Idácio de Chaves: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:Reino de Galicia Suevos.png|thumb|Reino da Galiza - Domínio dos Suevos.]]
'''Idácio de Chaves''' ([[Xinzo de Limia]], c.[[395]] - depois de [[468]]), também chamado '''Idácio de Límica''', por ser natural da ''ciuitas'' [[Roma Antiga|romana]] de ''Forum Limicorum'' (actual [[Xinzo de Limia]], na [[província]] [[Galiza|galega]] de [[província de Ourense|Ourense]]), foi um [[bispo]] e [[crónica|cronista]] hispano-romano do [[século V]].
 
== Vida ==
Era filho de um funcionário do [[imperador romano]] [[Teodósio]] (ele mesmo seu conterrâneo, dado ser também de origem [[Hispânia|hispânica]]). Conheceu [[Jerónimo de Strídon|São Jerónimo]] no seu mosteiro de [[Belém]] numa [[peregrinação]] que fez a [[Jerusalém]], cerca de [[410]]; cerca de [[417]] fez-se [[clero|clérigo]], e em [[427]] foi consagrado ''[[diocese de Aquae Flaviae|bispo de Aquæ Flaviæ]]'' (a moderna [[Chaves (Portugal)|Chaves]]), no [[Suevos|reino suevo]], cargo que deverá ter exercido até cerca de [[460]] (de resto é o único bispo que se conhece daquela cidade, que se julga que terá durado pouco enquanto [[diocese]]).
 
Deteve considerável influência política; tal como todos os bispos do seu tempo, era ele o verdadeiro senhor da cidade cabeça de [[diocese]] – não a podia abandonar, ao contrário dos senhores leigos, e era muitas vezes o seu defensor contra os [[migrações dos povos bárbaros|invasores bárbaros]].
 
Idácio assistiu aos últimos estertores do poder [[Roma Antiga|romano]], cada vez mais nominal, sobre a [[Gallaecia]], e ao triunfo dos [[Suevos]] [[paganismo|pagãos]] na região, na qual se haviam estabelecido a partir de [[411]]. Desde então que havia constantes fricções entre os Bárbaros e os Hispano-romanos autóctones.
 
Então, em [[431]], deslocou-se à [[Gália]] à frente de uma [[embaixada]] hispano-romana, a fim de requerer do [[general]] [[Flávio Aécio]] (então o mais importante general do [[Império Romano do Ocidente]] e representante do governo imperial na Gália, o qual viria a ser o vencedor de [[Átila, o Huno]] nos [[Campos Catalúnicos]]) auxílio contra os Suevos. Esse facto valeu aos Hispano-romanos a perseguição dos Bárbaros.
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Outra sua preocupação foi extirpar as [[heresia]]s, não apenas na sua diocese, mas em todo o solo hispânico; sabe-se que estabeleceu contactos frequentes com outros bispos importantes, como [[Toríbio de Astorga]] e [[Antonino de Mérida]]. Juntamente com Toríbio, solicitou ao [[Papa Leão I]] ([[440]]-[[461]]) ajuda e conselho para lidar com a heresia.
 
Embora Idácio caracterize os hereges da [[Hispânia]] como [[maniqueísmo|maniqueus]], crê-se que na realidade ele se quisesse referir aos [[priscilianismo|priscilianistas]], seguidores do bispo e [[ascetismo|asceta]] hispânico [[Prisciliano]], executado cerca de [[385]] por ordem do imperador [[Magno Máximo]] ([[383]]-[[388]]); a sua doutrina havia sido considerada herética em vários [[concílio]]s regionais, e os seus seguidores ferozmente perseguidos.
Pouco mais conhecemos do resto da vida de Idácio; sabe-se no entanto que foi sequestrado e encarcerado por uns meses em [[460]] pelos seus inimigos, o que sugere que de facto teve importante papel na política interna do reino suevo.
 
Pouco mais conhecemos do resto da vida de Idácio; sabe-se no entanto que foi sequestrado e encarcerado por uns meses em [[460]] pelos seus inimigos, o que sugere que de facto teve importante papel na política interna do reino suevo.
==Obra==
Idácio destacou-se também pela sua obra escrita. Tal como muitos outros na sua época, e à maneira de Jerónimo e de [[Eusébio de Cesareia]], começou a escrever uma ''Crónica'' (chamada também de ''Cronicão''), de grande interesse [[história|historiográfico]] (trata-se de resto a mais importante fonte para conhecer o [[século V]] [[Península Ibérica|peninsular]] e reconstruir o curso dos acontecimentos desse período obscuro); o género historiográfico estava então em grande voga entre os escritores [[cristianismo|cristãos]], procurando-se adaptar os acontecimentos ocorridos à história bíblica e à [[Deus|Providência Divina]].
 
== Obra ==
Idácio inicia a sua ''Crónica'' com um prólogo dedicado a São Jerónimo e no qual descreve a dívida que tem para com ele; passa então à descrição dos vários acontecimentos ocorridos na [[Hispânia]] entre o ano de [[379]] e o de [[468]] (julga-se que Idácio não terá tido oportunidade de terminar o seu trabalho, e por conseguinte, deve ter morrido nesse ano ou pouco depois, ao que parece na sua cidade natal de Límica). Na primeira parte (anos de [[379]] a [[427]]) as suas informações derivam dos testemunhos de outros sujeitos; de 427 em diante, narra os eventos como sua testemunha directa. Fala sobretudo do reino suevo no qual vivia, na heresia de [[Prisciliano]] que então varria a Península, assim como a invasão e repartição da Península entre os Bárbaros ([[Alanos]], [[Suevos]], [[Vândalos]] e [[Visigodos]]).
Idácio destacou-se também pela sua obra escrita. Tal como muitos outros na sua época, e à maneira de Jerónimo e de [[Eusébio de Cesareia]], começou a escrever uma ''Crónica'' (chamada também de ''Cronicão''), de grande interesse [[história|historiográfico]] (trata-se de resto a mais importante fonte para conhecer o [[século V]] [[Península Ibérica|peninsular]] e reconstruir o curso dos acontecimentos desse período obscuro); o género historiográfico estava então em grande voga entre os escritores [[cristianismo|cristãos]], procurando-se adaptar os acontecimentos ocorridos à história bíblica e à [[Deus|Providência Divina]].
 
