José Teófilo de Jesus: diferenças entre revisões

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'''José Teófilo de Jesus''' ([[Salvador (Bahia)|Bahia]], [[1758]] — Salvador, 19 de julho de [[1847]]) foi um [[pintor]] e [[decorador]] [[brasil]]eiro, um dos grandes representantes da escola baiana de [[pintura barroca]] e de toda a pintura colonial brasileira.
 
===Vida===
Pouco se sabe sobre sua vida e muitas de suas obras são-lhe atribuídas somente pela tradição, não havendo muitos registros documentais. Nasceu na Bahia e era mulato, filho de Antônio Feliciano Borges e Josefa de Santana. Deve ter iniciado sua carreira em torno de 1775, como discípulo de [[José Joaquim da Rocha]]. Em 1788 entrou para o serviço militar, com o posto de Porta-bandeira do 4º Regimento de Artilharia de Salvador, e nesta época já devia ser um profissional da pintura. Em 9 de junho de 1793 foi contratado pela [[Sé de Salvador]] para fazer quatro pinturas para a Capela do Santíssimo Sacramento, recebendo 60$000 réis.<ref>Campos (2003) vol. I, Maria de Fátima Hanaque. ''A Pintura Religiosa na Bahia, 1790-1850, Vol I''. Tese de Doutorado em Letras. Universidade do Porto, 2003, pp. 32; 304</ref><ref name="Campos">Campos (2010), Maria de Fátima Hanaque. [http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rcvisual/article/viewFile/3806/3187 "Revisão à Escola Baiana de Pintura: um estudo sobre o pintor José Teófilo de Jesus"]. In: ''Cultura Visual'', n. 13, maio/2010, Salvador: EDUFBA, p. 25-37</ref>
 
Em 1794, patrocinado pelo seu mestre, de quem era o discípulo predileto, viajou para [[Lisboa]] a fim de se aperfeiçoar, recomendado aos cuidados do Capitão Basílio de Oliveira Vale. Na Metrópole estudou na [[Aula Régia de Desenho]], onde foi aluno de [[Pedro Alexandrino de Carvalho]], por quem foi muito influenciado, tendo contato também com a obra do famoso italiano [[Pompeo Batoni]], que trabalhava na [[Basílica da Estrela]], além de provavelmente estudar a produção localde outros portugueses e estrangeiros influentes, como [[Vieira Lusitano]] e [[Rubens]], cujas obras eram acessíveis em igrejas e outros edifícios da capital.<ref name="Campos"/><ref>Campos (2003) vol. I, p. 47</ref>
 
Voltou a Salvador em 1801, e no ano seguinte seus serviços foram requisitados pela Ordem Terceira de São Francisco. Para ela pintou quatro painéis, ao custo de 80$000rs. Casou em 20 de fevereiro de 1808, com Vicência Rosa de Jesus, preta forra, natural da [[Costa da Mina]]. Trabalhou em uma quantidade de igrejas, deixando importantes obras de douramento de [[talha]] e pintura em tetos e painéis.<ref name="Campos"/><ref name="Itaú">[http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3394&lst_palavras=&cd_idioma=28555&cd_item=3 "Jesus, Teófilo de (1758 - 1847)"]. In: ''Enciclopédia Itaú Cultural''</ref><ref>Campos (2003) vol. I, p. 304</ref> Em 1826 executou uma série de 23 retratos de [[santo]]s, [[beato]]s e eminentes da [[ordem dos Capuchinhos]]. Em 1834 faz douramento e telas para a Igreja do Pilar, e entre 1836 e 1837 criou seis quadros para a [[Igreja de Nosso Senhor do Bonfim]], e 14 estações da [[via sacra]] para a Matriz de [[Maroim]].<ref name="Itaú"/>
 
Entre 1839 e 1840 executou 34 painéis para a ornamentação dos corredores da [[Igreja da Irmandade de Nosso Senhor do Bonfim]], e em 1845 deixa seis painéis para os altares laterais da [[Igreja da Ordem Terceira de São Francisco]].<ref name="Itaú"/> Faleceu quase na penúria. Ao que parece, cobrava pouco, e nos seus últimos anos faltaram-lhe boas encomendas. Poderia ter mantido um melhor padrão de vida dando aulas, mas parece que isso não o agradava, e só no fim da vida admitiu uns poucos discípulos. Entre eles, [[João Francisco Lopes]] e [[Olímpio Pereira da Mata]].<ref>Campos (2003) vol. II, Maria de Fátima Hanaque. ''A Pintura Religiosa na Bahia, 1790-1850, Vol II''. Tese de Doutorado em Letras. Universidade do Porto, 2003, p. 56</ref><ref>Campos (2003) vol. I, pp. 47-48</ref><ref>Campos (2003) vol. I, pp. 56; 59</ref>
 
