Francisco da Cunha Leal: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Ajustes semi-automáticos (rjc.2.2.0): desambig Conselho de Ministros utilizando AWB
Linha 1:
{{Info/Político|
| nome = Francisco Pinto da Cunha Leal
| imagem = Francisco Cunha Leal.jpg
| título = Primeiro ministro de {{PRT}}
| ordem =
| mandato= [[16 de Dezembro]] de [[1921]] - [[7 de Fevereiro]] de [[1922]]
| antes =[[Carlos Maia Pinto]]
| depois = [[António Maria da Silva]]
| título2 =
| mandato2 =
| antes2 =
| depois2 =
| data_nascimento = [[{{dni|22 de Agosto]] de [[|8|1888]]|si}}
| local_nascimento= {{POR}}, [[Pedrógão de São Pedro]], [[Portugal]]
| data_morte = [[{{morte|26 de Abril]] de [[|4|1970]]|22|8|1888|lang=pt}}
| local_morte= {{POR}},[[Lisboa]], [[Portugal]]
| primeira-dama =
| partido = Partido Nacional-Republicano
| profissão = [[engenheiro militar]] e [[político}}]]
}}
 
'''Francisco Pinto da Cunha Leal''' ([[Pedrógão de São Pedro]], [[22 de Agosto]] de [[1888]] — [[Lisboa]], [[26 de Abril]] de [[1970]]) foi um militar, publicista e [[política|político]] [[Portugal|português]] que, entre outras funções, foi deputado, presidentespresidente do [[conselhoConselho de ministrosMinistros (Portugal)|Conselho de Ministros]] de um dos Governos da [[Primeira República Portuguesa]], [[Ministro das Finanças]] e reitor da [[Universidade de Coimbra]]. Membro do [[Partido Nacionalista]], fundou a [[União Liberal Republicana]] em 1923. Apesar de ter apoiado o [[Golpe de 28 de Maio de 1926]] incompatibilizou-se com [[Oliveira Salazar]], transformando-se num dos mais notáveis opositores da primeira fase do regime do [[Estado Novo (Portugal)|Estado Novo]] e um dos primeiros proponentes de uma solução política de autodeterminação para o [[Império Colonial Português]].
 
== Biografia ==
Francisco Pinto da Cunha Leal foi filho de Maria da Piedade de Carvalho e de José Pinto da Cunha, um pequeno proprietário e funcionário público. Conclui o ensino primário no concelho do [[Fundão]] e iniciou os estudos liceais em [[Castelo Branco]], concluindo-os em [[Lisboa]]. Entre [[1905]] e [[1908]] frequentou a [[Escola Politécnica de Lisboa]], ingressando seguidamente na [[Escola do Exército]], onde em [[1912]] concluiu os cursos de engenheiro militar e de engenheiro civil e de minas.
 
Linha 28:
Regressado a Portugal em [[1918]], em gozo de licença do Corpo Expedicionário Português, foi um dos muitos oficiais que não voltou à frente de batalha, sendo nomeado Director-Geral dos Transportes Terrestres e ficando adstrito ao Governo, em Lisboa.
 
Iniciou a sua acção política em [[1918]], durante o [[sidonismo]], filiando-se no [[Partido Republicano Nacionalista]] e depois no [[Partido Centrista Republicano]] de [[António Egas Moniz]]. Apoia [[Sidónio Pais]] e ainda em [[1918]] foi eleito, de acordo com as regras eleitorais definidas pelo novo regime, deputado pelo círculo eleitoral da Covilhã, cargo que ocupou até [[1919]].
 
Esteve envolvido na [[Revolta de Santarém]] de [[12 de Janeiro]] de [[1919]], contra o governo presidido por [[Tamagnini Barbosa]], então acusado de estar sobre a influência dos monárquicos. Por essa razão foi detido, passando alguns meses na prisão. Com a alteração da situação política, foi reabilitado e, nesse mesmo ano nomeado Director-Geral de Estatística.
 
Nas eleições gerais de 1919 foi eleito deputado pelo círculo eleitoral de Angola, integrando o Grupo Parlamentar Popular, no qual permaneceu até [[1921]]. Durante aquela legislatura integrou pela primeira vez o Governo, embora de forma efémera, exercendo as funções de [[Ministro das Finanças]] de [[20 de Novembro|20]] a [[30 de Novembro]] de [[1920]], no executivo presidido por [[Álvaro Xavier de Castro]].
 
