Transição Espanhola: diferenças entre revisões

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A '''Transição Espanhola''' é o período histórico no qual [[Espanha]] muda do [[ditadura|regime ditatorial]] do general [[Francisco Franco]], para o [[Constituição espanhola de 1978|regime constitucional]] que consagra um Estado [[estado do bem-estar|social]], [[democracia|democrático]] e [[Estado de Direito|de Direito]].
 
NoA querespeito respeita àda duração exatado processo de transição, alguns a enquadram-na dentro dono período compreendido entre a proclamação de [[Juan Carlos I de Bourbon]] como [[rei da Espanha]] a [[22 de Novembro]] de [[1975]] e a entrada em vigor da Constituição, [[29 de Dezembro]] de [[1978]]. Outros a colocam entre duas datas principais: [[20 de Novembro]] de [[1975]], quando falece o ditador Francisco Franco;, e em [[28 de Outubro]] de [[1982]], em que deixa de governar a [[União de Centro Democrático (Espanha)|UCD]], partido que promovera o câmbio de regime político e a aprovação da [[Constituição espanhola de 1978|Constituição dode 781978]], em cuja elaboração participou com três dos sete redatores. Porém, também é possível encontraralguns autores que situam o começo da transição na aprovação da Lei Orgânica do Estado em [[1966]], oue queoutros prolongam a sua duração até as eleições de [[1996]] nas quais ganhou o Partido Popular.
 
O período que acostuma ser considerado pelos historiadores iniciar-se-ia com a morte do Generalgeneral [[Francisco Franco|Franco]], a [[20 de Novembro]] de [[1975]]. O denominado [[Regência (sistema de governo)|Conselho de Regência]] assumiu, de maneira transitóriatransioriamente, as funções da Chefatura do Estado até [[22 de Novembro]], data na qual [[Juan Carlos I de Bourbon]] foi proclamado [[rei]] ante as [[Cortes]].
 
O [[rei]] manteve o [[Presidente do Governo]] do regime franquista, [[Arias Navarro]]. Porém, pronto se manifestaria a dificuldade de levar a cabo reformas políticas sob o seu Governo, o que produziria um distanciamento cada vez maior entre [[Arias Navarro]] e [[Juan Carlos I]]. Finalmente o Presidente do Governo apresentou a demissão ao rei a [[1 de Julho]] de [[1976]].
 
[[Arias Navarro]] seria relevado na [[Presidência do Governo]] por [[Adolfo Suárez]], quemque se encarregaria de entabular conversações com os principais líderes dos diferentes [[partidos políticos]] e forças sociais, mais ou menos legais ou toleradas, para instaurar um regime democrático na Espanha.
 
O caminho utilizado foi a elaboração de uma nova Lei Fundamental, a oitava, a [[Lei para a Reforma Política]] que, não sem tensões, foi finalmente aprovada pelas [[Cortes]] e submetida a [[Referendum sobre a Lei para a Reforma Política|referendum]] o dia em [[15 de Dezembro]] de 1976. Como conseqüênciaconsequência da sua aprovação pelo povo espanhol, esta lei foi promulgada a [[4 de Janeiro]] de [[1977]]. Esta norma continha a derrogação tácita do sistema político franquista em somente cinco artigos e uma convocatória de eleições democráticas.
 
Estas eleições foram celebradas a [[15 de Junho]] de [[1977]]. Eram as primeiras eleições democráticas desde a [[guerra civil]]. A [[União de Centro Democrático]] foi o partido mais votado (ainda que não atingisse a maioria absoluta) e foi encarregue de formar governo. A partir desse momento começou o processo de construção da democracia e da redação de uma nova [[Constituiçãoconstituição]].
 
A [[6 de Dezembro]] de [[1978]] foi aprovado em [[Referendum para a ratificação da Constituição espanhola|referendum a Constituição Espanhola]], entrando em vigor a [[29 de Dezembro]].
 
A princípios de [[1981]] demitedemitiu Adolfo Suárez, devido ao distanciamento com o Reirei e às pressões internas do seu partido. Durante a celebração da votação no [[Congresso dos Deputados]] para escolher como sucessor a [[Leopoldo Calvo Sotelo]] produziu-seocorreu o [[golpe de Estado]] dirigido por [[Antonio Tejero]], [[Alfonso Armada]] e [[Jaime Milans del Bosch]], entre outros. O golpe, conhecido como ''[[Golpe de Estado na Espanha de 1981|23-F]]'', fracassaria.
 
As tensões internas da [[União de Centro Democrático (Espanha)|UCD]] provocariam a sua desintegração ao longo de 1981 e [[1982]]. O segmento [[democrata-cristão]] terminaria integrando-se com [[Aliança Popular]], passando assim a ocupar a faixa de centro-direita. Por outro lado, os membros mais próximos à [[socialdemocracia]] unir-se-iam às filas doao [[Partido Socialista Operário Espanhol]] (PSOE).
 
O PSOE sucedeu a [[União de Centro Democrático (Espanha)|UCD]] após obter maioria absoluta nas [[Eleições gerais espanholas de 1982|eleições gerais de 82]], ocupando 202 das 350 cadeiras, e começando assim a II Legislatura. Pela primeira vez desde as [[eleições gerais espanholas de 1936|eleições gerais de 1936]], um partido considerado de [[esquerda (política)|esquerdas]] ou ''progressista'' ia formar governo.
[[Imagem:President Reagan and Mrs. Reagan greet King Juan Carlos I and Queen Sophia of Spain 1981.jpg|thumb|right|200px|Visita a EE.UUEUA de SS.MM os Reisreis da Espanha. Imagem da ceia de gala a [[14 de Outubro]] de [[1981]] na [[Casa Branca]] junto ao presidente norte-americano [[Ronald Reagan]] e a sua esposa]]
==Contexto==
===A Revolução dos Cravos===
{{AP|[[Revolução dos Cravos]]}}
 
[[Imagem:Grandola Vila Morena.JPG|thumb|Monumento comemorativo em [[Grândola]].]]
A [[25 de Abril]] de [[1974]] em [[Portugal]] produzira-seocurrira um levantamento militar com sucesso, provocando a queda da ditadura do ''[[Estado Novo (Portugal)|Estado Novo]]'' surgido em [[1933]] e dando origem a uma república presidencialista democrática. A situação de Portugal e da vizinha Espanha tinham muitas diferenças, mas também similaridades no momento de iniciar-se a transição democrática:
 
