Exegese bíblica (teologia): diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Luckas-bot (discussão | contribs)
m r2.7.1) (Bot: Adicionando: sh:Biblijska kritika
João Carvalho (discussão | contribs)
m retirar refrências (.wikipedia.org) A WIKI NÃO SERVE DE REFERÊNCIA A SI PRÓPRIA
Linha 2:
[[Ficheiro:Simon leers.jpg|thumb|left| A “História Crítica” de Richard Simon, uma das obras responsáveis por derrubar o consenso tradicional de que [[Moisés]] fora autor do [[Pentateuco]]. O próprio Pentateuco nunca afirma ter sido escrito por Moisés, e mesmo os textos posteriores se referem aos supostos textos mosaicos de forma vaga. ]]
 
'''Crítica Bíblica''' é o "estudo e a investigação das escrituras bíblicas que procura discernir e discriminar julgamentos sobre essas escrituras".<ref>Harper's Bible Dictionary, 1985</ref> Ela pergunta quando e onde um [[texto]] particular se originou. Como, por quais razões, por quem, para quem, e em que circunstâncias ele foi produzido; que influências se expressam em sua produção; que fontes foram usadas em sua composição e a mensagem que o texto deveria passar.<ref>{{Citar web |url=http://en.wikipedia.org/wiki/Biblical_criticism#cite_ref-1 |título= Biblical Criticism|língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>
 
Ela também se interessa pela natureza do texto, incluindo o significado das palavras e a forma como são usadas, sua preservação, história e integridade. A crítica bíblica se vale de uma ampla gama de disciplinas acadêmicas, incluindo a [[arqueologia]], [[antropologia]], [[lingüística]], etc.
 
Linha 46 ⟶ 47:
 
=== Crítica Histórica ===
[[Ficheiro:Jerycho7.jpg|thumb|right| Sítio arqueológico de [[Jericó]]. Ao contrário do que diz o relato bíblico, a cidade não tinha [[muralhas]].<ref>{{Citar web |url=http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Jericho#Historicity |título= Battle of Jericho|língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref><ref>"Jericó era deserta na data bíblica da conquista. Os resultados de Kenyon foram confirmados em 1995 por testes de carbono (...)"</ref> ]]
 
