Teodoro Estudita: diferenças entre revisões

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=== Primeiros anos da carreira monástica ===
[[Ficheiro:Iren and Constantin.jpg| direita| 250px| thumb| A imperatriz [[Irene de Atenas|Irene]] e seu filho, [[Constantino VI]], no [[Segundo Concílio de Niceia]], que encerrou a primeira onda do [[Iconoclasma]].<br><small>[[Afresco]] de [[Dionísio, o Sábio|Dionísio]], no [[Mosteiro de Ferapontov]], no [[Oblast de Vologda]], na [[Rússia]].</small>]]
Depois da morte do imperador [[{{Lknb|Leão |IV, o Cazare]]Cazar}}, em 780 d.C., o tio de Teodoro, Platon, que vivia como um monge no Mosteiro de Symbola, na [[Bitínia]], desde 759 d.C., visitou Constantinopla e persuadiu a família toda de sua irmã Teoctiste a também tomar os [[voto monástico|votos monásticos]]. Teodoro, seu pai e seus irmãos viajaram para a Bitínia com Platon em 781 d.C., onde eles começaram a transformar a propriedade da família numa instituição religiosa, que se tornou conhecida como Mosteiro de Sakkudion. Platon se tornou o abade da nova instituição e Teodoro era seu "braço direito". Os dois modelaram [[regra monástica|as regras]] de acordo com a obra de [[Basílio de Cesareia]]<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=71–76}}.</ref>.
 
Durante o período da regência da imperatriz [[Irene de Atenas|Irene]], o abade Platon reapareceu como um aliado do [[patriarca de Constantinopla|patriarca]] [[Tarásio de Constantinopla|Tarásio]] e como um membro do partido iconódulo do patriarca no [[Segundo Concílio de Niceia]], onde a [[iconodulia|veneração dos ícones]] foi declarada [[ortodoxia doutrinária|ortodoxa]]. Logo depois, o próprio Tarásio ordenou Teodoro um padre. Em 794 d.C., Teodoro se tornou o abade de Sakkudion, quando seu tio se retirou da operação diária do mosteiro e [[voto de silêncio|se dedicou ao silêncio]]<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=80–81}}.</ref>.
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Após a ascensão de Irene, o padre José foi expulso e Teodoro foi recebido no palácio imperial<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|p=118}}.</ref>. Os monges retornaram para o Mosteiro de Sakkudion, mas foram forçados de volta para a capital entre 797 e 798 d.C. por causa de uma invasão [[árabes|árabe]] na Bitínia. Nesta época, Irene ofereceu a Teodoro a liderança do antigo [[Mosteiro de Stoudios]] em [[Constantinopla]], que ele prontamente aceitou<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=120–122}}.</ref>. Teodoro então iniciou um programa de construção de diversas oficinas no mosteiro para garantir sua independência, construindo também uma biblioteca e um ''[[scriptorium]]'', além de restaurar e redecorar a igreja. Ele compôs uma série de poemas sobre os deveres dos vários membros da comunidade, que provavelmente estavam inscritos e expostos por todo o mosteiro<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|p=125}}; para os poemas, {{harvnb|Speck|1984|loc=''Jamben'', pp. 114-174 ([[Epigrama]]s 3-29)}}.</ref>. Ele também compôs a [[regra monástica|regra]] para governar o mosteiro<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|p=126}}.</ref> e transformou a comunidade de Stoudios num centro de uma extensa rede de mosteiros dependentes, incluindo Sakkudion. Ele mantinha contato com estes outros mosteiros sobretudo através de sua prodigiosa produção literária (cartas e [[catecismo]]s), que chegaram ao auge neste período, e pelo desenvolvimento de um sistema de mensageiros que era tão elaborado que parecia um serviço postal privado<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=128–133}}.</ref>.
 
