Crise da dívida pública da Zona Euro: diferenças entre revisões

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[[Arquivo:Debt profile of Eurozone countries.png|thumb|upright=1.35|alt=Perfil das dívidas soberanas dos países da zona euro|Perfil das dívidas soberanas dos países da zona euro]]
 
<!-- ==A Históriacrise ==financeira de 2008 que precedeu -->
<!-- ... A FAZER: antes da Grécia, também houve a Irlanda; é preciso falar disso. -->
A origem da crise das dívidas públicas remonta a [[2007]], principalmente quando saiu a público a falência da [[Lehman Brothers]] em 2008, colocando assim um ponto final a anos de desenfreada especulação financeira mundial. Esta "bomba" empurrou o [[sistema financeiro]] global para a beira do abismo e a economia ficou muito próxima de uma nova [[Grande Depressão]].
A origem da crise da dívida pública tem raízes na [[crise financeira de 2008-2009|crise financeira do final da década de 2000]], onde a falência do [[Lehman Brothers]] em 2008 mergulhou o [[sistema financeiro]] global numa crise e abriu caminho para a maior crise económica desde a [[Grande Depressão]].
 
Os governos de alguns estados lançaram, naquela altura, uma operação para salvar os bancos, comprometendo, dessa forma,envolvendo somas enormes de fundos públicos, quesuperiores superarama 20% do [[PIB]] mundial. ComIsto isto, conseguiram ganhar tempo,conseguiu impedirtravar o agravamento da situação e o consequente colapso dos [[Mercado financeiro|mercados financeiros]], ficandomas anão situaçãoimpediu semo controlo.alastramento Noda entanto,crise nãoà conseguiramrestante reverter a criseeconomia.
 
Esta intervenção, que pretendia recuperar as taxas de lucro, que por sua vez permitiriam abrir um novo ciclo histórico de crescimento, deu no entanto, lugar a uma nova fase da crise: a da [[dívida pública]], que afeta em particular os grandes estados, como os [[Estados Unidos]] (com um terço do total mundial), a [[Europa]] e o [[Japão]], acabando por seter concentrar comuma muitaespcecial violênciaincidência na [[União Europeia]], e em especialparticular nos Estados-membromembros periféricos.
 
<!-- A crise da dívida grega -->
Tornou-se público que durante anos o governo [[Grécia|grego]] assumiu profundas dívidas, gastando descontroladamente, o que contrariava os acordos econômicos europeus. Quando chegou a [[crise financeira de 2008-2009|crise financeira global]], o déficit orçamental subiu e os investidores exigiram taxas muito mais altas para emprestar dinheiro à Grécia.
A crise começou com a difusão de rumores sobre o nível da [[dívida pública]] da [[Grécia]] e o risco de [[Moratória|suspensão de pagamentos]] pelo governo grego. AAs crisedificuldades dacom a dívida grega teria sidoteriam iniciadainiciado no final de 2009, mas só se tornoutornaram públicapúblicas em [[2010]]. Resultou tanto da [[crise econômica de 2008-2009|crise econômica mundial]] como de fatores internos ao próprio país - forte endividamento (cerca de 120% do [[PIB]]) e [[déficit]] orçamentário superior a 13% do PIB.
 
A crise começou com a difusão de rumores sobre o nível da [[dívida pública]] da [[Grécia]] e o risco de [[Moratória|suspensão de pagamentos]] pelo governo grego. A crise da dívida grega teria sido iniciada no final de 2009, mas só se tornou pública em [[2010]]. Resultou tanto da [[crise econômica de 2008-2009|crise econômica mundial]] como de fatores internos ao próprio país - forte endividamento (cerca de 120% do [[PIB]]) e [[déficit]] orçamentário superior a 13% do PIB.
 
A situação foi agravada pela falta de transparência por parte do país na divulgação dos números da sua dívida e do seu déficit. Segundo o economista [[Jean Pisani-Ferry]], nos últimos dez anos, a diferença média entre o déficit orçamentário real e a cifra notificada à [[Comissão europeia]] foi de 2.2% <ref>[http://pisani-ferry.typepad.com/commentaires/2010/03/index.html C'est le tour de l'Espagne], por Jean Pisani-Ferry, publicada originalmente no ''[[Le Monde]]'', 17 de março de 2010.</ref> do PIB.<ref>[http://pisani-ferry.typepad.com/commentaires/Jean Pisani-Ferry "Gouvernement économique mode d'emploi"], por Jean Pisani-Ferry, publicado originalmente no ''Le Monde'', 23 de fevereiro de 2010.</ref>
 
