Língua caingangue: diferenças entre revisões

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A '''língua caingangue''' (pronunciada '''caingáng'''), também chamada '''jê'''<ref>''Museu do Índio recebe líder da Terra Indígena de Mangueirinha(PR)''. SERCE/MI. Disponível em http://www.museudoindio.org.br/template_01/default.asp?ID_S=29&ID_M=668. Acesso em 11 de agosto de 2012.</ref> e '''kaigang'''<ref>MUNDURUKU, D. ''Contos indígenas brasileiros''. Ilustrações de Rogério Borges. Segunda Edição. São Paulo. Global. 2005. p. 43</ref>, é uma língua [[Povos indígenas do Brasil|indígena]] falada nos [[Unidades federativas do Brasil|estados]] de [[São Paulo]], [[Paraná]], [[Santa Catarina]] e [[Rio Grande do Sul]], no [[Brasil]]. Ela pertence à [[família linguística]] [[jê]]<ref><!--
-->{{cite book
|last = Rodrigues
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|language = Portuguese
}}<!--
 
--></ref>. A nação caingangue tem cerca de 30 000 pessoas, das quais cerca de 62,5 por cento falam essa língua. A maior parte de sua população também fala [[Língua portuguesa|português]].
{{Incubadora|code=kgp|language=língua caingangue}}
 
== Cultura ==
A linguagem caingangue é classificada como um membro da [[família linguística]] [[]], a maior família linguística do [[tronco linguístico|]] [[macro-jê]]. O tradicional território caingangue é ocupado atualmente pelos [[Unidades federativas do Brasil|estados]] de [[São Paulo]], [[Paraná]], [[Santa Catarina]] e [[Rio Grande do Sul]], no [[Brasil]]. Hoje, eles vivem em aproximadamente trinta aldeias, principalmente no Paraná e no Rio Grande do Sul.
 
A linguagem caingangue é classificada como um membro da família jê, a maior família linguística do [[tronco linguístico|macro-jê]]. O território caingangue é ocupado atualmente pelos [[Unidades federativas do Brasil|estados]] de [[São Paulo]], [[Paraná]], [[Santa Catarina]] e [[Rio Grande do Sul]], no [[Brasil]]. Hoje, eles vivem em aproximadamente trinta aldeias, principalmente no Paraná e no Rio Grande do Sul.
 
 
== Primeiros contatos ==
 
Os primeiros contatos oficiais, amistosos e reconhecidos com comunidades caingangues pela sociedade portuguesa aconteceram nos campos de [[Guarapuava]], no centro do [[Paraná]], a partir de [[1812]] (cf. D'Angelis 1984:8 - 10). Na sequência, estabeleceram-se contatos (por conta, obviamente, da invasão e da ocupação do território indígena) com os caingangues das regiões sul-riograndenses de [[Nonoai]], em ([[1845]]), de [[Guarita]], em ([[1848]]) e do nordeste do [[Rio Grande do Sul]], em ([[1850]]), além das regiões paranaenses de [[Palmas]], em ([[1839]]), do norte do Paraná, em ([[1859]]), do extremo oeste paranaense, em ([[1880]]) e assim sucessivamente. Os últimos grupos forçados às relações pacíficas com os brasileiros foram os caingangues paulistas, da região dos rios [[Rio Feio|Feio]] e [[Rio Aguapeí|Aguapeí]].
 
Desde os primeiros contatos, os caingangues foram alvo de ações catequéticas pela [[Igreja Católica]]. De fato, ao tempo do império, isso era parte da política indigenista oficial. A expedição militar que ocupou Guarapuava contava com o capelão Francisco das Chagas Lima (que antes missionara os [[puri]]-[[coroados]], em [[São Paulo]]) e que, desde o primeiro momento, buscou catequizar os caingangues. No Rio Grande do Sul, poucos anos após o estabelecimento dos primeiros aldeamentos dos caingangues, [[Companhia de Jesus|jesuítas]] liderados pelo padre Bernardo Parés atuaram na catequese da gente de Nonoai, de Guarita e de Votouro. No norte do Paraná, a partir das iniciativas mais permanentes de ocupação brasileira no vale do [[Tibagi]], o governo provincial determinou a fundação de um aldeamento em [[São Jerônimo]], com a catequese entregue a [[capuchinhos]] italianos (o mais conhecido deles, frei Timóteo de Castellnuovo). E foi um capuchinho italiano, frei Mansueto Barcatta de Val Floriana, no início do século XX, o responsável pelo primeiros trabalhos de fôlego sobre a língua caingangue: uma gramática e um vasto dicionário (Floriana [[1918]] e [[1920]]). Antes dele, apenas se contam com vocabulários (alguns, de certa extensão e interesse).
 
Nos anos 1940, surgiram trabalhos mais acurados, ainda que menos volumosos, na linha da linguística histórico-comparativa, assinados por [[Mansur Guérios]] ([[1942]] e [[1945]]). Na sequência dele, merecem registro os estudos de [[Wanda Hanke]], tanto do [[xoclengue]] (Hanke [[1947]]) como do caingangue norte-paranaense (Hanke [[1950]]).
 
No final dos anos 1950, instalou-se, na divisa da área indígena de [[Rio das Cobras]], no sudoeste do Paraná, a missão e centro de pesquisa linguística do [[SIL International|Summer Institute]]. A língua caingangue passou a ser estudada, ali, por [[Ursula Wiesemann]] (e, ao que parece, posteriormente, por [[Gloria Kindell]]). Em [[1959]], por exemplo, um primeiro estudo foi tornado público, em reunião da ABA,[[Associação Brasileira de Antropologia]]: era intitulado ''"Notas sobre o protocaingangue: um estudo de quatro dialetos''" (cf. Wiesemann 1959). Durante os anos 1960, Wiesemann preparou material de ensino da língua caingangue para missionários (Wiesemann [[1967]]) e, finalmente, estabeleceu uma sugestão de ortografia oficial e iniciou a produção de cartilhas para alfabetização em caingangue. Estabeleceu-se, então, um convênio envolvendo a [[FunaiFundação Nacional do Índio]], o [[SIL International]] e a [[IECLB]] ([[Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil]]) e criou-se a primeira escola para formação de “monitores"monitores bilíngues”bilíngues" na área de [[Guarita (RSterra indígena)|Guarita]], no Rio Grande do Sul. Iniciou-se, assim, um dos primeiros programas de educação escolar indígena bilíngue no Brasil, mas numa perspectiva claramente transicional, em que a língua indígena não recebeu valorização. Ao contrário, serviu apenas de ponte para o ensino em português. Em contato permanente com as comunidades caingangues do oeste de [[Santa Catarina]], norte do Rio Grande do Sul e sudoeste do Paraná desde [[1977]], o pesquisador que assina este texto avalia que a introdução desse tipo de ensino bilíngue acelerou um processo de abandono da língua pelas gerações caingangues mais jovens (cf. D'Angelis 2002a).