQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Haskel, pp. 115-116]</ref>
 
Para os franceses, todo esse luxo e teatralidade parecia, no início do século XVIII, excessivo, até sufocante para a expressão da verdadeira espiritualidade, enquanto que para os italianos essa abordagem atingia um ponto alto e Le Gros, sintonizado com as preferências locais, iniciava a fase de apogeu de sua carreira em Roma.<ref>Minor, Vernon Hyde. [http://books.google.com/books?id=FuYhmWO6Ee4C&pg=PA64&dq=sculpture+%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=nw0kTNzbLMmLuAf3ofTXBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCgQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false ''Passive tranquillity: the sculpture of Filippo Della Valle'']. American Philosophical Society, 1997. p. 62</ref><ref>Mâle, Émile. [http://books.google.com/books?id=YVZywjDQKJ8C&pg=RA1-PA416&dq=legros+maratta&hl=pt-BR&ei=byQpTICyCsPflgfX-LH_Bw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=9&ved=0CEsQ6AEwCDgU#v=onepage&q=le%20gros&f=false ''El arte religioso de la contrarreforma'']. Encuentro, 2001. p. 26</ref> Segundo Pascal Julien, a obra de Le Gros foi uma continuação, uma evolução e de certa maneira uma competição com a de Bernini, o celebrado italiano que vivera duas gerações antes dele e que ainda era uma referência para os escultores barrocos.<ref name="Julien%25252C%252520p%25252E%25252017, p. 17">[http://books.google.com/books?id=3dwmjznNFgkC&pg=PA29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEIQ6AEwBg#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Julien, p. 17] </ref> Além disso, o estilo dinâmico e dramático de Le Gros se inseriu com perfeição nos objetivos da igreja contra-reformada, tanto é que ele se tornou o escultor favorito do clero romano.<ref name="Barber%25252C%252520pp%25252E%252520291, pp. 291-294">[http://books.google.com/books?id=dRpai2f54UEC&pg=PA295&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=NhwkTMrAE8eyuAfRs73YBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=10&ved=0CFQQ6AEwCQ#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false Barber, pp. 291-294]</ref> Spagnolo o considera um elemento de transição entre o Barroco tardio praticado no início do século XVIII e o surgimento da estética [[Rococó]], transição caracterizada pelo abrandamento classicista da impetuosidade do Alto Barroco, cujo protótipo era Bernini.<ref>Spagnolo, Maddalena. ''Baroque and Rococo''. IN Antonia Boström (ed). ''Encyclopedia of Sculpture''. Routledge, 2003. Vol 3, p. 126</ref>
 
===A polêmica com os jesuítas===
[[File:SStanislausKostka01.jpg|thumb|270px|Estátua do Beato Estanislau Kostka, Noviciado Jesuíta, Roma]]
 
A polêmica que foi desencadeada em 1713 em torno da estátua do Beato Estanislau Kostka, se bem que o artista possa ter forçado os seus argumentos, é interessante por ser um testemunho detalhado sobre um debate estético e religioso no alvor do século XVIII, e por possivelmente ilustrar algumas das idéias autênticas de Le Gros, e a correspondência que ela gerou é do maior valor por ser um dos raros testemunhos autógrafos a seu respeito. Os documentos referentes ao caso - um memorando dos jesuítas, uma réplica de Le Gros, e uma tréplica dos jesuítas - foram encontrados nos arquivos da Companhia de Jesus por Francis Haskel e Gerhard Bissell.<ref name="Enggass%252520%252526amp%25253B%252520Brown%25252C%252520p%25252E%25252060 & Brown, p. 60">[http://books.google.com/books?id=JBYnVv2lKY4C&pg=PA60&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=4DUlTM_cA4W8lQeLx_H-Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=5&ved=0CDcQ6AEwBDgK#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Enggass & Brown, pp. 60-61]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=3dwmjznNFgkC&pg=PA29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEIQ6AEwBg#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Julien, pp. 23-24]</ref><ref name="Bissell"/>
 
