Ernest Henry Shackleton: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m clean up utilizando AWB
Linha 15:
|filhos =Raymond, Cecily, Edward Arthur Alexander Shackleton
}}
''[[Sir]]'' '''Ernest Henry Shackleton''' <small>[[Real Ordem Vitoriana| CVO]], [[Ordem do Império Britânico|OBE]], [[Real Sociedade Geográfica (Reino Unido)|RSG]]</small> ([[Kilkea]], [[condado de Kildare]], [[15 de fevereiro]] de [[1874]] {{mdash}} [[Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul|Geórgia do Sul]], [[5 de janeiro]] de [[1922]]) foi um explorador polar que liderou três expedições [[Reino Unido|britânicas]] à [[Antárctida]], e uma das principais figuras do período conhecido como [[Idade Heroica da Exploração da Antártida]].
 
Nascido no [[Condado de Kildare]], na [[República da Irlanda|Irlanda]], Shackleton e a sua família anglo-irlandesa {{sfn|BBC, ''Shackleton''}} mudaram-se para [[Sydenham]], uma zona dos subúrbios de [[Londres]], quando ele tinha dez anos de idade. A sua primeira experiência nas regiões polares foi como terceiro-oficial na [[Expedição Discovery|Expedição ''Discovery'']] liderada pelo capitão [[Robert Falcon Scott]], em 1901–04, durante a qual foi enviado para casa mais cedo devido a problemas com [[escorbuto]]. Determinado a dar a volta a este insucesso pessoal, regressou à Antárctica em 1907 à frente da [[Expedição Nimrod|Expedição ''Nimrod'']]. Em Janeiro de 1909, ele e mais três companheiros efectuaram uma marcha para sul que estabeleceria uma nova marca ''[[Farthest South]]'' - latitude 88°&nbsp;23′&nbsp;S, a 180&nbsp;km do [[Polo Sul]]. Por esta conquista, Shackleton recebeu o título de [[cavaleiro]] pelo rei [[Eduardo VII do Reino Unido|Eduardo VII]] quando regressou a casa.
Linha 46:
A Expedição Nacional Antárctica, conhecida como Expedição Discovery, segundo o nome do seu navio [[RRS Discovery|''Discovery'']], foi pensada por ''Sir'' Clements Markham, presidente da [[Real Sociedade Geográfica (Reino Unido)|Real Sociedade Geográfica]], e esteve muitos anos a ser preparada. Foi liderada por [[Robert Falcon Scott]], um tenente da Marinha Real especialista em torpedos, mais tarde promovido a [[Capitão-de-fragata|Comandante]],{{sfn|Savours|p=9}} e tinha objectivos tanto científicos como geográficos.{{sfn|Fisher|pp=19–20}} Embora o ''Discovery'' não fosse uma unidade da Marinha Real, Scott solicitou à tripulação, oficiais e pessoal científico qe aceitassem, voluntariamente, as condições do Decreto da Disciplina Naval, e o navio e a expedição seriam dirigidas de acordo com as orientações da Marinha Real.{{sfn|Fiennes|p=35}} Shackleton aceitou as condições, embora preferisse, de acordo com a sua experiência, um estilo mais informal de liderança.{{sfn|Crane||pp=171–72}} As tarefas de Shackleton foram redigidas como: "Responsável das análises da água do mar. Ward-room caterer. Encarregado do aprovisionamento [...] Também organiza os entretenimentos."{{sfn|Fisher|p=23}}
 