* As ditaduras de Portugal e Espanha eram as mais longevas da Europa, a portuguesa surgida em [[1933]] e a espanhola com o golpe de estado de [[1936]] e a posterior [[Guerra Civil Espanhola|guerra civil]], contando desde o primeiro dia com o apóio do regime português.
* As forças democráticas de [[direita (política)|direita]] ou [[conservadorismo|conservadores]] eram praticamente inexistentes na véspera dos câmbios sociais e políticos que se avizinhavam, apesar de ser quase inexistentes conseguiram 42,9% dos votos nas primeiras eleições democráticas. Em ambos os casos o exército era majoritariamente conservador.
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* Nas [[forças armadas]] surgem organizações novas que apóiam os câmbios, em Portugal o [[Movimento das Forças Armadas]] português, e na Espanha a [[União Militar Democrática]] ou a [[União Democrática de Soldados]].
* Muitos [[mídia]] de ambos os países foram [[censura]]dos pela sua defesa dos novos câmbios sociais e políticos.
* A acelerada descolonização do [[Saara Ocidental]] esteve influenciado pela rápida descolonização portuguesa que, porém, sofrera muito mais as conseqüênciasconsequências de uma [[Guerra colonial portuguesa|longa guerra colonial na África]] com centos de milheirosmilhares de desertores e com a guerra praticamente perdida frente às [[guerrilha]]s.
 
A queda do regime português provocou uma enorme inquietude nas forças que apoiavam o regime [[franquismo|franquista]], com manifestações multitudinárias em favor da revolução, a persecução da polícia política ou o entusiasmo pelos militares rebeldes, que eram situações que provocavam fortes reações repressivas. OEm [[Primeiro de Maio]] de 1974, mais de um milhão de pessoas marchou pelas ruas de [[Lisboa]], dois dias depois Franco e o príncipe Juan Carlos visionaram as imagens, manifestando muita inquietude por um país que derivava para a esquerda com uma aparente grande presença dos comunistas.
 
Contudo, a deriva quase revolucionária de Portugal e a crítica situação espanhola causou muita preocupação na Europa, por quanto sob a pressão da [[Guerra Fria]] dirigentes de muitos países pensavam que podiam desestabilizar o equilíbrio de poderes regional. [[Willy Brandt]] manifestou que quanto mais à esquerda situara-se situasse Portugal, mais à direita posicionar-se-ia Espanha. [[Henry Kissinger]] expressou-se no mesmo senso e mostrou-se de acordo em que não deveria de repetir-se no país vizinho, não se devendo permitir que antes da morte de Franco não houvesse uma oposição moderada. Durante estes anos quando a [[Plataforma Democrática]] liderada pelo PSOE na Espanha começou a ganhar protagonismo com outras organizações opositoras (a [[Junta Democrática]]) lideradas pelo [[PCE]]. Finalmente ambas as organizações fusionaram-se em Março de [[1976]] criando [[Coordenação Democrática]] mais conhecida como a ''Platajunta''.
 
===Outros acontecimentos===
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A morte de Franco converteu dois dias depois, a [[22 de Novembro]] de 1975, em [[Chefe de Estado]] a D. Juan Carlos de Bourbon, proclamado como rei em virtude da Lei da Sucessão na Chefatura do Estado. Até então o príncipe mantivera-se num discreto segundo plano seguindo as pautas pontuadas por Franco. Mas o desaparecimento do geral ia permitir a Dom Juan Carlos facilitar, como [[rei da Espanha]], a implantação de um sistema político democrático no país. Este projeto contava com amplos apoios dentro e fora da [[Espanha]]: os países ocidentais, um setor importante do [[capitalismo]] espanhol e internacional, a grande maioria da oposição ao franquismo e uma parte crescente do próprio regime franquista.
 
Porém, a transição teve de superar as resistências geradas pelo própriodo regime, num quadro de tensões causadas por grupos radicais da [[extrema esquerda]] e grupos franquistas da [[extrema direita]]. Estes últimos, aliás, contavam com um apóio considerável dentro do [[exército]]. Estes grupos ameaçavam com deteriorar a situação política em excesso, iniciando um processo de involução.
 
A realização desse projeto exigia que a oposição controlasse os seus partidários para evitar qualquer provocação e que o exército não caísse na tentação de intervir no processo político para salvar as estruturas franquistas. Nesta dupla direção moveu-se a atuação política de Dom Juan Carlos e osdos seus colaboradores.
 
Frente da nova etapa histórica que se abria, havia três posturas claramente diferençadas:
* Os partidários do regime franquista (conhecidos como ''ultras'' ou ''o búnker''), defensores do mantimento da legalidade franquista, ou no máximo, a sua atualização. Apesar do seu escasso apóio social, dominavam o [[exército]] e um órgão fundamental dentro da organização do Estado, o [[Conselho do Reino]].
* A oposição democrática, organizada primeiro em duas associações de partidos políticos, a [[Junta Democrática de Espanha]] e a [[Plataforma de Convergência Democrática]], que acabaram fusionando-se na associação [[Coordenação Democrática]], conhecida como ''Platajunta''. Esta defendia a ruptura legal com o regime franquista para passar diretamente a um Estado democrático.
* [[Torcuato Fernández Miranda]], ex presidente interino do governo em 1973, professor de Direito Político de Juan Carlos I, partidário de reformar as [[Leis Fundamentais do Movimento]] mediante as suas próprias disposições para chegar assim à democracia evitando vazios legais. Em palavras do próprio Fernández Miranda, tratava-se de ir "''da lei à lei através da lei''".
 
D. Juan Carlos iniciou o seu reinado sem sair da legalidade franquista. Assim, jurou fidelidade aos Princípios do ''[[Movimiento Nacional|Movimiento]]'', tomou posse da coroa ante as [[Cortes|Cortes franquistas]] e respeitou a ''Lei Orgânica do Estado'' de [[1966]] para a nomeação do seu primeiro [[Chefe de Governo]]. Contudo já no seu discurso ante as Cortes se mostrou aberto a uma transformação do sistema político espanhol.
 