A este período também podem ser atribuídos os [[epigrama]]s iconófilos, [[acróstico]]s [[iâmbico]]s, compostos por Teodoro para substituiremsubstituírem os "epigramas iconoclastas" que estavam previamente expostos no portão [[portão Chalke]] do [[Grande Palácio de Constantinopla]]. Já foi sugerido que eles teriam sido encomendados por Irene como outro sinal de suas boas graças para com Teodoro, embora uma comissão sob [[Miguel I Rangabe]] também possa ter sido o patrono. De toda forma, eles foram removidos em 815 por [[{{Lknb|Leão |V, o Armênio]]}}, e novamente substituídos por versos iconoclastas<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=122–123 (com as notas)}}.</ref>.
 
Em 806 d.C., o patriarca Tarásio morreu e o imperador [[Nicéforo I]] começou a buscar um substituto<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=135–136}}.</ref>. Parece provável que Platon tenha colocado o nome de Teodoro como uma possibilidade<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=139–140}}.</ref>, mas [[Nicéforo I de Constantinopla|Nicéforo]] (não o imperador), um leigo com o status de ''asekretis'' na burocracia imperial, foi o escolhido<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|p=142}}.</ref>. Esta escolha provocou imediatos protestos por parte dos "estuditas" (monges de Stoudios) e, principalmente, de Teodoro e Platon, que eram contra a elevação de um leigo ao trono patriarcal. Ambos foram presos por 24 dias por ordem do imperador Nicéforo<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=144–145}}.</ref>.
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Há, porém, indicações de que uma certa rivalidade entre os dois persistiu. Em 812 d.C., Miguel I resolveu perseguir alguns [[heresia|heréticos]] na [[Frígia]] e na [[Licaônia]], os [[paulicianos]] e os ''athinganoi'', por vezes identificados com os [[Rom (povo)|Rom (ciganos)]]. Teodoro e Nicéforo foram convocados pelo imperador para debater a legalidade de se punir a heresia com a morte, com Teodoro argumentando contra e Nicéforo, a favor. Teodoro venceu<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=189–191}}.</ref>.
 
Outra situação de atrito estava relacionada com o tratado de paz proposto pelo cã [[Krum da Bulgária]], também em 812 d.C., pelo qual os estados bizantinos e búlgaros iriam trocar refugiados. É provável que o cã estivesse atrás de certos búlgaros que o tinham traído para os bizantinos. Desta vez, Teodoro argumentou contra a troca, pois ela iria requerer que cristãos fossem abandonados aos [[bárbaros]], enquanto que Nicéforo implorou ao imperador para que aceitasse o tratado. Uma vez mais a opinião de Teodoro prevaleceu, embora desta vez com consequências mais sérias. Krum atacou e tomou [[Mesembria]] em novembro do mesmo ano<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=192–196}}.</ref>. No ano seguinte, Miguel liderou uma campanha contra os invasores que terminou em derrota e, como resultado, ele abdicou do trono em julho, abrindo caminho para [[{{Lknb|Leão |V, o Armênio]]}} ser coroado imperador<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=196–199}}.</ref>
 
Em 4 de abril de 814, o tio de Teodoro, Platon, morreu no Mosteiro de Stoudios após uma longa doença. Teodoro compôs uma extensa oração funerária, conhecida como ''Laudatio Platonis'', que é até hoje uma das mais importantes fontes históricas sobre a família deles.<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|p=201}}</ref>
 
