Emanuel Araújo: diferenças entre revisões

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Concluiu em 1965 o curso de teoria do teatro da Escola de teatro da [[Universidade Federal da Bahia]], onde chegou a ministrar cursos de dramaturgia e literatura dramática. Também foi crítico de teatro, escrvendo para o ''Jornal da Bahia'', em Salvador.
 
Em 1966, Emanuel Araújo foi para Brasília, sendo orientado pelo Professor [[Eudoro de Sousa]], helenista português, criador e diretor do [[Centro de Estudos Clássicos]] da UnB, tradutor de obras como a ''Poética'' de [[Aristóteles]] e ''As Bacantes'' de [[Eurípedes]] e autor de livros como ''Dioniso em Creta'' e ''Horizonte e Complementariedade''. A convivência com Eudoro de Sousa possibilitou a Emanuel Araújo uma sólida e erudita formação nas [[''Klassische Altertumswissenschaft'']], fazendo dele um dos raros brasileiros a dominar a [[grego]], [[latim]], [[hebraico]] e línguas egípcias. É deste período seu primeiro livro, baseado em seu doutorado: ''O êxodo hebreu: raízes histórico-sociais da unidade judaica'', de 1970.
 
Após o afastamento da UnB por motivos políticos, Emanuel Araújo estabeleceu-se no Rio de Janeiro, iniciando uma profícua carreira como editor, exercendo essa função nas editoras Bloch, Record e [[José Olympio]]. Foi membro das equipes da ''Enciclopédia Mirador Internacional'', na qual trabalho com [[Antônio Houaiss]], e da ''Enciclopédia Ilustrada do Brasil'', e responsável pela publicação de coleções de documentos, como por exemplo, ''Cartas de D. Pedro I à Marquesa de Santos''. Chefiou os setores de editoração no Centro de Pesquisa e Documentação Histórica da [[Fundação Getúlio Vargas]] e do [[Arquivo Nacional]]. Desta produtiva experiência surgiram dois textos: ''Publicações de documentos históricos'', de 1985, e uma das maiores obras da arte editorial escrita em português, ''A Construção do Livro: princípios da técnica de editoração'' (1986). Para muitos seria, com efeito, uma espécie de complemento ao clássico Elementos de bibliologia de Antônio Houaiss – filólogo, membro da [[Academia Brasileira de Letras]] e editor chefe do ''Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa'' – com quem Emanuel estabeleceu uma parceria de trabalho e uma amizade. Houaiss prefaciou ''A construção do livro'', elogiando-o como um novo passo e um grande ganho para o mundo lusófono.
 
''A construção do livro'' continua sendo a obra de referência mais consultada por profissionais e leigos interessados no processo de produção editorial. Apostando na existência do livro-objeto pelos séculos futuros, e ciente dos avanços tecnológicos gráficos e editoriais, o autor explica os antecedentes históricos da produção, e detalha os procedimentos mais recentes de sua época. Uma nova edição revista e atualizada foi lançada em 2008 pela Lexikon Obras de Referência e a Fundação Editora da [[UNESP]], com apoio da Fundação [[Biblioteca Nacional]]. O texto original foi acrescido das técnicas surgidas nas últimas duas décadas desde sua primeira publicação. Para facilitar o entendimento e a aplicação dos procedimentos editoriais, o livro é dividido em duas partes. Na primeira, são tratados os problemas de normalização, a fim de solucionar dúvidas e auxiliar os editores, revisores e tradutores quanto à padronização. Na segunda parte, o autor trata do processo industrial do livro, mostrando a designers, supervisores editoriais e produtores gráficos os elementos essenciais para o desempenho de suas tarefas. Por sua clareza e riqueza de informações, ''A construção do livro'' destina-se a todos que se interessam por livros e pelo processo de produção editorial.
 
Mesmo após sua reintegração ao quadro docente da Universidade de Brasília, Emanuel continuou na área editorial a serviço da Editora Universidade de Brasília/EDU. Foi seu diretor nos anos de 1992 e 1993 e, depois, Presidente do Conselho Editorial – cargo que somente a morte, em 2000, o afastou. Segundo o professor Amado Luiz Cervo:
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Já ''O Teatro dos Vícios – Transgressão e Transigência na Sociedade Urbana Colonial'' é um texto de grande importância para a [[história social]] e das [[mentalidades]] do Brasil colônia. Nas palavras do autor:
 
 
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É notável como Emanuel Araújo pode produzir três importantes livros em áreas distintas: [[editoração]], história do antigo Egito e história do Brasil colonial. Sabe-se que, apesar de toda apologética pela interdisciplinaridade, o atual ''zeitgeist'' ainda privilegia especialização. Por isso a obra de Emanuel Araújo apresenta algo quase impossível para os padrões acadêmicos atuais: uma produção que, mesmo focada em temas tão diversos, nem por isso se rendeu a superficialidade ensaística que ronda muitos de nossos acadêmicos em suas incursões fora de suas paragens intelectuais de origem. Mais que isso: o rigor acadêmico dos textos de Emamuel Araújo apresentam-se vazados numa linguagem que em muito se distancia do puro e simples uso esotérico de jargões.
 
Vale ressaltar que a produção de Emanuel não foi contaminada pelo nocivo espírito hodierno que julga a produção acadêmica a partir de parâmetros industriais, no qual a quantidade de publicações acaba por impossibilitar a qualidade de cada uma delas. Pode-se afirmar que o número relativamente pequeno de publicações por parte de Emanuel Araújo, é um exemplo acabado do preceito defendido pelo filósofo [[Michael Dummett]] de que “a única possibilidade que existe de manter a qualidade do trabalho publicado tão alta, e a sua quantidade tão baixa, quanto possível” é só “publicar um trabalho quando já não se visse a possibilidade de o melhorar”.