==Governo de Arias Navarro==
Em meados de Novembro com Franco hospitalizado, [[Carlos Arias Navarro]] apresentou a sua demissão ao então príncipe, o que o situou numa posição difícil. A princípios de Dezembro D. Juan Carlos confirmou Arias Navarro para presidir o seu primeiro governo. O rei pediu-lhe ajuda, ao qual acedeu, para conseguir a nomeação de [[Torcuato Fernández Miranda]] à frente da presidência do Conselho do Reino e das Cortes. Para isso ajustou-se às pautas pontuadas pela ''Lei Orgânica do Estado'' em que o Conselho do Reino propôs uma terna de candidatos afins ao franquismo: além de Torcuato Fernández-Miranda, estavam [[Licinio de la Fuente]] e [[Emilio Lamo de Espinosa]]., Pelocom queo qual, o rei conseguiu situar a este fiel colaborador seu à frente da presidência do Conselho do Reino e das Cortes. Fernández Miranda era um velho franquista que, porém, compartia com o monarca a necessidade de que Espanha evoluísse para um sistema democrático, e, para isso, achegará os seus sólidos conhecimentos jurídicos a este projeto.<ref>Francisco G. Basterra. ''Memoria de la Transición. España Vuelve a tener rey''. Pág 65. El País. Dep Legal: B-30728-1995</ref>
 
A nomeação de Arias Navarro oferecia um panorama claramente continuísta e não augurava grandes transformações políticas. Contudo, por iniciativa real e do presidente do Conselho do Reino, entraram a fazer parte dono novo governo ministros claramente reformistas como [[Manuel Fraga Iribarne]] ([[Ministro de Governação da Espanha|Governação]]), [[José María de Areilza]] ([[Ministro de Assuntos Exteriores|Assuntos Exteriores]]) e [[Antonio Garrigues Díaz-Cañabate|Antonio Garrigues]] ([[Ministro de Justiça|Justiça]]). Todos eles recusaram no seu momento o [[Estatuto de Associações do Movimento]]. Também contou com a presença do democrata-cristão [[Alfonso Osorio]], em [[Ministro de Presidência da Espanha|Presidência]] e de dois expertos no aparato do movimento''Movimiento'': [[Rodolfo Martín Villa]] ([[Ministro de Sindicatos da Espanha|Sindicatos]]) e [[Adolfo Suárez]] (''[[Movimiento Nacional|Movimiento]]''). Para manter o equilíbrio, um militar incondicionalmente franquista foi nomeado vice-presidente para assuntos de Defesa: o general [[Fernando de Santiago y Díaz de Mendívil|Fernando de Santiago]].
 
A tímida reforma política promovida por este gabinete limitou-se às leis de Reunião e Manifestação, e de Associações Políticas. A lei de Reunião e Manifestação ampliava a liberdade para se reunir sem que fosse necessária uma autorização. A lei de Associações Políticas permitia a criação de grupos políticos, embora sem o caráter legal de partidos políticos; aliás, deviam aceitar os princípios do ''[[Movimiento Nacional|Movimiento]]'' e as "Leis Fundamentais". Somente se inscreveram sete associações.
 
A situação que tinha de afrontar o novo governo era muito difícil. A agitação da oposição aumentava, as manifestações em pedido depedindo [[anistia]] eram freqüentesfrequentes, e no [[País Basco]] a tensão crescia. [[ETA]] especialmente, e com menor intensidade outros grupos armados, prosseguiam com os seus atentados e o apóio popular com que podia contar manifestava-se em múltiplos atos de protesto.
 
===Acontecimentos de Vitória===
Durante o mês de Janeiro cerca de seis mil trabalhadores iniciavam uma [[greve]] em [[Vitoria-Gasteiz|Vitória]] contra o decreto de topes salariais e em defesa de melhores condições de trabalho. Dois meses depois convocavam por terceira vez uma greve geral que foi massivamente seguida a [[3 de Março]]. Esse mesmo dia a [[Polícia Armada]] entrou na [[Igreja San Francisco de Vitoria]], na que estava previsto realizar uma assembléia de trabalhadores e, nãosem levandolevar em conta a decisão do pároco e do conteúdo da Concordata, cominou ao desalojo. Apenas uns segundos depois disparavam gases lacrimogêneos num recinto fechado e abarrotado de gente criando indignação e sobretudo pânico. Os que saíram pela frente meio asfixiados e com panos na boca foram espancados brutalmente pelos flancos e dispararam contra os doda frente com metralhadoras e pistolas. A polícia resolveu com tiros a situação que criaram, assassinando a quatro operários e estudantes. Dois meses depois faleceria outro trabalhador. Dois operários assassinados diretamente no lugar dos feitos, quatro feridos muito graves dos quais três faleceriam, mais de sessenta feridos graves, a metade com feridas de bala, e centos de feridos leves.
 
O sábado, Manuel Fraga então Ministro da Governação com [[Rodolfo Martín Villa]], Ministro de Relações Sindicais e o General Campano, diretor da [[Guarda Civil]], intentavam, visitando aosos feridos, reduzir o impacto de uma decisão que projetava frente do mundo o rosto mais cruel e bárbaro da ditadura que representavam. Aquela Quinta-Feira, o Secretário GeneralGeral do [[SPD]] da [[Alemanha]] cancelava a entrevista com Fraga, que participava numa campanha diplomática para ''vender'' internacionalmente uma reforma avaliada pela monarquia, que ficara automaticamente desmascarada.
 
Ainda proibidos os direitos de reunião, manifestação e de greve, os sindicatos, ilegais também, em Janeiro convocaram greves em toda [[Espanha]]. Tiveram especial importância no cinturão industrial madrileno e em [[Vitoria-Gasteiz|Vitória]]. A resposta do governo foi a repressão policial, que em Vitória produziu quatro manifestantes mortos e vários centenas de feridos a [[9 de Março]] durante uma carga anti-distúrbios. Em vez de solucionar o conflito, as altercações multiplicaram-se e as greves gerais de protesto seguiram-se durante vários meses.
Estes incidentes aceleram a ação da oposição democrática, e a sua unidade de ação. A Junta Democrática e a Plataforma de Convergência fusionam-se na [[Coordenação Democrática]] ou ''Platajunta'' a [[26 de Março]]. Esta nova junta exerceexercia maior pressão política sobre o governo, exigindo anistia, liberdade sindical, democracia e recusarecusava as leis reformistas.
 
