Messalina: diferenças entre revisões

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{{sem-fontes|data=Outubro de 2012}}
{{Não confundir|Estatília Messalina}}
{{Info/Monarca
|nome = Valéria Messalina
|título = [[Imperatriz-consorte romana]]
|imagem = [[Fincheiro:Valeria Messalina.jpg|200px]]
|legenda =
|reinado = {{dtlink|24|1|41}} — {{dtlink|||48}}
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|outrostítulos =
|nome completo = ''Valeria Messalina''
|antecessor = [[Milônia Cesônia]]
|sucessor = [[Agripina Menor]]
|consorte = [[Cláudio]]
|filhos = [[Cláudia Otávia]]<br>[[Britânico (césar)|Britânico]]
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|dinastia = [[Dinastia júlio-claudiana|Júlio-claudiana]]
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|pai = [[Marco Valério Messala Barbado]]
|mãe = [[Domícia Lépida, a Jovem]]
|nascimento = {{dni|25|01|17}} (ou [[20]])
|cidadenatal = [[Roma]]
|morte = {{morte|||48|25|01|17}} (ou 28)
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|sepultamento = [[Jardim de Lúculo]]
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}}
'''Valéria Messalina'''<ref>''[[Prosopografia do Império Romano Tardio|Prosopographia Imperii Romani]]'' V 161</ref>, também conhecida somente como '''Messalina''', foi uma [[imperatriz-consorte romana]], terceira esposa do [[imperador romano|imperador]] [[Cláudio]]. Ela era também prima pelo lado do pai de [[Nero]], prima de segundo grau de [[Calígula]] e sobrinha-bisneta de [[Augusto]]. Messalina era poderosa e influente, com uma reputação de ser [[:wikt:promíscuo|promíscua]], alega-se que ela teria conspirado contra o marido e foi executada quando o plano foi descoberto. E esta reputação, que pode ser derivada de um viés político contra ela, acabou perpetuada na arte e na literatura até os tempos modernos.
 
== Primeiros anos ==
'''Valéria Messalina''' (em [[latim]]: ''Valeria Messalina Augusta'', {{dni|lang=br|||17|si}} (?) — {{morte|lang=br|||48}}) foi a terceira mulher do imperador [[Cláudio]]. Filha de Marco Valério Messala Barbato Suetônio, membro de uma família tradicional da [[aristocracia]] da [[República Romana]], e de Domícia Lépida, casou-se com [[Cláudio]] em [[38]] d.C. e deu origem a dois filhos: [[Tibério Cláudio César Britânico|Britânicus]] e [[Claudia Octavia|Cláudia Octávia]].
Messalina era a mais nova - e única menina - dos dois filhos de [[Domícia Lépida, a Jovem]], e seu primo e marido [[Marco Valério Messala Barbado]]<ref>''Prosopographia Imperii Romani'' V 88</ref><ref>[[Suetônio]], ''Vita Claudii'', 26.29</ref>. Sua mãe era a filha mais nova do [[cônsul]] [[Lúcio Domício Enobarbo (cônsul em 16 a.C.)|Lúcio Domício Enobarbo]] com [[Antônia Maior]]. Domício já havia sido casado com a futura imperatriz [[Agripina, a Jovem]], e era o pai biológico do futuro imperador [[Nero]], que era, portanto, primo de Messalina apesar de ser dezessete anos mais velho. As avós de Messalina, [[Cláudia Marcela]] e Antônia Maior eram meio-irmãs. Cláudia, a paterna, era filha da irmã de Augusto, [[Otávia, a Jovem]], e de [[Caio Cláudio Marcelo Menor]]. Antônia, a materna, era a filha mais velha da mesma Otávia com [[Marco Antônio]] e era tia de [[Cláudio]]. Como se pode ver, a família tinha muitos casamentos de parentes próximos.
 
Pouco se sabe sobre a vida de Messalina antes do casamento em 38 com Cláudio, que já tinha por volta de 48 anos de idade. Dois filhos nasceram desta união:
==Antecedentes históricos==
* [[Cláudia Otávia]] (nascida em 39 ou 40), uma futura imperatriz, meia-irmã e primeira esposa de [[Nero]];
O primeiro fato controvertido desta figura pública é com relação a data de seu nascimento. Alguns historiadores apontam o ano de [[17]], porém é quase certo que tenha nascido entre os anos [[20]] a [[25]] d.C..
* [[Britânico (césar)|Britânico]], césar.
Por volta do ano 38, enquanto [[Calígula]] era o imperador, Messalina casou-se com [[Cláudio]], um homem que beirava os cinqüenta anos.
Desnecessário salientar que o casamento com Cláudio foi meramente político, sem nenhum amor ou paixão nutrida por parte de Messalina. Em verdade, a família de Messalina estava interessada na possibilidade de Cláudio vir a se tornar, como de fato se tornou um imperador.
 