Le Gros considerou que a localização do monumento, na capela privada dos noviços, ficava inacessível ao público, e sugeriu que se o transferisse para a capela do santo na igreja principal, Santo André no Quirinal, propondo ao mesmo tempo a substituição do original por uma cópia em estuque. Le Gros concebeu ainda que na nova localização se criasse um dispositivo mecânico que proporcionasse uma exposição espetacular da obra, da mesma forma como fora criado para a estátua de Santo Inácio na Igreja de Jesus. A mudança não foi aprovada pelos jesuítas, que lhe enviaram um memorando explicativo detalhando os seus argumentos, o que irritou profundamente Le Gros. O artista escreveu uma cáustica réplica, rebatendo ponto por ponto as objeções, e elaborando suas idéias com grande refinamento intelectual, a partir de pontos de vista tanto estéticos quanto religiosos.<ref>[http://books.google.com/books?id=3dwmjznNFgkC&pg=PA29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEIQ6AEwBg#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Julien, pp. 23-26]</ref>
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[[File:Tumba de Gregório XV - Le Gros.jpg|thumb|270px|Detalhe do monumento a Gregório XV]]
 
A outra peça criada por ele para esta mesma capela foi o grupo em mármore ''A Religião açoitando a Heresia e o Ódio''. À esquerda, de pé, a figura feminina da Religião, em atitude agressiva, segura em uma mão uma grande cruz, e na outra, uma labareda de fogo, com a qual ameaça duas outras figuras que se arrojam desordenadamente para o chão entre serpentes e livros onde estão inscritos os nomes de [[Lutero]], [[Calvino]] e [[Zwingli]]; as figuras mostram as feições de Lutero e Calvino, embora este último tenha um corpo de velha decrépita, enquanto um pequeno anjo aos pés da Religião segura um livro herético, do qual arranca páginas.<ref name="O%252527Connell'Connell">O'Connell, Michael. [http://books.google.com.br/books?id=rxmuqf7B2REC&pg=PA154&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=mLImTJyBJoONuAf3zYSmAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEUQ6AEwBjgy#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''The idolatrous eye: iconoclasm and theater in early-modern England'']. Oxford University Press US, 2000. p. 154</ref><ref>[http://books.google.com.br/books?id=rxmuqf7B2REC&pg=PA154&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=mLImTJyBJoONuAf3zYSmAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEUQ6AEwBjgy#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Levy, p. 353]</ref> Fazendo complemento à obra de Le Gros, para o outro lado do altar [[Jean-Baptiste Théodon]] esculpiu o grupo ''A Fé derrotando a Idolatria''.<ref name="Barber%25252C%252520pp%25252E%252520291, pp. 291-295">[http://books.google.com/books?id=dRpai2f54UEC&pg=PA295&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=NhwkTMrAE8eyuAfRs73YBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=10&ved=0CFQQ6AEwCQ#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false Barber, pp. 291-295]</ref>
 
