Arquitetura de Porto Alegre: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 5:
{{AP|Arquitetura colonial brasileira}}
A capital gaúcha nasceu com a colonização da área por estancieiros portugueses no século XVIII, quando este território ainda pertencia legalmente à Coroa Espanhola. Consolidando uma série de iniciativas antes esparsas de ocupação do estado, a partir de 1752 começaram a chegar famílias de imigrantes [[açores|açorianos]] enviados pelo governo português, instalando-se em torno do primeiro porto local, chamado de [[Porto de Viamão]], dando origem ao núcleo urbano inicial da futura [[Porto Alegre]]. Em 1760 a região, já ocupada ''de facto'' pelos portugueses, foi organizada na [[Capitania do Rio Grande de São Pedro]], tendo a povoação como sua sede.<ref name="MACEDO"/> [[Povos indígenas do Brasil|Povos nativos]] que viviam na área foram paulatinamente afastados ou exterminados. Nesses primeiros anos, o que se construiu foi naturalmente muito modesto e as edificações se resumiam a pequenas habitações de barro cobertas de palha espalhadas irregularmente pela orla do [[lago Guaíba]], um vasto espelho d'água resultado da desembocadura de quatro grandes rios, que define muito da geografia do local, também protegida ao leste e sul por uma suave cadeia de colinas, e definiria igualmente muitas soluções arquitetônicas e urbanísticas da povoação ao crescer. O lago, poucos quilômetros ao sul, se abre para a [[lagoa dos Patos]], que tem comunicação com o mar em [[Rio Grande]], dificultosa para os navios, mas bastante procurada, por ser o único porto e acesso marítimo para o interior em uma grande extensão litorânea que vai de [[Santa Catarina]] até o [[rio da Prata]]. Com esta conformação hidrográfica e esta importância estratégica, em breve se tornaria sede administrativa de grande relevo na [[geopolítica]] do sul do continente, florescente entreposto comercial, e movimentado porto fluvial para navios de calado médio vindos do mar através da lagoa dos Patos, recebendo mercadorias e pessoas e até milícias e colonos que depois se distribuíam por vasta região em torno, estabelecendo contatos com a [[região das Missões]], Paraguai, Argentina e Uruguai, espanhóis, mais São Paulo e Rio de Janeiro, portugueses. Era verdadeiro ponto de encontro de culturas. Ao crescer e enricar, melhorava também a [[construção civil]], deixando-se o provisório para adotar-se o [[Arquitetura colonial do Brasil|estilo típico colonial]] comum a todo o Brasil, herança portuguesa, mais permanente, volumoso, complexo e ornamental, e que se descreve esteticamente como uma derivação do [[Barroco]].<ref name="MACEDO">Macedo, Francisco Riopardense de. ''Porto Alegre: Origem e Crescimento''. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1999</ref><ref name="BOHMGAHREN">Bohmgahren, Cíntia Neves. [http://www6.ufrgs.br/artecolonial/pindorama/art1.htm ''A Igreja Matriz da Freguesia da Madre de Deus de Porto Alegre (1773-1929)'']. Revista Pindorama, nº 1. Porto Alegre: UFRGS, sd.</ref>
[[FicheiroFile:Wendroth02Wendroth01.jpg|thumb|esquerda|Vista sul de Porto Alegre em c. 1852. Aquarela de Herrmann Wendroth.]]
[[Ficheiro:Wendroth08.jpg|thumb|esquerda|A antiga Matriz e o Palácio de Barro, os dois primeiros edifícios importantes da cidade. Aquarela de [[Herrmann Wendroth]], c. 1851.]]
[[Ficheiro:Matriz de porto alegre.jpg|thumb|esquerda|Interior da antiga Matriz.]]
[[Ficheiro:Wendroth02.jpg|thumb|esquerda|Vista sul de Porto Alegre em c. 1852. Aquarela de Herrmann Wendroth.]]
A primeira construção de vulto da pequena urbe foi o [[Palácio de Barro]], erguido em 1773 a mando do governador com projeto de Montanha, a fim de receber a administração da Capitania. Ficou pronto em 1789 e foi usado até 1896, quando foi demolido. Tratava-se de um palacete de dois pisos principais e uma água-furtada, com organização simétrica - uma porta central com quatro janelas de cada lado. Acima, o mesmo esquema, mas somente com janelas, e um telhado de quatro águas como cobertura. As aberturas tinham arco abatido, característica do Barroco colonial, sendo que as superiores recebiam uma [[cornija]] ornamental, também em curva.<ref>''Palácio Piratini''. Folder publicado pelo Governo do Estado do RS. Sem data</ref> Em 1772 o povoado foi elevado à condição de [[freguesia]], e já se começava a pensar em organizar a crescente malha urbana. O governador [[José Marcelino de Figueiredo]] ordenou então ao capitão de engenharia e cartógrafo [[Alexandre José Montanha]] que traçasse a planta da cidade. Em 1809, foi elevada à condição de [[vila]], instalada em 1810.<ref name="MACEDO"/>
 
