Praça D. Pedro IV: diferenças entre revisões

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Esta zona baixa da cidade, antes do [[século XII]], era navegável. Era chamada [[Valverde]], devido a um afluente do [[rio Tejo]]. O imundo caneiro do Rossio foi coberto ainda na Lisboa de quatrocentos. Era uma praça irregularmente esguelhada mas foi sempre um espaço amplo onde se realizavam feiras e mercados.
 
Ainda na [[Idade Média]] começou a ser rodeado do edifícios de vária natureza. No [[século XV]], a este, estabeleceu-se o [[Hospital de Todos os Santos]], construído nos reinados de [[D. João II]] e de [[D. Manuel I]], que assentava sobre 25 arcos ogivais de pedraria, tendo a meio o templo, de esplêndida arquitectura manuelina, em cuja fachada se abria um pórtico em gótico floreado com os emblemas dos fundadores. Sob a arcaria ficava a ermida da Senhora do Amparo, na altura em que se acha hoje a rua com esse nome, para o lado da Betesga a roda dos enjeitados. Ao norte do Hospital, levanta-se o [[Convento de São Domingos de Lisboa]], fundado no meado do [[século XIII]], acrescentado depois por [[D. Afonso III]] e novamente aumentado por [[D. Manuel I]]. O [[terramoto de 1531]] arruinou-o muito, o que obrigou a nova reedificação em [[1536]]. Era notável a sua riqueza em alfaias preciosas, havendo uma imagem de prata maciça, que saía em procissão num andor do mesmo metal, alumiada por lâmpadas também de prata. As pinturas dos altares, os paramentos, os tesouros, tudo desapareceu em [[1755]], salvando-se unicamente a capela-mor, mandada fazer por [[D. João V]] e riscada pelo arquitecto Ludovice. A velha [[Igreja de São Domingos]] ficava junto à ermida de Nossa Senhora da Escada, também conhecida por Nossa Senhora da Corredoura, por ficar próximo do sítio deste nome, atualmente a [[Rua das Portas de Santo Antão]], e cuja construção datava dos princípios da monarquia. Em antigos tempos, quando os reis viviam no [[Palácio dos Estaus]], servia de capela real. O terramoto causou-lhe grande destroço, sendo arrasada em [[1834]] para edificação do prédio que torneia do Rossio para o [[Largo de São Domingos]]. No topo norte da praça, onde se abre hoje o Largo D. João da Câmara, ficava o [[Palácio osdos Estaus]] com as suas torres de três andares, edificada em [[1449]] pelo infante [[Pedro, Infante de Portugal|D. Pedro]], o regente, para hospedar as pessoas da corte sem residência própria e os monarcas e embaixadores estrangeiros. Neste paço habitou [[D. João III]] desde [[1540]], recebendo ali nesse ano [[São Francisco Xavier]], e aí se realizaram muitas festas de corte. Foi aí que morreu [[D. Duarte]], filho de [[D. João III]] , e que [[D. Sebastião]] recebeu das mãos do [[cardeal D. Henrique]] o governo do reino. Em [[1571]] nele se instalou o [[Tribunal e a Sede da [[Inquisição]], sendo então oficialmente designado por ''Casa de Despacho da Santa Inquisição''. Pelo [[terramoto de 1755]] ficou muito arruinado, sendo reedificado sob a direção de [[Carlos Mardel]]. Para o lado de Santo Antão ficavam outros dois palácios e para o lado oposto o Palácio dos Faros, que veio a pertencer aos Duques do Cadaval, e ocupava pouco mais ou menos o sítio onde se eleva hoje a [[Estação do Rossio]]. O centro da praça era de terra batida, ficando a oeste, quase em frente a S. Domingos, o famoso chafariz do Rossio, fonte monumental adornada por um Neptuno de pedra, construído no fim do [[século XVI]] e derrubado em [[1786]].
 
Após o [[terramoto de 1755]], a praça foi reconstruída segundo o plano de [[Carlos Mardel]] pois poucos edifícios lhe resistiram, renascendo uma praça rectangular de 166 m comprimento x 52 m largura. No lugar do [[Palácio dos Estaus]], em [[1807]], passou a instalar-se o Paço da Regência e, [[em [[1826]] a Câmara dos Pares, sendo também ali instalada a Academia Real de Fortificação, a Secretaria da Intendência da Polícia, a Escola do Exército e o Tesouro Público. Em [[1836]], funcionando nele o Tesouro, ardeu completamente. No seu lugar, foi construído o [[Teatro Nacional D. Maria II]], inaugurado em [[1846]].
 
