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A '''batalha de Muret''' foi a batalha decisiva da chamada [[cruzada albigense]] e aconteceu a [[13 de setembro]] de [[1213]] numa planície da localidade [[Occitânia|occitana]] de [[Muret]], cerca de doze quilômetros a sul de [[Toulouse]].<ref name=GEA>{{Citar web |url=http://www.enciclopedia-aragonesa.com/voz.asp?voz_id=9908 |título=Pedro II, "el Católico" |dataaccesso=23-09-2008 |obra=Gran Enciclopedia Aragonesa OnLine |editorial=DiCom Medios |língua=espanhol}}</ref> A batalha enfrentou [[Pedro II de Aragão]] e os seus vassalos e aliados, entre os que se encontravam [[Raimundo VI de Tolosa]], [[Bernardo V de Cominges]] e [[Raimundo Roger I de Foix]], contra as tropas [[cruzados|cruzadas]] e as de [[Filipe II da França]] lideradas por [[Simão IV de Montfort]].<ref>Jordi Bolòs, ''Dicionári da Catalunya medieval (ss. VI-XV)''. Ed. 62, Col·leció El Cangur / Diccionaris, núm. 284. Barcelona, abril de 2000. ISBN 84-297-4706-0, pág. 180.</ref>
O triunfo na batalha correspondeu às forças de Simão de Montfort, que se converteu, como consequência da sua vitória, em [[ducado de Narbona|duque de Narbona]], [[condado de Tolosa|conde de Tolosa]], [[viscondado de Béziers|visconde de Béziers]] e visconde de [[viscondado de Carcassonne|Carcassonne]]. As tropas [[Coroa de Aragão|aragonesas]] e occitanas sofreram umas perdas de 15 000 a 20 000 homens
A batalha de Muret marcou o começo da dominação dos [[Anexo:Monarcas da França|reis franceses]] sobre a [[Occitânia]]. Foi também o começo do fim da expansão aragonesa na zona. Antes da batalha, [[Pedro II de Aragão]]
== Antecedentes ==
Nos primórdios do [[século XIII]], a heresia [[Catarismo|cátara]] afiançara-se pelo território da [[Occitânia]], ameaçando a doutrina da [[Igreja católica]]. O [[papa]] [[Inocêncio III]], após lançar uma [[cruzada]] frustrada contra os cátaros, tentou reconciliar-se com o conde [[Raimundo VI de Tolosa]]. Contudo, [[Arnaldo Amalric]], [[núncio papal|legado papal]], e Simão IV de Montfort sempre agiram para romper as negociações, exigindo a Raimundo VI umas condições muito duras.
[[Ficheiro:Occitania y Aragon en 1213.svg|300px|left|thumb|O espaço occitano-aragonês em vésperas da Batalha de Muret.]]
Raimundo VI buscou aliados com uma ortodoxia católica indubitável, e após entrevistar-se com diversos monarcas [[Europa|europeus]], aliou-se com o seu cunhado [[Pedro II de Aragão]], "o Católico". Este rei agiu como intermediário com o fim de encontrar uma reconciliação, mas finalmente o papa Inocêncio III pôs-se em nome de Simão IV de Montfort e proclamou a cruzada pensando que assim erradicaria a [[heresia]] definitivamente. A cruzada começou com o [[massacre de Béziers]] e o [[sítio de Carcassonne]] de [[1209]], continuando ao ano seguinte com o ataque às fortificações de [[Minerve]], [[castelo de Termes|Termes]] e [[castelos de Lastours|Cabaret]].