===Acontecimentos de Montejurra===
{{AP|[[Acontecimentos de Montejurra]]}}
Este ataque armado,<ref>[http://www.eka-partidocarlista.com/JoaquinCubero.htm Carlismo Partido Carlista De Euskal Herria-E.K.A Floren Aoiz; "El Jarrón roto" pp. 225-231. ISBN 84-8136-329-4]</ref> ocorrido em [[Montejurra]] a [[9 de Maio]] de [[1976]], foi organizado desde o SECED (Serviço Central de Documentação) com o visto de aprovação governamental, utilizando uma das duas correntes políticas [[carlismo|carlistas]] com a chamada "[[Operação Reconquista (1976)|Operação Reconquista]]" que terminou com dois mortos frente da passividade e da colaboração da [[Guarda Civil]]. Em Montejurra, monte sagrado do carlismo, celebrava-se anualmente um [[Via Crucis]] desde a [[década de 1940]]. Quando ia começar a [[procissão]] desde o mosteiro de Irache, um grupo de seguidores de [[Sixto de Bourbon]] atacaram, com pedradas e golpes de porra, os reunidos, partidários de [[Carlos Hugo]] frente da impassibilidade da Guarda Civil e da [[Polícia Armada]]. Um dos agressores disparou uma pistola, matando um carlista.
 
Pouco depois, já iniciada a ascensão ao monte, ao chegar ao acesso ao cume, os carlistas toparam com outro grupo armado que, após discutir veementemente, lançou uma série de tiros e rajadas contra os peregrinos. O resultado, um morto por uma bala no coração, e vários feridos por tiros.
 
A oposição democrática acusou o Governo de conivência com os agressores, baseando-se na incapacidade para manter a ordem pública, apesar da ampla presença policial, a facilidade com a que escaparam os assassinos e o fato de não chegarem a ser submetidos a julgamentojuízo, pois beneficiaram-se da [[anistia política de 1977]].
 
===A escalada do terrorismo: ETA, GRAPO e a ultra-direita.===
 
Os três principais grupos de terrorismo neste momento eram:
*O grupo [[maoísmo|maoísta]] do [[GRAPO]], que atentava contra as [[Forças Armadas da Espanha|forças armadas]] e de segurança porque, segundo as suas próprias palavras, "representam os instrumentos repressivos de um ''estado capitalista e opressor'', que "engana o povo trabalhador, quer com a ditadura de Franco quer com a falsa democracia ocidental, liberal e burguesa".
 
*O bando ETA, uma mistura política de [[nacionalismo basco]] e [[marxismo-leninismo|marxismo leninismo revolucionário]]. Seu objetivo é atentar contra interesses e pessoas do Estado, com o objetivo final de conseguir a independência.
Linha 101 ⟶ 99:
*Os grupos de [[terrorismo tardo-franquista]], que adotavam diferentes nomes embora compartilhassem um mesmo discurso e fim, atacavam em especial os comunistas, tanto organizações quanto qualquer pessoa que acreditassem relacionada.
 
PorPelo outro lado, os grupos da oposição mostravam-se cada vez mais impacientes exigindo o desmantelamento do regime franquista na maior brevidade possível. A reunião das forças políticas da oposição em Março de 1976 dá origem à criação de "Coordenação Democrática". Com isso a oposição boicotava as tentativas do governo de dividir a oposição, atraindo os seus setores mais moderados e deixando na ilegalidade o PCE, outros grupos da esquerda e os nacionalistas catalães e bascos. Assim mesmo, a oposição moderou o seu discurso, exigindo uma ruptura ou reforma pactuada que a acercava de fato às concepções reformistas do governo.
 
PorNo outro ladoentanto, as limitações deste governo para liderar o câmbio político fizeramtornaram-se cada vez mais evidentes. Arias Navarro, muito sensível às pressões do ''búnker'', encontrava-se com pouca margem de manobra ante os elementos reformistas do seu gabinete, enquanto estes topavam com as cortes franquistas nas suas primeiras tentativas reformistas: em Junho de 1976, após publicar-se a "Lei de direito de associação de partidos políticos" -da qual ficavam excluídos os partidos comunistas-, foi frustrada a tentativa de Fraga e Areilza de modificar o [[Código Penal]], que considerava delitiva a afiliação a qualquer partido político. Embora as pressões de Fernández Miranda permitissem a sua aprovação o dia 30, o processo para um câmbio de governo tornou-se inevitável, e o mesmo Rei, depois de ter-se declarado durante uma viagem aos Estados Unidos plenamente favorável à implantação de um sistema democrático na Espanha, decidiu exigir a demissão a Carlos Arias a [[5 de Julho]].
 
O rei forçou a demissão de Arias Navarro a [[1 de Julho]], pela sua incapacidade para se enfrentar aos graves problemas de ordem pública (terrorismo, greve massiva de Vitória, acontecimentos de Montejurra), bem como a sua negativa a desmontar o regime franquista.
 
==Governo de Adolfo Suárez==
Foi [[Torcuato Fernández Miranda]], como presidente do Conselho do Reino, que conseguiu que na nova terna de candidatos à presidência do governo entrasse [[Adolfo Suárez González]] e a ele corresponder-lhe-ia realizar uma operação política de evidente dificuldade: convencer aosos políticos do sistema franquista instalados nas Cortes para que desmantelaram tal sistema. DestaAssim maneiraera respeitava-serespeitada formalmente a legalidade franquista e esquivavaesquivado, no possível, o perigo de uma intervenção do exército no processo de transição.
 
Do novo governo auto-excluíram-se Fraga e Areilza, enquanto a representação militar permanecera invariável. Vários dos novos ministros pertenciam já a associações políticas amparadas pela nova lei. Adolfo Suárez apresentou a [[6 de Julho]] por televisão um programa político muito claro baseado em dois pontos:
Linha 114 ⟶ 112:
* Elaboração de uma ''Lei para a Reforma Política'' que, uma vez aprovada pelas Cortes e pelos espanhóis em [[Referendum]], permitiria abrir um processo constituinte para implantar na [[Espanha]] um sistema de [[democracia]] liberal.
 
* Convocatória de [[eleições democráticas]] antes dode [[30 de Junho]] de 1977.
 
Para lográ-lo, Suárez devia convencer àa oposição para que entraraentrasse no seu jogo e aoo exército para que não interromperainterrompesse o processo,; ademaisalém disso tinha de controlar a situação no [[País Basco]], que se estava fazendotornando insustentável por dias. Mas apesar de tudoConttudo, o projeto de Suárez foi-se aplicando sem demoras entre Julho de 1976 e Junho do seguinte ano.
 
==Programa político de Suárez==
Linha 130 ⟶ 128:
A partir deste momento podia-se abrir já o processo eleitoral, segundo ponto do programa de Suárez, para escolher os deputados das Cortes Constituintes encarregadas de elaborar uma nova Constituição.
 
Tinha um problema importante, a participação da oposição clandestina no processo que já estava em marcha pelo próprio regime, para isso foi enfrentadaenfrentou-se a um dos temas mais delicados, a legalização da oposição.
 
