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O chamado '''Catecismo de Heidelberg''' é um documento [[protestante]] que se apresenta na forma de uma série de perguntas e respostas, utilizadas nas [[Igreja reformada|igrejas reformadas]].
 
== IntroduçãoLigações externas ==
*{{link||http://www.mackenzie.br/7054.html|O catecismo de Heidelberg: sua história e influência}}
Uma das principais características da Reforma Protestante do século XVI foi a produção de um grande número de declarações doutrinárias na forma de confissões de fé e catecismos. Essas declarações resultaram tanto de necessidades teológicas quanto pastorais, à medida que os novos grupos definiam a sua identidade em um complexo ambiente religioso, cultural, social e político. O historiador Mark Noll observa que esse fenômeno é típico da Reforma, uma vez que o termo "confissão", em seu sentido mais comum, designa as declarações formais de fé cristã escritas especialmente por protestantes, desde o início do seu movimento.
 
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Embora tais documentos normalmente sejam classificados como confissões e catecismos, é importante recordar que, via de regra, os catecismos são também confissões de fé. A distinção é formal, já que os catecismos são simplesmente "declarações de fé escritas na forma de perguntas e respostas que na época da Reforma freqüentemente serviram aos mesmos propósitos que as confissões formais".
 
O ramo reformado ou calvinista do protestantismo foi pródigo na produção de tais documentos, particularmente no período decorrido entre o primeiro catecismo de João Calvino, Instrução na Fé (1537), e os catecismos de Westminster (1648). Uma das mais extraordinárias declarações de fé escritas naquele período foi o famoso Catecismo de Heidelberg, também conhecido como o Heidelberger – o mais importante documento confessional da Igreja Reformada Alemã.
 
O objetivo deste estudo é refletir sobre a singularidade desse documento, tanto no que diz respeito às circunstâncias históricas que levaram à sua elaboração, quanto no que se refere à natureza excepcional do seu conteúdo e da sua contribuição à igreja. Conforme destacou o teólogo Karl Barth, o Catecismo de Heidelberg resultou das necessidades imediatas da vida de uma igreja específica. Ao final, todavia, ele tornou-se a mais amplamente aceita das confissões de fé protestantes. As próximas seções irão abordar os antecedentes históricos do catecismo, os dois homens associados mais de perto à sua preparação, suas principais características e a sua influência duradoura.
 
== Contexto histórico ==
Foi especialmente na década de 1560 que o protestantismo reformado penetrou na região da Renânia. Enquanto o luteranismo debatia-se com divisões internas, a tradição reformada suíça fez avanços em estados anteriormente luteranos. Os líderes do movimento eram alemães que haviam sido inspirados por Zurique e Genebra, mas que estabeleceram os seus próprios padrões. Para alguns, esse era o próximo passo a partir do filipismo (luteranismo moderado), em direção a uma ampla reestruturação do culto e da disciplina. O movimento reformado ou reforma suíça algumas vezes tem sido denominado "a segunda reforma".
 
Nas cidades-estados do Baixo Reno, o movimento teve início através de pressões de comunidades. Ainda na década de 1540, refugiados holandeses começaram a chegar ao Baixo Reno e esse influxo de imigrantes tornar-se-ia gigantesco após a repressão promovida pelo Duque de Alba nos Países Baixos em 1567. Em outras áreas, as mudanças religiosas foram promovidas pelos governantes. A reforma de Estrasburgo, sob a liderança de Martin Butzer, ou Bucer (1491-1551), já havia manifestado algumas características reformadas. João Calvino havia trabalhado ali por três anos (1538-1541) e era conhecido de muitos naquela região. Na década de 1550, Estrasburgo veio a tornar-se fortemente luterana e anticalvinista.
 
O Palatinado Renano ou Baixo Palatinado foi o primeiro e o mais importante estado a envolver-se com o novo movimento. Lutero havia visitado Heidelberg em 1518; naquela época, Bucer, então um jovem dominicano, abraçara a causa protestante. Heidelberg adotou o luteranismo sob Frederico II em 1545-1546. Todavia, durante a maior parte dos vinte anos seguintes uma série de conflitos manteve a vida da cidade em turbulência.
 
Sob o eleitor Oto Henrique (1556-1559), o Baixo Palatinado adotou um luteranismo moderado que tolerava o zuinglianismo e o calvinismo. Todavia, no final da década de 1550 houve um grave conflito na Universidade de Heidelberg, no qual luteranos extremados atacaram aqueles de convicção melanchtoniana e reformada e introduziram formas de culto vistas pelos seus oponentes como idolátricas. A intolerância anticalvinista desagradou Oto Henrique e seu sucessor Frederico III, o Piedoso (1559-1576).
 