Quando o imperador [[Calígula]] foi assassinado em 41, a [[guarda pretoriana]] proclamou Cláudio o novo imperador e Messalina, sua imperatriz.
Aliás, poucos aspectos eram atrativos de Cláudio. Além da idade avançada, Cláudio possuía uma deficiência física na perna direita, além de uma desagradável tendência de cuspir enquanto falava. Costumava adormecer, após os almoços, à mesa, enquanto os presentes atiravam-lhe detritos para humilhá-lo. Disse [[Sêneca]]: '' “sua expressão era de certa forma ameaçadora, sacudia a cabeça continuamente, arrastava o pé direito... e emitia, babando, um resmungo confuso e incompreensível... sua voz não tinha nada de humano... Hércules, vendo tal monstro, pensou que ainda lhe restasse um décimo terceiro trabalho a cumprir. Mas depois, olhando-o melhor, convenceu-se de que estava diante de um meio homem” ''.
Após o casamento, Messalina e Cláudio estabeleceram-se na casa do [[Palatino]], que Cláudio já ocupara antes do matrimônio, a qual ficava próxima da morada do imperador Calígula.
 
== Reputação de Messalina ==
‎Cláudio era o único parente masculino na linha de sucessão direta de seu sobrinho, o imperador, já que Calígula matara todos os outros. Isto fez com que lhe aflorasse um sentimento de tensão e desconfiança latente, frente aos mandos e desmandos daquele.
Com sua ascensão ao poder, Messalina entrou para a história com uma reputação de implacável, predadora e insaciável sexualmente. Seu marido é retratado como sendo facilmente guiado por ela e ignorante de seus muitos [[adultério]]s até ser informado de que ela teria exagerado ao se casar com seu último amante, o [[senador romano|senardor]] [[Caio Sílio]] em 48. Cláudio então teria ordenado a sua morte e ela recebeu a opção de se suicidar. Incapaz de se auto-apunhalar, Messalina foi morta pelo oficial que a prendeu. O [[Senado romano]] então ordenou que o nome de Messalina fosse retirado de todos os lugares públicos e privados e que tivesse todas as suas estátuas destruídas (''[[damnatio memoriae]]'').
Nesta época, Messalina estava grávida de [[Claudia Octavia|Cláudia Octávia]], e Cláudio passava a ser usado pelos conselheiros do imperador a confrontar seu sobrinho. Oportunidades não faltavam para Calígula matar seu tio, mas não se sabe por que isto nunca ocorreu.
Por volta do ano [[40]], nasce a primeira filha do casal, Cláudia Octávia, que mais tarde viria a ser '''Octávia Neronis''', mulher do imperador [[Nero]].
 
Os historiadores que contam estas histórias, principalmente [[Tácito]] e [[Suetônio]], escreveram por volta de 70 anos depois dos eventos, quando o ambiente era hostil à linhagem imperial de Messalina. A história de Suetônio é majoritariamente alarmismo escandaloso. Tácito alega estar transmitindo ''"o que foi ouvido e escrito pelos mais velhos que eu"'', sem nomear suas fontes, com exceção das memórias de Agripina, a Jovem, que havia conseguido retirar os filhos de Messalina da sucessão imperial e que, portanto, tinha todo interesse em manchar a imagem de sua predecessora<ref> K.A.Hosack, “Can One Believe the Ancient Sources That Describe Messalina?“ [http://digitalcommons.iwu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1158&context=constructing&sei-redir=1&referer=http%3A%2F%2Fwww.google.co.uk%2Furl%3Fsa%3Dt%26rct%3Dj%26q%3Dsuetonius%2520%2520%2522messalina%2522%26source%3Dweb%26cd%3D2%26cad%3Drja%26ved%3D0CDMQFjAB%26url%3Dhttp%253A%252F%252Fdigitalcommons.iwu.edu%252Fcgi%252Fviewcontent.cgi%253Farticle%253D1158%2526context%253Dconstructing%26ei%3DX5LAUYLTL8XxOoGmgLAP%26usg%3DAFQjCNE5A5cIBfPj4ZOuDY_TXta4RV9qlg#search=%22suetonius%20messalina%22 ‘’Constructing the Past’’ 12.1, 2011]</ref>. Já se argumentou que o que se passa por história seria puramente o resultado de sanções políticas que se seguiram à morte de Messalina<ref>Harriet I. Flower, ''The Art of Forgetting: Disgrace and Oblivion in Roman Political Culture'', Uiversity of North Carolina 2011, [http://books.google.co.uk/books?id=JSccdOtgTboC&lpg=PA42-IA3&ots=o4NqY5e0aB&dq=%22The%20sanctions%20against%20the%20memory%20of%20valeria%20messalina%22&pg=PA42-IA3#v=onepage&q=%22The%20sanctions%20against%20the%20memory%20of%20valeria%20messalina%22&f=false pp 182-9]</ref>.
Nesta época, Calígula encontrava-se em campanha militar fora de [[Roma]]. Contudo, em que pese a distância, as sandices do imperador chegavam aos ouvidos dos [[romano]]s, deixando Cláudio cada vez mais apreensivo, quase neurótico.
Em [[40]], começavam a eclodir movimentos contra o imperador, sintetizado nas palavras e ideais de [[Flávio Josefo]]: somente com a morte do imperador Calígula, haveria a restauração da autoridade da lei, a segurança dos cidadãos e a tranqüilidade pública romana.
Cláudio estava alheio a estes movimentos mesmo porque sua esposa Messalina, em [[41]], ano em que [[Calígula]] foi assassinado, estava prestes a dar a luz ao segundo filho do casal: [[Tibério Cláudio César Britânico|Britânicus]] .
 