Diante das sérias dificuldades econômicas da Grécia, a [[União Europeia]] adotou um plano de ajuda , incluindo empréstimos e supervisão do [[Banco Central Europeu]]. O [[Conselho Europeu]] também declarou que a UE realizaria uma operação de ''[[bailout]]'' do país, se fosse necessário.<ref>Willis, Andrew (12 February 2010) [http://euobserver.com/?aid=29457 Van Rompuy: Eurozone will bail out Greece if needed], EU Observer</ref> A ameaça de extensão da crise a outros países, nomeadamente [[Portugal]] e [[Espanha]],<ref name="Fogo">[http://www.ionline.pt/conteudo/58573-fogo-em-atenas-pior-crise-do-euro-encosta-portugal--parede Crise do euro: Fogo em Atenas. Pior crise do euro encosta Portugal à parede], por Bruno Faria Lopes. ''iOnline'', 6 de Maio de 2010.</ref><ref>[[Portugal]], [[Irlanda]], [[Grécia]] e [[Espanha]] constituíam o grupo de países apelidado de [[PIGS]] pelos jornalistas financeiros anglo-saxões, em razão da falta de disciplina orçamental [http://www.lesechos.fr/info/inter/300395260.htm?xtor=RSS-2053 « PIGS pour Portugal, Irlande, Grèce et Espagne »]. ''Les Échos'', 8 de dezembro de 2009.</ref> levou-os a tomar medidas de austeridade.<ref>[http://eco.rue89.com/2010/04/30/portugal-irlande-grece-et-espagne-la-claque-sociale-149489 « Portugal, Irlande, Grèce et Espagne : la claque sociale »], 30 de abril de 2010.</ref>
 
Segundo alguns analistas, em última instância, essa crise poderia significar [[nota de risco|rebaixamento]] das dívidas de todos os países da Europa.<ref>[http://www.lemonde.fr/economie/article/2010/04/29/crise-de-la-dette-l-europe-est-menacee-de-declassement_1344821_3234.html Crise de la dette : "L'Europe est menacée de déclassement"]. ''Le Monde'', 29 de abril de 2010 |</ref> Os ataques especulativos à Grécia foram considerados por alguns, inclusive pelo governo grego, como ataques à Zona Euro - através do seu elo mais fraco, a Grécia.<ref>[http://www.euractiv.com/en/reece-rejects-bailout-as-eurozone-worries-grow Greece rejects bailout as eurozone worries grow], Euractiv</ref>
 
Todos os países da Zona Euro foram afetados pelo impacto que teve a crise sobre a moeda comum europeia. Houve receios de que os problemas gregos nos mercados financeiros internacionais despoletassem um efeito de contágio que fizesse tremer os países com economias menos estáveis da Zona Euro, como [[Portugal]], [[República da Irlanda]], [[Itália]] e [[Espanha]] que, tal como a Grécia, tiveram que tomar medidas para reajustar as suas contas.
 
A partir de março de 2010, a Zona Euro e o [[Fundo Monetário Internacional]] (FMI) debateram conjuntamente um pacote de medidas destinadas a resgatar a economia grega, que foi bloqueado durante semanas devido em particular a divergências entre a Alemanha, economia líder da zona, e os outros países membros. Durante essas negociações e perante a incapacidade da Zona Euro de chegar a um acordo, a desconfiança aumentou nos mercados financeiros, enquanto o euro teve uma queda regular e as praças bolsistas apresentavam fortes quedas.
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Finalmente, em 2 de maio de 2010, a [[União Europeia]] (UE) e o FMI acordaram um plano de resgate de 750 bilhões de euros para evitar que a crise se estendesse por toda a Zona Euro. A essa medida adicionou-se a criação, anunciada a 10 de maio, de um fundo de estabilização coletivo para a Zona Euro. Ao mesmo tempo, todos os maiores países europeus tiveram que adotar os seus próprios planos de ajuste das finanças publicas, inaugurando uma era de [[austeridade]].<ref>[http://br.finance.yahoo.com/news/Estudantes-brit%C3%A2nicas-rbr-863305768.html?x=0 Estudantes britânicas desesperadas "recorrem à prostituição"], [[Yahoo!]], acessado em [[15 de dezembro]] de [[2011]]</ref>
 
ADiante crisedas provocousérias novadificuldades discussão sobre a coordenação econômica e integração fiscaleconômicas da zonaGrécia, sendoa apontadas[[União asEuropeia]] faltas deadotou um tesouro eplano de umajuda, orçamentoincluindo consolidadoempréstimos dae Zonasupervisão Eurodo como[[Banco problemasCentral mais importantesEuropeu]].<ref>Irvin, GeorgeO (11[[Conselho FebruaryEuropeu]] 2010)também [http://euobserver.com/7/29451declarou Comment:que Howa seriousUE isrealizaria theuma eurooperação debtde crisis?[[bailout|resgate]] ''(bailout)'' do país, EUse observer</ref>fosse necessário.<ref>Willis, Andrew (1812 February 2010) [http://euobserver.com/19/29501?aid=29457 Van Rompuy: GreekEurozone dramawill heightensbail debateout onGreece economicif co-ordinationneeded], EU Observer</ref>
 
