Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo: diferenças entre revisões

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O '''Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo''' (MAE-USP) é uma instituição voltada à [[pesquisa]], à [[docência]] e à [[Divulgação científica|difusão cultural e científica]], vinculada à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da [[Universidade de São Paulo]]. Foi criado em [[1989]], a partir do desmembramento dos setores de [[arqueologia]] e [[etnologia]] do [[Museu do Ipiranga|Museu Paulista]], aos quais se fundiram as coleções do Instituto de Pré-História da USP, do antigo museu homônimo da [[Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo|FFLCH]] e do Acervo Plínio Ayrosa.<ref name="Santos 1998 202"> Santos, 1998, pp. 202.</ref><ref name="MP Tecidos">{{citar web | autor=Paula, Teresa Cristina Toledo de| titulo= Tecidos no museu: argumentos para uma história das práticas curatoriais no Brasil| publicado = Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material| url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142006000200008&lng=pt&nrm=iso| formato= | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref> Encontra-se localizado na [[Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira|Cidade Universitária]], em [[São Paulo (cidade)|São Paulo]].<ref name="CPC-USP 441442"> Comissão do Patrimônio Cultural da USP, 2000, pp. 442.</ref>
 
O museu possui um dos maiores [[acervo]]s de [[Artefato (arqueologia)|artefatos arqueológicos]] do [[Brasil]], formado por meio de coletas de campo, [[Escavação|escavações]], compras, permutas, comodatos e doações, amealhado desde o fim do [[século XIX]]. É composto por aproximadamente 1.500.000 peças<ref name="MAE Acervo 2">{{citar web | autor=| titulo= Acervo| publicado = Museu de Arqueologia e Etnologia| url=http://www.mae.usp.br/acervo/| formato= | acessodata=[[26 de abril]] de [[2013]]}}</ref>, referentes às [[Arqueologia clássica|civilizações do Mediterrâneo]] e do [[Médio Oriente|Oriente Médio]], à [[Arqueologia da América|arqueologia pré-hispânica]] e, sobretudo, à [[História pré-colonial do Brasil|pré-história brasileira]]. A coleção [[Etnografia|etnográfica]] abrange peças relativas às populações [[África|africanas]] e [[Cultura afro-brasileira|afro-brasileiras]] e aos [[povos indígenas do Brasil]].<ref name="Santos 1998 202"/> Possui ainda uma vasta [[biblioteca]], com cerca de 60 mil volumes, entre [[livro]]s, [[catálogo]]s, [[tese]]s, [[periódico]]s e [[Obra rara|obras raras]].<ref name="Santos 1998 204"> Santos, 1998, pp. 204.</ref>
 
O MAE oferece [[Curso de extensão|cursos de extensão]] e disciplinas optativas para estudantes de [[graduação]]. Em nível de [[pós-graduação]], mantém o Programa de Arqueologia para graduados em geral, formando profissionais nas áreas de [[arqueologia pré-histórica]] e [[Arqueologia histórica|histórica]] e [[arqueologia clássica]]. Promove [[Exposição|exposições]] e programas educativos voltados à comunidade em geral. A pesquisa é desenvolvida na forma de atividades de gabinete, campo e laboratório, em convênio com diversas instituições brasileiras e estrangeiras.<ref name="Santos 1998 203"> Santos, 1998, pp. 203.</ref> Mantém o [[Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas Mário Neme]], na cidade de [[Piraju]], e o [[Museu Regional de Iguape|Museu Regional]] de [[Iguape]], no [[Vale do Ribeira]], como núcleos de apoio logístico e operacional para pesquisas de campo.<ref name="Santos 1998 204"/> Também possui vínculos com o [[Centro de Arqueologia Biomas da Amazônia]], no município de [[Iranduba]], em conjunto com a [[Universidade do Estado do Amazonas]].<ref name="CABA 1">{{citar web | autor=| titulo= Centro de Arqueologia dos Biomas da Amazônia| publicado = CABA| url=http://www.caba.arq.br/sobre-caba_sobre-projeto.php| formato= | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref> Publica a ''Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia'', com periodicidade anual.<ref name="Santos 1998 204"/>
 
==História==
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===As coleções arqueológicas e etnográficas do Museu Paulista===
 
