Gino Meneghetti: diferenças entre revisões

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|local_morte = [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], [[Brasil]]
|nacionalidade = {{ITAb}} [[italiano]]
|crime = roubosRoubos diversos
|pena = diversasDiversas
|status = Morto de causas naturais
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==Biografia==
=== Infância e juventude ===
Filho de operários (seu pai trabalhava numa [[fábrica]] de [[vidro]]s [[Bélgica|belga]]), Meneghetti pratica os primeiros [[crime]]s ainda na [[adolescência]]. Fugindo da [[polícia]] italiana, vai parar na [[França]], onde permanece por quase vinte anos, período durante o qual pouco se sabe sobre seu paradeiro. Capturado pelas autoridades francesas, é deportado para o [[Brasil]] (tratamento comum aos criminosos na época), e desembarca no [[Porto de Santos]] em [[25 de junho]] de [[1913]] a bordo do [[navio]] italiano "Tomaso di Savoia".<ref name="pasquim">''O Pasquim Antologia - Volume I - 1969-1971'', p. 135 a 140 - Ed. Desiderata ([[2006]])</ref> Aos 35 anos de idade e com um histórico criminal já bastante extenso — inclusive fichado na [[International Criminal Police Organization|Interpol]] — sua chegada foi precedida de um [[dossiê]] da polícia italiana enviado às autoridades brasileiras que o definia como "um elemento perigoso, condenado numerosas vezes por crime contra a propriedade e por violência contra agentes da força pública".<ref name="Uma vida entre a verdade e o mito">[http://almanaque.folha.uol.com.br/cotidiano_24mai1976.htm "Uma vida entre a verdade e o mito"] - ''Folha de S. Paulo, [[24 de maio]] de [[1976]]</ref> O documento ainda dizia que em [[1912]] ele fora condenado a 18 meses de prisão, por tentativa de [[estupro|violência carnal]].<ref name="À moda antiga">[http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=60&breadcrumb=1&Artigo_ID=453&IDCategoria=689&reftype=1 "À moda antiga"] - ''Problemas Brasileiros'', [[dezembro]] de [[1996]]</ref>
Gino Amleto Meneghetti nasceu por volta de [[1878]] em uma [[aldeia]] de [[pescador]]es nos arredores de [[Pisa]], na região italiana da [[Toscana]]. Era filho de Laudomia Taccola e de Angelo Meneghetti, transportador de [[areia]] no [[rio Arno]]. Buscando melhores condições financeiras, Angelo conseguiu emprego em uma [[fábrica]] de [[cerâmica]] a cinco quilômetros de Pisa, para onde mudou-se com a família. Ali seu filho Gino passou a conviver com um bando de meninos de sua faixa etária, que praticavam pequenos [[furto]]s — geralmente [[fruta]]s, [[galinha]]s e objetos de pouco valor — nos arredores de Pisa. Ele é preso pela primeira vez aos onze anos de idade, passando três dias no Reformatório de S. Mateus, em Pisa. Volta a estudar, mas o bom comportamento não perdura; é detido novamente aos treze anos, e a partir daí sucede-se uma série de prisões por furto qualificado. Meneghetti revolta-se com sua condição social e com a repressão das autoridades, tornando-se um elemento marcado pela polícia.<ref name="lendario">[http://books.google.com.br/books?id=Pnq9ZqmaDSwC ''O Lendário Meneghetti: Imprensa, Memória e Poder]'' - Célia de Bernardi - Annablume - ISBN 9788574191195 ([[2000]])</ref>
 
Instado a mudar de vida, volta a estudar aos dezesseis anos, aprendendo o ofício de [[mecânico]] e [[serralheiro]]. Reúne algumas economias e parte para a [[França]], indo morar com um de seus tios, proprietário de um restaurante em [[Marselha]]. É preso novamente, desta vez por porte ilegal de armas, sendo encaminhado para a prisão de Saint-Pierre. Aos vinte anos é [[Deportação|deportado]], retornando a seu país natal. Convocado para o [[serviço militar]], simula loucura. Examinado por um psiquiatra, Eugenio Tanzi, é diagnosticado como [[alienado]]. Entre [[1905]] e [[1910]] é internado em uma série de [[manicômio]]s italianos, sendo considerado pelas autoridades médicas um "louco moral" e "alienado mental".<ref name="lendario"/>
 
