Clementina de Orléans: diferenças entre revisões

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'''Maria Clementina Leopoldina Carolina Clotilde de Orléans''' (em [[idioma francês|francês]]: ''Marie Clémentine Léopoldine Caroline Clotilde d'Orléans'') ([[Neuilly-sur-Seine]], [[6 de março]] de [[1817]] — [[Viena]], [[16 de fevereiro]] de [[1907]]), também chamada ''Mademoiselle de Beaujolais'',<ref name= "Defrance1">Defrance, p. 14</ref> foi uma princesa de Orléans{{Nota de rodapé|Um decreto real, assinado por Luís Filipe I em 13 de agosto de 1830, definia a forma como seus filhos e sua irmã continuariam a ostentar o nome e as armas da [[Casa de Orléans]]:<br />''"Ordonnance du roi qui '''détermine les noms et titres''' des princes et princesses de la famille royale.<br /> LOUIS PHILIPPE ROI DES FRANÇAIS, à tous présens et à venir, salut.<br /> Notre avènement à la couronne ayant rendu nécessaire de déterminer les noms et les titres que devaient porter à l'avenir les princes et princesses nos enfans, ainsi que notre bien-aimée sœur,<br /> Nous avons ordonné et ordonnons ce qui suit :<br /> Les princes et princesses nos bien-aimés enfans, ainsi que notre bien-aimée sœur, '''continueront à porter le nom et les armes d'Orléans'''.<br /> Notre bien-aimé fils aîné, le duc de Chartres, portera, comme prince royal, le titre de duc d'Orléans.<br /> Nos bien-aimés fils puînés conserveront les titres qu'ils ont portés jusqu'à ce jour.<br /> Nos bien-aimées filles et notre bien-aimée sœur ne porteront d'autre titre que celui de '''princesses d'Orléans''', en se distinguant entre elles par leurs prénoms.<br /> Il sera fait, en conséquence, sur les registres de l'état civil de la Maison royale, dans les archives de la Chambre des Pairs, toutes les rectifications qui résultent des dispositions ci-dessus [...].''"}} por nascimento, princesa de [[Saxe-Coburgo-Gota]] e duquesa de Saxe pelo casamento.
 
Referida como uma das princesas mais inteligentes de seu tempo, Clementina também era tida como extremamente ambiciosa e seu maior sonho era tornar-se rainha. Contudo, seu pai era visto como um usurpador por quase toda a realeza européiaeuropeia e este foi o principal obstáculo às negociações de casamento com um monarca ou um príncipe-herdeiro. Somente com a intervenção de seu cunhado, o rei [[Leopoldo I da Bélgica]], foi possível encontrar um pretendente à mão da princesa: o príncipe [[Augusto de Saxe-Coburgo-Gota|Augusto]], herdeiro do ramo católico de [[Casa de Koháry|Koháry]] da [[Casa de Saxe-Coburgo-Gota]].
 
Clementina jamais tornou-se rainha, mas procurou realizar seu sonho através de seus filhos. Dois deles chegaram a ser cogitados como possíveis herdeiros do trono da [[Reino da Grécia|Grécia]], outro como provável consorte da herdeira do trono do [[Império do Brasil|Brasil]], mas todos os planos malograram. A escolha de seu filho mais novo como príncipe-regente da [[Principado da Bulgária|Bulgária]] - cuja candidatura contou com seu apoio ostensivo - seria o triunfo de seus ideais juvenis. Entretanto, a princesa não realizou o sonho de ver um filho seu tornar-se monarca: [[Fernando I da Bulgária|Fernando]] só se tornaria o primeiro czar da Bulgária em 1908, um ano após a morte da mãe.
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Clementina era a sexta filha (quarta varoa) do rei [[Luís Filipe I de França]] e de [[Maria Amélia de Bourbon-Nápoles]]. Seus avós paternos foram [[Luís Filipe II, duque de Orleães|Luís Filipe II, duque de Orléans]] e [[Luísa Maria Adelaide de Bourbon|Luísa Maria de Bourbon]] e seus avós maternos foram o rei [[Fernando I das Duas Sicílias]]{{Nota de rodapé|À época de seu nascimento, seu pai ainda ostentava o título de Fernando IV de Nápoles.}} e a arquiduquesa [[Maria Carolina da Áustria]] (filha da imperatriz [[Maria Teresa da Áustria|Maria Teresa]]). Nascida no Castelo de Neuilly, Clementina teve como padrinhos de batismo seu tio Leopoldo, príncipe de Salerno, e sua esposa, a arquiduquesa [[Maria Clementina da Áustria (1798-1881)|Maria Clementina da Áustria]]<ref name= "Defrance1"/>{{nota de rodapé|Maria Clementina era filha de [[Francisco I da Áustria]] e tinha entre seus irmãos [[Maria Luísa de Áustria|Maria Luísa, imperatriz da França]], [[Fernando I da Áustria|Fernando I, imperador da Áustria]], [[Maria Leopoldina de Áustria|Maria Leopoldina, imperatriz do Brasil]] e Maria Carolina, rainha da Saxônia.}}.
 