As acusações de excessos sexuais, principalmente, eram uma tática já testada e aprovada para manchar a reputação e geralmente era resultado de "hostilidade politicamente motivado"<ref>Thomas A. J. McGinn, ''Prostitution, Sexuality, and the Law in Ancient Rome'', Oxford University 1998 [http://books.google.co.uk/books?id=tYrwh9ZD_6wC&lpg=PA170&dq=Messalina%20Juvenal&pg=PA170#v=onepage&q=Messalina%20Juvenal&f=false p 170]</ref>. Dois relatos foram os principais culpados pela má reputação da imperatriz. Um é a história de uma suposta competição de sexo com uma prostituta no livro X da "[[História Natural (Plínio)|História Natural]]", de [[Plínio, o Velho]], que teria durado 24 horas e que Messalina venceu com um placar de 25 parceiros diferentes<ref>Online translation, [http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.02.0137%3Abook%3D10 X ch.83]</ref>. O poeta [[Juvenal]] apresenta uma descrição igualmente famosa em sua [[:wikt:misógino|misógina]] [[Sátira VI|sexta sátira]] de como a imperatriz costumava trabalhar clandestinamente a noite toda num motel sob o nome de "Loba"<ref>[http://www.poetryintranslation.com/PITBR/Latin/JuvenalSatires6.htm#_Toc282858857 Poetry in translation, VI.114-135]</ref>. Ele também menciona a história de como ela teria compelido Sílio a se divorciar de sua esposa para casar-se com ela em sua décima sátira<ref> Translation by A. S. Kline, [http://www.poetryintranslation.com/PITBR/Latin/JuvenalSatires10.htm#_Toc284248936 lines 329-336]</ref>.
Em janeiro de 41, com a morte de Calígula, o povo, inseguro com a notícia, temendo que fosse mais um ardil do então imperador, começou movimentos revoltosos por toda a Roma.
Os conspiradores, desejando a total ruptura com o que Calígula representava, de forma desumana, dilaceraram Milônia [[Caesonia]] (ou '''Cesônia'''), então mulher do finado imperador, e sua filha, um bebê, [[Drusilla]].
 