Apesar da queda do executivo reconstituinte de Álvaro Xavier de Castro, manteve-se à frente do Ministério das Finanças entre [[30 de Novembro]] de [[1920]] e [[2 de Março]] de [[1921]], integrando o Governo presidido por [[Liberato Damião Ribeiro Pinto]]. Esta nomeação surgiu após defendido no Parlamento, meses antes, uma política financeira de igual rigor por parte do Estado e dos contribuintes, a quem exigiu os pagamentos devidos. Já como Ministro, afirmou que o Estado se encontrava ''sem os recursos necessários para comprar o pão-nosso de cada dia''. Durante este período foi também director do jornal ''O Popular''.
 
Voltou a ser eleito deputado pelo círculo eleitoral de Angola nas eleições de 1921, integrando então o grupo parlamentar do [[Partido Liberal Republicano]], que ajudou a criar e liderou. Participou na [[Revolta de 19 de Outubro de 1921]], na qual foi ferido ao tentar salvar [[António Granjo]], Presidente do Conselho do executivo derrubado nesse dia.
 
Quando a [[16 de Dezembro]] daquele ano de [[1921]] foi derrubado o Governo presidido por [[Carlos Maia Pinto]], assumiu as funções de Presidente do Conselho, mantendo-se no poder até [[6 de Fevereiro]] de [[1922]]. Durante esse período acumulou a Presidência com a pasta de [[Ministro do Interior]].
 
O governo era de concentração de vários partidos, num equilíbrio político instável, assumindo como principal missão acabar com a onda revolucionária que assolava o país e provocara a sublevação da ''[[Noite Sangrenta]]'', em que tinham sido assassinados vários prestigiados políticos republicanos. Tal implicava restaurar a ordem pública através da reposição do controlo político sobre a [[Guarda Nacional Republicana]], mas o Governo, pressionado pela GNR, foi obrigado a procurar refúgio no [[Forte de Caxias]] e a chamar o Exército para cercar Lisboa.
 
Os maus resultados das eleições gerais de [[29 de Janeiro]] de [[1922]], ganhas pelo [[Partido Democrático Republicano]], e um pequeno conflito diplomático com o Governo britânico levaram à queda do executivo.
 
Nas eleições de [[1922]] e de [[1925]] foi eleito pelos círculos eleitorais de [[Chaves (Portugal)|Chaves]] e de [[Vila Real]], respectivamente, desta feita nas listas do [[Partido Nacionalista]], cuja bancada parlamentar liderou. Neste período voltou a integrar o executivo, exercendo as funções de [[Ministro das Finanças]] entre [[15 de Novembro]] e [[18 de Dezembro]] de [[1923]] no executivo presidido por [[António Ginestal Machado]], que ficaria conhecido como o ''[[Governo da Intentona Putchista]]''. Entretanto fora nomeado director de ''[[O Século]]'', passando a defender com crescente veemência a necessidade de uma [[ditadura]] que restabelecesse a ordem pública e social em Portugal. A [[17 de Dezembro]] de [[1923]], véspera da demissão do Governo de Ginestal Machado, ainda em funções ministeriais, discursou na [[Sociedade de Geografia de Lisboa]], afirmando, sem rebuços, que ''a ditadura salvadora para Portugal há-de vir, trazida pela força das circunstâncias''.
 
Estas afirmações são reflexo da evolução do seu pensamento, já que a partir de Janeiro de 1922, aquando da sua saída da presidência do executivo, iniciara um percurso político e ideológico que o levou a aderir à direita republicana.
 
Foi nomeado reitor da [[Universidade de Coimbra]] em [[1924]], mas apoiou a [[Revolta de 18 de Abril de 1925]], o ''[[Golpe dos Generais]]'', o que levou a [[19 de Abril]] à sua demissão do cargo prisão por um breve período. Após a sua libertação, em Setembro daquele ano, com [[Tamagnini Barbosa]], tornou-se advogado de defesa dos militares implicados na intentona.
 
Reabilitado, foi ainda em [[1925]] nomeado vice-governador do [[Banco Nacional Ultramarino]], uma [[sinecura]] que desempenhou até [[1926]].
 
Em [[1926]] foi obrigado a deixar a chefia do [[Partido Nacionalista]] e fundou a [[União Liberal Republicana]], partido que liderou e que tinha como objectivo expresso criar condições para a ocorrência de um golpe militar que restabelecesse a ordem republicana.
 