O ''Discovery'' partiu de Londres no dia 31 de Julho de 1901, chegando à costa da Antárctida, via [[Cidade do Cabo]] e [[Nova Zelândia]], a 8 de Janeiro de 1902. Depois de desembarcar, Shackleton fez parte de um voo experimental em balão, a 4 de Fevereiro.{{sfn|Wilson|p=111}} Também participou, com os cientistas [[Edward Adrian Wilson|Edward Wilson]] e Hartley Ferrar, na primeira viagem de trenó desde os aposentos de Inverno, no [[Estreito de McMurdo]], que tinha por objectivo estabelecer uma rota segura na [[Plataforma de gelo Ross |Grande Barreira de Gelo]].{{sfn|Wilson|pp=115–118}} Durante o Inverno antárctico, 1902, confinado ao ''Discovery'' – preso no gelo -, Shackleton editou a revista da expedição ''The South Polar Times''.{{sfn|Fiennes|p=78}} Segundo [[Clarence Hare]], criado de bordo, "ele era o mais popular dos oficiais entre a tripulação, dando-se bem com todos",{{sfn|Huntford|p=76}} embora as alegações de que isto representaria uma liderança informal face a Scott, não são justificadas.{{sfn|Fiennes|p=83}} Scott escolheu Shackleton para o acompanhar juntamente com Wilson na expedição para sul, uma marcha em direcção a sul para atingir a latitude mais elevada até ao Pólo Sul. Esta marcha não tinha como objectivo o pólo, embora o alcançar uma nova latitude fosse de grande importância para Scott, e a inclusão de Shackleton indicava um elevado grau de confiança pessoal.{{sfn|Fiennes|p=83}}{{sfn|Fisher|p=58}}
 
[[File:Scott of the Antarctic crop.jpg|thumb|upright|left|[[Robert Falcon Scott|Capitão Scott]]]]
Linha 57:
[[File:Emily Dorman (Lady Shackelton).jpg|thumb|Emily Dorman, esposa de Shackleton.]]
 
Após um período a convalescer na Nova Zelândia, Shackleton regressou a Inglaterra via São Francisco e Nova Iorque.{{sfn|Fisher|pp=78–80}} Como primeira pessoa a regressar da Antárctida, foi informado de que era muito requisitado; em particular, o Almirantado que consultá-lo sobre a forma de resgatar o ''Discovery''.{{sfn|Huntford|pp=119–20}} Com o apoio de ''Sir'' Clements Markham, aceitou um cargo temporário para aconselhar os trabalhos de preparação do ''Terra Nova'' para a segunda operção de salvamento do ''Discovery'', mas recusou a proposta de ser o seu oficial-chefe. Também fez parte da equipa que estava a equipar o [[ARA Uruguay| ''Uruguay'']], que estava a receber alterações para ir resgatar a [[Expedição Antárctica Sueca]] liderada por [[Otto Nordenskjöld]].{{sfn|Fisher|pp=78–80}} À procura de um trabalho mais seguro e permanente, Shackleton candidatou-se para prestar serviço regular na Marinha Real, pela Lista de Suplementares,{{sfn|Huntford|p=123}} mas, apesar da influência de Markham, e do presidente da [[Royal Society]], não foi bem-sucedido.{{sfn|Fisher|pp=78–80}} Em vez disso, tornou-se jornalista do ''[[Royal Magazine]]'', mas não lhe era de todo satisfatório.{{sfn|Huntford|pp=124–28}} Entretanto, foi-lhe proposto um lugar, que aceitou, como secretário na [[Real Sociedade Geográfica Escocesa]] (RSGE), em 11 de Janeiro de 1904.{{sfn|Huntford|pp=124–28}}
 
Em 1905, Shackleton tornou-se acionista de uma empresa especulativa que pretendia fazer fortuna com o transporte de tropas russas para case desde o Far East. Apesar das suas garantias a Emily de que "o negócio era praticamente seguro ", os resultados não foram os esperados.{{sfn|Fisher|pp=97–98}} Shackleton também tentou uma hipótese na política, mas sem sucesso, como candidato do [[Partido Liberal Unionosta|Partido Liberal]] pelo círculo eleitoral de Dundee às [[Eleições gerais britânicas de 1906|eleições gerais de 1906]].{{nota de rodapé|Shackleton foi candidate politico por Dundee, mas ficou em quarto lugar entre cinco candidatos, com 3865 votos face ao 9276 do vencedor}}{{sfn|Morrell & Capparell | p=32}} Entretanto, começou a trabalhar com o industrial milionário de Clydeside, [[William Beardmore]] (mais tarde Lorde Invernairn), with a [[roving commission]] que envolvia entrevistar potenciais clientes e receber os amigos de negócios de Beardmore.{{sfn|Fisher|p=99}} Por esta altura, contudo, Shackleton não fazia segredo da sua ambição de voltar à Antárctida à frente da sua própria expedição.
 
