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[[Imagem:KingShaka.jpg|thumb|250px|Shaka, o grande unificador dos povos [[zulu]].]]
MfecaneOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.Shaka, o grande unificador dos povos zulu.Mfecane (na língua zulu), também denominado Difaqane ou Lifaqane (nas línguas sesotho), é a designação dada ao período de grande convulsão social que se viveu em grande parte da África Austral entre 1815 e cerca de 1835. A expressão significa esmagamento ou fragmentação, descrevendo o caos que se instalou na região e a dispersão forçada dos povos envolvidos, que fugindo à guerra foram obrigados a migrar para os territórios vizinhos, desencadeando uma reacção em cadeia que envolveu a generalidade dos povos do sul da África. O Mfecane conduziu à formação e consolidação de diversas unidades políticas e grupos étnicos, entre os quais os Matabele, os Mfengu e os Makololo, e à criação de Estados como o moderno Lesoto.Índice    1 Causas    2 A subida ao poder de Shaka e o domínio Zulu    3 Consequências do Mfecane    4 Referências    5 Veja também    6 Ligações externasCausasEmbora existam visões contraditórias sobre as causas do Mfecane, com alguns historiadores a atribuírem a sua origem à pressão do colonialismo europeu e ao esclavagismo, a visão mais consensual atribui o seu desencadear à subida ao poder de Shaka, o rei zulu e grande líder militar que unificou os povos de língua nguni entre os rios Tugela e Pongola nos primeiros anos do século XIX, criando uma grande potência militar na região.A criação dessa potência militar resultou directamente do crescimento populacional que se tinha verificado na África Austral durante o século anterior, em boa parte consequência de ali ter sido introduzido o cultivo do milho pelos portugueses. O milho produzia bastante mais alimento do que o sorgo e as restantes culturas tradicionais, permitindo alimentar uma população muito maior, embora com acrescidas necessidades hídricas: daí resultou uma crescente pressão sobre os solos aráveis, em particular os sitos próximo dos rios, e uma muito maior disponibilidade de homens, o que permitiu criar grandes levas de guerreiros livres da obrigação de participar nos trabalhos agrícolas, pois a produtividade do milho permitia dispensar mão-de-obra.Esta nova situação sócio-económica permitiu a Shaka criar um exército permanente, bem alimentado e bem treinado, uma realidade nova no panorama político da África Austral.Entretanto, em finais do século XVIII a maioria das terras aráveis propícias à cultura do milho estavam ocupadas, ao mesmo tempo que o esgotamento dos solos e um declínio na precipitação diminuía as colheitas e aumentava a pressão sobre os recursos, levando a crescentes disputas sobre a posse de terras onde o milho pudesse ser cultivado. A primeira década do século XIX correspondeu a um período de seca, acelerando a desestabilização da região.Neste contexto, em 1817, Dingiswayo, líder dos Mthethwa, um grupo de povos que se tinham instalado nas terras a sul do rio Tugela, formou uma aliança com os povos de etnia Tsonga, passando a controlar as rotas comerciais que do interior levavam ao entreposto português da baía do Espírito Santo (baía de Delagoa ou Delagoa bay como lhe chamavam os britânicos), com destaque para a nascente povoação de Lourenço Marques, a actual Maputo. Esta aliança interferiu com as rotas comerciais usada pelos povos Ndwandwe, também eles agrupados numa aliança informal liderada por Zwide e centrada em terras mais a norte, nas margens do rio Pongola. Escaramuças entre forças de ambos os grupos começaram a ser cada vez mais frequentes, servindo de catalisador para a guerra generalizada que foi o Mfecane.A subida ao poder de Shaka e o domínio ZuluQuando os Mthethwa foram derrotados pelos Ndwandwe liderados por Zwide, e Dingiswayo morto, muitos dos clãs Mthethwa entraram em aliança com o clã Zulu, até aí um parceiro menor, formando uma grande confederação sob a liderança de Shaka, o líder zulu. No processo os zulu conquistaram e assimilaram um número crescente de tribos da área, assumindo-se como a maior força da confederação. Quando novas técnicas guerreiras desenvolvidas por Shaka os levaram à vitória na batalha de Gqokli Hill, estava iniciado o percurso que conduziu à derrota e subjugação dos Ndwandwe e à formação da grande potência militar zulu liderada por Shaka.Nas guerras de conquista e assimilação que se seguiram, em geral apenas as mulheres e as crianças dos clãs e aldeias conquistadas eram aceites, sendo os homens, em particular os idosos, mortos ou obrigados a procurar refúgio noutras regiões. Neste processo formaram-se crescentes grupos de guerreiros