Coerente com as posições que defendia desde [[1923]], apoiou o [[Golpe de 28 de Maio de 1926]], por ele encarado como a única solução de pôr termo à ''ditadura'' do [[Partido Democrático Republicano]] e restaurar a ordem pública. Em consequência desse apoio, durante os governos da [[Ditadura Nacional]] manteve-se no exercício de diversos cargos públicos, entre os quais o de governador do [[Banco de Angola]] (1926 e 1927-1930), de delegado de Portugal à [[Conferência Económica Internacional de Genebra]] (1927) e de membro do Comité Consultivo da Organização Económica da [[Sociedade das Nações]] (1928).
 
Apesar de ter sido um dos intelectuais e políticos que propusera em 1926 ao general [[António Óscar de Fragoso Carmona]], ao tempo Presidente do Governo e depois Presidente da República, a nomeação de [[António de Oliveira Salazar]] para a pasta das Finanças, em 1930 critica publicamente a eternização da ditadura e a política financeira de Salazar. Considera particularmente danosos os efeitos que da interferência do Governo da República no orçamento e nas finanças das colónias.
 
Aquela oposição resultava de ser defensor da autonomização das colónias, pelo que se opunha às medidas financeiras subjacentes ao [[Acto Colonial]] de [[1930]] e às políticas financeiras crescentemente restritivas impostas por [[Oliveira Salazar]]. No decurso da sua segunda nomeação como governador do [[Banco de Angola]], tornou-se num acerbo crítico da política financeira salazarista para as colónias. Essa oposição valeu-lhe a exoneração daquele cargo, seguida da acusação de conspirar contra o Governo, o que o levou a ser preso em Maio de 1930 e deportado para [[Ponta Delgada]], nos [[Açores]]. Dali seguiu sob prisão para a [[ilha da Madeira]], de onde, em Novembro de 1930, se conseguiu evadir para Londres, seguindo então para um período de exílio em Espanha. Beneficiando de uma amnistia, regressou a Lisboa em finais de 1932.
 
Tolerado em Lisboa, em [[1934]] e [[1935]] foi director da ''Vida Contemporânea'', mas em [[1935]] foi detido e novamente deportado.
 
No exílio foi uma das mais respeitadas vozes da oposição ao Estado Novo. Foi candidato oposicionista em diversos sufrágios e manteve sempre uma postura de grande combatividade contra o regime ditatorial que ajudara a instalar.
 
Nas eleições de [[18 de Novembro]] de [[1945]], para Assembleia Nacional, foi candidato independente pelo círculo eleitoral de Angola nas listas do [[Movimento de Unidade Democrática]] (MUD). Dois dias antes do escrutínio atacou violentamente Salazar, de quem disse que ''não quer nem sabe trabalhar senão quando nas ruas reina um pávido silêncio e ninguém discute os frutos do seu labor''.
 
Foi novamente candidato oposicionista nas eleições para a Assembleia Nacional de [[1949]], também pelo círculo de Angola.
 
Em [[1950]] participou no [[Directório Democrato-Social]], ao lado de [[António Sérgio]], [[Jaime Cortesão]] e [[Mário de Azevedo Gomes]].
Linha 72:
Nas eleições presidenciais de [[1951]], com [[Henrique Galvão]], apoiou a candidatura de [[Manuel Carlos Quintão Meireles]].
 
Destacou-se pela sua defesa de uma solução política de progressiva autonomia para as colónias, programa que expôs em obras como ''O Colonialismo dos Anticolonialistas'' e ''A Gadanha da Morte''.
 
Também se destacou como publicista, dirigindo os periódicos ''O Século'', ''A Noite'' e a revista ''Vida Contemporânea''. Para além de colaborar em múltiplos jornais, foi autor de obras sobre Angola, a Primeira República e de carácter memorialista.
 