Beardmore estava impressionado com Shackleton, o suficiente para lhe dar apoio financeiro,{{nota de rodapé|A ajuda de Beardmore concretizou-se na forma de garantir um empréstimo do Clydesdale Bank, num montante de 7000 libras (valor em 2008: {{formatnum:350000}} libras), e não numa entrega de dinheiro}}{{sfn|Riffenburgh|2005|p=106}} mas, os outros donativos foram mais difíceis de obter. Apesar disso, em Fevereiro de 1907, Shackleton apresentou os seus planos para uma expedição à Antárctida à Real Sociedade Geográfica; os seus detalhes, com a designação de [[Expedição Nimrod| Expedição Antárctida Britânica, 1907–09]], foram publicados na revista da Real Sociedade, ''Geographic Journal''.{{sfn|Mill | pp=24, 72–80, 104–115, 150}} O objectivo era a conquista tanto do [[Polo sul geográfico]] como do [[Polo sul magnético|magnético]]. Shackleton esforçou-se por convencer mais alguns amigos com dinheiro a contribuir, como ''Sir'' [[Phillip Lee Brocklehurst]], que entregou 2000 libras (em 2011: {{formatnum:157000}} libras) para assegurar um lugar na expedição;{{sfn|Measuring Worth}}{{sfn|Riffenburgh|2005|p=108}} o autor Campbell Mackellar; e o barão da [[Guinness]], [[Lord Iveagh]], cujo contributo foi assegurado menos de duas semanas antes da partida do navio ''Nimrod''.{{sfn|Riffenburgh|2005|p=130}}
 
== Expedição ''Nimrod'', 1907–09 ==
Linha 71:
Para conservar as suas reservas de carvão, o navio foi rebocado durante {{convert|1650|mi|km|0}} pelo navio-a-vapor ''Koonya'' até ao gelo antárctico, depois de Shackleton ter convencido o governo neo-zelandês e a Union Steamship Company a partilhar os custos.{{sfn|Riffenburgh|2005|pp=143–44}} De acordo com a promessa de Shackleton a Scott, o navio rumou para o sector oriental da Grande Barreira de Gelo, onde chegou no dia 21 de Janeiro de 1908. Ali, descobriram que a entrada na Barreira se tinha transformado numa larga baía, na qual nadavam centenas de baleias, o que deu origem ao nome daquela área, [[baía das Baleias]].{{sfn|Riffenburgh|2005|pp=151–53}} Verificaram que as condições do gelo eram instáveis, impedindo a instalação ali de uma base segura. Depois de efectuarem uma longa pesquisa por um local seguro pela Terra do Rei Eduardo VII, desistiram, e Shackleton foi forçado a quebrar a promessa feita a Scott, e partiu para o estreito de McMurdo, uma decisão que, de acordo com o segundo-oficial Arthur Harbord, foi "ditada pelo bom senso" face às dificuldades da pressão do gelo, pouco carvão e falta de uma base conhecida por perto.{{sfn|Riffenburgh|2005|pp=151–53}}
 
O ''Nimrod'' chegou ao estreito de McMurdo no dia 29 de Janeiro, mas foi impedido de continuar devido ao gelo a 26 &nbsp;km a norte da antiga base do ''Discovery'', em [[Península Hut Point|Hut Point]].{{sfn|Riffenburgh|2005|pp=157–67}} Depois de vários atrasos devido ao tempo, a base de Shackleton foi instalada em [[cabo Royds]], a cerca de 39 &nbsp;km a norte de Hut Point. Apesar das difíceis condições, o moral dos membros da expedição era elevado; a capacidade de Shackleton de se relacionar com cada um dos seus homens, manteve o grupo entusiasmado e concentrado.{{sfn|Riffenburgh|2005|pp=185–86}}
 