=== Chegada ao Brasil ===
FilhoNo deinício operários (seu pai trabalhava numado [[fábrica]]século de [[vidro]]s [[Bélgica|belgaXX]]), Meneghetti pratica osera primeirosum [[crime]]s ainda na [[adolescência]]. Fugindo da [[polícia]]ladrão italianaprofissional, vaisendo parardetido nadiversas [[França]],vezes. ondeCumpriu permanecesua porúltima quasecondenação vinteem anosPisa, períodoe durantedecidiu o qual pouco se sabe sobre seu paradeiro. Capturado pelas autoridades francesas, é deportadoemigrar para o [[Brasil]], (tratamentoonde comumtinha aos criminosos na época), eparentes. desembarcaDesembarca no [[Porto de Santos]] em [[25 de junho]] de [[1913]] a bordo do [[navio]] italiano "Tomaso di Savoia".<ref name="pasquim">''O Pasquim Antologia - Volume I - 1969-1971'', p. 135 a 140 - Ed. Desiderata ([[2006]])</ref> Aos 35 anos de idade e com um histórico criminal já bastante extenso — inclusive fichado na [[International Criminal Police Organization|Interpol]] — sua chegada foi precedida de um [[dossiê]] da polícia italiana enviado às autoridades brasileiras que o definia como "um elemento perigoso, condenado numerosas vezes por crime contra a propriedade e por violência contra agentes da força pública".<ref name="Uma vida entre a verdade e o mito">[http://almanaque.folha.uol.com.br/cotidiano_24mai1976.htm "Uma vida entre a verdade e o mito"] - ''Folha de S. Paulo, [[24 de maio]] de [[1976]]</ref> O documento ainda dizia que em [[1912]] ele fora condenado a 18 meses de prisão, por tentativa de [[estupro|violência carnal]].<ref name="À moda antiga">[http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=60&breadcrumb=1&Artigo_ID=453&IDCategoria=689&reftype=1 "À moda antiga"] - ''Problemas Brasileiros'', [[dezembro]] de [[1996]]</ref>
 
Nesse meio tempo, Meneghetti — então morando com uma tia em [[São Paulo (cidade)|São Paulo]] — conhece, em um restaurante que costumava freqüentar, Concetta Tovani. Olympio Giusti, proprietário do restaurante e tio de Concetta, não aprovou o relacionamento, e Meneghetti tomou então a decisão que lhe pareceu mais apropriada: raptou-a. Casou-se, tendo com ela cinco filhos, sendo que apenas dois, Spartaco e Lenine, sobreviveram.<ref name="À moda antiga">[http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=60&breadcrumb=1&Artigo_ID=453&IDCategoria=689&reftype=1 "À moda antiga"] - ''Problemas Brasileiros'', [[dezembro]] de [[1996]]</ref> Passou a trabalhar como [[pedreiro]], mas perdeu o emprego pouco depois ao brigar com o mestre-de-obras e atirar-lhe um [[balde]] de [[cal]] no rosto.<ref name="Uma vida entre a verdade e o mito">[http://almanaque.folha.uol.com.br/cotidiano_24mai1976.htm "Uma vida entre a verdade e o mito"] - ''Folha de S. Paulo, [[24 de maio]] de [[1976]]</ref> Foi a partir de então que provavelmente passou a se dedicar com mais afinco a outro tipo de "profissão": a de assaltante.
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===Surgimento de uma lenda===
[[Imagem:Equipamentos de Gino Meneghetti.jpg|thumb|250px|right|O "equipamento de trabalho" de Meneghetti.]]
Meneghetti é detido em [[31 de março]] de [[1914]].<ref name="lendario">''O Lendário Meneghetti: Imprensa, Memória e Poder''</ref> Condenado a 8 anos, é mandado para a Cadeia da Luz. Considerado preso de conduta incorrigível, torna-se vítima frequente dos castigos regulamentares<ref name="À moda antiga">[http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=60&breadcrumb=1&Artigo_ID=453&IDCategoria=689&reftype=1 "À moda antiga"] - ''Problemas Brasileiros'', [[dezembro]] de [[1996]]</ref> — e é numa dessas ocasiões, confinado na solitária (então um [[poço]] redondo e isolado), que empreende a primeira de uma série de fugas inusitadas. Escalando as [[parede]]s do poço, força a tampa, feita de [[ferro-gusa]], até ela ceder, escapando, nu e faminto, pelas ruas de São Paulo.<ref name="pasquim">''O Pasquim Antologia - Volume I - 1969-1971'', p. 135 a 140 - Ed. Desiderata ([[2006]])</ref>
 