== Ancestrais ==
=== Um fato pouco observado antes da vida pública. ===
{{Ahnentafel top|width=100%}}
Poucos conhecem o fato de que [[Agripina Minor]] ou '''Agripina, a jovem''', futura quarta mulher do imperador Cláudio, foi exilada de [[Roma]] pelo então imperador Calígula, por conta de uma conspiração contra sua vida.
{{Ahnentafel-compact5
Passou cerca de 10 anos no referido exílio, voltando por volta do ano de [[45]].
|style=font-size: 90%; line-height: 110%;
Ao embarcar neste exílio, [[Agripina]] confiou aos cuidados de [[Domítia Lépida]], mãe de Messalina, o futuro imperador [[Nero]]. Agripina, passaria a nutrir um ódio contra a família de Messalina, primeiramente por não ter intercedido em seu favor perante Calígula e, mormente a isto, por não ter cuidado adequadamente de Nero, na época, com idade aproximada de oito anos.
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Em verdade, Domítia Lépida não se preocupou em dar uma educação adequada ao futuro imperador Nero, deixando-o ser criado pelos empregados e escravos em uma propriedade rural nos arredores de [[Roma]].
|boxstyle=padding-top: 0; padding-bottom: 0;
Além do fato de ser Agripina ambiciosa por natureza (já que desde a época de Calígula, já estava envolvida em tramas políticas), o ódio desencadeado contra a família de Domítia Lépida acabou por, mais tarde, culminar na morte de Messalina.
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|1= 1. '''Valéria Messalina'''
|2= 2. [[Marco Valério Messala Barbado]]
|3= 3. [[Domícia Lépida, a Jovem]]
|4= 4. Marco Valério Messala Barbado Apiano
|5= 5. [[Cláudia Marcela Menor]]
|6= 6. [[Lúcio Domício Enobarbo (cônsul em 16 a.C.)|Lúcio Domício Enobarbo]]
|7= 7. [[Antônia Maior]]
|8= 8. Ápio Cláudio Pulquer
|9=
|10= 10. [[Caio Cláudio Marcelo Menor]]
|11= 11. (=15.)[[Otávia Menor]]
|12= 12. [[Cneu Domício Enobarbo (cônsul em 32 a.C.)|Cneu Domício Enobarbo]]
|13= 13. [[Emília Lépida]]
|14= 14. [[Marco Antônio]]
|15= 15. (=11.)[[Otávia Menor]]
|16=
|17=
|18=
|19=
|20= 20. Marco Cláudio Marcelo
|21= 21. Júnia
|22= 22. (=30.)[[Caio Otávio]]
|23= 23. (=31.)[[Átia Balba Cesônia]]
|24= 24. [[Lúcio Domício Enobarbo (cônsul em 54 a.C.)|Lúcio Domício Enobarbo]]
|25= 25. [[Pórcia (irmã de Cato, o Jovem)|Pórcia]]
|26=
|27=
|28= 28. [[Marco Antônio Cretico]]
|29= 29. Júlia
|30= 30. (=22.)[[Caio Otávio]]
|31= 31. (=23.)[[Átia Balba Cesônia]]
}}</center>
{{Ahnentafel bottom}}
 
{{Árvore genealógica da Dinastia júlio-claudiana}}
== A história narrada por Tácito e Suetônio ==
A sua reputação entre os historiadores do período clássico não é das melhores. [[Tácito]] e [[Suetónio]] descrevem-na como uma mulher cruel e ambiciosa, com enorme influência sobre o marido que incentivava a executar quem lhe desagradava. Dizem, também, ter sido uma adúltera promíscua, dada a casos escandalosos, que só a confiança cega que Cláudio tinha nela a defendia.
Em [[48]], Messalina teria arriscado levar em frente um plano para assassinar o imperador e substituí-lo pelo amante de então [[Caio Sílio]], contando com o apoio da população romana. Como nunca foi astuta politicamente Messalina não percebeu que Cláudio até era popular junto dos romanos, pelo menos muito mais que ela própria. A conspiração foi desvendada por [[Narciso]], o secretário de Cláudio. Messalina, [[Caio Sílio]] e os outros conspiradores foram presos e condenados à morte. O seu estatuto de imperatriz permitiu-lhe a opção do suicídio, mas como não conseguiu acabar com a sua vida foi executada. Depois da sua morte, Cláudio casou com a sobrinha, [[Agripina Minor|Agripina, a Jovem]].
 
== Ver também ==
== Valeria Messalina, a antítese da figura descrita por Tácito e Suetônio ==
{{s-start}}
{{s-hou|[[Dinastia júlio-claudiana|Júlio-claudiana]]||17/20||48}}
{{s-roy}}
{{s-bef|antes=[[Milônia Cesônia]]}}
{{s-ttl|titulo=[[Imperatriz-consorte romana]]|anos=41&ndash;48}}
{{s-aft|depois=[[Agripina Menor]]}}
{{s-end}}
 
{{Referências|col=2}}
[[Ficheiro:Cameo Messalina Cdm Paris Chab228.jpg|thumb|right|Valéria Messalina e os seus dois filhos]]
 
As fontes históricas continuam a ser [[Tácito]] e [[Suetônio]]. Contudo, dada algumas inconsistências da história por eles narrada - o que se verá em [[Messalina#Uma vis.C3.A3o question.C3.A1vel de T.C3.A1cito e Suet.C3.B3nio|seção própria]] - os historiadores procuraram alinhar os fatos incontroversos dentro de uma história que, hoje, se reputa mais próxima da realidade de Messalina.
 