A "Great Southern Journey" ("Grande Viagem ao Sul"),{{sfn|Mills|p=72}} como [[Frank Wild]] lhe chamava, começou a 19 de Outubro de 1908. A 9 de Janeiro do ano seguinte, Shackleton e três companheiros (Wild, [[Eric Marshall]] e [[Jameson Adams]]) chegaram a uma nova latitude sul de 88°&nbsp;23′&nbsp;S, a apenas {{convert|112|mi|km|0}} do Polo.{{nota de rodapé|A distância ao Polo é habitualmente calculada em 97 ou 98 milhas, sendo a distância em milhas náuticas.}} No caminho para o Polo Sul, o grupo descobriu o [[glaciar Beardmore]], (assim designado em homenagem ao patrono de Shackleton),{{sfn|Mills|pp=82–86}} e tornaram-se as primeiras pessoas a ver e a viajar pelo Planalto Polar Sul.{{sfn|Mills|p=90}} A sua viagem de regresso ao estreito de McMurdo foi uma corrida contra o tempo devido à falta de alimentos – a ração diária passou a metade em quase todo o caminho. A certo ponto, Shackleton deu o seu único biscoito diário a Frank Wild, que escreveu no seu diário: "Todo o dinheiro que nunca foi cunhado, não teria sido suficiente para comprar aquele biscoito, e a recordação daquele sacrifício nunca mais me deixará ".{{sfn|Mills|p=108}} Chegaram a Hut Point mesmo a tempo de apanhar o navio.
Linha 85:
 
=== Herói popular ===
No seu regresso a casa, Shackleton, recebeu várias homenagens. O rei Eduardo VII recebeu-o a 10 de Julho e concedeu-lhe o título de [[Real Ordem Vitoriana |Comandante da Real Ordem Vitoriana]];{{sfn|Fisher|p=263}}{{sfn|London Gazette, 16 de Julho de 1909}} na lista de aniversário do rei, em Novembro, ele foi feito [[Cavaleiro Celibatário|cavaleiro]] tornando-se ''Sir'' Ernest Shackleton.{{sfn|Fisher|p=272}}{{sfn|London Gazette, 24 de Dezembro de 1909}} Foi homenageado pela Real Sociedade Geográfica, que lhe entregou uma Medalha de Ouro – uma proposta para que a medalha fosse mais pequena que aquela entregue anteriormente a Scott, não foi aceite.{{sfn|Fisher|p=251}} Todos os membros da da equipa terrestre da expedição Nimrod receberam a Medalha Polar de prata.{{sfn|Fisher|p=272}} Shackleton foi nomeado Irmão Mais Novo da [[Trinity House]] (organização governamental responsável pela Gestão e manutenção dos faróis e luzes de navegação) de Inglaterra, País de Gales e outras águas territoriais britânicas), uma honra importante para os marinheiros britânicos.{{sfn|Fisher|p=263}}
 
Para além das honras oficiais, os feitos de Shackleton foram saudados, no Reino Unido, com grande entusiasmo. Ao propor um brinde ao explorador, num almoço em honra de Shackleton, oferecido pela Royal Societies Club, o [[Hardinge Giffard, 1.º Conde de Halsbury|Lorde Halsbury]], antigo ''[[Lord Chancellor]]'', disse: "Quando pensamos pelo que já passámos, não acreditamos na decadência da raça britânica. Não podemos crer que perdemos o sentido de admiração pela coragem e resistência".{{sfn|Huntford|pp=298–99}} Este heroísmo também foi felicitado na Irlanda: o jornal de Dublin, ''Evening Telegraph'' publicou na primeira página "Polo Sul quase alcançado por um irlandês ",{{sfn|Huntford|pp=298–99}} enquanto o ''Dublin Express'' chamava a atenção para as "qualidades que eram a sua herança como irlandês ".{{sfn|Huntford|pp=298–99}} Também outros exploradores expressaram a sua admiração; [[Roald Amundsen]] escreveu, numa carta enviada para ao secretário da RSG, [[John Scott Keltie]], que "a nação inglesa conquistou, por este feito de Shackleton, uma vitória que nunca poderá ser superada ".{{sfn|Fisher|pp=242–43}} [[Fridtjof Nansen]] enviou uma entusiástica carta privada a Emily Shackleton, felicitando a "expedição única que foi um complete sucesso em todos os seus aspectos ".{{sfn|Fisher|pp=242–43}} Na realidade, a expedição deixou Shackleton com muitas dívidas, e incapaz de cumprir com as garantias bancárias acordadas com os seus financiadores. Apesar dos seus esforços, foi necessária a intervenção do governo, na forma de uma garantia de {{formatnum:20000}} libras (valor em 2008: 1,5 milhões de libras), para pagar as dívidas mais urgentes.
 