Entretanto, o projeto mais ambicioso desse início de povoamento foi a [[Catedral Metropolitana de Porto Alegre|Igreja Matriz]], cuja construção foi ordenada na provisão eclesiástica que criou a freguesia. As obras começaram em 1780, a partir de um desenho enviado pronto pela [[Arquidiocese do Rio de Janeiro]], e cuja autoria é desconhecida. Seu traçado era de um Barroco tardio, ou [[Rococó]], muito simples, quase sem qualquer ornamento externo. Seu elemento mais característico era o delicado ondulado de seu [[frontão]], de resto seguia o plano funcional da igreja Católica durante a colônia: uma [[fachada]] de dois pisos em esquema tripartido, com aberturas decoradas, com um [[frontão]] ornamental e duas torres laterais para os sinos. Por dentro, como foi a praxe colonial, era mais luxuosa, com um vestíbulo sob o [[coro]], uma [[nave]], uma [[capela-mor]] decorados com talha em madeira, com um [[retábulo]] cenográfico ao fundo, altares secundários em [[nicho]]s laterais e [[estatuária]]. A primeira Matriz de Porto Alegre não foi excepcionalmente rica, mas tinha uma decoração interna bastante significativa em um estilo Rococó flamejante e vigoroso, similar ao que ainda hoje podemos ver na [[Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (Viamão)|Matriz de Viamão]].<ref name="BOHMGAHREN"/> Sua construção se arrastou por muitos anos, e mesmo sem estar totalmente pronta, já precisava de restauros, como se percebe numa ordem do [[Conde de Caxias]] em 1846 mandando terminar a torre esquerda, rebocar o externo e consertar o telhado que já se estava arruinando.<ref name="FRANCO">Franco, Sérgio da Costa. ''Guia Histórico de Porto Alegre''. Porto Alegre: EDIUFRGS, 2006. 4ª ed.</ref> Da mesma época e erguida no mesmo sítio é a [[Casa da Junta]], datada de 1790, em estilo muito próximo do Palácio de Barro, mas de menores dimensões. É o mais antigo edifício da cidade ainda existente, e serviu como sede da Assembléia Legislativa e da Junta de Administração e Arrecadação da Fazenda. Seu aspecto atual não é inteiramente original, tendo sido remodelado no século XIX.<ref name="MACEDO"/> Esses prédios se ergueram na colina mais elevada da região, atualmente dominada pela [[Praça da Matriz]], que logo atraiu também a elite local para estabelecer suas residências.<ref name="BOHMGAHREN"/>
[[Ficheiro:Athayde d'Avila - Rua da Praia.jpg|thumb|right|Athayde d'Avila: ''Rua da Praia'', c. 1880. Imagem do centro da cidade no fim do século XIX, ainda com presença maciça de casario colonial.]]
 