A formação do acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP está intrinsecamente relacionada ao processo histórico de desenvolvimento dos setores de arqueologia e etnologia do Museu Paulista, uma vez que o MAE é herdeiro direto destas coleções. É do Museu Paulista que procedem alguns dos objetos mais antigos e raros do acervo do MAE. Já na coleção inicial do Museu Paulista, composta por objetos provenientes do vasto e eclético acervo particular amealhado em meados do século XIX pelo comerciante [[Joaquim Sertório]], ao qual se juntou o acervo do extinto Museu Provincial da Associação Auxiliadora do Progresso da Província de São Paulo (fundado em 1877), existiam peças etnográficas e arqueológicas, além de outros objetos de naturezas diversas, como itens [[História|históricos]], [[Zoologia|zoológicos]] e [[Botânica|botânicos]], seguindo o modelo de museu enciclopédico, de cunho naturalista, típico das instituições museológicas do século XIX, e refletindo o caráter de [[gabinete de curiosidades]] da referida coleção Sertório.<ref name="Dorta 25"> Dorta, 2000, pp. 25.</ref><ref name="RCE MP">{{citar web | autor=Brandão, Carlos Roberto Ferreira & Samara, Eni de Mesquita| titulo= A história do Museu Paulista da Universidade de São Paulo: Da difusão à pesquisa| publicado = Revista de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo| url=http://www.usp.br/prc/revista/dossie1.html| formato= | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref>
[[Ficheiro:Urna funerária, MAE-USP (2).JPG|180px|right|thumb|Urna funerária corrugada com restos humanos. Acervo do MAE-USP.]]
[[Ficheiro:Imagem de sala de exposição do MP-USP.jpg|180px|right|thumb|Imagem de uma sala de exposição do Museu Paulista com artefatos indígenas, em 1937.]]
Instalado no palácio do [[Ipiranga (bairro de São Paulo)|Ipiranga]], o Museu Paulista demonstra interesse pela pesquisa arqueológica e pela etnografia desde a sua inauguração em [[1895]], como atesta o primeiro volume da ''[[Revista do Museu Paulista]]'', deste mesmo ano, que traz um artigo assinado por [[Hermann von Ihering]], primeiro diretor do museu, intitulado "A civilização pré-histórica do Brasil meridional", versando sobre aspectos etnográficos das populações indígenas do sul do Brasil.<ref name="Paiva 1984 20"> Paiva (ed.), 1984, pp. 20.</ref> Durante toda a gestão de Ihering, o museu lograria ampliar consideravelmente as coleções de arqueologia e zoologia, principalmente por meio de [[permuta]]s com instituições congêneres.<ref name="RCE MP"/><ref name="Antropologia MP Holanda">{{citar web | autor=Françozo, Mariana| titulo= O Museu Paulista e a história da antropologia no Brasil entre 1946 e 1956| publicado = Revista de Antropologia| url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012005000200006| formato= | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref>
 
Após a saída de Ihering, entretanto, o museu começaria a ceder à tendência internacional de especialização dos museus enciclopédicos, abandonando aos poucos o perfil de [[museu de história natural]]<ref name="MP Tecidos"/>: em 1927, a seção de [[botânica]] foi transferida para o recém-criado [[Instituto Biológico|Instituto Biológico da Defesa Agrícola]] e, em 1939, as coleções [[zoologia|zoológicas]] passam para a guarda da Secretaria da Agricultura, que pouco depois as utiliza como acervo base do [[Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo|Museu de Zoologia]]. Permanecem no palácio do Ipiranga as coleções arqueológicas, etnográficas e históricas, conferindo ao Museu Paulista o caráter de "museu de memória", seguindo o projeto elaborado por [[Afonso d'Escragnolle Taunay]].<ref name="RCE MP"/><ref name="ANP integração"/> Essa nova configuração, entretanto, não trouxe prejuízos para as atividades científicas do museu, uma vez que o mesmo encontrava-se vinculado à [[Universidade de São Paulo]] desde a fundação desta, em 1934, na condição de Instituto Complementar. A partir de 1963, o museu é definitivamente incorporado à universidade, como órgão de integração.<ref name="Dorta 25"/><ref name="ANP integração">{{citar web | autor=Brandão, Carlos Roberto Ferreira & Costa, Cleide| titulo= Uma crônica da integração dos museus estatutários à USP| publicado = Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material| url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142007000100005| formato= | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref>
 