O eleitor Frederico ficou particularmente incomodado com uma amarga controvérsia a respeito da Ceia do Senhor ocorrida em 1560. Um pastor luterano e um diácono calvinista discutiram violentamente diante dos cidadãos reunidos para uma celebração dominical da Ceia do Senhor. Frederico baniu os dois antagonistas e tentou achar um caminho melhor. Ele era um homem sinceramente religioso e inteligente que havia sido convertido ao luteranismo através da esposa. O príncipe eleitor procurou familiarizar-se com os pontos controvertidos de culto e doutrina. Seu desprazer em relação a cerimônias elaboradas fizeram-no inclinar-se em direção ao calvinismo. Era cada vez mais difícil manter o luteranismo liberal do seu predecessor, agora que Melanchton estava morto (abril de 1560) e outros príncipes alemães estavam apoiando o partido radical.
 
Depois de um debate de cinco dias realizado em Heidelberg (junho de 1560), no qual as doutrinas calvinistas foram apresentadas de maneira convincente, Frederico começou a tomar providências no sentido de adotar o calvinismo. Em agosto, os religiosos que não quiseram aceitar a confissão Augustana Variata (1541) tiveram de retirar-se. Em janeiro de 1561, uma conferência de príncipes realizada em Naumburg separou luteranos e calvinistas de modo ainda mais dramático, e o eleitor passou a promover o calvinismo nos seus domínios. Na realidade, tratava-se de um calvinismo marcado por um espírito melanchtoniano.
 
Frederico precisava de teólogos que pudessem trabalhar juntos. Ele encontrou uma dupla notável em Zacarias Ursino e Gaspar Oleviano, talentosos teólogos de orientação suíça, ambos com menos de 30 anos. Ursino foi nomeado professor de teologia – ele havia iniciado os seus estudos teológicos com Melanchton, mas também estudara pessoalmente com Calvino. Oleviano era um protestante reformado francês que também havia estudado com Calvino e apreciava os escritos de Melanchton. Ele tornou-se o pastor da principal igreja de Heidelberg.
 
Noll observa que "juntos eles formaram uma equipe de rara compatibilidade… Ambos estavam ansiosos em trabalharem juntos a fim de apresentarem uma frente protestante comum. E ambos tinham o dom de discernimento pastoral".8 Seus nomes ficariam permanentemente associados ao produto mais influente do movimento reformado alemão – o Catecismo de Heidelberg –, publicado no dia 19 de janeiro de 1563.
 
== Os colaboradores ==
* Zacarias Ursino - Zacarias Baer ou Ursinus (1534-1583) nasceu na Polônia.
* Gaspar Oleviano - Kaspar von Olewig ou Olevianus (1536-1587) nasceu em Treves, na fronteira de Luxemburgo.
 
== O catecismo ==
Ursino e Oleviano trabalharam no Colégio da Sabedoria, a escola de teologia criada por Frederico. Oleviano atuou principalmente como pregador e Ursino como professor. Frederico III queria um catecismo conciliador que pudesse combinar o melhor da sabedoria luterana e reformada e servisse para instruir as pessoas comuns nos elementos básicos da fé cristã. Anteriormente, ele havia buscado o conselho de Melanchton, que recomendou um documento baseado na simplicidade bíblica, moderação e paz, advertindo contra as sutilezas escolásticas.
 
A exata autoria do Catecismo de Heidelberg é uma questão controvertida. Joseph H. Hall declara que Ursino tornou-se a sua principal "fonte", juntamente com Oleviano, mas "a verdadeira autoria do Catecismo de Heidelberg permanece inconclusiva". Barth vai além e diz que "o catecismo não é obra de um autor; é obra de uma comunidade". No entanto, ele admite que os dois teólogos tiveram uma participação decisiva no projeto.
 
Com respeito a Oleviano, Lyle Bierma observa que a historiografia dos últimos 350 anos o tem associado a pelo menos duas fases da obra: a preparação dos esboços iniciais e a redação final da primeira edição alemã. Ele mesmo acredita que o papel de Oleviano foi o de um redator intermediário – ele teria preparado um esboço do texto alemão baseado em grande parte na Catechesis Minor de Ursino (1562), que então apresentou a um grupo maior de teólogos e pastores para a elaboração final.
 
O catecismo foi publicado inicialmente sob o título Catecismo ou Instrução Cristã como tem sido transmitida nas Igrejas e Escolas do Palatinado Eleitoral. Foram evitadas questões controvertidas quanto à Ceia do Senhor e o conceito calvinista da predestinação foi apresentado de uma forma mais moderada.
 