===Obra===
Na sua grande produção, destacam-se os tetos da [[Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (Salvador)|Igreja da Ordem Terceira do Carmo]], da [[Capela Nossa Senhora da Piedade]], do mosteiro dos Beneditinos de Nossa Senhora da Graça, da [[Igreja de Nossa Senhora da Barroquinha]], da [[Igreja de Nossa Senhora do Pilar]], da [[Matriz de Itaparica]] e da [[Igreja dos Órfãos de São Joaquim]]. Também dedicou-se ao retrato, gênero de pintura até então pouco cultivado na colônia, deixando diversos.<ref>Campos (2003), Maria de Fátima Hanaque. ''A Pintura Religiosa na Bahia, 1790-1850, Vol II''. Tese de Doutorado em Letras. Universidade do Porto, 2003, p. 56</ref><ref name="Campos"/><ref name="Itaú"/><ref>[http://www.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1088 ''Capela Nossa Senhora da Piedade e Recolhimento do Bom Jesus dos Perdões'']. Iphan </ref> Algumas de suas obras estão expostas no [[Museu de Arte da Bahia‎]]<ref name="Itaú"/> Entre seus discípulos estão [[João Francisco Lopes]] e [[Olímpio Pereira da Mata]].<ref>Campos (2003), pp. 56; 59</ref>
 
Teófilo é consensualmente considerado um dos pilares da chamada Escola Baiana de pintura, ao lado de [[Franco Velasco]] e do seu fundador [[José Joaquim da Rocha]], uma escola que pôde absorver as melhores lições internacionais disponíveis em seu tempo e em um contexto ainda cheio de limitações, e com elas fundar um novo vernáculo visual, genuinamente brasileiro. Documentos de meados do século XIX ainda os louvam em conjunto como artistas insignes, dignos de toda a admiração, e Teófilo em particular, foi chamado de "o renovador das artes". Além disso, foi um dos últimos grandes continuadores dos princípios [[barroco]]-[[rococó]]s, que permaneceram tão vivos na cultura brasileira até meados do século XIX quando o estilo já se tornara um anacronismo na Europa em geral há pelo menos cinquenta anos, suplantado pelo [[Neoclassicismo]] e pelo [[Romantismo]]. Segundo Carlos Ott, Teófilo não chegou a dominar tão bem como seu mestre as regras da composição de perspectiva ilusionística, tão apreciada pelas gerações anteriores para a decoração dos tetos, mas isso não significava que fosse um pintor menor. Simplesmente o seu talento estava em outros gêneros de obra, o painel de cavalete e o retrato.<ref>Campos (2003) vol. I, pp. 38-50; 224-226</ref>
[[File:José Teófilo de Jesus - Nossa Senhora do Carmo e santos carmelitas.jpg|thumb|250px|''Nossa Senhora do Carmo e santos carmelitas''. Detalhe do forro da Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo em Cachoeira]]
 
Mas isso também assinalava uma mudança social. Enquanto seu mestre José Joaquim da Rocha ainda pintou tudo para a Igreja e suas irmandades, num tempo em que a religião era a força social dominante, a dedicação de Teófilo ao retrato, gênero profano que antes era pouco cultivado, reflete a laicização de uma sociedade que em breve deixaria de ser uma colônia dependente, explorada e mergulhada no [[misticismo]] emocional do Barroco, para a partir de 1822 se tornar um Império autônomo recém-fundado, que buscava um lugar na comunidade internacional e também definir a si mesmo sobre outras bases institucionais e filosóficas, passando a prezar mais o [[racionalismo]] e o [[liberalismo]]. Se era um período de transição, durante a maior parte da carreira de Teófilo o Barroco ainda permaneceu uma referência forte na Bahia quando o Neoclassicismo já se institucionalizava na capital, o [[Rio de Janeiro]], e continuando o Catolicismo mesmo através do Império como religião oficial do país, a Igreja, a instituição mais rica da época, ainda foi o seu maior mecenas, como fora há longos séculos na história das artes coloniais. Em suma, dado o seu contexto, atuando num centro importante que já fora capital colonial mas ora era periférico e por isso provinciano, é natural que sua obra se tenha construído principalmente sobre os fundamentos estilísticos do arraigado Barroco e sido produzida na forma de arte sacra.<ref>Campos (2003) vol. I, pp. 264-270; 282-284</ref>
 
Na sua grande produção, destacam-se os tetos da [[Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (Salvador)|Igreja da Ordem Terceira do Carmo]] de Salvador e de Cachoeira, da [[Capela Nossa Senhora da Piedade]], do mosteiro dos Beneditinos de Nossa Senhora da Graça, da [[Igreja de Nossa Senhora da Barroquinha]], da [[Igreja de Nossa Senhora do Pilar]], da [[Matriz de Itaparica]] e da [[Igreja dos Órfãos de São Joaquim]]., Tambémalém dedicou-sede aopainéis retrato,na gênero[[Igreja de pinturaNossa atéSenhora entãoda pouco cultivadoPiedade]], na colônia, deixando diversos.<ref>Campos (2003), Maria[[Igreja de FátimaNosso Hanaque.Senhor ''Ado PinturaBonfim]], Religiosae retábulos na Bahia,[[Igreja 1790-1850,da VolOrdem II''. TeseTerceira de Doutorado emSão LetrasFrancisco]].<ref>Campos Universidade(2003) dovol. Porto, 2003II, p. 56; 304-305</ref><ref name="Campos"/><ref name="Itaú"/><ref>[http://www.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1088 ''Capela Nossa Senhora da Piedade e Recolhimento do Bom Jesus dos Perdões'']. Iphan </ref> Algumas de suas obras estão expostas no [[Museu de Arte da Bahia‎]]<ref name="Itaú"/> Entre seus discípulos estão [[João Francisco Lopes]] e [[Olímpio Pereira da Mata]].<ref>Campos (2003), pp. 56; 59</ref>
 
{{Referências}}