A [[8 de Fevereiro]] éfoi aprovado um [[decreto -lei]] para a Reforma Política e posteriormente em Março éfoi legalizada grande parte dos partidos políticos com outro decreto -lei ondeno qual se estabelecem os requisitos para a sua legalização. Caso dúvidasdúvida, o [[Ministério de Interior da Espanha|Ministério de Interior]] remeteria a documentação ao [[Tribunal Supremo de Espanha|Tribunal Supremo]] para que ditasse.
 
Também houveteve quede reformar o Código Penal, que considerava sancionáveis questões básicas como a pertença a partidos políticos, e proibia associar-se aquelas que pretenderampretendessem:
 
*A ''subversão'' da ordem pública ou o ataque à unidade da pátria. Aqui ficavam incluídas todas as de caráter nacionalista periférico, não [[nacionalismo espanhol|espanhol]].
Linha 143 ⟶ 141:
* Considerados de [[extrema direita]]: os partidos [[fascismo|fascistas]] de [[Falange]] e ''[[Fuerza Nueva]]'' ou o partido pró-[[nazismo|nazi]] [[CEDADE]].
 
* Considerados de [[direita (política)|direita]] ou conservadores: o principal foi a [[Aliança Popular]] (AP) de Manuel Fraga, que agrupou a parte da direita pós-franquista.
 
* Considerados de centro ou ''reformistas'': a [[União de Centro Democrático (Espanha)|UCD]], de Adolfo Suárez, aglutinando um heterogêneo conjunto de grupos moderados de direitas e esquerdas de ideologia diversa: [[Democracia cristã|democrata-cristãos]], [[Socialdemocracia|social-democratas]] ou [[Liberalismo|liberais]]), e uma parte do próprio regime que apoiavam as novas reformas. Também se consideramconsideravam centristas alguns partidos nacionalistas periféricos, como o ''[[Partido Nacionalista Basco]]'' (PNV) e o ''[[Pacte Democràtic per Catalunya]]'' (PDC) liderado pela [[Convergencia Democràtica de Catalunya]] de [[Jordi Pujol]] e [[Miquel Roca]].
 
* Considerados de [[esquerda (política)|esquerda]] ou ''progressistas'': o [[Partido Socialista Operário Espanhol]] (PSOE), de discurso ''exaltado'' e idéias pragmáticas da política e o PCE, legalizado a [[9 de Abril]], são os dois principais partidos.
 
O PCE teve de recorrer ao Tribunal Supremo, de maneiramodo que quando ditou que não contravinha a legalidade, o Governo após pactuar com o seu líder [[Santiago Carrillo Solares]], que tinha já aceite abandonar a restauração de uma [[República]] aceitando a monarquia, aproveitou as férias de [[Semana Santa]] para legalizá-lo, dissolver o partido único da ditadura, o ''[[Movimiento Nacional]]'', e minimizar o impacto da decisão. Ainda assimContudo, o Ministro da Marinha demitiu imediatamente, e Manuel Fraga adiantou-se a considerá-lo como um ''verdadeiro golpe de Estado''. O dia com certa [[ironia]] foi chamado o ''Sábado Santo Rojo'' (a festividade é de caráter [[Igreja Católica|católico]], e o comunismo propugna o [[ateísmo]] ou o [[agnosticismo]]). Dois dias depois foi legalizado o ''[[Partit Socialista Unificat de Catalunya]]'' (PSUC).
 
Outros partidos relevantes seriam ''[[Esquerra Republicana de Catalunya]]'' (ERC), de ideologia também de corte [[Nacionalismo catalão|nacionalista catalã]] e [[Republicanismo|republicana]], que já governou na deposta ''[[Generalitat de Catalunha]]'' durante a Segunda República; ''[[Euskadiko Ezquerra]]'' (EE), [[Marxismo|marxista]] e nacionalista basco, do antes grupo terrorista de [[ETA político militar]], que anos depois se integraria no [[PSE-PSOE|PSOE]].
 
* Considerados de [[extrema esquerda]] ou ''revolucionários'', com a legalização do PCE, do qual procediam vários, ir-se-iam somando uma parte à legalização ou a diretamente pediriam a abstenção. O bloco do ''[[Frente Democrático de Esquerdas]]'' (FDI) apoiado pelo [[Partido do Trabalho da Espanha]] (PTE) e organizações afins de ideologia marxista leninista e influenciados pela ideologia de [[Mao Zedong]] ou o bloco [[Frente pela Unidade dos Trabalhadores]], que não conseguem representação parlamentar.
 
===O Governo e a oposição===
Para dar credibilidade ao seu projeto, adotaadotou uma série de medidas políticas. Em Julho de 1976 houve uma [[anistia|anistia política]] parcial, ampliada em Março do ano seguinte e total em Maio. Em Dezembro de 1976 dissolve-sedissolveu o Tribunal de Ordem Pública. Em Março do ano seguinte legaliza-selegalizou o direito básico de [[greve]] e em Abril éfoi decretada a liberdade [[sindicalismo|sindical]]. Também se promulgapromulgou uma "Lei Eleitoral" com as condições necessárias para se homologar com as dos países com um sistema de democracia liberal e parlamentar.
 
Com todas estas medidas Suárez ia cumprindo as condições que exigiam os grupos da oposição de 1974. Estas forças reuniram-se em Novembro de 1976 para criar uma plataforma de organizações democráticas. Suárez iniciara os seus contatos políticos com a oposição entrevistando-se com [[Felipe González]], Secretário Generalsecretário-geral do PSOE, em Agosto. A atitude possibilista do líder [[socialismo|socialista]] deu alasasas a Suárez para levar adiante o seu projeto político, mas todo o mundo percebia claramente que o grande problema para a normalização política do país viria a ser a legalização do PCE. Este constituía, naquele momento, o grupo político mais organizado e com maior número de militantes da oposição,. masPorém, numa entrevista com as autoridades mais destacadas do exército em Setembro, manifestaram claramente a sua oposição frontal à legalização do PCE.
 
O PCE cada vez era mais em favor de denunciar a ''Lei para a Reforma Política'' por antidemocrática e solicitar as eleições para as Cortes Constituintes convocadas por um Governo provisório composto também pelos partidos políticos na oposição. Dado que, além disso, a oposição não manifestava nenhum entusiasmo pela ''Lei para a Reforma Política'', Suárez arriscou-se ainda mais para envolver a maioria das forças políticas.
 
