Barroco mineiro: diferenças entre revisões

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Chama-se '''Barroco mineiro''' a versão peculiar que o estilo [[Barroco]] desenvolveu no estado de [[Minas Gerais]], [[Brasil]], entre o início do [[século XVIII]] e o final do [[século XIX]]. O termo usualmente se refere à [[arquitetura]] desse período, mas teve expressões importantes também na [[escultura]] e na [[pintura]]. O termo ''Barroco mineiro'', porém, apesar de consagrado pelo uso, é uma formulação inexata, visto que boa parte da manifestação artística desse período em Minas Gerais aconteceu dentro da esfera do [[Rococó]], que muitos estudiosos consideram não um simples estilo barroco, mas uma escola independente.<ref name="primeiro">OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. [http://books.google.es/books?hl=pt-BR&lr=&id=Cw_po7q15qQC&oi=fnd&pg=PA11&dq=barroco+joanino&ots=ckbmrryG0G&sig=zqwAEA_kAk4siZbUtryHtQy3Uzk#PPA17,M1 ''O rococó religioso no Brasil'']. São Paulo: Cosac & Naify. 2003, 221-231</ref>
 
Alguns estudiosos têm defendido que, por volta de [[1760]], o estilo predominante em Minas teria sido o Rococó, especialmente em relação à elaboração das fachadas das edificações religiosas, ornamentação interior e a disposição quadrangular das igrejas. <ref name=”vainfas”>NEVES, Guilherme Pereira das; VAINFAS, Ronaldo (org.). ''Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808)''. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p.70</ref>. Por isso, a aplicação do termo é anacrônica, ou seja, fora do contexto em parte do período do Ciclo do Ouro.<ref name="grammont">[[Guiomar de Grammont|GRAMMONT, Guiomar de]]. ''Aleijadinho e o aeroplano - o paraíso barroco e a construção do herói colonial''. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, 320 p.</ref>
 
A pompa e a grandiosidade características do barroco são mais apropriadas neste caso para definir os rituais que a arquitetura.<ref name="uff">CUNHA, Alexandre Mendes. ''Vila Rica - São João del Rey: as voltas da cultura e os caminhos do urbano entre os séculos XVIII e XIX''. Dissertação (Mestrado em História Moderna e Contemporânea). [[UFF]], Niterói, 2002.</ref>
 
No campo musical igualmente encontramos equívocos conceituais longamente perpetuados pelo costume, pois a música desenvolvida em Minas nesse intervalo é na verdade mais próxima do [[Neoclassicismo]].<ref>MARIZ, Vasco. ''História da Música no Brasil''. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005, 6ª ed</ref> ou do pré-classico.<ref name=uff/>
 
A formulação de uma derivação característica do Barroco na região mineradora deveu-se ao súbito enriquecimento da região com a descoberta de grandes jazidas de ouro e diamantes e à criatividade dos mineiros no uso de técnicas, mão de obra e materiais próprios.<ref name="ada"/>
 
A decadência mineradora desta região, que sucedeu a sua prosperidade, foi um fator positivo para a conservação de suas edificações, pois desestimulou a reforma, desfiguração e demolição.<ref name="bazin"/> Segundo [[Germain Bazin]], tudo o que foi construído durante o ciclo do ouro mineiro, embora tenha sofrido algumas modificações, ainda existe, o que insere a região em um dos poucos exemplos de civilização artística que preservou seus elementos essenciais.<ref name="bazin">BAZIN, Germain. ''A arquitetura religiosa barroca no Brasil''. Rio de Janeiro: Record, 1983. v.2</ref>Ainda assim, segundo o Ministério Público Estadual, o estado já perdeu pelo menos 60% do seu patrimônio móvel, como imagens e peças de igrejas, assim como vê a deterioração de vários tempos, dada a falta de segurança e a adoação de políticas conservacionistas.<ref>LOPES, Valquiria; WERNECK, Gustavo (11 de maio de 2011). ''Rogai por elas...'', ''[[Estado de Minas]]'', Caderno ''Gerais''</ref>
 
O Barroco mineiro teve seu centro principal na antiga Vila Rica, hoje [[Ouro Preto]], fundada em [[1711]], mas também floresceu com vigor em [[Diamantina]], [[Serro]], [[Mariana]], [[Tiradentes]], [[Sabará]], [[São João del-Rei]], [[Congonhas]] e uma série de outras vilas e povoados mineiros.
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[[Ficheiro:Juliao06.JPG|thumb|[[Carlos Julião]]: ''Mineração de diamantes'', c. 1770]]
 