Uma edição latina publicada em 1563 foi usada como base para várias traduções para o inglês. O Catecismo Palatino, como veio a ser chamado, teve ampla aceitação na Escócia. A sua aprovação pelo Sínodo de Dort (1618) aumentou grandemente a sua autoridade.
 
== A recepção do catecismo ==
A importância do Catecismo de Heidelberg como um guia para a vida cristã é evidenciada pelas suas muitas edições e traduções. Somente nas últimas décadas do século XVI quarenta e três edições e traduções vieram à luz. Até 1981, mais de 200 versões já haviam sido identificadas. O catecismo teria uma influência ainda maior na Holanda. Por volta de 1586, os ministros da igreja protestante holandesa precisavam subscrevê-lo como expressão de sua fé e ele tornou-se a base da "pregação catequética" semanal tanto na Holanda quanto na Alemanha.
 
== Peculiaridades ==
O Catecismo de Heidelberg tem sido destacado como a mais bela das confissões de fé produzidas pela Reforma Protestante, a mais generosa e pessoal dentre as exposições do calvinismo. Trata-se de uma confissão constituída de 129 perguntas e respostas, tendo a sua seqüência baseada na Epístola aos Romanos. As duas primeiras perguntas são introdutórias. A 1ª pergunta, "uma jóia de confissão existencial", estabelece o teor do documento, e a 2ª pergunta esboça o que vem a seguir: "meu pecado e miséria", "como sou redimido" e "como devo ser grato".
 
O documento tem três divisões principais:
 
1ª Parte – "Nosso Pecado e Culpa: A Lei de Deus" (perguntas 3 a 11), é uma confissão da pecaminosidade humana e do desprazer de Deus.
 
2ª Parte – "Nossa Redenção e Liberdade: A Graça de Deus em Jesus Cristo" (perguntas 12 a 85), revela o plano de redenção e inclui uma exposição do Credo dos Apóstolos.
 
3ª Parte – "Nossa Gratidão e Obediência: Nova Vida através do Espírito Santo" (perguntas 86 a 129), apresenta a gratidão obediente como o fundamento das boas obras e inclui uma exposição dos Dez Mandamentos e da Oração Dominical. Esta seção vê a vida cristã como a resposta de gratidão do crente às bênçãos de Deus. Constitui-se em um "pequeno clássico da vida devocional".
 
Os estudiosos têm destacado algumas outras características que tornam esse documento especialmente notável:
 
# O uso do pronome da primeira pessoa, muitas vezes no singular
# É a mais ecumênica dentre as confissões da Reforma, reunindo três correntes do pensamento reformado.
# Possui um caráter inteiramente bíblico; toda a sua estrutura é moldada pela perspectiva bíblica
# Em sua posição teológica, o catecismo é cristão, evangélico e reformado, estando plenamente radicado na tradição dos apóstolos e dos concílios ecumênicos da igreja antiga.
# O catecismo é um manual de religião prática. Ao invés de levantar problemas especulativos, a fé cristã é apresentada de maneira prática, acentuando-se a sua importância para a vida diária
 
Outros temas importantes são a sua ênfase na bondade e providência de Deus, sua forte preocupação soteriológica e sua insistência numa "interioridade que não se torna em mera subjetividade". Joseph Hall comenta que "o Catecismo de Heidelberg presta-se a uma pedagogia holística. Ele contém perguntas cognitivas com respostas devocionais. Isso pode ser visto nas perguntas e respostas sobre a Oração Dominical (119-129).
 
== Conclusão ==
Por mais de quatrocentos anos, o Catecismo de Heidelberg tem sido uma fonte de conforto, encorajamento e alimento espiritual para muitas gerações de cristãos em vários continentes. Ele não só tem proporcionado inspiração a homens e mulheres que enfrentam pressões externas e lutas interiores, mas também tem sido um poderoso incentivo ao diálogo e à aceitação mútua entre diferentes grupos e tradições cristãs.
 
Isto se tornou possível, por um lado, graças às circunstâncias peculiares que contribuíram para a sua composição e, por outro lado, devido à maneira feliz com que seus autores expressaram as antigas verdades de um modo que se tornou relevante e significativo para os seus contemporâneos naqueles dias turbulentos. Espera-se que as igrejas reformadas do início do século XXI possam conhecer e utilizar melhor mais esse valioso elemento de sua herança evangélica.
 
== {{Ligações externas}} ==
* {{Link||2=http://www.teologia.org.br/estudos/heidelberg.htm |3=O Catecismo de Heidelberg}}
 
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