Thomas R. Marshall: diferenças entre revisões

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Marshall abriu uma firma de advocacia em Columbia City no ano de 1876, pegando casos pequenos. Depois de ganhar destaque, ele aceitou William F. McNagny como parceiro em 1879 e começou a pegar muitos casos de defesa criminal. Os dois homens funcionavam bem como parceiros; McNagny tinha um maior conhecimento da lei e trabalhava nos argumentos, e Marshall, melhor orador, defendia os casos perante o juiz e o júri. A firma deles ficou bem conhecida na região após cuidarem de vários casos de destaque.<ref>Bennett 2007, p. 22</ref> Em 1880, Marshall concorreu a um cargo público pelo Partido Democrata pela primeira vez, promotor público do distrito.<ref name=gray283 >Gray 1977, p, 283</ref> O distrito era um reduto Republicano e ele foi derrotado. Ao mesmo tempo, ele conheceu e ficou noivo de Kate Hooper. Hooper morreu em 1882 um dia antes do casamento. Sua morte foi um enorme choque emocional para Marshall, fazendo com que ele virasse alcoólatra.<ref>Bennett 2007, p. 23</ref><ref name=gray284 >Gray 1977, p. 284</ref>
 
Marshall morou com seus pais até seus trinta anos. Seu pai morreu no final da década de 1880 e sua mãe em 1894, deixando para ele as propriedades da família e negócios. Em 1895, Marshall conheceu [[Lois Irene Marshall|Lois Irene Kimsey]], que estava trabalhando na firma de advocacia do pai.<ref name=gray284 /> Apesar dos seus dezoito anos de diferença, os dois se apaixonaram a casaram-se em [[2 de outubro]].<ref name=bennett46 >Bennett 2007, p. 46</ref> Os Marshall eram muito próximos e quase inseparáveis, tendo passado apenas duas noites longe um do outro durante seu casamento de trinta anos.<ref>Bennett 2007, p. 47</ref>
 
Seu alcoolismo já afetava sua vida antes do casamento. Marshall chegou inúmeras vezes em tribunais de ressaca e não conseguiu esconder seu vício da população da cidade. Sua esposa o ajudou a superar seu problema com bebidas após trancá-lo em casa por duas semanas para submeter-se a um regime de tratamento.<ref name=bennett46 /> Depois disso, ele tornou-se ativo em organizações de temperança e passou a fazer vários discursos sobre os perigos das bebidas alcoólicas. Apesar de ter largado o vício, seu alcoolismo foi posteriormente usado contra ele durante sua campanha para governador.<ref name=gugin235 >Gugin & St. Clair 2006, p. 235</ref><ref>Bennett 2007, p. 74</ref>
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===Progressivismo===
[[Ficheiro:Midnight at the glassworks2b.jpg|thumb|left|Crianças em uma fábrica de vidro. O [[trabalho infantil]] terminou em Indiana por causa de leis aprovadas por Marshall.]]
Marshall tomou posse como [[Anexo:Lista de governadores de Indiana|Governador de Indiana]] em {{dtlink|11|1| de janeiro de 1909}}. Já que seu partido estava há anos longe do poder, seu objetivo inicial era designar o maior número possível de Democratas para posições de clientelismo.<ref name=gugin237 >Gugin & St. Clair 2006, p. 237</ref> Marshall tentou evitar envolver-se diretamente no sistema de clientelismo. Ele permitiu que diferentes facções do partido tivessem posições, e nomeou apenas algumas de suas próprias escolhas. Ele deixou que Taggart cuidasse do processo e escolhesse os candidatos, mas assinou as nomeações oficiais. Apesar de sua posição ter mantido a paz dentro do partido, isso impediu que Marshall desenvolvesse uma forte base política.<ref>Bennett 2007, p. 90</ref>
 