=== Tempo de espera ===
Linha 99:
 
=== Preparativos ===
Shackleton publicou os detalhes da sua nova expedição, intitulada de "Expdição Transantárctica Imperial" no início de 1914. Seriam utilizados dois navios; o ''[[Endurance (navio)|Endurance]]'' transportaria o grupo principal até ao mar de Weddell, seguindo para a baía Vahsel de onde partiria uma equipa de seis homens para atravessar o continente. Entretanto, um Segundo navio, o [[SY Aurora|''Aurora'']], levaria um grupo de apoio, liderado pelo capitão [[Aeneas Mackintosh]], para o estreito de McMurdo, no lado oposto do continente. Este grupo teria a seu cargo a instalação de depósitos de provisões (com combustível e alimentos) ao longo da Grande Barreira de Gelo, até ao glaciar Beardmore, para permitir à equipa de Shackleton efectuar a travessia de 2900 &nbsp;km pelo continente.{{sfn|Shackleton, ''South'' | loc=preface, pp. xii–xv}}
 
Shackleton fez uso das suas capacidades de angariador de fundos, e a expedição foi financiada, em grande parte, por donativos de particulares, apesar de o governo britânico lhe ter dado {{formatnum:10000}} libras (cerca de {{formatnum:680000}} em 2008). O milionário escocês de [[juta]], ''Sir'' [[James Key Caird|James Caird]], entregou {{formatnum:24000}} libras; o industrial [[Frank Dudley Docker]] doou {{formatnum:10000}} libras; e a herdeira das fábricas de tabaco [[Janet Stancomb-Wills]], de um montante não divulgado, mas "generoso".{{sfn|Huntford|pp=375–77}} O interesse publico na expedição era considerável; Shackleton recue mais de 5000 candidaturas.{{sfn|Fisher|p=308}} As suas entrevistas e métodos de selecção eram consideradas excêntricas; considerando que o carácter e o temperamento eram tão importantes como as capacidades técnicas,{{sfn|Huntford|p=386}} fazia perguntas pouco convencionais. O médico Reginald James foi questionado sobre se sabia cantar;{{sfn|Fisher|p=312}} outros foram logo aceites porque Shackleton gostou do seu aspecto, ou logo depois de breves perguntas.{{sfn|Fisher|pp=311–315}} Shackleton também flexibilizou algumas das hierarquias tradicionais, esperando que todos os homens, incluindo os cientistas, dividissem as tarefas a bordo. No fim, tinham sido seleccionados [[Anexo:Lista dos membros da Expedição Transantártica Imperial|56 homens]], metade para cada navio.{{sfn|Alexander|p=16}}
Linha 117:
Até esta altura, Shackleton esperava que o navio, quando se soltasse do gelo, podia voltar à baía Vahsel. A 24 de Outubro, contudo, começou a entrar água no navio. Depois de alguns dias, a 69°&nbsp;5′&nbsp;S, 51°&nbsp;30′&nbsp;W, Shackleton deu ordem para abandonar a embarcação dizendo, "Vai afundar-se!"; e os homens, provisões e equipamentos foram transferidos para acampamentos no gelo.{{sfn|Shackleton, ''South''|pp=75–76}} No dia 21 de Novembro de 1915, o Endurance desapareceu na água gelada.{{sfn|Shackleton, ''South''|p=98}}
 