Assistiu esta praça a [[tourada]]s, [[festival|festivais]], feiras, revistas e[[Parada Militar|paradas militares]], festas cortesãs, revoluções populares e também a [[auto-de-fé|autos-de-fé]] durante a [[Inquisição]] ou execuções capitais. Foi no Rossio que se deram os tumultos populares depois da morte de [[D. Fernando]] e que foi abandonado o cadáver do bispo D. Martinho, precipitado das torres da Sé de Lisboa. Aí foi queimado vivo [[Garcia Valdez]], autor de uma conspiração contra o [[Mestre de Avis]], e aí foram decapitados em [[26 de agosto]] de [[1641]], o Duque de Caminha, o Marquês de Vila Real e o Conde de Armamar, réus do mesmo crime em relação a [[D. João IV]]. Finalmente, nas lutas liberais e miguelistas, foi aqui o teatro do sufocado pronunciamento constitucional de infantaria 4, em [[22 de agosto]] de [[1831]], em que morreram para cima de 300 homens.
 
Entre [[1846]] e [[1849]] na [[praça]] é construído o [[Teatro D. Maria II]], a praça é arborizada, as fontes monumentais colocadas, a estátua de [[D. Pedro IV]] inaugurada, o pavimento é calcetado com [[mosaico português]], a [[preto]] e [[branco]], com padrões ondulantes. Foi um dos primeiros desenhos desse tipo a decorar os pavimentos da cidade.
 
Onde são hoje os números 22-25 e 27-29, ficavam no princípio do [[século XIX]] os celebérrimos botequins do Nicola e das Parras, onde se reuniam os literados do tempo, [[Manuel Maria Barbosa du Bocage]], [[JoséNuno Malhoa]],Álvares [[Pato Moniz]], [[Bingre]],Francisco [[SantosJoaquim e SilvaBingre]], [[JoséJoão BernardoVicente da Rocha]], [[Pimentel Maldonado]], etc.. Ali improvissou [[Manuel Maria Barbosa du Bocage]] muitos dos seus sonetos e das suas mais famosas sátiras.
 
Hoje assiste a ocasionais [[comício]]s políticos, e os seus sóbrios [[edifícios pombalinos]], já muito alterados, estão ocupados por lojas de recordações, joalharias e cafés.
 
== Estátua de D. Pedro IV ==
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No mesmo local fizera levantar [[D. João VI]], em [[1821]], um monumento à Constituição de 1820, mandado arrasar dois anos depois pelo mesmo rei, após o regresso do absolutismo. A ideia para o monumento a [[D. Pedro IV]] data de [[1852]], ano em que [[D. Maria II]] lançou a pedra fundamental. Apenas se construiu então um pedestal desgracioso conhecido pela designação irónica de ''galheteiro'' que foi destruído em [[1864]], depois de ter servido, em [[1858]], para base da estátua do Himeneu, erguida provisoriamente para comemorar o casamento de [[D. Pedro V]], e em [[1862]] para idêntico fim, por ocasião do matrimónio do rei [[D. Luís]].
 
Criou-se uma [[lenda urbana]] de que a referida estátua de D. Pedro IV na verdade teria sido, originalmente, concebida para o imperador [[Maximiliano do México]]. Como o imperador mexicano foi fuzilado em [[1867]], pouco antes do término da estátua, prontamente teria sido essa reaproveitada para o projeto de revitalização do Rossio, o que explicaria as – supostas – semelhanças da estátua do rei português com a figura do imperador mexicano. Vários estudiosos, como o historiador [[José Augusto França]] em ''A arte em Portugal no século XIX'', já se demonstravam contra essa teoria, visto que a peça apresenta claros sinais de se tratar duma figura nacional portuguesa: [[Brasão de armas de Portugal|os escudos]] nos botões, o colar da [[Ordem Militar da Torre e Espada|Torre e Espada]] e a [[Carta Constitucional portuguesa de 1826|Carta Constitucional]]. Recentes descobertas na base da estátua em meados de [[2001]], durante obras de restauro, reafirmam tratar-se da figura de D. Pedro IV: dois frascos de vinte centímetros cada, contendo documentos e uma fotografia revelada em [[albumina]], que estão a ser analisados pelo [[Instituto Português de Conservação]].<ref>[[Público (jornal)|]], 31 de agosto de 2001 — Caderno Local.</ref>
 
== Galeria de imagens ==