== Obras publicadas ==
Para além de múltiplos artigos e e intervenções várias, dispersos por periódicos e publicações avulsas, é autor das seguintes obras:
* ''Calígula em Angola''. Porto : Sociedade de Papelaria, 1924.
* ''Eu, os políticos e a Nação''. Lisboa : Portugal-Brasil, [1926].
* ''Oliveira Salazar, Filomeno da Câmara e o império colonial português''. Lisboa, 1930.
* ''Subsídios para o estudo do problema do crédito em Angola'', Lisboa : Ed. Autor, 1930.
* ''Ditadura, Democracia ou Comunismo''. Lisboa : 1931.
* ''Os Meus Cadernos''. Lisboa: 1932 (3 volumes).
* ''Os partidos políticos na República portuguesa''. Corunha : Imprensa Moret, 1932.
* "Perspectivas futuras da Europa". In: ''Boletim da Sociedade Luso-Áfricana do Rio de Janeiro'', 24 (1938), pp. 27-3027–30.
* ''A Guerra, Dia a Dia''. Lisboa : 1939 (4 volumes).
* ''Coisas do tempo presente : coisas da Companhia de Diamantes de Angola''. Lisboa : Edição do Autor, 1957.
* ''Coisas do tempo presente''. Lisboa : Edição do Autor, 1957-1959 (2 volumes).
* ''Peregrinações através do poder económico: Coisas do tempo presente''. Lisboa : Ed. do Autor, 1960.
* ''A gadanha da morte : reflexões sobre os problemas euro-africanos''. Lisboa : C. Leal, 1961.
* ''O Colonialismo dos anticolonialistas : Coisas do tempo presente''. - Lisboa : Edição do autor, 1961.
* ''As Minhas Memórias : coisas de tempos idos''. Lisboa : Ed. do Autor, 1966-1968 (3 volumes).
* "Self-determination for the overseas territories". In: Ronald H. Chilcote, ''Emerging nationalism in Portuguese África'', pp. 29-3129–31. Stanford : Hoover Institute Press, 1972.
* "O Colonialismo dos anticolonialistas : Coisas do tempo presente". In: ''Permanência'', Ano III, nº 26 (Julho 1972).
 
== Referências ==
*Luís Manuel do Carmo Farinha, ''Estudo sobre a acção política e parlamentar de Francisco Pinto Cunha Leal como deputado ao Congresso da República (1918-1926)''. Lisboa : Assembleia da República ; Porto : Edições Afrontamento, 2002. 2 vol.
* Luís Manuel do Carmo Farinha, ''Estudo sobre a acção política e parlamentar de Francisco Pinto da Cunha Leal Intelectualcomo edeputado Políticoao :Congresso Um estudoda biográficoRepública (18881918-19701926)''. Tese de DoutoramentoLisboa : InstitutoAssembleia deda HistóriaRepública Contemporânea,; Univ.Porto Nova: deEdições LisboaAfrontamento, Faculdade2002. de2 Ciências Sociais e Humanas, Lisboa, 2003vol.
* Luís Manuel do Carmo Farinha, ''Francisco Pinto da Cunha Leal Intelectual e Político : Um estudo biográfico (1888-1970)''. Tese de Doutoramento : Instituto de História Contemporânea, Univ. Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa, 2003.
=={{Ligações externas}}==
 
*[http://www.sgmf.pt/NR/rdonlyres/9AF52295-B6B6-4960-BF99-8D59A7F218DF/3083/FranciscoPintodaCunhaLeal.pdf Nota biográfica de Cunha Leal]
== {{Ligações externas}} ==
*[http://www.arqnet.pt/portal/biografias/cunha_leal.html Cunha Leal em ''O Portal da História'']
*[ {{Link||2=http://www.sgmf.pt/NR/rdonlyres/9AF52295-B6B6-4960-BF99-8D59A7F218DF/3083/FranciscoPintodaCunhaLeal.pdf |3=Nota biográfica de Cunha Leal]}}
*[http://maltez.info/respublica/portugalpolitico/classepolitica/lealfcunha.htm Cunha Leal no ''Projecto Respublica'']
*[ {{Link||2=http://www.arqnet.pt/portal/biografias/cunha_leal.html |3=Cunha Leal em ''O Portal da História'']}}
*[http://www.iscsp.utl.pt/cepp/governos_portugueses/i_republica/cunha_leal_1921-1922.htm O Governo de Cunha Leal]
*[ {{Link||2=http://maltez.info/respublica/portugalpolitico/classepolitica/lealfcunha.htm |3=Cunha Leal no ''Projecto Respublica'']}}
*[ {{Link||2=http://www.iscsp.utl.pt/cepp/governos_portugueses/i_republica/cunha_leal_1921-1922.htm |3=O Governo de Cunha Leal]}}
 
{{Começa caixa}}
{{Caixa de sucessão|
|título = [[Anexo:Lista de primeiros-ministros de Portugal|Primeiro-ministro de Portugal]]
|anos = [[1921]] - [[1922]]
|antes = [[Carlos Maia Pinto]]
Linha 115 ⟶ 117:
 
{{PM Portugal I Rep}}
 
{{Portal3|Política|Educação}}
 
{{DEFAULTSORT:Francisco Pinto Cunha Leal}}
[[Categoria:Primeiros-ministros da 1ª republica (Portugal)]]
[[Categoria:Ministros das Finanças de Portugal|Francisco Pinto da Cunha Leal]]
[[Categoria:Ministros do Interior de Portugal]]
[[Categoria:Reitores da Universidade de Coimbra]]