Quartodecimanismo: diferenças entre revisões

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== A controvérsia no final do século II ==
{{artigo principal|Comemoração da Morte de Cristo}}
A diferença na prática se tornou uma controvérsia eclesiástica quando o [[Papa Vítor I|bispo de Roma Vítor]] tentou declarar a prática de celebrar no Nisan 14 [[heresia|herética]] e [[excomunhão|excomungar]] todos que a seguiam<ref name=p5/>. Por conta disto, Ireneu e [[Polícrates de Éfeso]] escreveram para Vítor, o primeiro lembrando-o de seu predecessor, Aniceto, e sua postura mais tolerante, e Polícrates defendendo a prática asiática.
 
Polícrates ([[circa|ca.]] 190 dC) notou enfaticamente que ele seguia a tradição que lhe fora passada:
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Não se sabe quanto tempo a prática do Nisan 14 durou. O historiador da igreja [[Sócrates Escolástico]] conhecia quartodecimanos que foram privados de suas igrejas por [[João Crisóstomo]] por causa disso<ref>{{citar livro |autor=[[Sócrates Escolástico]]| título=História Eclesiástica| volume=VI|capítulo=11|subtítulo=Of Severian and Antiochus: their Disagreement from John. |url=http://www.newadvent.org/fathers/26014.htm|língua=inglês}} </ref> e que foram intimidados de maneira não especificada por [[Nestório]]<ref>{{citar livro |autor=[[Sócrates Escolástico]]| título=História Eclesiástica| volume=VII|capítulo=29|subtítulo=Nestorius of Antioch promoted to the See of Constantinople. His Persecution of the Heretics. |url=http://www.newadvent.org/fathers/26017.htm|língua=inglês}}</ref>, ambos [[Patriarca Ecumênico de Constantinopla|bispos de Constantinopla]]. Isso indica que a prática do Nisan 14, ou uma prática de mesmo nome, durou pelo menos até o século IV dC.
 
Por ter sido esta a primeira [[Controvérsia da Páscoa|controvérsia sobre a Páscoa]], ela teve uma forte influência sobre o pensamento das gerações posteriores. [[Wilfredo]], o bispo de [[York]] do século VII dC na [[Nortúmbria]], chamou seus oponentes na controvérsia de seu tempo (sobre a Páscoa, mas por outro motivo) de "quartodecimanos" <ref>{{citar livro|nome=Eddius|sobrenome= Stephanus| subtítulo = Life of Wilfrid| capítulo = 12| título = The Age of Bede| editora = Penguin| local= Londres | ano = 1988| páginas = 117-118| língua = inglês}}</ref>, ainda que eles celebrassem a Páscoa no domingo. Muitos estudiosos dos séculos XIX e XX acreditavam que a disputa sobre a Páscoa que tinha sido discutida em [[Primeiro Concílio de Niceia|Niceia]] fora entre as celebrações no Nisan 14 e no domingo<ref>{{citar livro|sobrenome=Jones| nome = Charles W.| título = Bedae Opera de Tempribus| editora = Medieval Academy of America| local = Cambridge| ano = 1943| páginas = 18| língua = inglês}}</ref>. Uma nova tradução da ''"Vida de Constantino"'', de Eusébio, sugere que este ponto de vista não é mais amplamente aceito<ref>{{citar livro|autor = Cameron, Averil, and Hall, Stuart G., eds| título = Eusebius: Life of Constantine| editora = Clarendon Press| local = Oxford| ano = 1999| páginas = 260| língua = inglês}}.</ref>, defendendo que a disputa em Niceia era entre duas escolas que defendiam a observância da festa aos domingos: os que seguiam a tradição original de seguir os sábios judeus na determinação do [[mês lunar]] em que a Páscoa cairia e os que desejavam demarcá-la com base nas computações puramente cristãs.
 