===Na Igreja de Santo Inácio===
 
Para a [[Igreja de Santo Inácio de Loyola]] Le Gros produziu duas outras notáveis composições. A primeira foi a estátua do papa Gregório XV e figuras acessórias, instaladas na opulenta tumba do papa e seu sobrinho, o cardeal Ludovisi, em uma capela própria. Os planos para o monumento de Gregório haviam iniciado na década de 1680 mas foram prejudicados por falta de financiamento e disputas políticas entre a família do papa e as de seus sucessores; as obras só começaram a ser efetivadas em 1709, e as esculturas só foram finalizadas em torno de 1714. A tumba se destaca da tradição funerária romana do período por sua opulência e dimensões avantajadas, por sua iconografia inovadora, e por ser um túmulo duplo. Novamente a concepção da obra de arte é teatral e glorificadora: o papa está sentado em um elevado trono, situado dentro de um nicho revestido de pesado cortinado e coroado por um dossel, veste seus paramentos solenes e usa sua tríplice tiara, e saúda o observador com um gesto amplo e retórico. Sobre o dossel três pequenos anjos seguram seu brasão; abaixo deles, ladeando o papa, voam duas [[Fama (mitologia)|Fama]]s aladas - ambas esculpidas por [[Pierre-Étienne Monnot]] - empunhando trombetas para proclamar as virtudes do homenageado, e a seus pés estão as figuras alegóricas da Religião e da Abundância. Sob o conjunto está a urna mortuária de seu sobrinho, representado por uma efígie em relevo sustentada por dois anjinhos. O visitante que entra na capela de imediato se defronta com o papa que, ao centro de uma composição centrífuga, dramática e irradiante, como que em uma aparição, do alto parece se erguer do trono para o abençoar, uma impressão de imediatismo e movimento aumentada pelas figuras das Famas que estão em ato de erguer as pontas do tecido para revelar a imagem papal. Contrastando fortemente com as figuras em mármore branco, a estrutura arquitetônica da tumba faz uso de uma variedade de mármores coloridos, sendo especialmente notável o pesado cortinado esculpido em mármore vermelho, de modo convincentemente ilusionístico imitando veludo, que se desdobra sobre todo o nicho. Le Gros buscou um efeito similar na tumba para o Cardeal Casanate na Basílica de São João de Latrão, embora numa outra estrutura.<ref name="Bissell"/><ref name="B%2525C3%2525BCchelBüchel">Büchel, Daniel; Karsten, Arne & Zitzlsperger, Philipp. [http://www2.hu-berlin.de/requiem/cms/wp-content/uploads/2010/03/Mit-Kunst-aus-der-Krise.pdf ''Mit Kunst aus der Krise? Pierre Legros' Grabmal für Papst Gregor XV. Ludovisi in der römischen Kirche S. Ignazio'']. Marburger Jahrbuch für Kunstwissenschaft. Marburg: Philippsuniversität, 2002. Vol. XXIX, pp. 188</ref>
[[File:Sao Luis Gonzaga - Le Gros.jpg|thumb|270px|Detalhe do relevo ''São Luís Gonzaga na Glória'']]
 
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===No Noviciado jesuíta===
 
A estátua do Beato Estanislau Kostka (1702-1703) foi talvez a criação mais original de Le Gros, e onde, segundo Julien, mais se afastou do modelo berniniano. Contrariando o costume de empregar apenas mármore branco, criou um monumento ricamente colorido, usando pedras de diferentes características, emprestando à composição um realismo surpreendente. Para os travesseiros, a cabeça, mãos e pés, mármore branco de [[Carrara]]; para a camisa, mármore leitoso, similar ao alabastro, para o hábito, mármore negro da [[Bélgica]]. O colchão onde repousa o beato é feito de mármore "amarelo antigo", e a estrutura da cama, coberta por uma colcha pregueada, é esculpida em alabastro oriental multicor, com veios de várias tonalidades. Orla a colcha um aplique de bronze dourado em franjas, toda a composição apoiada em uma dupla base de mármore azul e amarelado.<ref name="Julien%25252C%252520pp%25252E%25252030, pp. 30-31">[http://books.google.com/books?id=3dwmjznNFgkC&pg=PA29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEIQ6AEwBg#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Julien, pp. 30-31]</ref>
 