Idácio inicia a sua ''Crónica'' com um prólogo dedicado a São Jerónimo e no qual descreve a dívida que tem para com ele; passa então à descrição dos vários acontecimentos ocorridos na [[Hispânia]] entre o ano de [[379]] e o de [[468]] (julga-se que Idácio não terá tido oportunidade de terminar o seu trabalho, e por conseguinte, deve ter morrido nesse ano ou pouco depois, ao que parece na sua cidade natal de Límica). Na primeira parte (anos de [[379]] a [[427]]) as suas informações derivam dos testemunhos de outros sujeitos; de 427 em diante, narra os eventos como sua testemunha directa. Fala sobretudo do reino suevo no qual vivia, na heresia de [[Prisciliano]] que então varria a Península, assim como a invasão e repartição da Península entre os Bárbaros ([[Alanos]], [[Suevos]], [[Vândalos]] e [[Visigodos]]).
Idácio teve acesso a várias fontes históricas e cronográficas (embora não possamos precisar exactamente quantas), e chegou a usar quatro sistemas cronológicos paralelos – o que causa, sobretudo na parte final da sua ''Crónica'', grandes dúvidas quanto à datação correcta dos acontecimentos narrados. A narração dos acontecimentos tende a ser bastante sucinta para os primeiros anos, mas, à medida que vai avançando, oferece um número cada vez maior e mais completo de informações – não se trata de uma crónica típica, antes de uma cronografia orgânica permanentemente actualizada até à sua morte (sobretudo nos anos posteriores a [[427]], em que narra os factos ''per se'').
 
Idácio teve acesso a várias fontes históricas e cronográficas (embora não possamos precisar exactamente quantas), e chegou a usar quatro sistemas cronológicos paralelos – o que causa, sobretudo na parte final da sua ''Crónica'', grandes dúvidas quanto à datação correcta dos acontecimentos narrados. A narração dos acontecimentos tende a ser bastante sucinta para os primeiros anos, mas, à medida que vai avançando, oferece um número cada vez maior e mais completo de informações – não se trata de uma crónica típica, antes de uma cronografia orgânica permanentemente actualizada até à sua morte (sobretudo nos anos posteriores a [[427]], em que narra os factos ''per se'').
Ao longo da ''Crónica'', a principal preocupação de Idácio é demonstrar a dissolução da sociedade, e em particular a desagregação do próprio [[Império Romano]] na [[Hispânia]]. Pinta um quadro negro da vida do [[século V]], que bem poderia advir da sua crença iminente no fim do [[Mundo]], com a segunda vinda de [[Cristo]] – tal como relatado numa carta [[livros apócrifos|apócrifa]] do [[apóstolo]] [[São Tomé (apóstolo)|Tomé]] que Idácio terá lido, e onde se dizia que o mundo acabaria em Maio de [[482]]. Se Idácio realmente acreditava que estava a escrever a sua ''Crónica'' pouco antes do fim do Mundo, então não é de estranhar o pessimismo demonstrado na sua escrita.
 
Ao longo da ''Crónica'', a principal preocupação de Idácio é demonstrar a dissolução da sociedade, e em particular a desagregação do próprio [[Império Romano]] na [[Hispânia]]. Pinta um quadro negro da vida do [[século V]], que bem poderia advir da sua crença iminente no fim do [[Mundo]], com a segunda vinda de [[Cristo]] – tal como relatado numa carta [[livros apócrifos|apócrifa]] do [[apóstolo]] [[São Tomé (apóstolo)|Tomé]] que Idácio terá lido, e onde se dizia que o mundo acabaria em Maio de [[482]]. Se Idácio realmente acreditava que estava a escrever a sua ''Crónica'' pouco antes do fim do Mundo, então não é de estranhar o pessimismo demonstrado na sua escrita.
 
Isso tê-lo-á levado, sem dúvida, a descrever de modo muito obscuro certos acontecimentos que constituem o verdadeiro clímax da sua narração – como por exemplo, o [[saque]] da capital suévica, [[Braga]], no ano de [[456]], pelo rei visigodo [[Teodorico II]] (actuando este ao serviço do [[imperador romano]] [[Avito]]).
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Esta obra, pelo seu estilo, constitui a primeira do género na Península, e antecede (se é que não inspirou) em cerca de cento e cinquenta anos a famosa ''[[Historia de regibus Gothorum, Vandalorum et Suevorum]]'' de [[Isidoro de Sevilha|Santo Isidoro de Sevilha]].
 
São-lhe também atribuídos, embora com reservas, os "''Fasti consulares''" dos anos de 245 ''[[ab urbe condita]]'' ([[508 a.C.]]) a [[468|468 d.C.]], adicionados à ''Crónica'' em ocasião posterior.
 
== {{Ligações externas}} ==
* {{link|en|2=http://www.newadvent.org/cathen/07592a.htm| |3=Enciclopédia católica: Hydatius of Lemica}}
 
{{Comeca caixa}}
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{{biografias}}
 
{{DEFAULTSORT:Idacio Chaves}}
[[Categoria:Antiguidade Tardia]]
[[Categoria:Hispano-romanos]]