Segundo alguns analistas, em última instância, essa crise poderia significar [[nota de risco|rebaixamento]] das dívidas de todos os países da Europa.<ref>[http://www.lemonde.fr/economie/article/2010/04/29/crise-de-la-dette-l-europe-est-menacee-de-declassement_1344821_3234.html Crise de la dette : "L'Europe est menacée de déclassement"]. ''Le Monde'', 29 de abril de 2010 |</ref> Os ataques especulativos à Grécia foram considerados por alguns, inclusive pelo governo grego, como ataques à Zona Euro - através do seu elo mais fraco, a Grécia.<ref>[http://www.euractiv.com/en/reece-rejects-bailout-as-eurozone-worries-grow Greece rejects bailout as eurozone worries grow], Euractiv</ref>
<!--A FAZER:
Rever texto acima e eventualmente ajustar com o texto traduzido abaixo.
Dado que o texto acima não repete o que agora foi traduzido e, na minha opinão, complementa-o, deve por isso ser mantido mas revisto.
-->
 
<-- Ameaça de contágio a outros países -->
No início de 2010 surge uma renovada ansiedade sobre as dívidas públicas excessivas, levando os investidores a exigir taxas de juro cada vez mais altas a vários países com elevados níveis de dívida, de défice público e de défice da [[balança corrente]].
Por sua vez, isso dificultou aos governos a continuação do financiamento desses défices e o serviço da dívida, sobretudo nos casos onde a economia crescia pouco e investidores estrangeiros detinham uma grande parcela dessa dívida, como acontecia com a Grécia e Portugal.
<ref>{{cite web|url=http://www.gfmag.com/tools/global-database/economic-data/10394-public-debt-by-country.html|title=Public Debt by Country &#124; Global Finance| last1=Ventura| first1=Luca |last2=Aridas |first2=Tina |date=dezembro2011 |publisher=Gfmag.com|accessdate=19 de maio de 2011}}</ref>
 
Para rebater a crise alguns governos implementaram medidas de austeridade, tais como o aumento de impostos e a redução da despesa, especialmente em países onde os défices orçamentais e a dívida soberana aumentaram abruptamente. Isso que contribuiu para o aumento da agitação social e para um forte debate entre economistas, sendo muitos deles apologistas de maiores défices para as economias em dificuldades.
 
Uma crise de confiança emergiu com o afastamento dos ''spreads'' das obrigações da dívida pública e dos ''swaps'' de risco de incumprimento (''CDS'', em inglês) destes países relativamente com os outros [[estados-membros da União Europeia]], sobretudo da Alemanha.
<ref>{{cite web|url=http://www.ft.com/cms/s/0/7d25573c-1ccc-11df-8d8e-00144feab49a.html |title=Gilt yields rise amid UK debt concerns| last1=Oakley | first1=David | last2=Hope | first2=Kevin |work=Financial Times |date=18 de fevereiro de 2010 |accessdate=15 de abril de 2011}}</ref>
 
Diante das sérias dificuldades econômicas da Grécia, a [[União Europeia]] adotou um plano de ajuda , incluindo empréstimos e supervisão do [[Banco Central Europeu]]. O [[Conselho Europeu]] também declarou que a UE realizaria uma operação de ''[[bailout]]'' do país, se fosse necessário.<ref>Willis, Andrew (12 February 2010) [http://euobserver.com/?aid=29457 Van Rompuy: Eurozone will bail out Greece if needed], EU Observer</ref> A ameaça de extensão da crise a outros países, nomeadamente [[Portugal]] e [[Espanha]],<ref name="Fogo">[http://www.ionline.pt/conteudo/58573-fogo-em-atenas-pior-crise-do-euro-encosta-portugal--parede Crise do euro: Fogo em Atenas. Pior crise do euro encosta Portugal à parede], por Bruno Faria Lopes. ''iOnline'', 6 de Maio de 2010.</ref><ref>[[Portugal]], [[Irlanda]], [[Grécia]] e [[Espanha]] constituíam o grupo de países apelidado de [[PIGS]] pelos jornalistas financeiros anglo-saxões, em razão da falta de disciplina orçamental [http://www.lesechos.fr/info/inter/300395260.htm?xtor=RSS-2053 « PIGS pour Portugal, Irlande, Grèce et Espagne »]. ''Les Échos'', 8 de dezembro de 2009.</ref> levou-os a tomar medidas de austeridade.<ref>[http://eco.rue89.com/2010/04/30/portugal-irlande-grece-et-espagne-la-claque-sociale-149489 « Portugal, Irlande, Grèce et Espagne : la claque sociale »], 30 de abril de 2010.</ref>, tais como o aumento de impostos e a redução da despesa. Isso contribuiu para o aumento significativo da agitação social nesses países.
 