Messalina assumiu o maior posto de uma mulher [[romano|romana]] com uma idade inferior a 20 anos.
[[Cláudio]], a estas alturas, já possuía aproximadamente 55 anos de idade (idade muito avançada para a época, dadas as condições médicas e de higiene): provecto.
[[Cláudio]], não teve educação adequada à sua linhagem real (por causa de seus defeitos físicos, e porque era um dos últimos na linha de sucessão de [[Calígula]], sucessão esta que ocorreu porque o imperador assassinou todos à frente de [[Cláudio]]), de maneira que o futuro imperador teve que se dedicar à sua própria educação.
Por conta desta dedicação, quando assumiu o [[Império Romano]], [[Cláudio]] era um governante preparado, e como de fato acabou por exercer um excelente governo.
Contudo, [[Roma]] tomava muito tempo do imperador [[Cláudio]], deixando a esmo sua mulher, Messalina, e seus dois filhos. O casamento de interesses forjado pela família de Messalina com [[Cláudio]] começava a dar sinais de que não ia muito bem.
Messalina, ao contrário do que dizem, não parece ter tido grandes interesses políticos: não era uma figura de grande expressão na sociedade romana.
No início, seus interesses restringiam-se apenas à seus dois filhos, que tanto amou até o final de sua vida.
Contudo, com o distanciamento do marido [[Cláudio]], Messalina acaba por tentar buscar outras formas de satisfazer-se enquanto pessoa e enquanto mulher.
Importante frisar que nesta época Messalina tinha por volta de 20 anos de idade, e estava atrelada a um casamento com um homem de mais de 55 anos de idade que não lhe dava atenção.
Esta ausência da presença de seu marido deixou a jovem Messalina, inexperiente e manipulável que era, a mercê de figuras políticas próximas à Casa do imperador, dentre eles [[Narciso]], um conselheiro do imperador. [[Narciso]], juntando forças com [[Agripina Minor]], mais tarde, desenvolveu papel fundamental no assassinato de Messalina.
 
É bem provável que Messalina tenha se envolvido em tramas de assassinatos, alguns com fins muito mais passionais do que políticos, e outros, no entanto, por força de manipulações. [[Narciso]] foi, sem dúvida, o maior dos interessados por detrás dos atos de Messalina.
 
Foi neste ambiente de ausência marital que Messalina, um dia, nos jogos, conheceu seu primeiro amor: Mnesteu, um ator, que tinha um relacionamento passado com [[Calígula]].
O ator mostrou à moça o lado oculto de Roma, fazendo-a entrar de cabeça em uma diferente vida. Tem-se notícia que o mal-afamado ator não correspondeu aos sentimentos de Messalina o que, possivelmente, gerou em Messalina uma forte [[Depressão nervosa|depressão]] com exacerbação destrutiva voltada para o [[sexo]]. Vem daí a fama da então Imperatriz. Era impossível para [[Cláudio]] não conhecer sobre os atos Messalina. Contudo, nenhuma providência tomava talvez por culpa de seu afastamento do lar; talvez por afeto à esposa; talvez por interesses político ou comodidade; ou por todos estes fatores juntos.
 
Por volta do ano de [[47]], Messalina, envolta em uma grave [[Depressão nervosa|depressão]], conheceu o recém-nomeado [[consul]] [[Caio Sílio]]. Não se sabe exatamente como ela o conheceu, mas o que se sabe é que ele seria o segundo e último amor de sua vida, que a faria esquecer definitivamente Mnesteu.
[[Caio Sílio]] deve ter sido exceção à regra de idade para nomeação de [[consul]] (que era de 43 anos), mesmo porque Tácito não o adjetivaria de ''“o mais belo de toda a juventude romana”'' um homem de quarenta anos de idade.
[[Caio Sílio]] correspondeu ao amor de Messalina, não se sabe se por amor ou por interesses.
 
=== O divórcio de Messalina ===
Por volta do ano de [[48]], [[Agripina Minor]], já perdoada do exílio, estava profundamente íntima de seu tio, o imperador [[Cláudio]], face ao espaço que Messalina deixara.
Em verdade, o casamento era mais do que nunca de aparências, já que [[Agripina Minor]] compartilhava o leito do Imperador; ao passo que Messalina passava a viver em sua antiga casa, a Casa de Palatino, com [[Caio Sílio]].
É fato que esta situação tomava rumos inadequados à posição de [[Cláudio]]: um imperador, traído por sua mulher, não era um fato muito bem recebido pelo povo [[romano]].
A trama ganha força quando [[Agripina Minor]] passa a manipular [[Cláudio]]: o imperador estava disposta a adotar [[Nero]] como filho, concorrendo ao trono com [[Tibério Cláudio César Britânico|Britânico]].
Messalina não tinha pretensões políticas. Somente desejava se casar e viver feliz e em paz com seu amor, [[Caio Sílio]], e com seus filhos, respeitado, contudo, o direito ao trono do jovem Britânico.
Eis que [[Cláudio]] concedeu a Messalina o divórcio.
Após o divórcio, [[Agripina Minor]] viu o caminho livre para levar a termo seus desejos: vingar-se da família de Messalina; transformar-se ela própria em imperatriz; e fazer [[Nero]] imperador de [[Roma]], com a morte de [[Cláudio]], preterindo o legítimo sucessor, Britânico.
Messalina, ingênua politicamente, não percebeu as vantagens do divórcio concedido à [[Agripina Minor]].
Tão logo recebeu o divórcio, Messalina celebrou casamento com [[Caio Sílio]].
[[Agripina Minor]], rapidamente, passaria a sugestionar ao imperador que, com o divórcio, Messalina iria matá-lo e assumir, ao lado de [[Caio Sílio]], o trono romano. [[Cláudio]], já completamente a mercê dos encantos de [[Agripina Minor]] e, ainda, com uma constante e latente desconfiança nascida da época que convivia com [[Calígula]], aceitou como verdadeiras as palavras de sua futura quarta mulher.
Não se sabe até que ponto [[Caio Sílio]] tinha, realmente, a pretensão de chegar ao trono [[romano]]. Contudo, ao que parece, tal pretensão, se é que existia, não era compartilhada (ou conhecida) por Messalina. Isto fica evidente com a intervenção da [[Vestal]] Máxima.
 
