Escultura do gótico: diferenças entre revisões

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Paralelamente, a abordagem dos motivos encontrados na tradição iconográfica românica também começou a se modificar. Até então a cena mais encontrada nos portais das igrejas era a do Juízo Final, com uma ênfase nos tormentos que aguardavam os infiéis no [[Inferno]]. Desde meados do século XI Paris se tornara o maior centro [[teologia|teológico]] e cultural da Europa através da presença de grandes filósofos e pedagogos como [[Pedro Abelardo|Abelardo]] e [[Hugo de São Vitor]], e da atuação de várias escolas, que se fundiriam para formar por volta de 1170 a [[Universidade de Paris]], e nesse ambiente acadêmico mais liberal, relativamente independente da Igreja, ganhara terreno uma filosofia [[humanista]], e se estruturou a doutrina do [[Purgatório]], que oferecia uma via de escape do Inferno através de um estágio purificador preliminar à ascensão ao [[Céu (religião)|Céu]]. Ao mesmo tempo a Virgem Maria, bem como outros santos, começaram a ser considerados grandes advogados da [[humanidade]] junto à justiça de Cristo. Nesse processo a antiga tendência da fé cristã de corrigir o pecador através do medo e da ameaça com a danação eterna foi atenuada por visões que ressaltavam a misericórdia antes do que a ira divina, e que levavam mais em conta a falibilidade inerente à natureza humana. Dessa forma, as cenas do Juízo Final continuaram a ser um motivo frequente, mas ora passaram a ser concebidas de modo a enfatizar a ordem, a esperança e a justiça, mostrando os caminhos da salvação pelo arrependimento e pela intercessão compassiva dos santos. A própria verticalidade acentuada das catedrais góticas, e sua abundância de janelas amplas que permitiam grande penetração de luz no interior, em contraste com as formas muito mais pesadas e "quadradas" e os ambientes escuros da arquitetura românica, têm sido interpretadas como um recurso formal que espelhou esse novo e otimista impulso espiritual.<ref name="Rothschild"/><ref>{{citar web |url=http://books.google.com/books?id=dZsW7-KwfBkC&pg=PA73&dq=%22gothic+sculpture%22&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1980&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2009&as_brr=0&hl=pt-BR#v=onepage&q=%22gothic%20sculpture%22&f=false |titulo=Catedrais Medievais |língua2=en |autor=Clark, William W. |trabalho=Greenwood guides to historic events of the medieval world, pp. 73-75 |publicado=Greenwood Publishing Group |data=[[2006]]}}</ref>
 
O Gótico primitivo permaneceu essencialmente como um fenômeno francês, concentrado na região de [[Paris]], e o primeiro monumento importante a incluir esculturas foi a [[Basílica de Saint-Denis]], cujo [[abade]], [[Suger]], mandou reformar entre 1137 e 1144&nbsp;um edifício românico pré-existente e o adornou com grandes riquezas. A importância especial de Saint-Denis estava em que [[Carlos Magno]] havia sido consagrado lá, era o túmulo de [[Carlos Martel]], [[Carlos II de França|Carlos, o Calvo]] e outros fundadores do reino, sendo por isso um memorial da [[dinastia Carolíngiacarolíngia]], e ao mesmo tempo se tornava um símbolo da consolidação da [[monarquia]] francesa, processo em que Suger teve papel proeminente em sua condição de conselheiro do rei e regente da França durante a [[Segunda Cruzada]]. Além disso a Basílica era o relicário monumental de [[São Denis]], [[mártir]] e [[apóstolo]] da França, padroeiro de Paris e protetor do reino, e Suger desejou torná-la o mais importante centro de [[peregrinação]] francesa. Estava assim revestida de significados espirituais e políticos. Para Suger, que fora influenciado pelos escritos do Pseudo-Dionísio, a ornamentação da igreja com objetos de ouro e gemas preciosas, vitrais, pinturas e esculturas, era um valioso instrumento educativo, sendo uma forma de apresentar visualmente a doutrina para o povo e torná-la mais facilmente compreensível. A organização clara da cena do tímpano difere dos arranjos compactos dos conjuntos românicos, e suas [[estátua]]s colunares foram da mesma maneira uma inovação.<ref name="Gardner">{{citar web |url=http://books.google.com/books?id=fT0QTO3uvWkC&pg=PA363&dq=%22gothic+sculpture%22&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1980&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2009&as_brr=0&hl=pt-BR#v=onepage&q=%22gothic%20sculpture%22&f=false |titulo=Gardner's art through the ages: the Western perspective'' |língua2=en |autor=Gardner, Helen; Kleiner, Fred S. & Mamiya, Christin J. |trabalho=Volume 1. Cengage Learning, pp. 361-368 |data=[[2005]]}}</ref><ref name="Janson">{{citar web |url=http://books.google.com/books?id=MMYHuvhWBH4C&pg=PT323&dq=%22gothic+sculpture%22&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1980&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2009&as_brr=0&hl=pt-BR#v=onepage&q=%22gothic%20sculpture%22&f=false |titulo=História da Arte: a tradição ocidental |publicado=Prentice Hall PTR |data=[[2003]] |autor=Janson, Horst Woldemar |língua2=en}}</ref>
 
As novidades propostas por Suger para a arquitetura e a decoração das fachadas, amparadas pelo grande prestígio de Paris como centro cultural, artístico e universitário, imediatamente começaram a se irradiar, aparecendo em seguida na [[Catedral de Chartres]], iniciada em 1145, cujo portal oeste constitui o mais importante conjunto escultórico em boas condições da primeira fase do Gótico. Suas esculturas colunares possuem um desenho muito alongado e funcionam como um eco à ênfase vertical do edifício, e suas formas ainda evidenciam a herança românica no tratamento linear dos trajes e em suas atitudes rígidas. As faces, porém, mostram um tratamento bastante naturalista que faz contraste com a esquematização românica.<ref name="Gardner"/><ref name="Britannica">{{citar web |url=http://www.britannica.com/EBchecked/topic/530221/Western-sculpture/30378/Early-Gothic#ref=ref401341 |titulo=Escultura ocidental: Gótico |publicado=[[Encyclopædia Britannica]] Online |língua2=en |acessodata=[[18 de outubro]] de [[2009]]}}</ref> Tanto as esculturas de Saint-Denis como as das outras fachadas de Chartres foram em grande parte destruídas, mutiladas, substituídas ou mal-restauradas em tempos posteriores, impedindo uma compreensão global de seus programas iconográficos, mas a [[Catedral de Laon]], que sobreviveu sem grandes danos, fornece um conjunto completo do Gótico inicial. Outros bons exemplos, um pouco mais tardios, são as catedrais de [[Bourges]], [[Le Mans]] e [[Angers]], com variados graus de conservação.<ref name="Gardner, Kleiner & Mamiya, pp. 377-379">{{citar web |url=http://books.google.com/books?id=fT0QTO3uvWkC&pg=PA363&dq=%22gothic+sculpture%22&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1980&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2009&as_brr=0&hl=pt-BR#v=onepage&q=%22gothic%20sculpture%22&f=false |titulo=Sculpture through the Ages |autor=Gardner, Kleiner & Mamiya |publicado=pp. 377-379 |língua2=en}}</ref> É preciso advertir que a produção de escultura durante o gótico foi tão vasta e variada - só em Chartres a fachada ostenta mais de duas mil peças - que seu estudo em detalhe se apresenta aqui fora de questão, sendo possível apenas traçar suas principais linhas evolutivas e suas características mais genéricas.<ref name="Fowler"/>