Murasaki Shikibu: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:Murasaki_Shikibu.jpg|thumb|Murasaki Shikibu - gravura de Kikuchi Yosai]]
Escritora japonesa, autora do clássico [[Genji Monogatari]] ou a '''História de Genji''', Murasaki Shikibu (978? - 1026?) nasceu na antiga capital do Império do Sol Nascente, dita Heian-Kyo, hoje [[Quioto]]. De Origemorigem aristocrática, '''Lady Murasaki''', como é conhecida no ocidente, viveu na corte do imperador '''Fujiwara no Michinaga''', que gorvenou o [[Japão]] no final do século X - época conhecida como o '''Período Heian'''.
Como em qualquer sociedade [[medieval]], as mulheres da corte japonesa, embora muito privilegiadas em comparação com as das classes mais baixas, estavam sujeitas a uma série de regras e limites. Além de totalmente isoladas do mundo externo, elas também viviam limitadas pela própria [[língua]], visto que desconheciam o vocabulário da linguagem culta, que era então de uso exclusivo dos eruditos do sexo masculino. A despeito das circunstâncias, um grupo de nobres japonesas talentosas criou a melhor [[literatura]] da época, dentre as quais Murasaki Shikibu é o nome mais eminente. No Japão do período Heian, assim como na [[Grécia]] clássica, no [[Islã]], na [[Índia]] pós-védica e na [[Europa]] medieval, as mulheres estavam proibidas de ler o que se considerava literatura séria: deviam restringir-se à diversão banal e frívola das novelas e fábulas que os eruditos confucianos desprezavam.
Mesmo que todas as bibliotecas da literatura chinesa e japonesa estivessem abertas para elas, as mulheres do período Heian não identificariam a realidade do seu cotidiano nas narrativas de autoria masculina. Portanto, em parte para ampliar o acervo da literatura feminina, e em parte para dar expressão à sua visão do mundo, elas criaram uma literatura própria. Para registrá-la, criaram também um estilo de [[escrita]] caracterizado pela transcrição [[fonética]] da língua que tinham permissão de falar, o ''Kanabungaku'', um japonês expurgado de quase todas influências de palavras chinesas. Essa língua escrita veio a ser conhecida como '''escrita das mulheres''' e, estando restrita à mão feminina, adquiriu, aos olhos dos homens que as dominavam, uma qualidade erótica.
Todavia a despeito das circunstâncias, coube inevitavelmente a um grupo de nobres japonesas talentosas criar a melhor [[literatura]] da época, dentre as quais Murasaki Shikibu é o nome mais eminente.
No Japão do período Heian, assim como na [[Grécia]] clássica, no [[Islã]], na [[Índia]] pós-védica e na [[Europa]] medieval, as mulheres estavam proibidas de ler o que se considerava literatura séria: deviam restringir-se à diversão banal e frívola das novelas e fábulas que os eruditos confucianos desprezavam.
Mesmo que todas as bibliotecas da literatura chinesa e japonesa estivessem abertas para elas, as mulheres do período Heian não identificariam a realidade do seu cotidiano nas narrativas de autoria masculina. Portanto, em parte para ampliar o acervo da literatura feminina, e em parte para dar expressão à sua visão do mundo, elas criaram uma literatura própria. Para registrá-la, criaram também um estilo de [[escrita]] caracterizado pela transcrição [[fonética]] da língua que tinham permissão de falar, o ''Kanabungaku'', um japonês expurgado de quase todas influências de palavras chinesas. Essa língua escrita veio a ser conhecida como '''escrita das mulheres''' e, estando restrita à mão feminina, adquiriu, aos olhos dos homens que as dominavam, uma qualidade erótica.
 
== O Legado Literário ==
Consta que além do monumental [[Genji Monogatari]], Lady Murasaki Shikibu escreveu um '''Diário''', onde com acuidade fez um registro e análise do monótono cotidiano de uma mulher nobre do período Heian. Mas foi, de fato, com a '''História de Genji''' que seu nome transpôs os muros do palácio imperial e se expandiu para além de sua época e país de nascimento. Com um estilo quase proustiano de escrever, ela hoje figura entre os grandes escritores da literatura universal, e o seu [[Genji Monogatari]] é tido como um clássico da literatura japonesa. Sua narrativa é fluente e dotada de agudeza psicológica, mas o enredo é longo (1.100 páginas na tradução de Edward G. Seidensticker) e um tanto complexo, pois requer extrema atenção do leitor devido ao número excessivo de personagens (além do príncipe Genji, há mais outros 50 personagens principais), logo, fica difícil não se perder.
 
 
Consta que além do monumental [[Genji Monogatari]], Lady Murasaki Shikibu escreveu um '''Diário''', onde com acuidade fez um registro e análise do monótono cotidiano de uma mulher nobre do período Heian. Mas foi, de fato, com a '''História de Genji''' que seu nome transpôs os muros do palácio imperial e se expandiu para além de sua época e país de nascimento.
Com um estilo quase proustiano de escrever, ela hoje figura entre os grandes escritores da literatura universal, e o seu [[Genji Monogatari]] é tido como um clássico da literatura japonesa. Sua narrativa é fluente e dotada de agudeza psicológica, mas o enredo é longo (1.100 páginas na tradução de Edward G. Seidensticker) e um tanto complexo, pois requer extrema atenção do leitor devido ao número excessivo de personagens (além do príncipe Genji, há mais outros 50 personagens principais), logo, fica difícil não se perder.
Não obstante a história é apaixonante e Genji lembra, em certas passagens, o [[Dom Juan]] de [[Lord Byron]]. Comparada a [[Jane Austen]] e [[Virginia Woolf]], Lady Murasaki é irônica e intimista, e às vezes parece antecipar [[Freud]] ao demonstar, sutilmente, como as transferências eróticas podem ser substituições de relacionamentos passados.
O crítico norte-americano, [[Harold Bloom]], que incluiu Lady Murasaki entre os 100 maiores gênios da literatura, disse que "a '''História de Genji''' está para cultura japonesa assim com [[Dom Quixote]] está para a cultura ocidental."