O apogeu do ouro na região favoreceu um rápido crescimento urbano e o uso da religião e da arte como instrumentos de controle visando conter uma ''"escandalosa relaxação de costumes''".<ref name="villalta">VILLALTA, Luiz Carlos. ''A Igreja, a sociedade e o clero''. In: ''História de Minas Gerais - As Minas Setecentistas''. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, p.60</ref>A instabilidade e a incerteza da exploração aluvionária incitavam a busca por algum tipo de assistência mútua.<ref name="boschi"/> Cabia aos leigos a organização a celebração dos ofícios, práticas religiosas e o exercício solidário, características incentivadas para a sobrevivência do sistema colonial durante o período de ligeira emergência dos núcleos urbanos.<ref name="boschi"/> Foi assim que as [[irmandades]] se consolidaram como formas de organização religiosa e social. Elas foram consolidadas mesmo antes do aparelhamento burocrático e militar da região.<ref name="outro"> BOSCHI, Caio César. ''Os leigos e o poder: irmandades leigas e política colonizadora em Minas Gerais''. São Paulo: Ática, 1986, p.22-32</ref><ref name="boschi"/>
 
Essas associações de leigos, fortalecidas pela proibição das ordens religiosas na região, foram as financiadoras do trabalho dos artífices, artistas e artesãos do período.<ref name="devocaoearte"/> Portanto, a quantidade expressiva de construções religiosas e o mecenato leigo devem ser compreendidos como aspectos indissociáveis do Barroco mineiro.<ref name="devocaoearte">OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira. ''A escola mineira de imaginária e suas particularidades''. In: COELHO, Beatriz. ''Devoção e arte: imaginária religiosa em Minas Gerais''. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005, p.15-20</ref><ref name="boschi">BOSCHI, Caio César. ''Irmandades, religiosidade e sociabilidade''. In: VILLALTA, Luiz Carlos; RESENDE, Maria Efigênia Lara de (orgs.). ''História de Minas Gerais'' – vol. 2. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, p.59-76</ref>.
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Quando o ouro começa a escassear, por volta de [[1760]], o ciclo cultural mineiro também entra em declínio, mas é quando o seu estilo típico chega à culminação com a obra de [[Aleijadinho]] e [[Mestre Ataíde]].
 
Somente no final do século XVIII e começo do século XIX, a situação financeira das irmandades ficou claramente combalida, em período coincidente com a decadência do Ciclo do Ouro, o que freou a emergência de novos templos opulentos e o patrocínio das artes.<ref name="boschi"/>.
 
Nos primeiros anos do [[século XIX]] a fase de esplendor de Minas já havia passado, embora o ciclo artístico do Barroco mineiro só possa ser considerado findo com a morte desses dois mestres, ocorrida respectivamente em [[1814]] e [[1830]].<ref>[http://www.csus.edu/indiv/o/oreyd/trilha/TrabalhofinaldeModelagem.paral.htm ''História de Ouro Preto''. California State University] </ref>
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Os contratos eram feitos: pelas matrizes ou catedral (em Mariana, a partir de 1745); pelas câmaras e entidades administrativas; e pelas confrarias, irmandades e ordens terceiras.<ref name="castagna"/>
 
Até a primeira metade do século XVIII, há indícios de que a composições musicais era escassas, e as músicas executadas eram sobretudo de autoria de compositores portugueses.<ref name="castagna"/> O ''Manuscrito de [[Piranga]]'', documento dessa época, relaciona 17 obras musicais em estilo renascentista, mas, também nesse período, há a inserção do barroco, embora, por estar fora de contexto, a música não possa ser chamada de barroca e ainda menos de colonial.<ref name="castagna"/>
 
Em 1780, dada a efervescência da atividade musical, havia mais músicos em Minas Gerais do que em Portugal inteiro, sobretudo mulatos que a partir dela ascendiam socialmente, situação imprevista pela Igreja, mas tolerada dada às possibilidades em território tão grande.<ref name="jcoelho">CASTAGNA, Paulo; COELHO, João Marcos (12 de novembro de 2011). ''[http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,a-pauta-restaurada-do-som-das-cidades,797620,0.htm A pauta restaurada do som das cidades]''. ''[[O Estado de S.Paulo]]'', acesso em 30 de novembro de 2011</ref>
 
A música mineira deste período pode ser descrita como "música na América portuguesa, ou nos séculos 18 e 19, ou ainda em música tridentina, já que essa é a liturgia que vigorou até 1904".<ref>PERPETUO, Irineu Franco. [http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/musica_5.htm ''Pesquisas relêem passado musical'']. Jornal ''[[Folha de S.Paulo]]''</ref>