== O caráter escatólogico da celebração quartodecimana da Páscoa ==
Em seu estudo ''The Eucharistic Words of Jesus'' (sem tradução para o português), o estudioso das escrituras [[luterano]] [[Joachim Jeremias]] propôs um forte argumento de que os quartodecimanos preservavam o entendimento e a característica original da comemoração da Páscoa / ''Pessach''. Ele afirma que na tradição judaica, quatro grandes temas estão associados com a ''Pessach'':a [[Gênesis|criação do mundo]] (segundo os cristãos), o [[Akedah]] - o sacrifício de [[Isaac]], a [[Livro do Êxodo|redenção de Israel do Egito]] (tanto a ''passagem'' do primogênito durante a refeição da ''Pessach'' quanto a ''passagem'' de Israel pelo Mar Vermelho) e a vinda do [[Messias]] (anunciada pelo profeta [[Elias (profeta)|Elias]]). Para os cristãos, os eventos centrais do [[mistério da Páscoa]] de Cristo, ou seja, sua [[paixão de Cristo|paixão]], morte e ressurreição também estão obviamente relacionados à ''Pessach''. Assim, era inevitável que os primeiros cristãos também esperassem que a iminente [[segunda vinda de Cristo]] também ocorresse durante as celebrações da Páscoa/''Pessach''. Jeremias afirma que os quartodecimanos começavam suas celebrações pelas leituras apropriadas das [[Tanakh| escrituras judaicas]], ou seja, as doze leituras do [[Antigo Testamento]] que ainda são lidas na [[vigília pascal]] na [[Igreja católica]], [[Igreja ortodoxa]] e nas [[Igreja armênia|tradições armênias]]. À meia-noite, quando Cristo não tinha reaparecido para inaugurar o banquete [[escatologia|escatológico]], os cristãos celebrariam a Eucaristia pascal antecipando o ato final do drama de redenção de Cristo. Como este fervor escatológico original começou a esmorecer a cristandade passou a ser cada vez mais um movimento [[gentio]], esta orientação original escatológica da Páscoa começou a se perder. Adicionalmente, com a popularização da prática do batismo ([[catecúmeno]]s) durante as doze leituras para que os novatos pudessem desfrutar da Eucaristia pela primeira vez com a comunidade cristã no final da vigília de Páscoa, os temas batismais passaram a dominar os temas da vigília, exatamente como aconteceu nas igrejas que voltaram novamente a batizar seus membros adultos durante a vigília de Páscoa.
 
Alguns dos maiores estudiosos litúrgicos, como [[Louis Bouyer]] e [[Alexander Schmemann]], concordam essencialmente com a posição de Jeremias e basta examinarmos os textos litúrgicos cristãos para vermos evidências disto. Como exemplo, o prefácio da Eucaristia durante a vigília de Páscoa nas tradições romana, luterana e [[Igreja Anglicana|anglicana]]/[[Igreja Episcopal|episcopaliana]] atestam: ''"... na noite em que Cristo se tornou o nosso sacrifício pascal"'' ou na ''[[troparion]]'' (um hino curto) da [[Igreja Ortodoxa]] para a grande e sagrada segunda, terça e quarta, que avisam a comunidade cristã: ''"Vejam que o noivo chega no meio da noite e abençoados são os servos que ele encontra acordados..."''. Em resumo, ninguém sabe quando Cristo irá aparecer para o [[Juízo final]], mas dado outros grandes eventos que ocorreram durante a Páscoa/''Pessach'', os primeiros cristãos assumiram que Cristo iria provavelmente aparecer durante a Eucaristia pascal, assim como ele primeiro apareceu para seus primeiros discípulos durante a refeição do primeiro domingo de Páscoa<ref>A epístola lida no domingo de Páscoa nas tradições litúrgicas romana, luterana e anglicana/episcopaliana é {{citar bíblia|livro= Atos| capítulo = 10| verso =34|verso_final = 43}}, que diz que ''"A este ressuscitou Deus ao terceiro dia, e concedeu que fosse ele manifesto,