Durante quase dois meses, Shackleton e os seus homens, acamparam numa placa de gelo esperando quer esta deslizasse até à [[ilha Paulet]], a cerca de 402 &nbsp;km de distância, onde era suposto haver depósitos de provisões.{{sfn|Shackleton, ''South''|p=100}} Depois de tentativas fracassadas de marchar pelo gelo até àquela ilha, Shackleton decidiu estabelecer outro acampamento mais permanente (Patience Camp) numa outra placa de gelo, esperando que derivasse até um local seguro.{{sfn|Shackleton, ''South''|p=106}} A 17 de Março, o seu acampamento encontrava-se a 97 &nbsp;km da ilha Paulet {{sfn|Fisher|p=366}} mas, separados por uma barreira de gelo, era impossível de lá chegar. No dia 9 de Abril, a placa de gelo onde se encontravam partiu-se em dois, e Shackleton deu instruções para os membros da expedição entrarem para os barcos salva-vida e se dirigirem para a terra mais próxima.{{sfn|Shackleton, ''South''|pp=121–22}} Depois de cinco difíceis dias no mar, os homens exaustos desembarcaram na [[ilha Elefante]], a 557 &nbsp;km de distância do Endurance.{{sfn|Shackleton, ''South'' (filme)}} Era a primeira vez, em 497 dias, que punham os pés em terra firme.{{sfn|Shackleton, ''South''|p=143}} A preocupação de Shackleton era tal que deu as suas luvas ao fotógrafo [[Frank Hurley]], que as tinha perdido durante a viagem de barco; Shackleton acabou por sofrer de queimaduras provocadas pelo gelo nos seus dedos.{{sfn|Perkins|p=36}}
{{-}}
 
Linha 124:
[[File:LaunchingTheJamesCaird2.jpg|thumb|Lançamento à água do ''James Caird'' da costa da [[ilha Elefante]], 24 de Abril de 1916.]]
 
A [[ilha Elefante]] era um local inóspito, afastado de qualquer rota marítima. Consequentemente, Shackleton decidiu arriscar efectuar uma viagem de barco salva-vidas numa distância de quase 1300 &nbsp;km, até à à estação baleeira da [[Geórgia do Sul]], onde ele sabia que haveria ajuda.{{sfn|Worsley|pp=95–99}} O mais forte dos pequenos barcos salva-vidas, seis metros, chamado de ''James Caird'' (em homenagem ao principal patrocinador da expedição) foi escolhido para a viagem.{{sfn|Worsley|pp=95–99}} O carpinteiro do navio, [[Harry McNish]], fez vários melhoramentos na embarcação, incluindo o aumento dos lados, reforço da quilha, construção de um convés improvisado com Madeira e lona, e selando as ligações com óleo de plantas e sangue de foca.{{sfn|Worsley|pp=95–99}} Shackleton escolheu cinco companheiros para a viagem: [[Frank Worsley]], capitão do ''Endurance'', responsável pela navegação; [[Tom Crean]], que "implorou para ir "; dois marinheiros, [[John Vincent (marinheiro)|John Vincent]] e [[Timothy McCarthy (sailor)|Timothy McCarthy]]; e o carpinteiro McNish.{{sfn|Worsley|pp=95–99}} Shackleton tinha entrado em confronto com McNish durante o período em que estavam presos no gelo mas, apesar de não ter esquecido a insubordinação do carpinteiro, Shackleton reconheceu o seu valor para aquele trabalho em particular.{{nota de rodapé|Para um relato da "revolta" de McNish, ver {{harvnb|Huntford|pp=475–76}}. Apesar dos actos heróicos de McNish durante a viagem do ''James Caird'', Shackleton recusou recomendá-lo para a Medalha Polar. }}{{sfn|Huntford|p=475}}{{sfn|Huntford|p=656}}
 