Em [[1213]], Simão de Montfort reiniciou a sua campanha contra o conde Raimundo VI de Tolosa. Este retirou-se para a sua capital e pediu a intervenção papal; o Papa ordenou a celebração do [[concílio de Lavaur]], que começou a [[15 de janeiro]] de [[1213]],<ref name=Chaytor>{{Citar web |url=http://libro.uca.edu/chaytor/hac5.htm |título=Alfonso II and Pedro II |dataaccesso=18-09-2008 |apelido=Chaytor |nome=H. J. |obra=A History of Aragon and Catalonia |editorial=The library of Iberian resources online |língua=inglês}}</ref> e onde se postulou pelo retorno dos condados e terras aos seus manchetes em troca da submissão à Igreja.<ref name=Sella>Sella, ''La batalla de Muret, pas a pas''.</ref> Apesar de os congregados recusarem a proposta, o rei Pedro II de Aragão conseguiu que o Papa enviasse um legado. Frente da evidência de que os cruzados estavam determinados a acabarem com o conde de Tolosa e a intervenção do Papa somente conseguiria adiar os fatos, Pedro II de Aragão decidiu acolher os condes de Tolosa, Foix e Cominges,<ref name=Cabestany>Cabestany e Bagué, ''Història de Catalunya, vol. III. Els primers comtes-reis''.</ref> e
Progressivamente, Montfort foi ocupando as vilas próximas a [[Toulouse]] até esta cair no seu poder. Entre as vilas ocupadas encontrava-se [[Muret]], que conquistara sem encontrar resistência em [[1212]].<ref>{{Citar web |url=http://www.mairie-muret.fr/page.php?id=101 |título=Muret, ville d’histoire |dataaccesso=18-09-2008 |editorial=Le site internet de la Ville de Muret |língua=francês}}</ref> A sua situação estratégica, situada entre os rios [[Garona]] e [[rio Louge|Louge]], determinou que Simão IV de Montfort a escolhesse como base de operações, deixando uma guarnição de 30 a 60 cavaleiros,<ref name=Polemos>{{Citar web |url=http://www.polemos.org/Members/FXHernandez/la-batalla-de-muret-1213 |título=La batalla de Muret (1213) |dataaccesso=18-09-2008 |apelido=Hernández Cardona |nome=Javier |data=3-10-2007 |editorial=Polemos.org |língua=catalão}}</ref> e 700 peões de infantaria.<ref name=Villuendas>{{Citar web |url=http://www.portalhistoria.com/archivos/articulos/batallademuret.html |título=La Batalla de Muret |dataaccesso=18-09-2008 |apelido=Villuendas |nome=Enrique |data=9-04-2007 |editorial=Portalhistoria.com |língua=espanhol}}</ref><ref>R. G. Grant afirma que eram 1.200 soldados de infantaria em '' Battle. A visual journey through 5.000 years of combat '' .</ref>
A [[10 de setembro]], as tropas de Pedro ''o Católico'' juntaram-se com as dos seus aliados occitanos e montaram dois acampamentos na ribeira esquerda do Garona. Os acampamentos estavam situados a cerca de 3 km do castelo da localidade e das embarcações amarradas que chegaram de Tolosa; estas eram cheias de provisões,<ref name=Chaytor /> e contavam com cerca de 2000 cavaleiros e 5000 peões de infantaria.<ref>R.G. Grant afirma que eram 30 000 soldados de infantaria.</ref>
Os cavaleiros eram divididos em três grupos: o primeiro de eles, dirigido por [[Raimundo Roger I de Foix]], constava de cerca de 400 cavaleiros próprios e de 200 da [[Coroa de Aragão]]; o segundo grupo, formado por cerca de 700 cavaleiros da Coroa de Aragão, estava no comando do próprio monarca, Pedro II, enquanto que o terceiro e último grupo, de ao redor de 900 homens, estava