Em Dezembro, o PSOE celebrava em Madrid o seu [[XXVII Congresso do PSOE|XXVII Congresso]] e começava a desmarcar-se das exigências do PCE, afirmando que pensava participar na próxima convocatória eleitoral para as Cortes Constituintes. Ao começar o seguinte ano, o ano previsto para convocar eleições gerais, Suárez foi decididadecidiu-se a abordar o problema do PCE. Em Fevereiro entrevistou-se com Santiago Carrillo, Secretário Geral do PCE, que apoiou sem exigências prévias e disposto a oferecer um ''pacto social'' para o período posterior às eleições.
 
A [[24 de Janeiro]] de 1977 produz-seocorreu a [[Matança de Atocha de 1977|Matança de Atocha]], o atentado mais significativo da extrema direita a um escritório de [[Direito Laboral]] vinculado ao [[Partido Comunista de Espanha]], da madrilena Rua de Atocha, onde assassinam a tiros a cinco de eles e feriram de gravidade a outros quatro. Este fato provocou a primeira manifestação multitudinária da [[esquerda (política)|esquerda]] no país desde a [[Segunda República Espanhola|Segunda República]], e depois dezenas de atos de caráter pacífico de simpatia e solidariedade com o partido comunista.
Isto e a atitude mantida por Santiago Carrillo, pressionaram a Suárez para levar a cabo a polêmica legalização do partido.
 
===O Governo e o exército===
Adolfo Suárez conhecia bem que o chamado ''búnker'', entre outros formado por [[Jose Antonio Girón de Velasco|José Antonio Girón]] e [[Blas Piñar]] e como meio afim o jornal ''El Alcázar'', e tinha muito bons contatos com oficiais do exército que exerciam uma evidente influência sobre importantes setores militares. Estas forças podiam constituir um obstáculo insuperável e mesmo um perigo de [[golpe de estado]] para a reinstalação de um regime de governo militar.
 
Para salvar esta dificuldade, Suárez tentou apoiar-se em militares liberais do círculo do general [[Manuel Díez-Alegría Gutiérrez|Díez-Alegría]], aos que tentou colocar em postos de responsabilidade, como o general [[Manuel Gutiérrez Mellado]]. Mas em Julho de 1976 o vice-presidente para assuntos da defesa era ainda o Generalgeneral [[Fernando de Santiago]] que pertencia ao núcleo mais imobilista. De Santiago, inquieto pela primeira anistia, opôs-se frontalmente em Setembro à ''Lei de Liberdade Sindical''. A [[21 de Setembro]] Suárez destituiu a De Santiago e nomeou no seu lugar aoo Generalgeneral Manuel Gutiérrez Mellado, o que lhe ocasionou numerosos inimigos e oposição que se agravaria com a legalização do PCE meses mais tarde, com a demissão imediata do Ministro deda MarinaMarinha.
 
Mas, entretanto, Gutiérrez Mellado agia com habilidade para promover os oficiais partidários da reforma e para substituir os mandos das forças de segurança (Polícia Armada e Guarda Civil) mais partidários de conservar o regime.
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===O acréscimo do terrorismo===
O País Basco manteve-se, ao longo de tudo esteneste período, em plena ebulição política. As reivindicações de anistia política, em especial a [[semana pro-anistia de Maio de 1977|semana pro-anistia de 8 a 15 de Maio]] em que faleceram sete pessoas pela repressão,<ref>Floren Aoiz "El jarrón roto" p. 261 ISBN 84-8136-329-4</ref> obrigaram Adolfo Suárez a i-la concedendo em diferentes etapas até a anistia total de Outubro de 1977. Mas os confrontos contínuos entre polícia e manifestantes não ajudavam precisamente a serenar os ânimos. ETA, depois de uma certa trégua no [[verão]] de 1976, prosseguiram os seus atentados em Outubro. Mas foi, sobretudo, entre Dezembro e Janeiro quando se desencadeou um conjunto violentas ações que deixaram a situação social e política numa posição muito instável.
 
O GRAPO atuou com várias [[bomba]]s e o sequestro de duas importantes pessoalidades do regime: o Presidente do Conselho de Estado, [[José María de Oriol]], e o Generalgeneral Villaescusa, Presidente do Conselho Superior de Justiça Militar. Enquanto duravam estes sequestros, produz-seocorreu a Matança de Atocha, um comando da ultra-direita mata amatava cinco advogados do PCE em Madrid. Vários dias antes morreram dois estudantes durante diferentes manifestações por polícias anti-distúrbios.
 
Mas pela primeira vez, boa parte dos líderes da oposição reunidos com o [[Presidente do Governo da Espanha|Presidente do Governo]], publicaram um comunicado de denúncia do terrorismo e de apóio à atuação de Suárez. Que porém, as forças do ''búnker'' aproveitaram-se da inquietude do momento para denunciar que o país se estava precipitando no caos.
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As eleições gerais de [[15 de Junho]] de 1977 deram a representação a quatro partidos políticos, os três primeiros de ideologia ''reformista'' ou ''progressista'', primariamente: UCD 31,1%, PSOE: 28,6%, PCE: 9,4% e o partido conservador AP com apenas 8,5%.
 
Destacaram o forte apóio local de partidos nacionalistas, especialmente na Catalunha com o bloco PDC e no País Basco com o PNV.
 
==Os governos de UCD==
{{AP|[[Legislatura Constituinte de Espanha]]}}
{{AP|[[I Legislatura da Espanha]]}}
O partido ganhador, UCD, formou governo durante duas legislaturas, em Junho de 1977 e Março de [[1979]], mas teve de contar com o apóio ou o beneplácito de outros partidos ao não contar com a maioria absoluta de cadeiras no [[Parlamento da Espanha|Parlamento]].
 
===Os regimes pré-autonômicos: Catalunha, País Basco e Galiza.===
 
Depois das eleições, com os resultados na Catalunha e no País Basco, o governo permitiu a criação de instituições pré-autonômicas. Concedeu autonomia provisória às regiões cujos deputados, constituídos em assembleias parlamentares, assim o solicitaramsolicitassem. Era o primeiro elo da estrutura territorial que já estava pactuada na nova Constituição.
 
A primeira [[pré-autonomia]] concedida foi a da Catalunha, ae em [[29 de Setembro]] foi restabelecida a Generalitat da Catalunha e [[Josep Tarradellas]], histórico político nacionalista no exílio, converteu-se no seu novo Presidentepresidente a [[23 de Outubro]].
 