O consenso historiográfico hoje é de que a [[Bíblia]] é um documento como outro qualquer para a construção da história dos [[hebreus]].<ref name="airtonjo.com"/><ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=QzOJ9nMlUJcC&dq=thomas+thompson&hl=pt-br&ei=vv3RTIEtwvfwBqHosd0M&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CCwQ6AEwAQ|título= The Mythic Past: Biblical archaeology and the myth of Israel|língua= inglês |autor= Thomas L. Thompson |obra= |data= |acessodata=}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=sbleiRdJgcsC&printsec=frontcover&dq=whitelam&hl=pt-br&ei=lADSTJvfPIO78gawiNTuDA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCQQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false|título= The invention of Ancient Israel: the silecing of Palestinian History|língua= inglês |autor= Keith W. Whitelam|obra= |data= |acessodata=}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://cosmiclog.msnbc.msn.com/_news/2008/11/18/4350632-bible-gets-a-reality-check|título= The Bibles get a reality check|língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref><ref>{{Citar web |url= http://books.google.com.br/books?id=4g9apDxKCXQC&printsec=frontcover&dq=Fran%C3%A7oise+Briquel-Chatonnet&hl=pt-br&ei=5ZDDTIqtI8St8AbGn5HSBg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCQQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false |título= Israel et Juda: Des Royaumes Parmi D’autres| língua= |autor= Françoise Briquel-Chatonnet|data= |acessodata=}}</ref><ref>{{Citar web |url= http://books.google.com.br/books?id=3AgZAQAAIAAJ&q=civilizations+of+the+ancient+near+east+sasson&dq=civilizations+of+the+ancient+near+east+sasson&hl=pt-br&ei=s5HDTKSPAoH78AanhvDKBg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCQQ6AEwAA|título= Civilizations of the Ancient Near East, v. II: Ahab of Israel and Jehoshaphat of Judah: The Syro-Palestinian Corridor in the Ninth Century. P. 1311 | língua= |autor= Joseph Blenkinsopp|data= |acessodata=}}</ref><ref name="fr.wikipedia.org">{{Citar web |url= http://fr.wikipedia.org/wiki/Donn%C3%A9es_arch%C3%A9ologiques_sur_David_et_Salomon|título= Données archéologiques sur David et Salomon| língua= |autor= |data= |acessodata=}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=lu6ywyJr0CMC&printsec=frontcover&dq=israel+finkelstein+bible+unearthed&hl=pt-br&ei=XFfCTJ5_w_rwBof3mZkH&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CC0Q6AEwAA#v=onepage&q&f=false|título= The Bible Unearthed. |língua= inglês |autor= israel Finkelstein & Neil Asher Silberman |data= |acessodata=}}</ref> Portanto, do ponto de vista historiográfico, a leitura da Bíblia envolve a mobilização de instrumentos de crítica que ajudem a ler o documento de forma objetiva – procedimento igualmente aplicado a qualquer tipo de estudo histórico. Como afirmou Herbert Niehr, “Como é o caso em todas as análises historiográficas, a história não pode ser simplesmente encontrada nas fontes. As fontes apenas providenciam o material a ser explorado. Para escrever historiografia ou história de uma religião não é suficiente recontar as fontes.” <ref>Herbert Niehr, The Rise of YHWH in Judahite and Israelite Religion</ref> Grande parte do debate entre maximalistas e minimalistas se situa em torno da existência ou não dos reinados de [[Davi]] e [[Salomão]], já que toda a história bíblica anterior à Monarquia é considerada uma construção póstuma.<ref>{{Citar web |url=http://fr.wikipedia.org/wiki/Donn%C3%A9es_arch%C3%A9ologiques_sur_la_conqu%C3%AAte_de_Canaan#cite_note-Recherche_391-3/acf/dt/5|título= Arqueologia e Conquista de Canaã |língua= francês |autor= |data= |acessodata=}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://fr.wikipedia.org/wiki/Donn%C3%A9es_arch%C3%A9ologiques_sur_l%27Exode_et_Mo%C3%AFse|título= Données archéologiques sur l'Exode et Moïse |língua= inglês |autor= Wikipédia |data= |acessodata=}}</ref> Para autores como Philip Davies e Thomas Thompson (tidos como minimalistas), o mais provável é que esses reinados sequer tenham existido, já que não existem fontes arqueológicas que corroborem a existência de uma grande unidade política na Palestina desse período.<ref name="fr.wikipedia.org"/> No entanto, William G. Dever, e Amihai Mazar (tidos como maximalistas) defendem a historicidade dos reis e seus reinos, embora em patamares muito mais modestos do que aqueles desenhados pelo relato bíblico. De toda a forma, as evidências arqueológicas do período são extremamente contrárias à existência de um Grande Reino hebraico nesse período. De acordo com o arqueólogo Amihai Mazar, “nos podemos descrever a Monarquia Unificada como um Estado num primeiro estágio de desenvolvimento, longe de ser um Estado rico e em larga extensão como retrata o relato bíblico” <ref>{{Citar web |url= http://books.google.com.br/books?id=jpbngoKHg8gC&pg=PA117&dq=the+search+for+david+and+solomon+amihay+mazar&hl=pt-br&ei=N5bDTPHDMsKB8ga98NXYBg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCkQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false|título= The Search for David and Solomon: An Archaeological Perspective, The quest for the Historical Israel| língua= inglês |autor= Amihai Mazar |data= |acessodata=}}</ref>. A ideia da criação dos mitos de Davi e Salomão é explorada detalhadamente por Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman <ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=uH7Kg9yEc7AC&pg=PA322&dq=davi+solomon+silberman&hl=pt-br&ei=tZPDTOiFAsP68Abi6o2ZBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CC4Q6AEwAA#v=onepage&q&f=false|título= David and Solomon: in search of the Bible’s sacred kings| língua= inglês |autor= Israel Finkelstein & Neil Asher Silberman |data= |acessodata=}}</ref>
Trabalhos sobre a inexistência dum estado centralizado israelense na época de Davi e Salomão foram realizados por Jessica N. Whisenant<ref>Jessica N. Whisenant, Writing, Literacy, and Textual Transmission: The Production of Literary Documents in Iron Age Judah and the Composition of the Hebrew Bible, op. cit.</ref>, David Ussishkin<ref>David Ussishkin, Solomon's Jerusalem : The Text and the Facts on the Ground, pp. 103-116, op. cit.</ref>, Nadav Na’aman <ref>Nadav Na’aman, Cow Town or Royal Capital? Evidence for Iron Age Israel, Biblical Archaeology Review 23, no.4, pp. 43-47 et p. 67 (1997). Nadav Na’aman, Sources and Composition in the History of David, pp. 170-186, in Origins of the Ancient Israelite States, edited by Volkmar Fritz and Philip R. Davies, Sheffield Academic Press (1996). Nadav Na’aman, The Contribution of the Amarna Letters to the Debate on Jerusalem’s Political Position in the Tenth Century B.C.E., Bulletin of the American Schools for Oriental Research, vol.304, pp. 17-27 (1996).</ref>, Margreet Steiner <ref>Margreet Steiner, The Evidence from Kenyon’s Excavations in Jerusalem: A Response Essay, pp. 347-363, in Jerusalem in Bible and Archaeology (2003). The First Temple Period. Edited by Andrew G. Vaughn and Ann E. Killebrew. Atlanta: Society of Biblical Literature. Margreet Steiner, Excavations by Kathleen M. Kenyon in Jerusalem, 1961-1967, vol.III, The Settlement in the Bronze and Iron Ages, Copenhagen International Series 9, London: Sheffield Academic Press, pp. 280-288 (2001).</ref>, Whitelam e Franken<ref>Keith W. Whitelam, Palestine during the Iron Age, pp. 391-425, in The Biblical World, edited by John Barton, New York : Routledge (2002).</ref>, Killebrew <ref>Ann E. Killebrew, Biblical Jerusalem: An Archaeological Assessment, pp. 329-345, in Jerusalem in Bible and Archaeology, The First Temple Period, edited by Andrew G. Vaughn and Ann E. Killebrew, Atlanta: Society of Biblical Literature (2003).</ref>, entre outros.
 