Shackleton recusou abastecer o barco para mais de quarto semanas, partindo do pressuposto de que, se não tivessem chegado à Geórgia do Sul naquele período de tempo, então, o barco e a tripulação ter-se-iam perdido.{{sfn|Alexander|p=137}} O ''James Caird'' partiu no dia 24 de Abril de 1916; nos 15 dias que se seguiram, navegou pelas águas do oceano sul, sendo fustigado por mares tempestuosos, em constante perigo de se virar. A 8 de Maio, graças à capacidade de navegação de Worsley, avistaram as montanhas da Geórgia do Sul, mas ventos com a força de um furacão impediu-os de desembarcarem. O grupo foi forçado a enfrentar a tempestade no mar, sempre em risco de serem esmagados de encontro às rochas. Mais tarde ficariam a saber que o mesmo furacão tinha afundado um navio-a-vapor de 500 toneladas que se dirigia desde a Geórgia do Sul para Buenos Aires.{{sfn|Worsley|p=162}} No dia seguinte, conseguiram, finalmente, desembarcar na costa sul. Depois de um período de descanso e recuperação, em vez de tentarem seguir por mar para as estações baleeiras na costa norte, Shackleton decidiu tentar uma travessia por terra. Embora fosse possível que, anteriormente, pescadores noruegueses já tivessem atravessado a ilha em esquis, ainda ninguém tinha tentado esta rota em particular.{{sfn|Huntford|p=574}} Deixando McNish, Vincent e McCarthy na zona de desembarque da Geórgia do Sul, Shackleton andou 51 &nbsp;km {{sfn|Shackleton, ''South'' (filme)}} com Worsley e Crean por terreno montanhoso, por mais de 36 horas até chegar à estação baleeira de [[Stromness (Geórgia do Sul)|Stromness]] no dia 20 de Maio.{{sfn|Worsley|pp=211–12}}
 
Só passados alguns anos, em Outubro de 1955, é que seria efectuada nova travessia, bem-sucedida, da ilha, pelo explorador britânico [[Duncan Carse]], que percorreu a mesma rota de Shackleton. Em sua homenagem escreveu: "Não sei como conseguiram, excepto que tinham de o fazer – três homens da idade heróica da exploração da Antárctida com 16 metros de corda entre eles – e uma plaina de carpinteiro ".{{sfn|Fisher|p=386}}
Linha 133:
[[File:AllSafeAllWell.jpg|thumb|"All Safe, All Well" ("Todos salvos, todos bem"), alegada representação do regresso de Shackleton à ilha Elefante, Agosto de 1916. No entanto, uma fotografia do ''James Caird'' em Abril foi adulterada pelo fotógrafo [[Frank Hurley]] para criar esta imagem.{{sfn|Alexander|pp=202–03}}]]
 
De imediato, Shackleton enviou um barco para resgatar os três homens do outro lado da Geórgia do Sul, enquanto organizava o salvamento dos seus homens que estavam na ilha Elefante. As primeiras três tentativas de desembarcar na ilha foram bloqueadas pelo gelo do mar. Shackleton solicitou a ajuda do governo [[Chile|chilenochile]]no, que lhe disponibilizou o [[Luis Pardo#Rescue of the Shackleton expedition|''Yelcho'']], um pequeno [[rebocador]] da marinha. O ''Yelcho'' e o baleeiro britânico [[SS Southern Sky|''Southern Sky'']], chegaram à ilha Elefante no dia 30 de Agosto de 1916, data que marcava quarto meses e meio de isolamento dos 22 homens.{{sfn|Alexander|pp=166–69, 182–85}} O ''Yelcho'' levou a tripulação para [[Valparaiso]], no Chile, onde a multidão os recebeu de forma acolhedora.
 