=== A intervenção da Vestal Máxima e os últimos momentos de Messalina ===
 
Messalina estava celebrando as núpcias nos Jardins do [[Palatino]], como diz [[Tácito]], '' “per domum” ''. Isto indica que Messalina nada tinha a temer de [[Cláudio]], já que a festa era realizada nas redondezas do Palácio Imperial.
[[Narciso]], unido forças com a futura imperatriz [[Agripina Minor]], buscava o fim da estirpe de Messalina, dando-lhe o golpe de misericórdia: [[Cláudio]] foi convencido que Messalina buscava o trono [[romano]].
A notícia de destacamentos pretorianos indo em direção à Palatino deixou todos apreensivos. A festa cessou e a multidão dissipou.
[[Caio Silio]] tentando escapar da ira do imperador, foi ao [[Senado Romano]], onde mais tarde foi preso.
Messalina dirigiu-se à residência de sua mãe, tendo em companhia seus filhos [[Claudia Octavia|Claúdia Octavia]] com pouco mais de oito anos, e [[Tibério Cláudio César Britânico|Britânicus]], com aproximadamente sete anos.
 
Não se sabe ao certo como [[Vibídia]], a Virgem [[Vestal]] Máxima, sacerdotisa maior do templo de [[Vesta]], mulher que desfrutava da mais alta autoridade moral e religiosa, acabou por ter conhecimento do ocorrido com Messalina.
O que se sabe é que a Virgem Máxima interveio em favor da ex-imperatriz, de certo porque Messalina não praticara nenhum crime de lesa majestade, nem tampouco de bigamia, já que quando se casou com [[Caio Sílio]], havia se divorciado de [[Cláudio]].
Com a intervenção de [[Vibídia]], Messalina e seus filhos procurariam ir à presença do Imperador desfazer a pena de morte imposta à ex-imperatriz.
[[Vibídia]] tinha certa idade, e não conseguia caminhar de forma tão lépida quanto Messalina. Desta forma, para vencer a longa distância até onde se encontrava o imperador, um transporte seria necessário.
Ninguém, contudo, estava disposto a ceder um meio de transporte à ex-imperatriz, com medo do envolvimento nos crimes que supostamente ela cometera.
A humilhação final à ex-imperatriz Messalina e seus filhos, repartida com a maior Sacerdotisa Romana, foi usar como transporte um carro usado para recolher lixo.
A carroça conseguiu interceptar o carro de [[Cláudio]], que há pouco chegara à [[Roma]]. [[Vibídia]] solicitou diretamente ao imperador uma audiência, que achou melhor concedê-la assim que chegasse ao Palácio. Esta audiência nunca ocorreu.
Messalina dirigiu-se à casa de sua mãe, aguardando a referida audiência.
Os processos de execução foram sumariamente despachados pelo imperador, apressados por [[Narciso]].
[[Caio Sílio]] foi o primeiro a morrer.
 
No ano de [[48]], Messalina, nos jardins da casa de sua mãe, Domícia Lépida, soube de sua sentença de morte por crime de bigamia. À jovem de aproximadamente vinte e cinco anos cabia o direito ao suicídio. Não conseguiu, no entanto, tirar sua vida própria, vindo a ser executada, em seguida, por um pretor.
 