Durante seu mandato, Marshall focou-se principalmente em pautas progressistas. Ele defendeu com sucesso a aprovação de leis contra o [[trabalho infantil]] e legislações anti-corrupção. Ele apoiou a eleição popular de senadores dos EUA, e a emenda constitucional para permitir isso foi ratificada pela Assembleia Legislativa de Indiana durante seu mandato.<ref name=bennett114 > Bennett 2007, p. 114 </ref> Ele também reformulou as agências de auditoria do estado e afirmou ter salvo milhões de dólares do governo.<ref name=gugin237 /> Ele não conseguiu aprovar o resto dos itens da plataforma progressista ou persuadir o legislativo a convocar uma convenção para reescrever a constituição estadual, expandindo os poderes reguladores do governo.<ref> Gray 1977, p. 290 </ref>
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Marshall não ficou ofendido pela falta de interesse que Wilson tinha por suas ideias, considerando seu principal dever constitucional como sendo o senado. Ele via a vice-presidência como um cargo pertencente ao legislativo, não ao executivo.<ref>Bennett 2007, p. 171</ref> Enquanto presidia o senado, as emoções algumas vezes afloravam, incluindo durante um debate em 1916 sobre as [[intervenções dos Estados Unidos no México]].<ref name=bennett172 >Bennett 2007, p. 172</ref> Durante o debate, Marshall ameaçou expulsar alguns senadores por comportamento exacerbado, mas não cumpriu a ameaça. Em várias ocasiões, ele ordenou que a câmara do senado fosse esvaziada.<ref name=bennett172 /> Em oito ocasiões, ele votou para desempatar alguma decisão.<ref>Bennett 2007, p. 173</ref>
 
Em discussões sobre a [[Primeira Guerra Mundial]], certos senadores [[Isolacionismo|isolacionistas]] impediram que debates fossem encerrados em medidas que Wilson considerava importante. Os debates duravam semanas ou até mesmo meses. Wilson e os apoiadores das medidas pediram para que Marshall colocasse uma ordem de supressão para encerrar os debates, mas ele se recusou por motivos éticos, permitindo que várias medidas fossem derrotadas na esperança que a oposição eventualmente terminasse com a discussão.<ref name=bennett186 >Bennett 2007, p. 186</ref> Entre as medidas derrotadas estava uma que permitia que navios mercantes se armassem, e outra que permitia que os EUA vendessem armas diretamente para os países aliados.<ref>Gray 1977, p. 295</ref> Apesar de suas vitórias, o pequeno grupo de senadores continuou a bloquear o senado para impedir a aceitação de quaisquer legislações pró-guerra. Em resposta, Marshall fez o senado adotar uma nova regra {{dtlink|8|3| de março de 1917}}, permitindo que empasses fossem encerrados por uma maioria de dois terços dos senadores votantes. Isso substituiu a regra anterior que permitia que qualquer senador prolongasse o debate pelo tempo que desejasse. Essa regra foi modificada várias vezes nos anos seguintes; a atual requer três quintos de ''todos'' os senadores, não apenas dos votantes.<ref>Bennett 2007, p. 187</ref><ref name=gray296 >Gray 1977, p. 296</ref>
 
Como Marshall aparecia pouco e era visto como uma figura cômica em [[Washington, D.C.]] por causa de seu senso de humor, vários líderes do Partido Democrata queriam que ele fosse removido da [[Eleição presidencial nos Estados Unidos em 1916|chapa para a reeleição em 1916]].<ref>Gray 1977, p. 298</ref> Após deliberação, Wilson decidiu manter Marshall para demonstrar unidade no partido; assim, em 1916, Marshall venceu a reeleição contra o ainda dividido Partido Republicano e tornou-se o primeiro vice-presidente a ser reeleito desde [[John C. Calhoun]] em 1828, e Wilson e Marshall tornaram-se o primeiro presidente e vice-presidente a serem reeleitos juntos desde [[James Monroe]] e [[Daniel D. Tompkins]] em 1820.<ref name=gugin240 /><ref>Bennett 2007, p. 215</ref>
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[[Ficheiro:Thomas R. Marshall in his Senate office.jpg|thumb|right|Marshall em seu escritório no senado.]]
Na tarde de {{dtlink|2|6| de junho de 1915}}, Eric Muenter, um [[Anarquismo|anarquista]] e professor de alemão que opunha-se ao apoio norte-americano ao esforço de guerra aliado, invadiu a câmara do senado e colocou dinamite perto da porta do escritório de Marshall. A bomba explodiu prematuramente, pouco antes da meia-noite quando não havia ninguém no prédio. Em [[5 de julho]], Muenter invadiu a casa de Jack Morgan, filho de [[J. P. Morgan]], em [[Glen Cove]], [[Nova Iorque (estado)|Nova Iorque]], e exigiu que ele impedisse a venda de armas aos países aliados. Morgan disse que não estava em condições de cumprir com a exigência; Muenter bateu na cabeça dele e fugiu.<ref>Bennett 2007, p. 202</ref> Ele foi posteriormente preso e confessou ter tentado assassinar o vice-presidente.<ref>Bennett 2007, p. 203</ref> Foi oferecido a Marshall um destacamento pessoal de segurança, mas ele recusou.<ref name=bennett204 >Bennett 2007, p. 204</ref>
 
