Francisco de Almeida (vice-rei da Índia): diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
+referência Epitome
m travessão
Linha 28:
==No Oriente==
====Partida de Portugal====
[[Lourenço de Almeida (capitão-mor)|D. Lourenço de Almeida]], seu filho, já lutava em África, em Tânger - com [[João de Meneses, capitão de Arzila e Azamor|D. João de Menezes]], capitão de Arzila, e [[Rodrigo de Castro, o de Monsanto|D. Rodrigo de Monsanto]], capitão de Tânger. Como [[Tristão da Cunha]] estava doente e cego, o rei mandou chamar D. Francisco de Almeida a Coimbra, onde estava com seu irmão (tio?, segundo o Ano Historico) D. Jorge, Bispo de Coimbra, filho de [[D. Lopo de Almeida]], primeiro [[conde de Abrantes]]. Assim, D. Francisco foi enviado para a Índia por [[D. Manuel I]] na qualidade de vice-rei, com todos os poderes para que pudesse impor o domínio português no [[Oceano Índico]]. Com ele partiram 1.500 soldados em [[25 de março]] de [[1505]] levados em 16 naus e 6 caravelas - tinha como capitães D. Francisco, D. Fernando de Sá, Fernão Soares, Rui Freire, Vasco d'Abreu, João da Nova, Pero d'Anhaia, Sebastião de Sousa, Diogo Correia, Pero Ferreira Fogaça, Antão Gonçalves, Lopo Sanchez, Filipe Rodrigues, Lopo de Deus, João Ferrão, Antão Gonçalves, Fernão Bermudez. Das caravelas eram capitães Gonçalo Vaz de Goes, Gonçalo de Paiva, Lucas da Fonseca, Lopo Chanoca, João Homem e Antão Vaz. D Lourenço de Almeida e o pai aceitaram as muitas mercês sem fazer dúvidas por ter o Rei dado primeiro a [[Tristão da Cunha]]. No '''Regimento''', o primeiro que se dava, constava: que fizesse no caminho fortaleza em Çofala, fazendo amizade com o xeque local; que partisse de Quiloa fazer outra, tratando o rei como amigo - inimigo, só se resistisse. Partisse para Cochim; que fizesse sempre crua guerra ao Rei de Calecut, mas que aos de Cochim e de Cananor favorecesse.
 
D Francisco partiu de Belém em [[25 de março]] de 1505 para o porto de Dale, na costa da Guiné; chegou a Quiloa em [[23 de julho]], véspera do dia do Apóstolo Santiago; coroou Mohamed Anconij Rei de Quiloa «em cadafalso emparamentado de panos de ouro e de seda, pondo-lhe coroa de ouro na cabeça» e fê-lo jurar de ser leal aos Reis de Portugal e ser seu vassalo, e o coroou e lhe entregou o Reino, do que mandou fazer instrumentos púbicos em língua arábica e portuguesa.
Linha 42:
Graças ao seu valor como homem do mar e governante esclarecido e incorruptível, o domínio português no [[Oriente]] torna-se completo. Quando, após ser substituído no cargo de vice-rei da Índia por [[Afonso de Albuquerque]], regressou a Portugal em [[1510]], morrendo numa escaramuça com indígenas perto do [[Cabo da Boa Esperança]].
 
Contam as crónicas que «depois de entregar o governo, partiu de Cochim para Cananor em ''19 de novembro'' de [[1509]]; velejou no primeiro dia de dezembro e foi ter à [[Baía de Saldanha|aguada de Saldanha]] junto do Cabo da Boa Esperança, onde o mataram os negros naturais da terra, que chamam [[cafre]]s. Tendo tirado o barbote, lhe deram com um zaguncho de ferro na garganta que lha atravessou de parte a parte - de dor, caiu de joelhos no chão com as mãos na haste para a arrancar, mas sentindo que se afogava, as levantou para o céu e sem poder dar outro sinal de católico cristão caiu morto, junto do qual mataram os cafres Diogo Pires, que fora aio de seu filho.
 
No seu túmulo, em Abrantes, está escrito: «Aqui jaz D. Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei da Índia, que nunca mentiu nem fugiu.» Antônio Barbosa Bacelar (autor morto em Lisboa em [[1663]]), escreveu sua vida no estilo de Virgílio.
Linha 55:
E mais, segundo Cassiano Neves: «Torno a lembrar a Vossa Alteza que nunca sereis bem servido enquanto vossos oficiais de justiça e Fazenda forem tratantes mercadores.»
 
As guerras eram agora contra venezianos e turcos, com esquadra poderosa no mar Vermelho, com pólvora - cruel temeridade. Quando D. Lourenço de Almeida seu filho morreu em Chaul (Tschala), fora batido pela esquadra egípcia, a armada do Morocem, capitão-mor do sultão ou Soldão do Grã Cairo e da Babilônia, como se dizia no tempo. Tal esquadra descera do Mar Vermelho, deitando âncora em Diu, na costa do Guzarate. D. Francisco subia ao longo da costa deixando atrás de si rasto de cinzas e sangue. Batalha indescritível entre os pavilhões da cruz e do crescente, disputando com furor o saque da India, naus vomitando fogo, artilharia de águias, sacres e falcões, pedreiras que arrojavam balas de granito, berços, camelos, colubrinas e esperas, mosqueteiros despejando surriadas de balas. Cena de carnagem que o almirante vice-rei assistiu do chapitéu de sua nau e, percebendo que lhe faltava o filho, «se foi assentar na tolda com um lenço na mão, que não podia estancar as lágrimas que lhe corriam.» Ao passar diante de Kananor, saltou à terra para celebrar vitória mas para acabar de vingar a morte do filho, mandou amarrar os prisioneiros às bocas das bombardas e os crânios e os membros despedaçados dos infelizes iam cair na cidade como pelouros.
 
O «''Ano Histórico''» descreve a batalha para vingar a morte do filho na barra de Diu, onde se achavam 200 velas de Mir Hocém, geneneral do sultão do Cairo, de Melique e do Çamori - uns pelejavam corpo a corpo a botes de lança, a golpes de espada; outros ao longe com armas de arremesso. O zonido das balas atroava os ouvidos e elas despedaçavam os corpos. Muitos, arrojando-se ou sendo arrojados ao mar, lutavam ao mesmo tempo com as ondas e com a morte. A água se via convertida em sangue, o ar em fogo. Tudo confusão medonha, tudo horror, tudo assombro, tudo estrago: durou o conflito das 11 horas da manhã até as duas da noite. Dos nossos morreram pouco mais de 30, dos mouros mais de 1.500. Chegavam à corte noticias pérfidas de seus excessos, e o esperava a masmorra de Duarte Pacheco: porém na viagem de volta ao reino deu à costa da Cafraria e foi morto pelos negros às pedradas e zagunchadas.
 
Seu plano de governação, por ser sabio era quimérico: pois que a Índia era uma loucura. Outro motivo: uma das suas justas exigências era a proibição do comércio aos soldados, magistrados e capitães. O domínio não era saque: era protecção armada a um comércio franco por um lado, monopólio de Estado ou [[:wikt:apanágio|apanágio]] da Coroa por outro. Mas, fleumático e pontual, D. Francisco mandava relatorios comerciais como um correspondente a seu patrão em Génova ou Veneza. Cuidadoso e até habil mercador, dava ao Rei minuciosas informações dos gêneros, preços e pesos. Mas Albuquerque, em Ormuz ou Hormuz, Goa e Malaca, assentou em terra firme os limites do Império que para D. Francisco devia vogar flutuante sobre as ondas…