== Uma visão questionável de Tácito e Suetónio ==
Alguns pontos da história narrada por [[Tácito]] e [[Suetónio]] são contraditórios em face da realidade. Observe-se, pois, os principais fatos que geram inconsistência sobre a história de Messalina tal qual narrada por estes historiadores:
* Messalina casou-se, com idade de aproximadamente 15 anos, com [[Cláudio]], homem com idade aproximada de 50 anos.
::* Uma menina desta idade, criada para o lar, não tem ambições políticas.
::* O casamento de Messalina e de [[Cláudio]] foi puramente por interesse da família Messalla, já que [[Cláudio]] era o único parente vivo do então imperador [[Calígula]].
::* Por outro lado, para [[Cláudio]], o casamento também foi interessante dados os defeitos físicos e idade avançada. Além do que, Messalina era moça de uma importante família [[romana]].
* [[Cláudio]] tinha verdadeira neurose acerca de conspirações, já que [[Calígula]] era uma figura instável, em parte, justamente por conta de conspirações que nem sempre existiam.
* [[Agripina Minor]] havia sido exilada de Roma por [[Calígula]].
::* [[Agripina Minor]] culpava a Messalina e [[Cláudio]] por não ter intercedido em seu favor para evitar o banimento.
::* Não mais bastasse, [[Agripina Minor]] deixou aos cuidados de [[Domitia Lépida]], mãe de Messalina, seu filho, [[Nero]], cuidados estes que não foram adequados à melhor formação de um [[cidadão romano]].
* [[Cláudio]] não queria/podia dar atenção à sua jovem mulher, abrindo caminho à figuras manipuladoras, dentre as quais [[Narciso]], conselheiro do imperador.
* Com o afastamento de [[Cláudio]], Messalina acabou por encontrar Mnesteu, um ator que mostrou à Imperatriz um lado obscuro e decadente de [[Roma]].
* Tendo em vista o amor não correspondido por Mnesteu (que provavelmente era [[homossexual]]), somada à distância de [[Cláudio]], Messalina provavelmente (provavelmente?) entrou em depressão e mergulhou no mundo mostrado por Mnesteu.
* Messalina se recuperou quando encontrou seu último amor, [[Caio Sílio]] que, não se sabe se por amor ou por interesses, lha correspondeu.
* [[Agripina Minor]], já há algum tempo regressada do exílio, notoriamente compartilhava o leito do imperador [[Cláudio]]. Messalina já, praticamente, passava a viver em sua antiga casa, o Palatino, próxima ao palácio imperial.
* [[Cláudio]] concedeu à Messalina o divórcio.
::* Isto deixou Messalina à mercê da trama de [[Agripina Minor]] e de [[Narciso]] em colocar [[Nero]] na posição de imperador.
::* [[Agripina Minor]] e de [[Narciso]] sugestionam [[Cláudio]] que Messalina está envolta em uma trama para lhe dar fim e assumir o trono romano, ao lado de [[Caio Sílio]].
::* Possivelmente, [[Caio Sílio]] realmente planejava um ataque ao imperador. Porém, tudo leva a crer que Messalina não estava envolvida e nem conhecia isto.
* Messalina e [[Caio Sílio]] celebram bodas na Casa de Palatino.
* [[Cláudio]] manda prender a todos os envolvidos por crime de sedição/lesa majestade. Contudo, não há provas contra Messalina.
* O mais importante fato desta história, ignorado por todos: a maior autoridade religiosa, a [[Vestal]] Máxima [[Víbídia]] intercede em favor de Messalina. É difícil conceber a intervenção de uma "papisa" em favor de uma mulher que, conforme descrita por [[Tácito]] e [[Suetónio]], fosse maquiavélica, manipuladora, cruel e ambiciosa.
::* De fato, ao que parece, Messalina não cometeu crime algum de sedição/lesa majestade.
::* Sob a influência de [[Narciso]], [[Cláudio]] "revogou" o divorcio concedido à Messalina e condenou-a por bigamia e lesa majestade.
 
A visão passada pelos historiadores [[Tácito]] e [[Suetónio]] fica prejudicada como fiel instrumento da verdade porque: 1. Ambos [[homens]], com uma visão limitada dos direitos da mulher; 2. Ambos historiadores com profundos interesses políticos em enfraquecer o imperador e o império; 3. Ambos, possivelmente, suscetíveis a interesses de [[Agripina Minor]].
 
Messalina não fica isenta de culpa de seus atos, se é que os praticou. Isto não a torna uma Santa. Mas com a verdade, cai por terra a caricatura que se faz de Messalina, que suportou, ao longo da história, nomes depreciativos dos mais diversos (desde ninfomaniaca, prostituta e ''meretrix augusta'', envolta em politicagem, ambiciosa, etc.).
 
Diversas mulheres, ao longo da história, receberam alcunhas que nem sempre (ou quase nunca) refletiam sua pessoa: [[Maria Madalena]], [[Joana d'Arc|Joana D’Arc]], [[Maria Antonieta]], [[Ana Bolena]], [[Maria I da Inglaterra|Maria I Tudor]],enfim, figuras controversas (já que não ajustadas no padrão societário da época) com imagem distorcidas por pessoas com interesses opostos. A história é escrita por quem vence a guerra.
 