Wilson enviou Marshall pelo país para realizar vários discursos motivadores e encorajar os norte-americanos a comprar bônus de guerra para apoiar o combate.<ref name=bennett225 >Bennett 2007, p. 225</ref> Marshall estava bem preparado para o trabalho e aceitou a responsabilidade com prazer, já que estava ganhando dinheiro extra como orador público durante sua vice-presidência. Em seus discursos, ele chamou a guerra de uma "cruzada moral para preservar a dignidade do estado pelos direitos individuais".<ref name=bennett225 /> Em suas memórias, Marshall lembra que a guerra parecia arrastar-se com "pés de barro", e que ele ficou aliviado quando finalmente acabou.<ref name=bennett225 /> Quando a guerra aproximava-se do seu fim, Marshall tornou-se o primeiro vice-presidente a realizar reuniões de gabinete;<ref name=gugin240 /> Wilson o incumbiu com essa responsabilidade enquanto viajava pela Europa para assinar o [[Tratado de Versalhes (1919)|Tratado de Versalhes]] e conseguir apoio para a [[Sociedade das Nações]]. Wilson tornou-se o primeiro presidente a pessoalmente entregar um tratado para ser ratificado pelo senado, que ele apresentou a Marshall durante uma sessão matinal.<ref>Bennett 2007, p. 251</ref><ref>Gray 1977, p. 251</ref>
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===Crise da sucessão===
Wilsou sofreu um derrame leve em setembro de 1919.<ref>Bennett 2007, p. 275</ref> Em [[2 de outubro]], ele teve um derrame muito mais sério que o deixou parcialmente paralisado e quase certamente incapacitado.<ref name=gugin240 /><ref name=bennett279 >Bennett 2007, p. 279</ref><ref name=gray302 >Gray 1977, p. 302</ref> O conselheiro mais próximo de Wilson, Joseph Patrick Tumulty, não acreditava que Marshall seria um presidente adequado e tomou medidas para impedir que ele assumisse a presidência. A esposa de Wilson, Edith Bolling Galt Wilson, não gostava do vice-presidente por causa de seu caráter "grosseiro", e também se opôs a sua ascensão à presidência.<ref name=feerick13 >Feerick 1992, p. 13</ref><ref>Bennett 2007, p. 235</ref> Tumulty e Edith Wilson acreditavam que um comunicado oficial do gabinete de Wilson sobre a condição do presidente permitiria que Marshall acionasse o mecanismo constitucional que lhe tornaria presidente interino, e impediram que qualquer tipo de comunicado fosse emitido.<ref>Bennett 2007, p. 277</ref><ref>''Congressional Quartely'' 1976, p. 212</ref> Depois de Marshall exigir saber a verdadeira condição de Wilson para preparar-se para a possibilidade de tornar-se presidente, eles fizeram um repórter do ''[[The Baltimore Sun]]'' contar que o presidente estava perto de sua morte.<ref>Bennett 2007, p. 285</ref> Marshall posteriormente disse que "foi o primeiro grande choque da minha vida", porém, sem nenhum comunicado oficial sobre a condição de Wilson, ele não acreditava que poderia assumir a presidência constitucionalmente.<ref name=gray302 /><ref>Bennett 2007, p. 243</ref><ref>''Congressional Quartely'' 1976, p. 213</ref>
 