A herança do estilo colonial se manteve forte na cidade até fins do século XIX, especialmente na arquitetura popular, muito austera, com ornamentos resumidos a um gradil de ferro trabalhado nas aberturas do piso superior, transformadas em portas, e mais raramente um revestimento de azulejos na fachada. Pelas necessidades impostas pelo modelo urbano da época, em parte por questões de segurança e facilidade de defesa numa época de constantes conflitos militares, as fachadas ficavam pegadas umas às outras, deixando-se quintais para os fundos. As habitações podiam ser de um ou dois pisos. Seu material era o [[adobe]] ou o [[tijolo]], com cobertura de telhas que acabavam por vezes em beirais curvos. Levavam um [[reboco]] e [[cal|caiação]] por fora, e as aberturas tinham moldura aparente em madeira. Um dos exemplares mais antigos que chegou aos dias de hoje desse gênero urbano de residência é a [[Casa Ferreira de Azevedo]], porém em estado ruinoso, tombada pelo Município mas abandonada pelos proprietários.<ref>Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. [http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smc/usu_doc/historico_casa_riachuelo_645_1.pdf ''Casa à rua Riachuelo 465'']. Memorial descritivo</ref> A elite, por sua vez, construía casas bem mais amplas e decoradas interiormente com crescente luxo, às vezes dispondo de extensos jardins e edificações secundárias, como o [[Solar dos Câmara]], a mais antiga construção residencial da cidade ainda de pé, hoje transformado em centro cultural. Foi construído pelo [[Visconde de São Leopoldo]] entre 1818 e 1824, sendo bastante reformado em 1874.<ref>{{Citar web |url=[http://www.al.rs.gov.br/SolarDosCamara/index.asp |título=Seção do Solar dos Câmara na página da Assembléia Legislativa |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}]</ref>
 
Nos arrabaldes e na zona rural permanecia como gênero mais importante o [[solar]], concebido como mera casa de campo de uso eventual ou como sede de uma unidade produtiva mais ou menos auto-suficiente. Geralmente constituía um conjunto arquitetônico composto de uma casa senhorial cercada de benfeitorias, como paióis, [[senzala]] e depósitos. É um bom exemplo o [[Solar Lopo Gonçalves]], construído provavelmente entre 1845 e 1855, ainda em excelentes condições, e hoje sede do [[Museu Joaquim Felizardo]].<ref name="MACEDO"/><ref>Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. [http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smc/usu_doc/historico_lopo_gocalves_1.pdf ''Solar Lopo Gonçalves'']. Memorial descritivo</ref>
 
No campo religioso, é importante a [[Igreja Nossa Senhora das Dores|Igreja das Dores]], de 1807, a mais antiga de Porto Alegre ainda sobrevivente e declarada Patrimônio Nacional pelo [[IPHAN]]. Embora sua projetada fachada colonial tenha sido modificada no início do século XX, seu interior está praticamente intacto, e exibe uma rica [[talha dourada]]. No retábulo principal o estilo [[Neoclássico]] já dá sinais de aparição. Uma década mais tarde seria lançada a pedra fundamental da [[Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Porto Alegre)|Igreja do Rosário]], também em estilo Barroco colonial, demolida em 1951 entre grande controvérsia. Da mesma estética era a [[Capela Nosso Senhor dos Passos|Capela Senhor dos Passos]], remodelada como edifício [[Neogótico]] em 1909. Em 1851 foi dado início à [[Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Porto Alegre)|Igreja da Conceição]], traçada e decorada por [[João do Couto Silva]], a única igreja em estilo colonial que se conservou toda em seu estado primitivo. Na sua talha, muito rica, se notam também traços neoclássicos. Em todas sobrevive importante estatuária.<ref name="VARGAS">Vargas, Élvio (ed). ''Torres da Província: História e Iconografia das Igrejas de Porto Alegre''. Porto Alegre: Pallotti, 2004</ref>
 
<center>
Linha 22 ⟶ 21:
Ficheiro:Solardoscâmara.jpg|[[Solar dos Câmara]]
Ficheiro:Solar-lopo-gonçalves.jpg|[[Solar Lopo Gonçalves]]
File:Igreja das Dores restaurada.jpg|Interior da Igreja das Dores.
Ficheiro:Conceição-poa-11.jpg|[[Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Porto Alegre)|Igreja da Conceição]]
Ficheiro:Athayde d'Avila - Rua da Praia.jpg|Athayde d'Avila: ''Rua da Praia'', c. 1880. Imagem do centro da cidade no fim do século XIX, ainda com presença maciça de casario colonial
</gallery>
</center>