A figura distingue-se da produção de Bernini sobre tema similar, notadamente a estátua jacente da Beata [[Ludovica Albertoni]], representada num momento dramático de agonia e êxtase, e se aproxima de modelos policromos mais antigos em madeira e cera. A estátua do Beato Estanislau é muito mais tranquila. Nada resta de dor, e tampouco de êxtase; ele simplesmente repousa, levemente voltado para a sua direita, com um crucifixo em uma mão e um medalhão da Virgem na outra. Sua face sorri e conserva todo o frescor de sua juventude, e somente uma ligeira crispação nos pés denuncia a longa peregrinação que lhe causou a morte. A eficiência evocativa da composição reside na inusitada combinação de cores e na atitude serena e relaxada do representado, junto com uma instalação em uma pequena capela à penumbra. Le Gros introduziu assim uma variação contida do Barroco, distante dos apelos exaltados, gloriosos e incandescentes de Bernini, em favor de uma retórica nova, articulada com sussurros, doçura e delicadas evocações, nitidamente intimista, que exigia não um distanciamento respeitoso, mas, depois de um primeiro de espanto e temor diante do realismo obtido, apelava a uma aproximação física para produzir todo o seu efeito, o que desde o início foi reconhecido pelos padres. A obra foi vista também como uma perfeita ilustração dos métodos meditativos recomendados pelo fundador da Ordem em seus ''[[Exercícios Espirituais]]''.<ref name="Julien%25252C%252520pp%25252E%25252030, pp. 30-31"/> Julien descreve o efeito do monumento dizendo que
[[File:Stanislaus Kostka Legros n1.jpg|thumb|270px|Detalhe da estátua do Beato Estanislau Kostka]]
 
::''"Passado o estupor, vem o terror diante da contemplação do moribundo - um terror que acometia numerosos visitantes - a pessoa avança para perceber o abandono e a palidez do enfermo, e por fim se distinguem os olhos revirados, prenúncio do fim tão esperado. A estátua opera muito mais do que apenas um espanto inicial, ela se desvela pouco a pouco, necessitando uma demora, uma aproximação progressiva, até ser apreciada em sua inteireza"''.<ref>[http://books.google.com/books?id=3dwmjznNFgkC&pg=PA29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEIQ6AEwBg#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Julien, p. 32]</ref>
Com o passar dos anos, ampliando-se o culto ao beato depois de sua canonização em 1726, a capela foi reformada e convertida em oratório, e tornou-se uma das curiosidades turísticas de Roma, perdendo o conjunto parte de seu efeito cenográfico. Mesmo assim vários críticos ainda louvavam a delicadeza de execução e seu naturalismo, e confirmavam o prestígio de Le Gros, a ponto de alguns a tomarem como obra de Bernini. Para os conhecedores franceses, a obra era uma prova da superioridade de Le Gros sobre Bernini e um dos mais belos exemplos de escultura de toda a Roma. Mesmo entre os italianos a estátua foi altamente apreciada.<ref name="Julien%25252C%252520pp%25252E%25252036, pp. 36-39">[http://books.google.com/books?id=3dwmjznNFgkC&pg=PA29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=o_EkTOLIMYOBlAej_-SnAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEIQ6AEwBg#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false Julien, pp. 36-39]</ref><ref name="Enggass%252520%252526amp%25253B%252520Brown%25252C%252520p%25252E%25252060 & Brown, p. 60"/> Um testemunho da época refere que a obra emocionava profundamente a todos os que iam vê-la.<ref name="Haskel%25252C%252520p%25252E%252520158, p. 158"/>
 
