Campanha do Egito: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 88:
:«Toda a força militar do país encontrava-se nos bandos de Mamelucos que eram quem governava o território [...] Eles manobravam os seus cavalos com enorme destreza e estavam armados com carabinas de cano curto, capazes de descarregarem dez ou doze balas de uma vez, duas pistolas, uma maça e um sabre curvo que utilizavam em combate com uma habilidade espantosa.»<ref>M'Gregor, pp. 458 e 459.</ref> Constituíam uma formação militar deslumbrante e os seus cavaleiros mostravam grande bravura mas também indisciplina<ref>Barnett, p. 58.</ref>.<br />
 
É difícil enumerar as forças que os Franceses enfrentaram no Egito. Quando estudamos as batalhas, são-nos apresentados números diversos. De acordo com Digby Smith<ref>Smith, p. 140.</ref>, no principal confronto verificado no Egito - a Batalha das Pirâmides - Napoleão enfrentou uma força que era formada por 6.000 Mamelucos e cerca de 54.000 Árabes, a maioria a cavalo, mas constituindo estes uma tropa irregular. James Marshall-Cornwall<ref>Marshall-Cornwall, p. 87.</ref> contabiliza 17.000 Mamelucos dos quais 5.000 formavam a cavalaria e 12.000 a infantaria. São números muito díspares mas pode-se, pelo menos, concluir que a cavalaria era em número superior à dos Franceses. O mesmo se passou na Síria, onde Napoleão enfrentou forças locais e de origem turca. Por vezes, os relatórios franceses apresentavamexageravam os números exagerados relativos aodo inimigo, a fim depara enaltecerenaltecerem a vitória ou justificarjustificarem a derrota. Este facto também não ajuda a chegar a conclusões mais precisas. Robert Harvey afirma que, num dos seus despachos, Napoleão descreveu que os Mamelucos tinham uma força de 78.000 homens<ref>Harvey, p. 283.</ref>.<br />
 
==A Comissão das Ciências e das Artes==
Linha 121:
A França era, desde 1536, aliada do Sultão da Turquia, o soberano titular do Egito. Napoleão pretendia que Talleyrand fosse a Constantinopla com a missão de persuadir o Sultão a apoiar a invasão francesa do Egito, com a finalidade de fazer com que este território, que era na realidade governado com grande autonomia pelos Mamelucos, voltasse ao verdadeiro controlo do soberano turco<ref>Marshall-Cornwall, p. 80.</ref>. Na realidade, o que a República Francesa pretendia era substituir as possessões perdidas na América, por novas colónias no Oriente. E, nos argumentos apresentados para justificar a conquista do Egito, procuravam-se razões aparentemente altruístas: «O Egito foi uma província da República Romana, é necessário que se torne da República Francesa. A conquista dos Romanos foi a época de decadência deste belo país, a conquista pelos Franceses será a da sua prosperidade.»<ref>Solé, pp. 24 e 25.</ref><br />
 
A decisão final para invadir o Egito foi tomada numa reunião do Diretório, a 1 e 2 de Março de 1798<ref>Barnett, p. 56.</ref>. De acordo com as instruções de 12 de Abril desse ano, a conquista do Egito previa um objectivo ulterior: destruir o poder crescente da Inglaterra na Índia. O Egito seria utilizado como uma plataforma de onde se iniciaria o avanço para Oriente «antecipando em cerca de meio século a convicção de que o istmo de Suez era a verdadeira via de comunicação entre a Europa e a Ásia»<ref>Cust, p. 130.</ref>. Previa-se estabelecer uma aliança com o [[Fateh Ali Tipu|Sultão Tipu]] do [[Reino de Mysore]], para expulsar os Ingleses da Índia. Neste ano de 1798, os Ingleses desencadearam uma ofensiva contra aquele reino e, nos principais combates, as forças inglesas foram comandadas pelo Tenente-coronel [[Arthur Wellesley, 1.º Duque de Wellington|Arthur Wellesley]]. Para apoiar as operações militares na Índia, os Franceses dispunham, no [[Oceano Índico]], da Ilha [[Maurícia]]. Ao embarcar, Napoleão levava na sua bagagem um conjunto de mapas e a obra de James Rennell ''Bengal Atlas containing maps of the theatre of war and commerce on that side of Hindoostan'' que tinha sido publicada em 1781<ref>Marshall-Cornwall, pp. 80 e 81.</ref>.<br />
 