=== O segundo Iconoclasma ===
[[Ficheiro:Chludov sobor.jpg| thumb| 250px| direita| Imagem do [[Concílio de Constantinopla (815)|concílio iconoclasta de 815]], com o imperador [[{{Lknb|Leão |V, o Armênio]]}} e o [[patriarca de Constantinopla|patriarca]] [[Teódoto I de Constantinopla|Teódoto]]. Na parte de baixo, o [[ícone]] está sendo destruído pelo patriarca [[João VII Gramático]] e Antônio de Sileya.<br><small>[[Iluminura]] no [[Saltério de Chludov]], do século IX, atualmente [[Museu Histórico do Estado]] em [[Moscou]].</small>]]
Bem no início de seu reinado, Leão V enfrentou uma nova ofensiva búlgara que chegou até as [[muralhas de Constantinopla]] e arrasou com grande parte da [[Trácia]]. Ela terminou com a morte de Krum em 13 de abril de 814 e com os conflitos internos que se seguiram<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=203–204 (com a nota 8)}}.</ref>. Porém, como os trinta anos que se seguiram à aprovação da [[iconodulia|veneração aos ícones]] no [[Segundo Concílio de Niceia]] em 787 d.C. foram, para os bizantinos, nada mais do que uma sequência de catástrofes militares, Leão resolveu então buscar inspiração nas políticas de maior sucesso da [[Dinastia Isáuria]]. Ele renomeou seu filho Constantino, traçando um paralelo com [[{{Lknb|Leão |III, o Isáurio]]}} e [[Constantino V]], e começou, em 814 d.C., a discutir com vários clérigos e senadores a possibilidade de reabilitar a política [[iconoclastia|iconoclasta]] dos isáurios. Este movimento encontrou forte oposição do patriarca Nicéforo, que juntou pessoalmente um grupo de bispos e abades a sua volta e os fez jurar defenderem a veneração das imagens. A disputa chegou ao ápice num debate entre os dois partidos perante o imperador no [[Grande Palácio de Constantinopla|Grande Palácio]] no Natal de 814, no qual Teodoro e seu irmão, José de Tessalônica, estavam presentes e tomaram partido dos [[iconófilos]]<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=204–223}}.</ref>.
 
Leão se manteve firme no seu plano para reviver o Iconoclasma e, em março de 815, o patriarca Nicéforo I foi deposto e exilado na [[Bitínia]]. Neste ponto, Teodoro permaneceu em Constantinopla e assumiu um papel de liderança na oposição aos iconoclastas. Em 25 de março, [[Domingo de Ramos]], ele comandou seus monges a irem numa [[procissão]] através do vinhedo do mosteiro, levando os ícones sobre as cabeças para que os vizinhos pudessem vê-los sobre o muro. Esta provocação só fez provocar nova retaliação do imperador<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=229–230}}.</ref>.
 
Um novo patriarca, [[Teódoto I de Constantinopla|Teódoto I]], foi selecionado e, em abril, [[Concílio de Constantinopla (815)|um sínodo se reuniu em Santa Sofia]], no qual a [[iconoclastia]] foi reintroduzida como um [[dogma]]. Teodoro escreveu uma série de cartas nas quais ele convocou ''"todos, de perto e de longe"'' a se revoltarem contra a decisão deste sínodo. Não demorou muito para que ele fosse exilado, por ordem do imperador, para Metopa, uma fortaleza na margem oriental do [[Lago Uluabat|Lago Apolônia]], na Bitínia<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=231–234 and 247}}.</ref>. Logo em seguida, Leão mandou remover os poemas de Teodoro do Portão [[Portão Chalke]] e os substituiu com um novo conjunto de [[epigrama]]s iconoclastas<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|p=234}}.</ref>.
 
Com Teodoro no exílio, a liderança dos estuditas foi assumida pelo abade Leôncio, que, por um tempo, adotou a posição iconoclasta e convenceu inúmeros monges a se juntarem a ele<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=242–243}}.</ref>. Eventualmente, ele se arrependeu e voltou às fileiras iconódulas<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=245–246}}.</ref>. A situação dos estuditas refletia uma tendência geral, com vários bispos e abades num primeiro momento tentando chegar num acordo de compromisso com os iconoclastas<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=235–245}}.</ref>, mas, entre 816 e 819 d.C., renunciando esta posição, algo que pode ter algo a ver com o [[mártir|martírio]] do monge estudita Thaddaios<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=245–246 and 252}}.</ref>. Foi durante esta retomada do sentimento iconódulo que Teodoro começou a escrever a sua própria [[polêmica]] contra os iconoclastas, a ''Refutatio'', se concentrando particularmente em refutar os argumentos e em criticar os méritos literários dos novos epigramas iconoclastas colocados no Chalke por Leão V<ref>{{harvnb|Pratsch|1998|pp=246–247}}.</ref>.