No [[País Basco]], a situação política era dominada pelo PNV, que reclamava incorporar a [[Navarra]] à autonomia formada por [[Biscaia]], [[Guipúscoa]] e [[Álava]], com a distorção de ETA. A assembleia de parlamentares bascos, na que se negaram a participar os navarros, negociou com o Governo a criação de um Conselho Geral Basco, aprovado a [[6 de Janeiro]] de [[1978]]. Em Navarra os acontecimentos dos [[sanfermines]] de 1978, entre outros acontecimentos marcaram o seu futuro político<ref>Floren Aoiz; "El jarrón roto" pp. 291-296, ISBN 84-8136-329-4</ref>
 
Na [[Galiza]], com maioria da UCD, somaram-se à pré-autonomia com a criação da [[Junta da Galiza]], em Março de 1978.
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{{AP|[[Constituição espanhola de 1978]]}}
 
O novo Parlamento criou um grupo de relatores (''ponencia'') para trabalhar na redação de uma nova Constituição no verão, com o consenso das principais forças políticas em temas tais como o papel do exercito, os direitos históricos, a situação de [[Navarra]]. Em Julho de 1978 o [[Congresso dos Deputados da Espanha|Congresso dos Deputados]] aprovava o texto constitucional por uma ampla maioria, incluindo os conservadores deda Aliança Popular e odo PCE. Alguns partidos de extremos votaram contra e outros como o [[PNV]], que fora excluído da ''ponencia'' constitucional em que pese a ser majoritário no [[País Basco]], pediram a abstenção.
 
A Constituição foi aprovada em sessão conjunta pelo Parlamento e o [[Senado da Espanha|Senado]] no mês de Outubro. A [[6 de Dezembro]] foi submetida a ''Carta Magna'' a referendum com uma aprovação majoritária, excetuando algumas províncias e o [[País Basco]] onde se obteve uma importante abstenção.
 
A tarefa ordinária de governo que teve de realizar o partido dedesde 1979 deu ao manifesto a existência de tendências ou correntes políticas muito diversas dentro da coligação de partidos de UCD. Isto fora provocando confrontos que desgastaram a autoridade de Adolfo Suárez e puseram em dúvida o seu liderado. A tensão estourou a partir deem [[1981]] com a demissão de Suárez como Presidente do Governo e a sua substituição por [[Leopoldo Calvo Sotelo]] à frente de uma reforma do governo. Suárez abandonaabandonou o partido por parte dos social-democratas de [[Fernández Ordóñez]] e pela nomeação de Calvo Sotelo como novo presidente do partido. Isto acentuou ainda mais as tensões internas e impôs a Calvo Sotelo a dissolver o Parlamento e convocar eleições em Outubro de 1982.
 
Com as históricas [[eleições gerais espanholas de 1982|eleições gerais de 1982]], a UCD sofresofreu um espetaculoso derrube em número de votos, cambiandomudando todo o equilíbrio político anterior.
 
A normalização democrática não evitou as contínuas ações violentas de [[ETA]] e, em menor escala, do [[GRAPO]].
 
====Tentativa de Golpe de Estado de 23 de Fevereiro de 1981====
{{AP|[[Golpe de Estado de 23 de Fevereiro de 1981 na Espanha]]}}
Paralelamente à crise da UCD, detectava-se uma situação de desassossego ou intranquilidade numa parte das [[Forças Armadas]] que podia terminar num golpe militar. O [[Golpe de Estado na Espanha de 1981|golpe de estado de 1981]], a tarde dode [[23 de Fevereiro]] por um grupo de [[Guarda Civil (Espanha)|guardas civis]] dirigidos pelo [[tenente coronel]] [[Antonio Tejero]] não conseguiu provocar um Governo militarfracassou, mas mostrou o perigo real de um setor do exército.
 
Paralelamente à crise da UCD, detectava-se uma situação de desassossego ou intranquilidade numa parte das [[Forças Armadas]] que podia terminar num golpe militar. O [[Golpe de Estado na Espanha de 1981|golpe de estado de 1981]], a tarde do [[23 de Fevereiro]] por um grupo de guardas civis dirigidos pelo [[tenente coronel]] [[Antonio Tejero]] não conseguiu provocar um Governo militar, mas mostrou o perigo real de um setor do exército.
 
==Governo do PSOE==
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As [[Eleições gerais espanholas de 1982|eleições de Outubro de 1982]] deram a [[maioria absoluta]] pela primeira vez ao PSOE, que fora durante duas legislaturas o principal partido da oposição nos governos da UCD.
 
No [[XXVIII Congresso do PSOE]] (Maio de 1979) o seu Secretário Geral, [[Felipe González]], não quis assumir asa tendência marxista que parecia dominante no partido, pelo qual apresentou a demissão. Mas a convocatória de um congresso extraordinário meses depois permitiu reconduzir o partido para uma linha mais moderada e ele assumir de novonovamente o cargo.
 
Ao longo de 1982, o PSOE confirmou a sua linha moderada, que aproximou ao grupo social-democrata de [[Fernández Ordoñez]], recém cindido da UCD.
 
A obtenção da maioria absoluta em três processos eleitorais consecutivos (1982, [[1986]] e [[1989]]) permitiu o PSOE legislar e governar sem ter de pactuar com outras forças políticas.
O triunfo eleitoral do PSOE em 1982 (com mais de 10 milhões de votos) inaugurou uma etapa de governo socialista, com quatro legislaturas, que transformou profundamente a Espanha. Felipe González, secretário geral do PSOE, ocupou a Presidência do Governo, com [[Alfonso Guerra]] como durante muito tempo Vicevice-presidente do Governo, até a sua demissão pela implicação do seu irmão num caso de corrupção política.
 
Durante o governo do PSOE produzir-se-iaocorreria a integração na [[Comunidade Econômica Européia]] (CEE), as reformas laborais com novos convênios normativos entrados em consenso entre patronal e trabalhadores, as inversões sociais (especialmente em Educação e Sanidade), o desenvolvimento da organização territorial autonômica e a modernização das infra-estruturas.
 
Foi levada a cabo a "reconversão industrial", um conjunto de políticas de reconversão do [[setor secundário]], num contexto de saída da [[Crise do petróleo|crise de 1973]]. Esta reconversão fora adiada na Espanha, pelo temor à agitação social derivada, com a coincidência do começo da Transição.
 
O desgaste da imagem pública do partido, nas duas últimas legislaturas, foi devido a uma série de fatores, como as duas greves gerais dos dois principais sindicatos, bem como à crise econômica em 1993. Também apareceriam os autodenominados [[Grupos Antiterroristas de Libertação]] (GAL), organizações ilegais dedicadas à luta contra o terrorismo e herdeiras do terrorismo de Estado tardo-franquista. Finalmente saíram à luz vários casos de corrupção de vários cargos públicos adscritos ao PSOE, entre os que destacaram os chamados ''[[Caso Filesa]]'' e ''[[Caso RoldãoRoldán]]''.
 