Perseguido pela polícia, passa os anos seguintes escondendo sua verdadeira identidade sob vários codinomes, como Mario Mazzi, Antônio Garcia, Angelo Bianchi, Amleto Gino, Amleto detto Gino, Menotti Menichetti e Italo Bianchi.<ref name="Uma vida entre a verdade e o mito">[http://almanaque.folha.uol.com.br/cotidiano_24mai1976.htm "Uma vida entre a verdade e o mito"] - ''Folha de S. Paulo, [[24 de maio]] de [[1976]]</ref>
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Já então vivia intensamente a vida de gatuno, assaltando casas comerciais e residenciais, arrombando [[cofre]]s e roubando jóias — sempre das luxuosas [[mansão|mansões]] das avenidas Brigadeiro Luis Antônio, Angélica e [[Avenida Paulista|Paulista]].<ref name="À moda antiga">[http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=60&breadcrumb=1&Artigo_ID=453&IDCategoria=689&reftype=1 "À moda antiga"] - ''Problemas Brasileiros'', [[dezembro]] de [[1996]]</ref> A tática era invariavelmente a mesma: Meneghetti agia sozinho, e nunca ficava mais de cinco [[minuto]]s em cada residência. Para saber qual delas estava desocupada, vigiava as garagens, anotando o número da [[placa]] de cada veículo. Mais tarde, passava pela [[Praça da República (São Paulo)|Praça da República]] para verificar se algum deles estava lá estacionado.<ref>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u88449.shtml "Caminhos da memória: Crimes da cidade em mutação"] - ''Folha Online'', [[11 de janeiro]] de [[2004]]</ref>
 
Por roubar somente dos mais ricos, sem ferir ou provocar vítimas e ainda conseguir escapar incólume, se tornou-se um figura mitológica para uma imprensa carente de notícias.<ref>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u86338.shtml "Bandeirante tinha fama de matador; criminalidade só cresceu no século 20"] - ''Folha Online'' - [[28 de novembro]] de [[2003]]</ref> Mas a notoriedade neste caso veio na contra-mão para Meneghetti: a polícia, pressionada pela cobertura dos jornais e a conseqüente repercussão entre o público, decide apanhá-lo a qualquer custo.<ref name="À moda antiga">[http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=60&breadcrumb=1&Artigo_ID=453&IDCategoria=689&reftype=1 "À moda antiga"] - ''Problemas Brasileiros'', [[dezembro]] de [[1996]]</ref>
 
==="Il Nerone di San Paolo!"===
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Como parte das investigações, a delegacia de roubos cumpre, no dia [[3 de abril]] de [[1926]], um mandado de busca e apreensão à residência de Meneghetti, situada na Rua da Abolição, número 31. Lá, encontra duas [[mala]]s repletas de jóias, dinheiro, armas e documentos. Ele consegue fugir, mas sua esposa Concetta é presa. Os filhos do casal, menores de idade, passam para a guarda de parentes.<ref name="lendario">''O Lendário Meneghetti: Imprensa, Memória e Poder''</ref>
 
Meneghetti começa a enviar [[carta]]s às redações de [[jornal|jornais]] desafiando a polícia. Aluga um quarto na Rua Joli, número 117, seu novo esconderijo. Os roubos continuam.<ref name="lendario">''O Lendário Meneghetti: Imprensa, Memória e Poder''</ref>
 
Para detê-lo arma-se então um dos maiores esquemas policiais de que a cidade tivera notícia até então.<ref name="lendario">''O Lendário Meneghetti: Imprensa, Memória e Poder'', p. 71</ref> O cerco foi armado — mobilizando diversos elementos do [[Corpo de Bombeiros]], da [[Força Pública]] e da [[Guarda Civil]]<ref>Coleção ''100 Anos de República - Volume III - 1919-1930'', Ed. Nova Cultural (1989)</ref> — e uma armadilha preparada na casa onde estavam os filhos de Meneghetti. Segundo a crônica policial da época, o bandido, acuado, efetua vários disparos, ferindo gravemente o comissário Waldemar Dória. Foge para o telhado, e de lá grita para os policiais e para a multidão reunida na rua: "Io sono Meneghetti! Il Cesare! Il Nerone di San Paolo!" ("Eu sou Meneghetti! O [[César]]! O [[Nero]] de São Paulo!").<ref name="Uma vida entre a verdade e o mito">[http://almanaque.folha.uol.com.br/cotidiano_24mai1976.htm "Uma vida entre a verdade e o mito"] - ''Folha de S. Paulo, [[24 de maio]] de [[1976]]</ref>
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*[http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=435 ''Dov´è Meneghetti?''] - Curta-metragem em exibição no site Porta Curtas Petrobrás
*[http://almanaque.folha.uol.com.br/cotidiano_05jun1926.htm ''As Aventuras Rocambolescas de Meneghetti''] - Reportagem publicada no jornal ''Folha da Manhã'' em 5 de junho de 1926
*[http://books.google.com.br/books?id=Pnq9ZqmaDSwC ''O Lendário Meneghetti: Imprensa, Memória e Poder''] no [[Google Book Search]]
 
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