O mesmo dia, 10 de setembro, os [[Condado de Tolosa|tolosanos]] começaram o assédio com [[manganela]]s e outras [[Arma de assédio|armas de assédio]]. Assim tomaram uma das duas portas da cidade, uma das torres e a vila nova, forçando os cavaleiros franceses a retirarem-se à vila velha e ao castelo. Quando o rei Pedro teve notícia de que Simão de Montfort se aproximava a Muret, ordenou a retirada da infantaria que participava no assédio para evitar que fosse atacada pela retaguarda. Assim, ao chegar ao dia seguinte, por oeste<ref name=Villuendas /> com 900 cavaleiros,<ref name=Sella /> os cruzados puderam entrar na fortaleza de Muret por uma das portas que não era controlada pelos tolosanos.<ref name=Polemos /> Ainda pela tarde chegou o pequeno contingente sob as ordens de [[Payen de Corveil]].<ref>Pedro de Vaux de Cernay, ''Hystoria Albigensis''.</ref> Também se aponta a possibilidade de que Pedro II deixasse entrar os cruzados com a intenção de encerrá-los em Muret.<ref name=Soldevilla>Soldevilla, ''Historia de Catalunya'', pág. 170.</ref>
== Preparação da batalha ==
Raimundo VI de Tolosa, que conhecia as táticas do inimigo, propôs fortificar o acampamento com uma paliçada,<ref name=Sella /> assediar a cidade pelo flanco oeste<ref name=Chaytor /> e aguardar o ataque francês para o recusar com os [[Besta (arma)|besteiros]] e posteriormente contra-atacar com o objetivo de recluí-lo no interior do castelo.<ref name=Iacobus>{{Citar web |url=http://www.iacobus.net/Muret.Htm |título=Desenvolupament de la batalla |dataaccesso=18-09-2008 |autor=Óscar |apelido=Vila |co-autores=Hernández, Antonio |ano=1997 |obra=Historia del catarisme |editorial=l'Aldea Càtara |língua=catalão}}</ref> Pelo contrário, Pedro II, fazendo ouvidos de mercador para os conselhos oferecidos pelo seu cunhado, travou batalha sem aguardar a que chegasse todo o seu exército,<ref>Jerónimo Zurita, ''Anales de Aragón''</ref> pois os reforços de [[Guilherme II de Bearn|Guilherme II de Montcada e de Bearn]],<ref>{{Citar web |url=http://in.directe.cat/oriol-junqueras/bloc/la-fi-del-somni-occita |título=La fi del somni occità |dataaccesso=18-09-2008 |apelido=Junqueras |nome=Oriol |data=14-12-2007 |editorial=indirecte!cat |língua=catalão}}</ref> [[Gastão VI de Bearn]] e [[Nuno Sánchez]] estavam de caminho perto de [[Narbona]]. O rei queria que o seu exército, que participara na vitória cristã na [[batalha de As Navas de Tolosa]], se comparasse em valentia com a até então invencível [[cavalaria]] francesa sem fortificar o acampamento, e visava a vencer em campo aberto.
[[Simão IV de Montfort]], em
== A batalha ==
A madrugada de [[13 de setembro]] a infantaria tolosana reiniciou os trabalhos de assédio, atacando as portas da muralha, enquanto a cavalaria vigiava a possível saída dos cruzados. Pela tarde, a maior parte da cavalaria aragonesa retirou-se para descansar<ref name=Sella /> e esse foi o momento eleito por Simão de Montfort para atacar com a sua tropa descansada, saindo pela porta de Salas,<ref>Interpretação mais estendida que parte da crônica de Pedro de Vaux-de-Cernay.</ref> que dava ao [[rio Louge]] e que os sitiadores não podiam ver, dobrando um canto da muralha do castelo, à ponte de [[Saturnino de Tolosa|São Sernin]] e atravessando o rio por um vado.
[[Ficheiro:Plan de la Batalla de Muret.svg|300px|left|thumb|Plano da batalha de Muret.]]
A cavalaria cruzada emergiu, de repente, do nível do leito do rio avançando e surpreendendo os sitiadores. Os dois primeiros corpos giraram à esquerda, e a primeira das três acometidas dos franceses foi respondida pelas tropas de [[Raimundo Roger I de Foix]],<ref>[[Michel Roquebert]] afirma que a cavalaria cruzada carregou diretamente contra o grosso da cavalaria aragonesa.</ref><ref>[[Charles Oman]], que considerava o acampamento a leste da cidade, afirma que os cruzados marcharam para Sales simulando a fuga, girando novenda graus, cruzando o Louge, e carregaram posteriormente.</ref> mas tiveram de retirar-se depressa frente da impetuosidade da cavalaria francesa, tomando o relevo as tropas do rei aragonês. Os franceses, com a sua grande manobrabilidade e conservando a formação, mantiveram a vantagem numérica nas duas acometidas seguintes e não permitiram que os aragoneses se reagrupassem.