Em [[5 de outubro]], Robert Lansing, [[Secretário de Estado dos Estados Unidos|Secretáriosecretário de Estadoestado]], foi o primeiro oficial a sugerir que Marshall assumisse a presidência à força. Outros secretários de gabinete apoiaram o pedido de Lansing, assim como líderes do Congresso, incluindo membros tanto do partido Democrata quanto do Republicano em comunicados secretos a Marshall. O vice-presidente estava cauteloso em aceitar as ofertas de apoio.<ref>Bennett 2007, p. 282</ref> Depois de conversar com sua esposa e seu conselheiro pessoal de longa data, Mark Thistlethwaite, ele recusou-se a assumir as funções de Wilson e tornar-se Presidente Interino dos Estados Unidos.<ref>Bennett 2007, p. 244</ref><ref>Gray 1977, p. 303</ref> O processo para declarar um presidente incapacitado não era claro na época, e ele temia criar um precedente caso removesse Wilson à força do cargo.<ref name=feerick13 /> Marshall queria que o presidente permitisse voluntariamente que seus poderes fossem passados para o vice-presidente, mas isso era impossível devido a condição de Wilson e improvável pelo fato dele não gostar de Marshall. O vice-presidente informou o gabinete que ele assumiria a presidência apenas se o Congresso pedisse através de uma resolução, ou se um comunicado oficial de Wilson ou sua equipe fosse emitido declarando a inabilidade do presidente para realizar suas funções.<ref name=bennett279 /><ref name=gray302 />
 
A esposa de Wilson e seu médico pessoal mantiveram o presidente isolado, com apenas seus conselheiros mais próximos recebendo permissão para vê-lo; ninguém divulgava nenhuma informação oficial sobre sua condição.<ref name=bennett279 /> Apesar de Marshall ter tentado se encontrar com Wilson para determinar pessoalmente sua condição, ele não conseguiu fazer isso, e contou com apenas atualizações vagas recebidas via os boletins publicados pelo médico do presidente.<ref name=feerick14 > Feerick 1992, p. 14 </ref> Um grupo de líderes do Congresso, acreditando que Wilson e seus conselheiros não iriam voluntariamente passar os poderes para o vice-presidente, iniciaram o pedido de Marshall para uma resolução. Porém, os senadores que se opunham a Sociedade das Nações acreditavam que Marshall, como presidente, faria várias concessões para permitir a ratificação do tratado. Em sua presente condição, Wilson não queria ou não podia fazer as concessões, e o debate sobre o projeto de lei ficou em impasse. Para impedir a ratificação do tratado, os senadores anti-Sociedade bloquearam a resolução.<ref> Bennett 2007, p. 280 </ref>
 
Em [[4 de dezembro]], Lansing anunciou durante uma reunião do senado que ninguém do gabinete havia falado ou visto Wilson há mais de sessenta dias. Os senadores que desejavam elevar Marshall à presidência pediram que um comitê fosse enviado para determinar a condição do presidente, esperando conseguir evidências para sua causa. O grupo descobriu que Wilson estava com a saúde péssima, porém parecia ter se recuperado a ponto de tomar decisões. O relatório terminou com a necessidade de uma resolução.<ref>Bennett 2007, pp. 281–282</ref>
 
Em uma missa de domingo no meio de dezembro, que Marshall acreditava ser uma tentativa de outros oficiais para forçá-lo a assumir a presidência, um mensageiro lhe contou que Wilson havia morrido. Marshall ficou chocado, e anunciou a notícia para a congregação. Os pastores fizeram uma oração, a congregação começou a cantar hinos e muitos choraram. Marshall e sua esposa deixaram o local e ligaram para a [[Casa Branca]] afim de determinar o que fazer a seguir, descobrindo terem sido vítimas de uma armação e que o presidente ainda estava vivo.<ref>Bennett 2007, p. 297</ref>