Descrita como uma bela jovem,<ref>Defrance, 19</ref><ref name= "Sidney1">''The Sydney Gazette and New South Wales Advertiser'', "From the Latest London Papers", 13 September 1836, p. 3</ref>{{nota de rodapé|Henriqueta da Bélgica, duquesa de Vendôme, registrou que a beleza de Clementina teria fascinado o rei [[Carlos X de França|Carlos X]] a ponto deste ter declarado a Luís Filipe: ''"Senhor meu Primo, tivesse eu 40 anos menos, pediria sua filha em casamento e a faria Rainha de França!"'' (Defrance, p. 25)}} Clementina teve entre seus professores o radical historiador [[Jules Michelet]], oriundo de uma família de tradições huguenotes, que glorificava a [[Revolução Francesa]] enquanto lhe ensinava história à ela.<ref>Mansel, p. 311</ref> Tornou-se princesa real logo depois da ascensão de seu pai ao trono francês, em [[1830]] - a chamada [[Monarquia de Julho]].
 
===Casamento===
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No exílio, Clementina iniciou uma campanha com o objetivo de recuperar os bens da família, arrestados por um decreto de [[Napoleão III de França|Luís Napoleão]], utilizando-se de cartas dirigidas à imprensa francesa.<ref>''The Moreton Bay Courier'', "British and Foreign", 1 November 1856, p. 4</ref> Neste período, recusou publicamente a oferta de 200 mil francos oferecidos pelo imperador francês, em troca da reclamada herança de Luís Filipe.<ref>''News of the World'', "Protest of the Princess Clémentine", 13 July 1856, p. 2</ref>
 
Ciente de que jamais se tornaria rainha, Clementina tentou realizar seu sonho através de seus filhos. De fato, [[Fernando Filipe de Saxe-Coburgo-Gota|Filipe]] e [[Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota|Luís Augusto]] chegaram a ser cogitados como herdeiros presuntivos de seu tio, [[Ernesto II, Duque de Saxe-Coburgo-Gota|Ernesto II]], quando este surgiu como provável candidato ao trono da [[Reino da Grécia|Grécia]].<ref>Defrance, pp. 198-200</ref>{{nota de rodapé|A série de exigências feitas por Ernesto II para aceitar o trono grego levaram-no a perder o apoio das potências européiaseuropeias à sua candidatura. O candidato escolhido em junho de 1863 foi o príncipe [[Jorge I da Grécia|Jorge da Dinamarca]], filho do rei [[Cristiano IX da Dinamarca|Cristiano IX]]. (Defrance, ''op. cit.'')}} Pouco depois, Luís Augusto, juntamente com seu primo [[Gastão de Orléans, Conde d'Eu]], seguiram para o Brasil, como pretendentes às mãos das princesas [[Isabel do Brasil|Isabel]] e [[Leopoldina de Bragança e Bourbon|Leopoldina]], filhas do imperador [[Pedro II do Brasil|dom Pedro II]].<ref>Defrance, pp. 204-205</ref> As esperanças de Clementina renovaram-se, pois as negociações de casamento apontavam para o casamento de Luís Augusto com a [[Príncipe Imperial do Brasil|Princesa Imperial]], futura imperatriz reinante do Brasil. Entretanto, dom Pedro II deixou a escolha dos noivos a cargo das filhas e dona Isabel decidiu-se por Gastão de Orléans.<ref>Barman (2002), p. 58</ref><ref>Barman (1999), pp. 156-157</ref><ref>Defrance, pp. 206-207</ref><ref>Longo, pp. 113-117</ref>{{nota de rodapé|Sobre a escolha dos noivos, a princesa Dona Isabel registraria mais tarde: ''"Papai desejava essa viagem, tendo em mira nossos casamentos. Pensava-se no Conde d'Eu para minha irmã e no Duque de Saxe para mim. Deus e os nossos corações decidiram diferentemente, e a 15 de outubro tinha eu a felicidade de desposar o Conde d'Eu."'' Bragança (1959), pp. 74-75}}
 