Também gerou um forte debate entre economistas, sendo alguns deles apologistas de maiores défices para as economias em dificuldades.
<!-- ... A FAZER: expandir sobre a controvérsia da eficácia da austeridade e dos economistas discordantes; descrever o "erro do mnultiplicador" do FMI e dos relatórios deste também aconselhando abrandamento da austeridade. -->
 
<!-- Beneficiários da crise -->
No final de 2011, estima-se que a Alemanha tenha obtido mais de 9 biliões de euros com a crise, com a fuga dos investidores para os títulos de dívida do governo federal alemão (''bunds''), mais seguros apesar da sua taxa de juro próxima de zero.
<ref name="euo_09112011">{{cite news |url=http://euobserver.com/19/114231 |title=Germany estimated to have made €9 billion profit out of crisis |author=Valentina Pop |date=9 de novembro de 2011 |newspaper=EUobserver |accessdate=8 de dezembro de 2011}}</ref>
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<ref>{{cite news |url=http://www.bloomberg.com/news/2011-09-06/swiss-national-bank-sets-minimum-exchange-rate-of-1-20-against-the-euro.html |title=Swiss Pledge Unlimited Currency Purchases |author= |date=6 de setembro de 2012 |newspaper=Bloomberg |accessdate=6 de setembro de 2012}}</ref>
 
<!-- Ameaça de desmantelamento da zona euro -->
Apesar da dívida soberana ter aumentado substancialmente em poucos países da zona euro, e de os três países mais afetados, Grécia, Irlanda e Portugal, representarem apenas 6% do [[produto interno bruto|PIB]] da zona euro,<ref>{{cite web |url=http://www.project-syndicate.org/commentary/rogoff81/English |title= The Euro’s PIG-Headed Masters |work=[[Project Syndicate]] |date= 3 de junho de 2011}}</ref> foi entendido como sendo um problema da zona euro como um todo,<ref>{{cite web |url=http://www.spiegel.de/international/europe/0,1518,769329,00.html |title=How the Euro Became Europe's Greatest Threat|work=Der Spiegel |date= 20 de junho de 2011}}</ref> e levou à especulação acerca do [[contágio da crise da dívida pública europeia|contágio a outros países europeus]] e do possível desmantelamento da zona euro.
 
A crise provocou uma renovada discussão sobre a coordenação econômica e integração fiscal da Zona Euro, sendo apontadas como como problemas mais importantes a não existência de um tesouro e de um orçamento consolidado.<ref>Irvin, George (11 February 2010) [http://euobserver.com/7/29451 Comment: How serious is the euro debt crisis?], EU observer</ref><ref>Willis, Andrew (18 February 2010) [http://euobserver.com/19/29501 Greek drama heightens debate on economic co-ordination], EU Observer</ref>
 
<!-- Resultados das intervenções -->
Até ao final de 2012 a crise da dívida tinha obrigado a cinco dos 17 países da zona euro a pedir ajuda aos outros países.<ref name="ideas.repec.org">Haidar, Jamal Ibrahim, 2012. "[http://ideas.repec.org/a/wej/wldecn/511.html Sovereign Credit Risk in the Eurozone]," World Economics, World Economics, vol. 13(1), págs. 123-136, Março</ref>
 
Em meados de 2012, em resultado de uma consolidação fiscal bem sucedida, da implementação de reformas estruturais nos países mais em risco, e de várias medidas políticas tomadas pelos líderes da UE e do BCE, a estabilidade financeira da zona euro melhorou significativamente e as taxas de juro passaram a uma tendência de descida.
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Em outubro de 2012, apenas três países se debatiam com taxas de juro de longo prazo superiores a 6%: Grécia, Portugal e Chipre.
<ref name="ECB-interest-rates">{{cite web|url=http://www.ecb.int/stats/money/long/html/index.en.html|title=Long-term interest rate statistics for EU Member States|publisher=ECB|date=13 de novembro de 2012|accessdate=13 de novembro de 2012}}</ref>
 
Até ao final de 2012 a crise da dívida tinha obrigado a cinco dos 17 países da zona euro a pedir ajuda aos outros países.<ref name="ideas.repec.org">Haidar, Jamal Ibrahim, 2012. "[http://ideas.repec.org/a/wej/wldecn/511.html Sovereign Credit Risk in the Eurozone]," World Economics, World Economics, vol. 13(1), págs. 123-136, Março</ref>
 
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