A Nuvem do Não Saber: diferenças entre revisões

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Em seus 75 capítulos, um monge cartuxo ensinaria a um jovem, de aproximadamente vinte e quatro anos, a vida contemplativa, em que a alma se une a [[Deus]]<ref>ANÔNIMO DO SÉCULO XIV. A Nuvem do Não-Saber,Trad. D. Lino Correia Marques de Miranda Moreira. Petrópolis: Ed vozes, p. 23.</ref>. Para tanto, o autor lançaria mão, principalmente, de dois episódios bíblicos: o Evangelho de S. Lucas, 10, 38-42<ref>ANÔNIMO DO SÉCULO XIV. ''A Nuvem do Não-Saber'', Trad. D. Lino Correia Marques de Miranda Moreira. Petrópolis: Ed. vozes, 2008, p. 71-72.</ref> e o livro do Êxodo, capítulo 24<ref>ANÔNIMO DO SÉCULO XIV. ''A Nuvem do Não-Saber'', Trad. D. Lino Correia Marques de Miranda Moreira. Petrópolis: Ed. vozes, 2008, p. 180.</ref>. O primeiro, sendo mencionado de maneira explícita pelo autor e o segundo, apenas implicitamente. <br />
No primeiro episódio, Maria representaria a vida contemplativa, enquanto Marta representaria a vida ativa. Isto porque conforme a narrativa neo-testamentária, quando Jesus visita a casa de Marta, esta se apressa em preparar-lhe a refeição, enquanto Maria se senta para ouvi-lo. No segundo episódio, Moisés representaria aquele que através de muitos esforços, chega à perfeita contemplação, sendo então, encoberto por uma nuvem de desconhecimento/ignorância. À semelhança da narrativa vétero-testamentária, onde Moisés atende o chamado do Senhor, subindo ao monte e sendo encoberto por uma grande nuvem durante seis dias.<br />
Em suma, poderíamos dizer de que a via (ou, vida) contemplativa se dá quando o cristão percebe a precariedade da razão, da inteligência natural, como meio de alcançar Deus; podendo a partir de então, abandonando-a, ir de encontro a Ele, através do amor, como ensina Merton: " embora a essência de Deus não possa ser adequadamente apreendida, ou claramente entendida pela inteligência humana, podemos alcançá-Lo diretamente pelo amor"<ref>MERTON, Thomas. ''A Experiência Interior''. Trad. Luiz Gonzaga de Carvalho Neto. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2007, p. 121.</ref>. Ou ainda, nas palavras do próprio cartuxo: " Porque Deus pode muito bem ser amado, mas não pensado. Pelo amor Ele pode ser retido; mas pelo pensamento, não, nunca"<ref>ANÔNIMO DO SÉCULO XIV. ''A Nuvem do Não-Saber'', Trad. D. Lino Correia Marques de Miranda Moreira. Petrópolis: Ed. vozes, 2008, p. 47.</ref>.<br />
A proposta do cartuxo seria uma reação a excessiva valorização do pensamento racionalista promovido pela escolástica por um lado e por outro, ao conturbado período de transformações e crises vivido pela universidade e pela Igreja, bem como as guerras e doenças do fim da Idade Média<ref>LE GOFF, Jacques. Os Intelectuais Na Idade Média, Trad. Maria Julia Goldwasser. São Paulo: Ed. brasiliense, 1988, p. 95.<br />
Ver também: HUIZINGA, Johan. O outono da Idade Média. São Paulo: Ed. Cosac & Naify, 2010.</ref>.