===O trono búlgaro===
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Em 1886, a renúncia de [[Alexandre I da Bulgária|Alexandre de Battenberg]] como ''Knyaz'' ([[Príncipe-Regente]]) da [[Reino da Bulgária|Bulgária]]<ref name="Finestone">Finestone, p. 227</ref> reavivou as expectativas de Clementina de ver um de seus filhos ocupando um trono. Participou ativamente da campanha em prol da candidatura de [[Fernando I da Bulgária|Fernando]], seu filho mais novo, divulgando amplamente suas qualidades, como a educação esmerada, a fluência em diversos idiomas e o interesse pelas ciências - atributos que, segundo ela, fariam de Fernando um excelente rei.<ref>Ilchev, I., Kolev, V. & Yanchev, V., p. 55</ref> Com o apoio da Áustria, Fernando tornou-se o novo ''Knyaz'' da Bulgária em 1887.<ref name="Finestone"/>{{nota de rodapé|A candidatura do príncipe não era apoiada pela [[Império Russo|Rússia]] nem pela [[Grã-Bretanha]]. A rainha [[Vitória do Reino Unido|Vitória]] considerava-o ''"impróprio, delicado, excêntrico e efeminado"'' e chegou a encarregar seu primeiro-ministro de frear a candidatura do primo. (Aronson, p. 83)}}{{nota de rodapé|Fernando ocuparia este posto até 1908, quando proclamou formalmente a independência búlgara do [[Império Otomano]] e tornou-se ''Czar'' com o título de Fernando I. (Finestone, ''op. cit.'')}}
 
Clementina acompanhou o filho quando este instalou-se na Bulgária. Extremamente rica, a princesa tornou-se bastante popular em sua pátria adotiva, por suas vultosas doações - como os 4 milhões de francos doados para a conclusão de uma estrada de ferro que integrava a Bulgária à rede ferroviária da Europa - e pelo financiamento de instituições públicas - como a construção de uma escola para cegos e do Hospital Klimentinskata, além da Cruz Vermelha Búlgara, fundada e mantida por ela.<ref>Constant, pp. 107-108</ref> Entretanto, sua tentativa de introduzir um código de etiqueta "à francesa" na simplória corte búlgara, bem como seu desdém por quem não tinha sangue real, também lhe trouxeram fama de arrogante.<ref>Radziwell, p. 137</ref> Referida como ''"uma das mais inteligentes princesas reais da Europa"'', Clementina era conhecida por sua ''"mente perspicaz e uma compreensão notável da política européiaeuropeia e da diplomacia"'', sendo, muitas vezes, enviada como representante de Fernando I em missões diplomáticas em toda a Europa.<ref>''The London Journal'', "Princess Clementine of Orleans", 8 July 1893, p. 11</ref>
 
Em fevereiro de 1896, numa tentativa de reconciliação com a Rússia, Fernando permite a conversão de seu filho mais velho e herdeiro [[Bóris III da Bulgária|Bóris]] (batizado na [[Igreja Católica Apostólica Romana|Igreja Católica Romana]]) à [[Igreja Ortodoxa Búlgara]] - ato que rendeu ao ''Knyaz'' o rompimento de relações com sua mãe e seus familiares católicos (especialmente o imperador [[Francisco José I da Áustria]]) e a [[excumunhão]] pela [[Santa Sé]].<ref>''The Brisbane Courier'', "Baptism of Prince Boris", 8 February 1896, p. 5</ref> Posteriormente, como Fernando batizasse seus outros filhos como católicos, foi possível uma reconciliação com sua mãe.<ref>Constant, p. 183</ref>