Após uns últimos anos de contínuo desgaste social e político, nas [[eleições gerais espanholas de 1996|eleições gerais de 1996]] o principal partido da oposição, o [[Partido Popular]] liderado por [[José María Aznar]], consegueconsegueu a maioria simples.
 
===Comunidade Econômica Européia===
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===OTAN===
Nos últimos momentos do governo UCD, Calvo Sotelo conseguiu que o Parlamento autorizasse o ingresso da Espanha na [[Organização do Tratado do Atlântico Norte]] (OTAN). A [[10 de Dezembro]] de 1981 firmava-se em [[Bruxelas]] o protocolo de adesão, com 43% de espanhóis na contra, segundo algumas pesquisas de opinião.
 
O PSOE, quando ganhaganhou as eleições, paralisaparalisou o ingresso e prometeprometeu um referendum para tirar a Espanha da aliança militar. Contudo, formefoi passam os anos, mudamudando a sua posição ao dar-se contaacreditar que éera requisito para uma plena incorporação da Espanha ao bloco ocidental e europeu. Em Março de 1986, celebracelebrou-se o referendum com um resultado favorável à adesão.
 
===Educação===
 
A aplicação do direito constitucional à educação guiou o trabalho do governo. No ensinamentoensino universitário, a [[Lei de Reforma Universitária de Espanha|Lei de Reforma Universitária de 1983]] concedeu autonomia de gestão às universidades, facilitou a criação de universidades privadas e ampliou o número de matriculados graças à quase gratuidade de matrículas e a uma ampla política de becas.
 
No ensinamentoensino secundário e primário, foi garantida a escolarização obrigatória para toda a população menor de 14 anos dedesde [[1985]] e de 16 anos desde a entrada em vigor da [[LOGSE]] em [[1990]]. O governo creiacriou um sistema educacional de três vias: educação pública, educação privada, e colégios concertados cuja gestão recai numa empresa ou organização privada, mas a despesa dos alunos é paga pelo Estado, para assim tentar oferecer a maior taxa de escolaridade possível.
 
===Economia===
 
A crise econômica, iniciada em parte por fatores internos e externos como a [[crise do petróleo de 1973]], reativada em 1979, criara uma situação de recessão industrial, com fábricas ou maquinaria obsoletas e setores industriais deficitários. Para o trabalhador supunhaimplicava o parodesemprego (até 20 % em 1985), e a subida contínua dos preços (até 25% anual de [[inflação]]).
 
A reconversão industrial foi aplicada à indústria naval, aà siderurgia e aà indústria têxtil, setores defasados em tecnologia, mal situados geograficamente e escassos de competitividade frente aos produtos europeus e asiáticos. Nos primeiros momentos, o ajuste incrementou o cerre de fábricas e o despido de trabalhadores, crescendo o descontente social contra um governo socialista que agia, em princípio, contra os interesses da classe operária.
 
A reforma fiscal perseguiu a economia submergida ou o ''dinheiro negro'', efoi criou-secriado o [[Imposto sobre o Valor Acrescentado]] (IVA) comum no restanteresto de países europeus, aumentou a pressão fiscal sobre as rendas do trabalho e do capital com o fim de conseguir mais recursos e sanear o Estado.
 
Para controlar a inflação, o governo restringiu a circulação de capital, com altos [[taxa de juros|tipos de interesse]] bancário, e moderou o crescimento salarial.
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===Infra-estruturas===
A necessidade de modernizar as obsoletas infra-estruturas lançou o governo a uma importante despesa pública. DeDesde 1985, a rede de rodovias melhorou ao duplicar-se o comprimento de [[rodovia]]s (mais de 7.0007000 [[Km]]), a [[ferrovia]] evolucionou para serviços mais modernos e com maior rentabilidade e com a aposta da [[Alta Velocidade Espanhola]] (AVE) entre [[Sevilha]] e Madrid, com projetos para no futuro estendê-lo até [[Barcelona]], [[Valência]], [[Alicante]] ou [[Múrcia]]).
 
=={{Bibliografia}}==
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* CASTELLANO, P.: ''Por Dios, por la Patria y el Rey: una visión crítica de la transición española''. Madrid, 2001.
* CEBRIÁN, J.L.: ''La España que bosteza. Apuntes para una historia crítica de la transición''. Ed. Taurus. Madrid, 1980.
* MARTÍNEZ CUADRADO, M.: ''"El escenario político español en la perspectiva 1975"''. En ''Anuario Económico y social de España''. 1975. Ed. Planeta. Barcelona, 1976.
* PRESTON, P.: ''El triunfo de la democracia en España: 1969-1982''. Plaza y Janés. Ed. Barcelona, 1986.
* ZAMBRANA, J.: ''La alternativa libertaria (Catalunya 1976 - 1979)''. Ed. Fet a mà-CEDALL. Badalona, 2000.
 
=={{Referências==}}
 
<references/>
 
=={{Ligações externas}}==
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* [http://www.cidob.org/castellano/Publicaciones/Afers/26powell.cfm ''La dimensión exterior de la transición española''] de Charles T. Powell, Research Fellow, St. Anthony's College, [[Oxford]]. {{es}}
* [http://www.eduvinet.de/eduvinet/es015.htm ''Alguns dados prévios e consequências sobre a transição espanhola''] de Eduardo Díaz, Centro Estudios Alhamar, [[Granada]] ([[1998]]) {{es}}
*[http://www.ucm.es/info/sistema/index2.html Completo manualManual esquemático sobre a Transição e o sistema político espanhol resultante. Realizado por vários professores da UCM-Faculdade de CCPP e Sociologia] {{es}}
 
=={{Ver também}}==
* [[Reforma política espanhola de 1977]]
* [[Reforma ou Ruptura]]
* [[Franquismo sociológico]]
* [[Processo de Burgos]], importante conselho de guerra, com a [[pena capital]] para 16 membros relacionados com ETA, que terminaterminou num polêmico indulto após importantes amostras de solidariedade.
* [[Movida madrilena]], movimento ou corrente sociocultural da [[década de 1980]] surgido em Madrid.
* [[Marcha verde]], estratégia adotada por [[Marrocos]] para a colonização do [[Saara Ocidental]] sob tutoria da Espanha em 1975