José Teófilo de Jesus: diferenças entre revisões

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[[File:José Teófilo de Jesus - Jesus institui a Eucaristia2.jpg|thumb|250px|''Jesus institui a Eucaristia'', antes na Capela do Santíssimo Sacramento da Antiga Sé, hoje no Museu de Arte Sacra da Bahia]]
[[File:Teofilo-africa-mab.jpg|thumb|250px|''África'', da série de alegorias sobre os quatro continentes. Museu de Arte da Bahia]]
'''José Teófilo de Jesus''' ([[Salvador (Bahia)|Bahia]], [[1758]] — Salvador, 19 de julho de [[1847]]) foi um [[pintor]] e [[decorador]] [[brasil]]eiro, um dos grandes representantes da escola baiana de [[pintura barroca]] e de toda a pintura colonial brasileira.
 
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Teófilo é consensualmente considerado um dos pilares da chamada Escola Baiana de pintura, ao lado de [[Franco Velasco]] e do seu fundador [[José Joaquim da Rocha]], uma escola que pôde absorver as melhores lições internacionais disponíveis em seu tempo e em um contexto ainda cheio de limitações, e com elas fundar um novo vernáculo visual, genuinamente brasileiro. Todos foram muito celebrados em vida, e documentos de meados do século XIX ainda os louvam em conjunto como artistas insignes, dignos de toda a admiração, e Teófilo em particular, foi chamado de "o [[Rafael]] brasileiro" e "o renovador das artes". Além disso, foi um dos últimos grandes continuadores dos princípios do [[Barroco]] (incluindo-se aqui sua floração final, o [[Rococó]]), que permaneceram tão vivos na cultura brasileira até meados do século XIX, quando o estilo já se tornara um anacronismo na Europa em geral há pelo menos cinquenta anos, suplantado pelo [[Neoclassicismo]] e pelo [[Romantismo]]. Segundo Carlos Ott, Teófilo não chegou a dominar tão bem como seu mestre as regras da composição de perspectiva ilusionística, tão apreciada pelas gerações anteriores para a decoração dos tetos, mas isso não significava que fosse um pintor menor. Simplesmente o seu talento estava em outros gêneros de obra, o painel de cavalete e o retrato.<ref>Campos (2003) vol. I, pp. 38-50; 224-226; 334-335</ref>
[[File:José Teófilo de Jesus - O Rapto de Helena.jpg|thumb|250px|''O Rapto de Helena de Troia'', Museu de Arte da Bahia]]
[[File:José Teófilo de Jesus - A Divina Pastora 2.jpg|thumb|250px|''A Divina Pastora'', forro da Matriz de Divina Pastora]]
 
Mas isso também assinalava uma mudança social. Enquanto seu mestre José Joaquim da Rocha ainda pintou tudo para a Igreja e suas irmandades, num tempo em que a religião era a força social dominante, a dedicação de Teófilo ao retrato, gênero profano que antes era pouco cultivado, reflete a transformação de uma sociedade que em breve deixaria de ser uma colônia dependente, explorada e mergulhada no [[misticismo]] emocional do Barroco, para a partir de 1822 se tornar um Império autônomo recém-fundado, que buscava um lugar na comunidade internacional e também definir a si mesmo sobre outras bases institucionais e filosóficas. SeTambém prova isso o grande número de obras que deixou sobre alegorias e outros temas profanos tirados da [[mitologia clássica]] ou da história, sendo um pioneiro neste campo no Brasil. Mas se era um período de transição, e se desde 1808, na capital, o [[Rio de Janeiro]], com a chegada da corte portuguesa, mais "atualizada" em gostos, o Neoclassicismo já se institucionalizara, e se logo após sua morte o Império viria enfim a se estabilizar com um rosto todo novo, esculpido pelo [[Academismo]] clássico-romântico, durante a maior parte da carreira de Teófilo o Barroco ainda permanecia uma referência forte na provinciana Bahia, quandoem oespecial Neoclassicismopara a seprodução institucionalizavasacra. na capital, o [[Rio de Janeiro]], ePois continuando o Catolicismo mesmo através do Império como religião oficial do país, a Igreja, a instituição mais rica da época e a mais conservadora, ainda foi o seu maior mecenas, como fora há longos séculos na história das artes coloniais. Em suma, dado o seu contexto, atuando num centro importante que já fora capital colonial mas ora era periférico e por isso provinciano, é natural que sua obra se tenha construído principalmente sobre os fundamentos estilísticos do arraigado Barroco e sido produzida na forma de arte sacra.<ref>Campos (2003) vol. I, pp. 264-270; 282-284; 334-335</ref>
 
Mas isso não quer dizer que tenha se mostrado totalmente insensível às novidades neoclássicas, e desta outra maneria se justifica o elogio que lhe fizeram chamando-o de "o renovador das artes". Se o [[Barroco]] foi excesso visual e ornamentos superabundantes, drama à flor da pele e religião por toda a parte, já o Rococó e ainda mais o Neoclassicismo foi um tempo de despojamento, de uma busca de essências em formas mais leves, composições mais diretas e cores mais claras, e numa sociedade que se laicizava com rapidez e passava a prezar o [[racionalismo]] e o [[liberalismo]]. Sua produção madura reflete um pouco dessa tendência nova, interpretando visualmente o choque entre dois conceitos de mundo e de representação. Serve como exemplo o teto da [[Matriz de Divina Pastora]] em Sergipe - se sua complexa arquitetura ilusionística é filha direta do Barroco italiano, no medalhão central criou uma cena bucólica e singela digna dos [[arcadismo|árcades]]. Também é preciso lembrar que em seu aperfeiçoamento em Portugal o Barroco rigoroso que herdara seu primeiro professor, José Joaquim, foi aligeirado e "modernizado" pelo contato com o Neoclassicismo que começava a se fazer notar por influência francesa, de modo que ele já trazia esses germes de renovação consigo desde a juventude.<ref>Campos (2003) vol. I, pp. 282-334</ref>