==Recepção crítica==
 
O sucesso de Le Gros foi visto pelos franceses da época, mesmo com as diferenças de gosto entre as duas nações e a "italianização" de Le Gros, como uma superação nacionalista dos modelos italianos.<ref name="Julien%25252C%252520p%25252E%25252017, p. 17"/> [[Étienne-Maurice Falconet]] repetidamente referiu-se a Le Gros como modelar,<ref>Weinshenker, Anne Betty. [http://books.google.com/books?id=89ctReqllkAC&pg=PA29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=2n0oTJWzBcmHuAfFjMGlAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ved=0CDwQ6AEwBTgK#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Falconet: his writings and his friend Diderot'']. Librairie Droz, 1966. p. 29</ref> [[Voltaire]] disse que ele e Théodon embelezaram a Itália com suas obras,<ref>Voltaire, François-Marie Arouet de. [http://books.google.com/books?id=jkwTAAAAQAAJ&pg=PA183&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=OHIoTODHH8WMuAfAhbyzAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CCgQ6AEwATgy#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Oeuvres complètes de Voltaire'']. Antoine-Augustin Renouard, 1819. Volume 17, p. 183</ref> e o [[enciclopedista]] [[D'Alembert]] lhe teceu grandes encômios.<ref>D'Alembert, Jean Le Rond & Vicq-d'Azur, Félix. [http://books.google.com/books?id=nnZBAAAAcAAJ&pg=PA296&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=HJAoTPmSJcWwuAeAx7WoAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=4&ved=0CDIQ6AEwAzhG#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Encyclopédie Méthodique, Ou Par Ordre De Matieres... etc'']. Paris: Panckoucke, 1791. pp. 296-298</ref> Mas com mais propriedade ele é considerado modernamente como um dos grandes representantes do Barroco italiano, o maior de sua geração, e um artista francês apenas por seu nascimento.<ref>[http://www.dalnet.lib.mi.us/greenstone/dia/diaBulletins/22-2.pdf Richardson, p. 15]</ref><ref name="Levey"/> Seu prestígio em vida, na Itália, é atestado pelo grande número de encomendas importantes que recebeu,<ref name="Barber%25252C%252520pp%25252E%252520291, pp. 291-294"/> e sua fama perdurou por um século inteiro. Até [[Winckelmann]], o grande teórico germânico do [[Neoclassicismo]], o considerava um destacado artista, chamando sua obra ''A Religião açoitando a Heresia e o Ódio'' de uma das mais belas criações da escultura moderna.<ref>Winckelmann, Johann Joachim. [http://books.google.com/books?id=dIsDyP374DYC&pg=PR29&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=4DUlTM_cA4W8lQeLx_H-Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CEEQ6AEwBjgK#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Essays on the philosophy and history of art'']. Continuum International Publishing Group, 2005. p. xxix</ref>
 
