Kitsch: diferenças entre revisões

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Moles acrescentou a estes traços os de propósito [[hedonista]] e ocasionalmente humorístico, alguma dose de [[surrealismo]], alienação, dependência da indústria (é um produto), autenticidade no que se propõe (espontaneidade), heterogeneidade, [[sinestesia|percepção sinestésica]], mediocridade (no sentido de que se adeqúa ao gosto médio e é por isso democrático), universalidade, ofelimidade, urbanidade e permanência, dizendo jocosamente que ele é tão permanente quanto o [[pecado]].<ref>Moles, pp. 10-11; 26-27; 32; 38; 40; 61; 74</ref> Além disso, Călinescu assinalou que o kitsch pode aparecer somente na dependência de contextos específicos, sem que seus objetos constituintes o sejam, remetendo ao princípio de ''inadequação estética'' com característico do kitsch e dando como exemplo hipotético a instalação de um autêntico quadro de [[Rembrandt]] no elevador de uma residência milionária. Outros exemplos podem ser materiais descartados usados como decoração, tais como livros estragados, cartões-postais velhos, banheiras antigas enferrujadas e assim por diante.<ref>Călinescu, p. 236</ref>
 
Desde os louvores de [[Rimbaud]] ao "lixo poético" e às "pinturas estúpidas", passando pelas irreverências [[dadaísta]]s e as extravagâncias oníricas dos [[surrealista]]s, a arte de [[vanguarda]] no século XX primou pelo uso de uma enorme variedade de procedimentos heterodoxos no intuito de derrubar todas as tradições e questionar as bases da própria arte, emprestando-os diretamente do kitsch por suas virtudes irônicas e iconoclastas.<ref name="Călinescu1"/> Neste processo em que o kitsch foi incorporado pela vanguarda ao universo da arte culta, a produção da [[academicismo|arte acadêmica]], antes a forma culta dominante, se tornou reversamente sinônimo de kitsch, acusada de artificial, previsível, estereotipada, banal, sentimental, mercantilista e insensível às demandas por uma nova sociedade.<ref>Banes, Sally. ''Greenwich Village 1963: avant-garde performance and the effervescent body''. Duke University Press, 1993, p. 104 </ref><ref> Guilbaut, Serge. ''How New York stole the idea of modern art: abstract expressionism, freedom, and the cold war''. University of Chicago Press, 1985, p. 36 </ref><ref>Macdonald, Duwight. "A Theory of Mass Culture". In: Peters, John Durham & Simonson, Peter. ''Mass communication and American social thought: key texts, 1919-1968''. Rowman & Littlefield, 2004, p. 346</ref>
 
Quando a vanguarda afinal entrou na moda, isso em meados do século, o kitsch passou a ganhar uma espécie de prestígio negativo, mesmo entre os círculos intelectuais mais sofisticados. Então ele foi incorporado pela [[cultura camp]], onde o mau gosto era cultivado deliberadamente como se fosse um refinamento superior. Susan Sontag cristalizou esta filosofia na frase "é belo porque é feio", que veio a se tornar uma corrente de grande peso na cultura norteamericana do pós-guerra, e dali passou a influenciar uma verdadeira ressurreição do kitsch em larga escala, chegando a ganhar espaço em alguns museus respeitados, redimido pela sensibilidade camp.<ref name="Călinescu1">Călinescu, pp. 229-230</ref> Ao mesmo tempo, a [[arte pop]] também o tomou como referência importante, num período em que a [[massificação]] da cultura começava a se tornar um fenômeno global e se tornava tema artístico por si mesma. Vários artistas destacados desta escola, como [[Andy Warhol]], [[Roy Liechtenstein]] e [[Richard Hamilton (artista plástico)|Richard Hamilton]], incorporaram, como crítica social ou como humor, traços kitsch e [[ícone]]s populares em suas obras, tais como fragmentos de [[história em quadrinhos|histórias em quadrinhos]] e imagens de astros do cinema, contribuindo para tornar a arte culta mais acessível às massas e livrar um pouco o kitsch de suas conotações negativas.<ref name="Razo">Razo, José Luis Mejía. ''The Greenberg Paradox: the effects of Modernism and Kitsch in Contemporary art''. Instituto Tecnologico y de Estudios Superiores de Monterrey (ITESM), dez 2009, s/pp. </ref>