Por resgatar ficaram os homens do [[Grupo do Mar de Ross]], que estavam encalhados em [[cabo Evans]], no estreito de McMurdo, depois de o ''Aurora'' ter sido arrancado do local onde estava ancorado, por uma tempestade, e levado para para mar alto, incapaz de regressar. O navio, depois de uma deriva de vários meses, regressou à Nova Zelândia. Shackleton viajou para o país, para se juntar ao ''Aurora'', e rumou para o cabo Evans para salvar os restantesa dos seus homens. Este grupo, apesar de muitas dificuldades, instalou os depósitos de provisos, mas perderam três homens, incluindo o seu líder, Aeneas Mackintosh.{{sfn|Huntford|pp=634–41}}
Linha 170:
Em 1959, Alfred Lansing publicou [[#{{sfnRef|Lansing}}|''Endurance: Shackleton's Incredible Voyage'']]. Este trabalho foi o primeiro de vários livros sobre Shackleton que começaram a surgir, retratando-o de uma forma muito positiva. Ao mesmo tempo, a opinião geral face a Scott começou a mudar para uma visão mais crítica, culminando com o livro de [[Roland Huntford]], ''Scott and Amundsen'', de 1979, descrito por Barczewski como um "ataque devastador".{{sfn|Barczewski|p=282}} Esta imagem negativa de Scott tornou-se o novo [[paradigma]],{{sfn|Fiennes|p=432}} à medida que o tipo de heroísmo que Scott representava decaia vítima das mudanças culturais dos finais do século XX.{{sfn|Barczewski|p=282}} Com o passar dos anos, Scott foi ultrapassado por Shackleton na opinião pública; a popularidade do primeiro decrescia, enquanto a deste ultimo estava em ascensão. Em 2002, num inquérito realizado pela BBC para determinar os "100 Maiores Britânicos" ("100 Greatest Britons"), Shackleton ficou em 11.º lugar, enquanto Scott alcançou o 54.º.{{sfn|Barczewski|p=283}} Em 2007, a Fundação Shackleton foi criada para homenagear o legado de Ernest Shackleton, transmitindo o seu espírito de luta e e tentando fazer a diferença de um modo positivo.
 
Em 2001, Margaret Morrell e Stephanie Capparell transmitiram o exeplo de Shackleton como um modelo a seguir ao nível das hierarquias de liderança no seu livro [[#{{sfnRef|Morrell & Capparell}}|''Shackleton's Way: Leadership Lessons from the Great Antarctic Explorer'']]. Nele escreveram: "Shackleton resonates with executives in today's business world. A sua abordagem da liderança centrada nas pessoas, pode ser um guia para qualquer um que esteja numa posição de autoridade".{{sfn|Barczewski|p=292}} Outros escritores de Gestão também seguiram esta nova linha de pensamento, utilizando Shackleton como exemplo para trazer a ordem do caos. O Centro de Estudos para a Liderança da [[Universidade de Exeter]] (Reino Unido) lecciona um curso sobre Shackleton, que também está incluído nos programas de pedagogia administrative de várias universidades [[Estados Unidos|americanas]].{{sfn|Barczewski|pp=294–95}} Em Boston, foi criada uma "Escola de Shackleton " de acordo com os princípios "[[Outward Bound]]", com o lema "The Journey is Everything" ("a Viagem é Tudo").{{sfn|Barczewski|pp=294–95}} Shackleton também tem sido referido como modelo de liderança pela [[Marinha dos Estados Unidos]] e, em um texto sobre liderança no Congresso, Peter L Steinke caracteriza Shackleton como o arquétipo de "líder não-ansioso " cuja "calma, atitude reflexiva se torna no aviso antibiótico da toxicidade de um comportamento reactivo".{{sfn|Barczewski|pp=294–95}} Em 2001, o Athy Heritage Centre-Museum, em Athy, Condado de Kildare, na Irlanda, criou a Escola de Outono de Ernest Shackleton, que tem lugar anualmente, para homenagear o explorador e comemorar o período heróico da exploração polar. <ref>shackletonfoundation.org</ref>
 
A morte de Shackleton marcou o fim da Idade Heróica da Exploração da Antárctida, um period de descobertas caracterizado por viagens de exploração científica e geográfica num continente praticamente desconhecido, sem utilização dos modernos métodos de transporte ou de comunicação por rádio. No prefácio so seu livro ''[[The Worst Journey in the World]]'', [[Apsley Cherry-Garrard]], um membro da equipa de Scott na Expedição Terra Nova, escreveu: "Para um projecto conjunto científico-geográfico, deem-me Scott; para uma viagem no Inverno, Wilson; para ir ao Pólo, e mais nada, Amundsen: e se eu estiver enfiado num terrível buraco, e de lá quiser sair, deem-me sempre Shackleton ".{{sfn|Wheeler|pp=187}}
Linha 607:
{{Expedição Transantártica Imperial}}
{{Caixa Antártica}}
{{Exploração polar}}
 
{{esboço-biografia}}