== Galeria ==
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Image:Valeria_Messalina.jpg|Moeda com a [[efígie]] de [[Cláudio]] e [[Valéria Messalina|Messalina]].
 
Image:Messalinaandbritannicus.jpg|Estátua de Messalina e de seu [[Tibério Cláudio César Britânico|filho]], no [[Museu do Louvre]].
 
Image:Cameo_Messalina_Cdm_Paris_Chab228.jpg|[[Camafeu]] de Messalina e seus filhos: [[Tibério Cláudio César Britânico|Britânicus]] e [[Cláudia Octávia|Cláudia Octavia]].
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{{Árvore genealógica da Dinastia júlio-claudiana}}
 
== Fonte ==
* G. Ferrero. ''Le donne dei cesari.'' Milão, 1925.
* U. Silvagni. ''L’impero e Le donne dei cesari.'' Turim, 1927.
* C. Lefebvre. ''Messaline et son temps. '' Paris, 1932.
* Mainet. ''' Messaline la calomniée. '' Paris, 1930.
* H. Mathieu. ''Messaline impératice et curtisane. '' Paris, 1961.
* H. Stadelman. ''Messalina. A Picture of life in imperial Rome.'' Londres. 1930.
 
== Bibliografia ==
=== Fontes primárias ===
* MAZZEI, Francesco. '''Messalina'''. Tradução: Patrícia Cenacchi. Círculo do Livro, São Paulo, 1983.
{{refbegin|2}}
* [[Dião Cássio]], ''História Romana'', LX. 14–18, 27–31
* [[Flávio Josefo]], ''[[Antiguidades Judaicas]]'' XX. 8; ''[[As Guerras Judaicas]]'' II. 12
* [[Juvenal]], ''[[Sátiras de Juvenal|Sátiras]]'' [[Sátira VI|6]], [[Sátira X|10]], [[Sátira XIV|14]]
* [[Plínio, o Velho]], ''[[História Natural (Plínio)|História Natural]]'' 10
* [[Plutarco]], ''Vidas''
* [[Sêneca, o Jovem]], ''Apocolocyntosis divi Claudii''; ''Octavia'', 257–261
* [[Suetônio]], ''[[Vidas dos Doze Césares]]'': Cláudio 17, 26, 27, 29, 36, 37, 39; Nero 6; Vitélio 2
* [[Tácito]], [[Anais (Tácito)|Anais]], XI. 1, 2, 12, 26–38
* [[Aurélio Vítor|Sexto Aurélio Vítor]], [[:wikt:epítome|epítome]] do ''Livro dos Césares'', 4
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=== Fontes secundárias ===
{{Começa caixa}}
{{refbegin|2}}
{{Caixa de sucessão feminina
*{{fr}} Minaud, Gérard, ''Les vies de 12 femmes d’empereur romain - Devoirs, Intrigues & Voluptés '', Paris, L’Harmattan, 2012, ch. 2, '' La vie de Messaline, femme de Claude'', p.&nbsp;39-64.
|antes = Milonia [[Caesonia]], esposa de [[Calígula]]
*{{cite book|first=Anthony A.|last=Barrett|title=Agrippina: Sex, Power and Politics in the Early Roman Empire|publisher=Yale University Press|location=New Haven|year=1996}}
|título = [[Imperatriz Romana]]
*{{cite book|first=E.|last=Klebs|coauthors=H. Dessau, P. Von Rohden (ed.)|title=Prosopographia Imperii Romani|location=Berlin|year=1897–1898}}
|depois = [[Agripina Minor]], esposa de [[Cláudio]]
*{{cite book|last= Levick|first=Barbara|title=Claudius|publisher=Yale University Press|location=New Haven|year=1990}}
|anos = [[41]] - [[48]]
* Dina Sahyouni, « Le pouvoir critique des modèles féminins dans les ''Mémoires secrets'' : le cas de Messaline », ''in Le règne de la critique. L’imaginaire culturel des Mémoires secrets'', sous la direction de Christophe Cave, Paris, Honoré Champion, 2010, p.&nbsp;151–160.
}}
{{Termina caixarefend}}
 
[[Categoria:MulheresRomanos daantigos Antigado Romaséculo I]]
[[Categoria:Dinastia júlio-claudiana]]
[[Categoria:Gens Valéria]]
[[Categoria:Pessoas executadas pelo Império Romano]]
[[Categoria:Romanos antigos executados]]
[[Categoria:Valerii]]
[[Categoria:Pessoas executadas por decapitação]]