Para Philippe Abadie, é necessário ter em mente que a bíblia expressa a forma como os hebreus releram sua própria história, e explicita que a tarefa do historiador é confrontar documentos independentes buscando uma melhor compreensão dum objeto passado. E acrescenta: “Ora, nada disso aqui. Nenhum traço do êxodo nas fontes egípcias... nenhuma menção de um reino israelita poderoso no século X na documentação contemporânea... A Bíblia por único testemunho? Mas o testemunho é confiável?”.<ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=v2RBQQAACAAJ&dq=philippe+abadie+memoire+relecture&hl=pt-br&ei=k0nfTJD3JsP98AaT4fybDw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCQQ6AEwAA |título= La Bible entre mémoire et relecture|língua= inglês |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> Uma visão semelhante é encontrada em William Dever. Segundo ele, “Aparece com clareza suficiente que todas as histórias do Antigo Israel são agora obsoletas... No que me concerne, meu próximo livro será uma história do Israel Antigo escrita em grande parte sem recurso à Bíblia hebraica, fundamentada na maior parte do tempo sobre os ricos dados arqueológicos que possuímos hoje”.<ref>William G. Dever, Some Methodological reflections on Chronology and History Writing, p. 415 in The Bible and Radiocarbon Dating, op. cit.</ref>. Hans Barstad , por sua vez, criticou o tom positivista dos debates entre maximalistas e minimalistas, e sugeriu que os estudiosos se voltassem para a análise do gênero literário dos textos antes de tudo.<ref>{{Citar web |url=http://en.wikipedia.org/wiki/The_Bible_and_history#cite_ref-48|título= The Bible and History|língua= inglês |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>
 
Segundo Herbert Niehr, “a Bíblia apresenta apenas evidência secundária (ou até terciária) para tudo o que aconteceu antes do exílio. Fontes primárias para a história da Palestina antiga são fornecidas por todos os tipos de vestígios arqueológicos”.<ref>Herbert Niehr, The Rise of YHWH in Judahite and Iraelite Religion, pág. 47</ref> Segundo Philippe Abadie, “o relato bíblico é frequentemente recebido como documento de história – o que é invalidado por uma análise mais aprofundada” <ref>Philippe Abadie, L’histoire d’Israël entre mémoire et relecture. Les éditions Du cerf, 2009. Pág. 21</ref> Muitos autores, como Jean Soler, apontam as raízes ideológicas do relato bíblico como, por exemplo, no famoso relato do cerco de Jerusalém por Senaqueribe na época do reinado de Ezequias. Enquanto as fontes extra-bíblicas apontam para a humilhação do rei judeu perante os invasores (o rei teria feito aliança com Senaqueribe, tendo entregue riquezas e suas próprias filhas para livrar o cerco de Jerusalém) o relato hebreu possui uma natureza diferente. Segundo Soler “de acordo com a Bíblia, esse ato de aliança e o pagamento do tributo se situam depois da perda de “vilas fortificadas de Judá” (2 R 18, 13), notavelmente de Lakish, v 14, mas antes do cerco de Jerusalém, o que se torna, assim, incompreensível. Por que razões o rei Senaqueribe, que vinha obter de Ezequias tudo o que desejava, teria posto cerco a Jerusalém?” <ref>Jean Soler, L’invention Du monothéisme. Tome I. Hachètte Littératures, 2003. Pág.37</ref> Ainda segundo Jean Soler, "a arqueologia de Israel chegou à conclusão de que os hebreus não haviam colocado sua língua por escrito pelo menos até o século IX ou VIII a.C. Se Yahweh tivesse escrito de seu punho, em hebreu, os dez mandamentos sobre tabuletas de pedra, os hebreus não poderiam ter decifrado essa escrita por muitos séculos! É amplamente aceito hoje que o primeiro pedaço da Bíblia (a versão inicial de Deuteronômio), o quinto livro do Pentateuco atual, data do rei Josias que reinou em Jerusalem na segunda metade do século VII a.C., pouco antes da captura da capital por Nabucodonossor(...)"<ref>{{Citar web |url=http://www.aroumah.net/agora/soler-01-monotheisme.php#_ednref2|título= Pourquoi le Monothéisme? |língua= francês |autor= Jean Soler |obra= |data= |acessodata=}}</ref>