desapossados das suas terras e famílias que replicavam a táctica, conquistando outras aldeias e terras, numa reacção em cadeia que se propagou por uma extensa região da África Austral, envolvendo múltiplos povos e criando um processo de rápida mutação social e política.Consequências do MfecanePara leste, os refugiados deste turbilhão social foram assimilados pelos povos de língua Xhosa da actual região do Cabo Oriental, formando os Mfengu. Foram sujeitos a sucessivas ondas de ataques pelos povos vizinhos e severamente pressionados pela crescente presença britânica na região.Moshoeshoe I do Lesotho conseguiu unificar os clãs da região montanhosa do actual território de KwaZulu-Natal, construindo fortes nas montanhas e mantendo um complexo processo diplomático que permitiu a manutenção da sua autonomia face aos europeus e aos povos vizinhos, repelindo múltiplas agressões. Este processo levou à formação do actual reino do Lesotho.Soshangane, um dos generais de Zwide, refugiou-se com os seus exércitos no actual território de Moçambique, seguido pelo resto dos Ndwandwe após a sua derrota por Shaka na batalha de Mhlatuze em 1819. Formaram uma grande confederação, dominando o vasto território que ficaria conhecido na historiografia portuguesa e moçambicana pelo nome de império de Gaza. No processo subjugaram os povos Tsongas que viviam naquela região, muitos dos quais se viram obrigados a fugir, atravessando os montes Libombos e internando-se no norte do actual Transvaal.Zwangendaba, do clã Jere ou Gumbi, um dos comandantes do exército Ndwandwe, retirou para norte com Soshangane após a derrota de 1819. Continuando para além do território actual de Moçambique, fundou um Estado nguni na região entre o lago Malawi e o lago Tanganyika.Os povos Ngwane que viviam no território da actual Suazilândia, fixaram-se a sudoeste da região e mantiveram guerras periódicas com os Ndwandwe. Sobhuza, um dos líderes Ngwane, por volta de 1820 conduziu o seu povo para as regiões montanhosas de maior altitude como forma de se proteger dos ataques dos Zulu. Após esta migração, os Ngwane passaram a ser conhecidos por Swazi, e Sobhuza fundou o reino Swazi naquilo que é hoje a região central da Suazilândia.O general zulu Mzilikazi entrou em ruptura com Shaka e fundou o reino Ndebele no território que é hoje o Estado Livre de Orange e partes do Transvaal. Quando os bóeres do Grande Trek entraram naquela região em 1837, derrotas em diversas escaramuças convenceram Mzilikazi a mudar-se para o território a norte do rio Limpopo e a estabelecer um Estado Ndebele na região hoje conhecida por Matabeleland, no sul do actual Zimbabwe.'''Mfecane''' (na [[língua zulu]]), também denominado '''Difaqane''' ou '''Lifaqane''' (nas línguas [[sesotho]]), é a designação dada ao período de grande convulsão social que se viveu em grande parte da [[África Austral]] entre [[1815]] e cerca de [[1835]]. A expressão significa ''esmagamento'' ou ''fragmentação'', descrevendo o caos que se instalou na região e a dispersão forçada dos povos envolvidos, que fugindo à guerra foram obrigados a migrar para os territórios vizinhos, desencadeando uma reacção em cadeia que envolveu a generalidade dos povos do sul da África. O ''Mfecane'' conduziu à formação e consolidação de diversas unidades políticas e grupos étnicos, entre os quais os [[Matabele]], os [[Mfengu]] e os [[Makololo]], e à criação de [[Estado]]s como o moderno [[Lesoto]].
'''Mfecane''' (na [[língua zulu]]), também denominado '''Difaqane''' ou '''Lifaqane''' (nas línguas [[sesotho]]), é a designação dada ao período de grande convulsão social que se viveu em grande parte da [[África Austral]] entre [[1815]] e cerca de [[1835]]. A expressão significa ''esmagamento'' ou ''fragmentação'', descrevendo o caos que se instalou na região e a dispersão forçada dos povos envolvidos, que fugindo à guerra foram obrigados a migrar para os territórios vizinhos, desencadeando uma reacção em cadeia que envolveu a generalidade dos povos do sul da África. O ''Mfecane'' conduziu à formação e consolidação de diversas unidades políticas e grupos étnicos, entre os quais os [[Matabele]], os [[Mfengu]] e os [[Makololo]], e à criação de [[Estado]]s como o moderno [[Lesoto]].
==Causas==
Embora existam visões contraditórias sobre as causas do ''Mfecane'', com alguns historiadores a atribuírem a sua origem à pressão do colonialismo europeu e ao esclavagismo, a visão mais consensual atribui o seu desencadear à subida ao poder de [[Shaka]], o rei [[zulu]] e grande líder militar que unificou os povos de língua [[nguni]] entre os rios Tugela e Pongola nos primeiros anos do [[século XIX]], criando uma grande potência militar na região.