A expedição do Egito implicava, para os Franceses, manterem uma linha de comunicações através do Mediterrâneo. Para este objectivo, Valeta era um porto importante para os Franceses, mas também para outras potências. Por esta razão, as ambições do Czar da Rússia e a nomeação de um Austríaco para o cargo de Grão-Mestre da Ordem ali sediada, ditaram a decisão dos Franceses, de ocuparem a ilha de Malta. Por um lado, os Britânicos perderiam um excelente porto de apoio à sua armada no Mediterrâneo e, por outro, os Franceses teriam facilitada a sua tarefa de manter a linha de comunicações entre o Egito e o Sul de França<ref>Marshall-Cornwall, p. 81.</ref>. A 13 de Setembro, numa carta dirigida a Talleyrand, Napoleão escrevia: «Porque é que não nos apoderamos da ilha de Malta? Com a ilha de Saint-Pierre que nos foi cedida pelo rei da Sardenha, Malta, Corfou, etc., nós seremos donos de todo o Mediterrâneo»''<ref>Solé, pp. 14 e 15.</ref>.<br />
Linha 131:
===Os preparativos===
 
A expedição foi organizada em [[Toulon]]. A preparação da expedição não foi mantida em segredo, nem tal seria possível. ''O [[The Times]]'' deu notícias desta actividade, mas o destino da expedição não foi revelado. Aquele periódico londrino deduzia que as forças em preparação se destinavam à invasão do [[reino de Nápoles]] ou da [[História da Sicília|Sicília]]<ref>Barnett, p. 56.</ref>. Os Britânicos não quiseram acreditar que um exército inteiro, comandado pelo melhor general da República, fosse enviado para um teatro de operações secundário, onde não tinha senão interesses indirectos. Aos sábios e artistas foi indicado que o destino final era a Itália. O verdadeiro objectivo da expedição foi, pois, ignorado pela quase totalidade dos participantes e só alguns dos oficiais mais graduados tinham conhecimento dos planos. Napoleão explicou aos seus homens que eles formavam a ala esquerda do ''Exército de Inglaterra''. O verdadeiro destino da expedição só foi conhecido no último momento<ref>Marshall-Cornall, p. 82.</ref>. «Não existiam 40 pessoas na expedição que tivessem conhecimento da rota que iam seguir» afirmou o General Kléber nos seus "''Carnets"''<ref>Solé, p. 39.</ref>.<br />
 
Para a expedição foram requisitados todos os navios de comércio disponíveis em diversos portos do Mediterrâneo. A organização de uma frota com cerca de 300 navios foi um trabalho notável. Para além de todo o pessoal e material, rebanhos inteiros foram embarcados, para alimentar tanta gente. Foram feitas previsões de comida e água potável para dois meses<ref>Solé, p. 48.</ref>. No entanto, houve graves falhas de planeamento. Napoleão (e o seu estado-maior) não preparou o Exército do Oriente para penetrar centenas de quilómetros num território hostil e desconhecido, ignorando os perigos, o inimigo, o terreno e o clima. Neste último caso, o exército não se preparou para suportar um calor intenso e falta de água. Tudo foi planeado como se o exército conseguisse abastecer-se no território e movimentar-se facilmente no deserto, tal como acontecia na Europa. Napoleão não equipou as suas tropas com [[Cantil|cantis]] e esta omissão iria custar muitas vidas<ref>Harvey, p. 253 e 255.</ref>.<br />
Linha 141:
A viagem da esquadra principal teve início em Toulon, a 19 de Maio. A expedição partiu em quatro esquadras separadas. As outras três partiram de [[Génova]], [[Ajaccio]] e [[Civitavecchia]]. Ao todo eram cerca de 300 navios de transporte, escoltados por catorze navios de linha e treze fragatas, sob o comando do Vice-Almirante [[François-Paul Brueys d'Aigalliers|Bruyes]]. Napoleão encontrava-se no navio almirante, ''l'Orient''. No caminho, acolheram os navios com tropas vindos de Génova, da [[Córsega]] e de Civitavecchia<ref>Marshall-Conwall, p. 82; Barnett, p. 56.</ref>.<br />
 