Pedro ''o Católico'' decidira provar a sua valia como cavaleiro trocando a [[armadura]] com um dos seus homens para se enfrentar como simples cavaleiro a Simão de Montfort, mas o objetivo cruzado era o de matar o monarca a qualquer preço<ref>Aubarber, Jean-Luc; Binet, Michel (2008), ''Le pays cathare'', Ouest France. ISBN 978-2-7373-4401-5.</ref> porque a defesa da Igreja justificava todas as ações,<ref name=Sella /> e assim o encarregou a dois dos seus cavaleiros, [[Alain de Roucy]] e [[Florent de Vilhe]], que abateram o cavaleiro que vestia a armadura real e depois
A notícia da morte de Pedro II estendeu o pânico entre o restante do exército, que foi completamente derrotado ao ser surpreendido por um ataque pelo flanco efetuado pelas tropas de reserva de Montfort,<ref name=Myths /> empreendendo os cavaleiros aragoneses a retirada. O exército tolosano, que ainda não participara no combate, vendo-se transbordado pelo alude de aragoneses e catalães que retrocediam desordenadamente, fugiu igualmente sem chegar a atacar, sendo atingido pelos cavaleiros franceses, que provocaram umas baixas entre os derrotados que se calculam entre 15 000 e 20 000 homens.
Simão IV de Montfort obteve o triunfo na batalha, tornando-se assim em [[Ducado de Narbona|duque de Narbona]], [[Condado de Tolosa|conde de Tolosa]] e [[viscondado de Beziers|visconde de Beziers]] e [[viscondado de Carcassonne|Carcassonne]]. Os condes de Foix e de Cominges voltaram para os seus feudos, e o conde de Tolosa viajou à [[Reino de Inglaterra|Inglaterra]] para se encontrar com [[João I de Inglaterra|João I]],<ref>João I de Inglaterra foi derrotado na [[Batalha da Roche-aux-Moines]] a [[2 de julho]] de [[1214]], e os seus aliados na de [[Batalha de Bouvines|Bouvins]] a [[27 de julho]], pelo qual não pôde ajudar Raimundo de Tolosa frente aos franceses.</ref> deixando os cônsules de Tolosa para que negociassem com os chefes da cruzada. Apesar de o filho de Raimundo VI, [[Raimundo VII de Tolosa|Raimundo VII]], arrebatar ao pouco tempo o poder a Simão de Montfort, esta batalha marcou o prelúdio da dominação francesa sobre a Occitânia e o final da expansão da [[Casa de Barcelona]] e da [[Coroa de Aragão]] na região, pois Pedro II conseguira a vassalagem dos condados de Tolosa, [[Condado de Foix|Foix]] e [[Condado de Cominges|Cominges]], e segundo o autor Michel Roquebert, o final da possível formação de um poderoso reino aragonês-occitano que cambiasse o curso da [[história da Espanha]].<ref>{{Ref-livro |sobrenome=Roquebert |nome=Michel |autorlink=Michel Roquebert |editorial=Perrin |título=Histoire des Cathares |ano=2002 |isbn=2262018944}}</ref> A Coroa foi centrada a partir de então na [[Reconquista]] da [[Península Ibérica]], que se repartira umas décadas antes com os tratados de [[Tratado de Tudilén|Tudilén]] e de [[tratado de Cazorla|Cazorla]].
O cadáver de Pedro II, que fora excomungado pelo mesmo que o coroara, foi recolhido pelos [[Ordem de Malta|cavaleiros hospitalares]] de [[Condado de Tolosa|Tolosa]], onde foi enterrado, até ser autorizado, em [[1217]], por uma [[bula]] do [[
O filho de Pedro II, o futuro Jaime I, que naquele momento contava 5 anos de idade, encontrava-se sob a custódia de Simão de Montfort. Após a morte de Pedro II, Jaime ficou órfão de pai e mãe, pois esse mesmo ano a sua mãe, a rainha [[Maria de Montpellier]], faleceu em [[Roma]], aonde viajara para defender a indissolubilidade do seu matrimônio.<ref>Stefano Maria Cingolani, em ''Jaume I. Història i mite d´un rei'', pág. 77. data a morte da rainha em abril de 1213, antes da do seu marido. Por contra, Luis Suárez Fernández, em ''Historia de España Antigua y Media'' (1976), Ediciones Rialp, pág. 15 assinala que a rainha faleceu depois que Pedro II.</ref> Ante esta situação, foi enviada uma embaixada do reino a Roma para pedir a intervenção de [[Inocêncio III]]. O papa, numa bula e por meio do legado [[Pedro de Benevento]], obrigou a Montfort a ceder a tutela do [[Jaime I de Aragão|infante Jaime]] aos [[Templários na Coroa de Aragão|cavaleiros templários da Coroa de Aragão]].<ref name=Cingolani87>Stefano Mari Cingolani, ''Jaume I. Història i mite d´un rei'', pp. 87-88.</ref>
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