António Botto: diferenças entre revisões

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==A obra poética==
=== "Literatura de Sodoma" ===
"A vasta obra poética de Botto, em parte ainda dispersa ou não-recoligida, apesar de e também pelo muito que ele publicou, republicou, reorganizou em volumes dispersos ou suprimia de volumes anteriores, etc., poderá repartir-se em quatro fases: a juvenil, em que continua o tom da quadra dita popular, conjugando-o com aspectos da dicção simbolista que poetas como [[Correia de Oliveira]], [[Augusto Gil]], e sobretudo [[Lopes Vieira]] haviam introduzido nela; a simbolistico-esteticista, em que a juvenilidade tradicionalizante se literaliza dos requebros esteticísticos que marcaram, nos [[década de 1920|anos 20]], muita poesia simultâneamente da tradição saudosista e modernista (é a das primeiras edições das [[Canções]] e breves plaquetes seguintes, em que todavia a personalidade do poeta já figura inteira em diversos poemas); a fase pessoal e original, nos [[década de 1930|anos 30]], desde as edições de 1930-32 das [[Canções]] (em que ele ia incorporando selecções de colectâneas anteriores) até a Vida Que Te Dei e Os Sonetos (fase que é também a dos seus excepcionais contos infantis que tiveram realmente as edições estrangeiras que se julgava ser uma das mentiras megalomaníacas do poeta, da «novela dramática» António, e da peça Alfama); e a última fase, nos [[década de 1940|anos 40]] e 50, até à morte que é a de uma longa e triste decadência, com poemas desvairadamente oportunistas, revisões desastrosas afectando nas reedições alguns dos melhores poemas anteriores [...]" em [[Líricas Portuguesas]], de [[Jorge de Sena]].
 
A tempestade desencadeada por [[Canções]] e por "[[Sodoma Divinizada]]", bem como por outras obras e artigos que apareciam nas livrarias e jornais da época de que importa destacar "Decadência" de [[Judite Teixeira]], foi tremenda, e a Federação Académica de Lisboa, tendo como porta-voz [[Pedro Teotónio Pereira]], denuncia no jornal "A Época", em fevereiro de [[1923]], a ''"vergonhosíssima desmoralização, que sob os mais repugnantes aspectos, alastra constantemente".''
 
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[[Fernando Pessoa]] e [[Álvaro de Campos]] protestam contra o ataque dos estudantes a [[Raul Leal]]: ''"Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. (...) Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível".'' Mas com pouco efeito. O impulso censório, [[moralista]], [[obscurantismo|obscurantista]] e [[homofobia|homofóbico]], ganha força com o regime do [[Estado Novo (Portugal)|Estado Novo]] e a revista "Ordem Nova" declara-se ''"antimoderna, antiliberal, antidemocrática, antibolchevista e antiburguesa; contra-revolucionária; reaccionária; católica, apostólica e romana; monárquica; intolerante e intransigente; insolidária com escritores, jornalistas e quaisquer profissionais das letras, das artes e da informação"''. António Botto acaba por se ver forçado a emigrar para o [[Brasil]] e [[Raul Leal]] será vitíma de espancamentos e deixará de escrever para jornais durante 23 anos.
 
=== Um reconhecimento que tarda ===
"A vasta obra poética de Botto, em parte ainda dispersa ou não-recoligida, apesar de e também pelo muito que ele publicou, republicou, reorganizou em volumes dispersos ou suprimia de volumes anteriores, etc., poderá repartir-se em quatro fases: a juvenil, em que continua o tom da quadra dita popular, conjugando-o com aspectos da dicção simbolista que poetas como [[Correia de Oliveira]], [[Augusto Gil]], e sobretudo [[Lopes Vieira]] haviam introduzido nela; a simbolistico-esteticista, em que a juvenilidade tradicionalizante se literaliza dos requebros esteticísticos que marcaram, nos [[década de 1920|anos 20]], muita poesia simultâneamente da tradição saudosista e modernista (é a das primeiras edições das [[Canções]] e breves plaquetes seguintes, em que todavia a personalidade do poeta já figura inteira em diversos poemas); a fase pessoal e original, nos [[década de 1930|anos 30]], desde as edições de 1930-32 das [[Canções]] (em que ele ia incorporando selecções de colectâneas anteriores) até a Vida Que Te Dei e Os Sonetos (fase que é também a dos seus excepcionais contos infantis que tiveram realmente as edições estrangeiras que se julgava ser uma das mentiras megalomaníacas do poeta, da «novela dramática» António, e da peça Alfama); e a última fase, nos [[década de 1940|anos 40]] e 50, até à morte que é a de uma longa e triste decadência, com poemas desvairadamente oportunistas, revisões desastrosas afectando nas reedições alguns dos melhores poemas anteriores [...]" em [[Líricas Portuguesas]], de [[Jorge de Sena]].
 
Sobre a poesia de António Botto escreveu [[Fernando Pessoa]] no prefácio do seu livro ''Motivos de Beleza'', publicado em 1923:
 
: "A elegância espontânea do seu pensamento, a dolência latente de sua emoção asseguram-lhe facilmente, conjugando-se, a mestria nesta espécie de lirismo [...] Distingue-se pela simplicidade perversa e pela preocupação estética destituída de preocupações. Foge da complicação com o mesmo ardor com que se esconde da intenção directa. É em verdade singular que se seja simples para dizer exactamente outra coisa, e se vá buscar as palavras mais naturais para por meio delas ter entendimentos secretos.
: Certo é que o que António Botto escreve, em verso ou em prosa, há que ser lido sempre com a intenção posta em o que não está lá escrito."
 
== Obras ==
;Poesia
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;Teatro
* Alfama ([[1933]])
 
 
Esgotada desde há muitos anos, a obra completa de António Botto começou a ser reeditada, em 2008, pelas [http://www.quasi.com.pt/product_info.php?products_id=51362&osCsid=dc5f4a21dce2dfab9c71f9032697284d Quasi Edições] (Lisboa), a cargo do crítico literário e escritor [[Eduardo Pitta]].
 
 
=== Traduções ===