A viagem até [[Alexandria]] demorou seis semanas. Se a frota fosse atacada no mar dar-se-ia uma catástrofe, pois não era fácil manter agrupados todos aqueles navios, que navegavam a velocidades diferentes. A esquadra britânica, sob o comando de [[Horatio Nelson]], encontrava-se ao largo de Toulon quando, no dia 17 de Maio, foi dispersa por uma tempestade. As esquadras britânica e francesa não se encontraram durante a viagem até ao Egito, em parte devido às condições atmosféricas, embora quase se cruzassem nas noites de 22 para 23 e 26 para 27 de Junho. Nelson chegou a Alexandria antesprimeiro que dosos Franceses, mas, foi obrigado a partir antes mesmo de eles ali chegarem, foi obrigado a partir com a finalidade depara se reabastecer na Sicília. Este facto viria permitir a Napoleão desembarcar as suas tropas sem ser incomodado pelos Britânicos<ref>Connelly, p. 192.</ref>.<br />
 
Os capitães de alguns navios de transporte, requisitados contra sua vontade, tentavam fugir durante a noite mas uma fragata era então destacada para os reconduzir à frota e, por vezes, era necessário intimidá-los com alguns tiros de canhão<ref>Solé, p. 48.</ref>. As tropas, amontoadas a bordo, sofreram com o desconforto das condições em que se encontravam, e estas pioraram com algumas tempestades que apanharam no caminho. Os alimentos deterioraram-se rapidamente e Malta não tinha condições para abastecer uma força tão numerosa<ref>Marshall-Cornwall, p. 83.</ref>.<br />
Linha 213:
===A retirada francesa===
 
Depois do início da ofensiva turco-britânica que deu origem à Convenção de Alarixe, os Franceses tinham começado a fazer preparativos para abandonarem o Egito. No dia 5 de Fevereiro de 1800, cerca de 40 elementos da Comissão das Ciências e das Artes deixaram o Cairo em direção à costa mediterrânica. Transportavam nas suas bagagens todos os seus papéis, coleções e muitos objetos, entre eles a [[Pedra de Roseta]]. Kléber esperava enviar este primeiro grupo num navio italiano. Apenas desejava manter em território Egípcio os engenheiros geógrafos, para estes terminarem a carta daquele território.<ref>Solé, p. 342.</ref>. O reacender das hostilidades, por não terem sido aceites as condições exigidas pelos Britânicos para a capitulação dos Franceses, obrigou a que se apressassem esses preparativos. No entanto, após o assassinato de Kléber (14 de Junho de 1800) e dea oassunção Generaldo Menoucomando terpelo assumidoGeneral o comandoMenou, houve um período de calma, que iria durar até ao início do ano seguinte. Menou não tinha intenção de retirar do Egito.<br />
 
No dia 1 de Março de 1801, uma frota britânica aproximou-se de Alexandria. A notícia demorou três dias a chegar ao Cairo. O General Menou decidiu manter-se na capital. No dia 8 de Março, aproveitando uma situação meteorológica favorável, os Britânicos desembarcaram em Aboukir. Os Franceses tentaram oferecer resistência a este desembarque, mas foram derrotados no confronto que se deu nesse mesmo dia - referido em algumas obras como Segunda [[Batalha de Abukir (1801)|Batalha de Abukir]]. Após a batalha, os Britânicos cercaram a guarnição francesa do forte e dirigiram-se para Alexandria. No dia 13 de Março há um novo confronto na [[Batalha de Mandora]], com uma derrota para os Franceses. Entretanto, Menou saiu do Cairo a 12 de Março, depois de confiar o comando ao General Belliard, e dirigiu-se para Alexandria, onde chegou a 19 de Março. Dois dias depois deu-se o confronto entre as forças francesas e britânicas, na [[Batalha de Alexandria|Batalha de Canope]]{{nota de rodapé|Esta batalha é designada como Batalha de Canope por Robert Solé (p. 434) e Harvey (p. 328), como Batalha de Alexandria por Digby Smith (pp. 195 e 196) e como Batalha de Abukir na enciclopédia de Dupuy & Dupuy. Nesta última obra a batalha está datada de 20 de Março e nas restantes de 21. Chandler, na cronologia da obra mencionada na Bibliografia, chama-lhe Segunda Batalha de Abukir e atribui-lhe a data de 22 de Março.}}, com a derrota do exército francês<ref>Solé, pp. 433 a 437.</ref>.<br />