Cidade Maurícia: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 3:
 
==História==
Após a conquista de [[Olinda]] (1630), os holandeses decidiram queimar a vila e instalar-se no [[istmo do Recife]], que funcionava como porto de Olinda e tinha melhores condições para a defesa e comércio.<ref name="URBANISMO">Mota Menezes, J.L. ''[http://revistas.ceurban.com/numero4/artigos/artigo_12.htm O Urbanismo Holandês no Recife - Permanências no Urbanismo Brasileiro]''. Urbanismo de origem portuguesa. n.4, 2000.</ref> A administração da região ficou a cargo da [[Companhia das Índias Ocidentais]], que passou a controlar o lucrativo comércio do [[açúcar]] produzido pelos [[Engenho de açúcar|engenhos]] de [[Pernambuco]]. Houve um projecto para transferir a sede da Niew Holland de Recife para Itamaracá após a queima de Olinda, mas o projecto Maurícia em Antônio Vaz acabou triunfando, o que pode ter facilitado a queda desta civilização neerlando-americana e de sua sede.
 
Com o súbito aumento da população do Povo do Arrecife, como era chamado o povoado do istmo (curiosamente os istmos são cercados por água por dois lados opostos e não por 3 lados tal como ocorria com a barra do Capibaribe), os holandeses planejaram ocupar a [[Ilha de Antônio Vaz]], localizada nas cercanias. À época da invasão, a Ilha de Antônio Vaz abrigava apenas o [[Convento e Igreja de Santo Antônio (Recife)|Convento de Santo Antônio]] e umas poucas casas ao redor. Na década de 1630 os holandeses construíram duas fortalezas na ilha: o [[Forte Ernesto]], levantado no lugar do antigo convento, e o Forte Frederico Henrique (''Frederick Hendrick''), ou [[Forte das Cinco Pontas]], localizado mais ao sul. Ao lado do Forte Ernesto havia uma área fortificada referida como Grande alojamento (''Groote kwartier''), que mais tarde daria origem à atual Praça Independência.<ref name="HUMANAE" /><ref name="URBANISMO" /> As muralhas eram feitas de terra e madeira, com alguns trechos reforçados com pedras.<ref name="URBANISMO" />
 
Em 1637, chegou a Pernambuco [[João Maurício de Nassau]], que tomou a decisão de urbanizar a área da Ilha de Antônio Vaz entre os dois fortes. Um mapa datado de 1639, do chamado Atlas Vingboons, mostra os planos para a nova Cidade Maurícia, projeto atribuído ao arquiteto [[Pieter Post]]. Maurícia teria um traçado regular e um sistema de canais, fossos, trincheiras e fortificações, incorporando conceitos modernos de urbanismo e defesa como os que haviam sido aplicados nas reformas urbanas de [[Amsterdã]] no início do {{séc|XVII}}.<ref name="URBANISMO" /> "Nova Maurícia" era chamada essa área planejada, localizada hoje no [[São José (Recife)|bairro de São José]], para diferenciá-la da "Velha Maurícia", que correspondia à zona do antigo convento, hoje [[Santo Antônio (Recife)|bairro de Santo Antônio]]. Não se sabe com exatidão quanto da Nova Maurícia chegou a ser efetivamente construída.<ref name="HUMANAE" /> Um inventário urbano de 1654 realizado pelos portugueses mostra que, naquele ano, a maioria das edificações da cidade localizava-se na Velha Maurícia.<ref name="HUMANAE" />
Linha 12:
Para conectar o istmo do Recife com a Ilha de Antônio Vaz à altura do Grande alojamento, foi construída uma ponte de madeira, inaugurada em 1643, antecessora da atual [[Ponte Maurício de Nassau]] e considerada a primeira ponte de grande porte construída em território brasileiro.<ref name="nome">Machado, Regina Coeli Vieira. ''[http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=623&Itemid=195 Ponte Maurício de Nassau]''. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife</ref><ref name="ANPUR">Amorim, Luiz Manuel do; Loureiro, Claudia. ''[http://www.anpur.org.br/revistas/ANPUR_v3n2.pdf O mascate, o bispo, o juiz e os outros: sobre a gênese morfológica do Recife]'' in Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 2000, n.3.</ref>
 
Na parte norte da Ilha de Santo Antônio, Maurício de Nassau mandou construir um palácio residencial, o [[Palácio de Friburgo]] (''Vrijburg''), com uma fachada flanqueada por duas altas torres.<ref name="FRIBURGO">Gaspar, Lúcia. ''[http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=638&Itemid=1 Palácio de Friburgo (Recife, PE)]''. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.</ref> O palácio era residência e despacho do conde, e as torres serviram de [[farol]] e até [[observatório astronômico]]. Na área ao redor do palácio foi plantado um jardim com árvores frutíferas e foi instalado um zoológico com animais nativos.<ref name="FRIBURGO" /> Já o outro palácio de Nassau, chamado [[Palácio da Boa Vista (Recife)|da Boa Vista]] (''Schoonzit''), localizava-se na leste da Ilha, às margens do [[rio Capibaribe]], e era uma residência de descanso. Concluído em 1643, era um edifício de planta quadrada com quatro pequenas torres nos cantos e um alto torreão central com telhado a quatro águas.<ref name="BOAVISTA">Gaspar, Lúcia. ''[http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=639&Itemid=1 Palácio da Boa Vista (Recife, PE)]''. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.</ref> Junto ao palácio foi construída outra ponte, antecessora da atual [[Ponte da Boa Vista]], que ligava a Ilha de Santo Antônio com o atual [[Boa Vista (Recife)|bairro da Boa Vista]] do Recife (que na altura era território olindense de acordo com o direito português, mas de facto e no direito batavo era parte de Maurícia). A ponte ligando o Recife a Maurícia se trata da primeira conurbação entre dois núcleos urbanos geopoliticamente distintos no Brasil (para os padrões da altura praticamente uma proto-metrópole).<ref name="PONTEBOAVISTA">Gaspar, Lúcia. ''[http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=625&Itemid=195 Ponte da Boa Vista]''. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.</ref>
 
Após a expulsão dos holandeses, em 1654, o nome de "Cidade Maurícia" foi abandonado e a Ilha passou a ser chamada "Povoado de Santo Antônio".<ref name="HUMANAE" /> Muitas terras e bens foram restituídos aos antigos donos luso-brasileiros. O Convento de Santo Antônio, por exemplo, foi devolvido aos franciscanos e os baluartes do Forte Ernesto, que o cercavam, foram demolidos.<ref name="HUMANAE" /> A [[Calvinismo|igreja dos calvinistas]] foi doada à [[Companhia de Jesus]]<ref name="HUMANAE" /> e o Palácio da Boa Vista foi doado aos frades carmelitas, que ali edificaram seu convento. O desenvolvimento urbano posterior do Povoado de Santo Antônio alterou a traça regular projetada pelos holandeses, progredindo de maneira mais espontânea e organizada ao redor das edificações religiosas. Um total de 14 edifícios religiosos foram levantados na Ilha entre a segunda metade do {{séc|XVII}} e o início do século seguinte, edifícios estes que ajudaram a organizar a malha urbana com seus [[adro]]s e pátios.<ref name="HUMANAE" />