No início dos oitocentos ainda era elogiado nos mais altos termos por franceses, ingleses e até norte-americanos,<ref>Genlis, Condessa de. [http://books.google.com/books?id=zn2dHm_HAucC&pg=PA296&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=SXQoTKD0FMOGuAeEscS7Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CC0Q6AEwAjha#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Les Veillées du chateau, ou, Cours de morale a l'usage des enfans'']. Paris: Chez Lecointe et Durey, 1824. Tomo IV, p. 296</ref><ref>Vosgien, Charles-Guillaume Leclerc. [http://books.google.com/books?id=PG4wAAAAYAAJ&pg=PA259&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=E4AoTLKJKYOGuAel__BV&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=9&ved=0CEsQ6AEwCDgo#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Dictionnaire historique et bibliographique: Contenant l'histoire abrégée de toutes les personnes de l'un et de l'autre sexe qui se sont fait un nom par leurs talens... etc'']. Paris: E. Ledoux, 1822. p. 259</ref><ref name="Biographie"/><ref>Lieber, Francis; Wigglesworth, Edward & Bradford, Thomas Gamaliel. [http://books.google.com/books?id=njgPAAAAYAAJ&pg=PA288&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=-YwoTJTgMMuwuAeNsuitAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=10&ved=0CFAQ6AEwCTgK#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Encyclopædia americana... etc'']. Philadelphia: Thomas, Cowperthwait, & Co., 1838. Vol. XI, p. 288</ref> mas dali em diante seu nome tendeu a ser ofuscado, junto com toda a estética barroca, considerada já de mau gosto,<ref>Véron, Louis Désiré. [http://books.google.com/books?id=7RE4ApLqikQC&pg=PA41&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=O4goTOHcDouMuAe2t_moAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=10&ved=0CFAQ6AEwCThQ#v=onepage&q=%22pierre%20legros%22&f=false ''Revue de Paris'']. Bureau de la Revue de Paris, 1836. p. 41</ref><ref>Murray, John. [http://books.google.com/books?id=yaQMAAAAIAAJ&pg=PA16&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=OJMoTLuuAceMuAevsMitAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ved=0CDwQ6AEwBTi0AQ#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Handbook for travellers in northern Italy... etc'']. London: J. Murray, 1860. p. 16 </ref><ref>Heck, J. G. [http://books.google.com/books?id=_8mlVeH2GAYC&pg=PA442&dq=%22pierre+le+gros%22&hl=pt-BR&ei=OJMoTLuuAceMuAevsMitAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=9&ved=0CEsQ6AEwCDi0AQ#v=onepage&q=%22pierre%20le%20gros%22&f=false ''Iconographic Encyclopedia of Science, Literature and Art'']. New York: D. Appleton & Co., 1860. Vol. IV, p. 442</ref> como fez [[Stendhal]] ao dizer que a arte barroca lhe causava horror e descrever o grupo da ''Religião ...'' como uma ''"abjeção indizível"''.<ref>Guillerm, Jean-Pierre. [http://books.google.com/books?id=5FFg3Tp_bYAC&pg=PA164-IA16&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=SXQoTKD0FMOGuAeEscS7Ag&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCMQ6AEwADha#v=onepage&q=legros%22&f=false ''Vieille Rome: Stendhal, Goncourt, Taine, Zola et la Rome baroque'']. Presses Univ. Septentrion, 1998. p. 45 </ref> Entretanto, continuou a ser citado por outros como um autor de interesse em resenhas críticas e guias de turismo da época, e algumas de suas obras de fato até meados do século XIX continuaram a merecer atenção definidamente positiva, como a sua estátua do Beato Estanislau, ao contrário dos seguidores mais literais de Bernini, que caíram de moda bem antes disso diante da progressiva ascensão dos ideais neoclássicos.<ref name="Julien%25252C%252520pp%25252E%25252036, pp. 36-39"/> Em 1849 Vasi e Nibby chamavam a tumba de Gregório XV de esplêndida, e o relevo de São Luís de obra de grande mérito.<ref>Nibby, Antonio & Vasi, Mariano. [http://books.google.com/books?id=igkJAAAAQAAJ&pg=PR24&dq=%22pierre+legros%22&hl=pt-BR&ei=lokoTPKpIoanuAfW3MSlAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ved=0CDwQ6AEwBThu#v=onepage&q=legros%22&f=false ''New guide of Rome and the environs... etc'']. Roma: M. Piale, 1849. p. 31</ref> Sua estátua de Vetúria também teve uma extensa sobrevida crítica. Ao ser exposta no Jardim das Tulherias desencadeou uma discussão a respeito de se uma cópia de modelos antigos poderia superar o original, num prolongamento da longa polêmica entre os antigos e modernos que animara o fim do século XVII. No final do século XVIII ainda era grandemente admirada e em meados do século XIX ainda era tida como comparável ao modelo da Antiguidade a partir da qual fora realizada. Em 2007 foi feita uma moção para ser incorporada às coleções do [[Museu do Louvre]] como um dos raros testemunhos em solo francês da produção franco-italiana da geração de Le Gros.<ref name="Spiritus"/> Na opinião de Büchel, Karsten & Zitzlsperger, a tumba de Gregório XV permanece como a mais notável de seu gênero, e foi uma influência renovadora para a escultura fúnebre romana posterior.<ref name="B%2525C3%2525BCchelBüchel"/> O grupo da ''Religião...'', segundo as análises recentes de Barber e O'Connell, é uma ilustração perfeita dos princípios da Igreja Triunfante.<ref name="O%252527Connell'Connell"/><ref name="Barber%25252C%252520pp%25252E%252520291, pp. 291-295"/> Embora um artista importante em sua geração, a vida e obra de Pierre Le Gros, o Jovem ainda não foram objeto de extensa pesquisa e análise por parte da crítica em geral; até o presente se destaca apenas a contribuição de Gerhard Bissell, que escreveu um livro integralmente dedicado a ele.<ref name="Bissell"/>
 
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