Uma outra importante fase de mudanças no Museu Paulista se daria a partir de 1946, quando a instituição passou a ser dirigida pelo historiador [[Sérgio Buarque de Holanda]]. O novo diretor criou a Seção de Etnologia, deixada aos cuidados de [[Herbert Baldus]], um dos precursores da etnologia no Brasil, e passou a realizar pesquisas nos domínios da [[antropologia]] e da arqueologia como suas atividades principais. Baldus ficou encarregado de dar início às primeiras expedições científicas de trabalho de campo e de coleta sistemática de artefatos etnográficos junto às populações indígenas. Estas expedições, das quais participaram o pesquisador [[Harald Schultz]] e o indianista [[Curt Nimuendaju]], entre muitos outros, dirigiam-se a diversas partes do território brasileiro, retornando com grandes lotes de objetos, incluindo cerâmicas, tecidos, exemplares da [[arte plumária]] e artefatos arqueológicos em geral.<ref name="AntropologiaDorta MP Holanda25"/><ref name="DortaAntropologia 25MP Holanda"/> Sobre os frutos dessas expedições, Baldus comentaria, em 1953:
 
::''"Posso afirmar que a atual Secção de Etnologia do Museu paulista, no sétimo ano de sua existência, já não faz má figura ao lado dos museus etnológicos do velho e do Novo Mundo. E verdade que, em tamanho, continua sendo um anão entre gigantes. Mas, já se está aproximando do fim para o qual a orientei desde sua criação: tornar-se, dentro do organismo do Museu Paulista, um museu sui-generis, o "Museu do Índio Brasileiro". Ainda que estejamos longe de possuir o número de peças do Museu de Gotemburgo ou do nosso Museu nacional, andamos em bom caminho para satisfazer, como poucos museus do mundo, as exigências científicas modernas. Nossas expedições foram organizadas sempre no sentido de colher, não tanto peças espetaculares, mas todo e qualquer objeto que possa contribuir para ilustrar a cultura material de uma tribo em sua totalidade."''<ref name="MP Tecidos"/>
[[Ficheiro:Serra da Capivara - Painting 7.JPG|180px|left|thumb|[[Arte rupestre]] no [[Parque Nacional da Serra da Capivara]].]]
[[Ficheiro:Cerâmicas indígenas, MAE-USP (2).JPG|180px|left|thumb|Cerâmicas indígenas. Acervo do MAE-USP.]]
Na era pós-Baldus, o Museu Paulista buscaria manter o rigor científico das pesquisas.<ref name="Dorta 25"/> A partir de 1968, com o provimento das funções de arqueólogo, o museu passa a realizar pesquisas sistemáticas em [[sítio arqueológico|sítios arqueológicos]], em conformidade com as modernas concepções científicas da época. As coleções arqueológicas são reorganizadas e desmembradas da Seção de Etnologia, passando a compor um departamento próprio. Multiplicam-se a partir de então os programas de pesquisa abrangendo diferentes regiões do território brasileiro, na maior parte das vezes em convênio com outras instituições.<ref name="Paiva 1984 20"/> Têm início, entre outros, o [[Projeto Paranapanema]], coordenado por Luciana Pallestrini, visando o levantamento e a análise dos sítios arqueológicos do trecho paulista do [[rio Paranapanema]]<ref name="Paiva 1984 22"> Paiva (ed.), 1984, pp. 22.</ref>, o [[Projeto Anhanguera]], sob direção de Margarida Andreatta, que realiza prospecções e escavações no estado de [[Goiás]], em cooperação com a [[Universidade Federal de Goiás]]<ref name="Paiva 1984 24"> Paiva (ed.), 1984, pp. 24.</ref>, e o [[Projeto Piauí]], coordenado por [[Niède Guidon]], responsável por uma série de pesquisas no município [[Piauí|piauiense]] de [[São Raimundo Nonato]]<ref name="Paiva 1984 40"> Paiva (ed.), 1984, pp. 40.</ref>, cujos achados arqueológicos culminariam na criação do [[Parque Nacional Serra da Capivara]], [[Patrimônio Mundial da UNESCO]] desde 1991.
 
Além das peças reunidas em escavações, coletas, expedições científicas e doações, compras eventuais de coleções privadas contribuiriam para a expansão quantitativa e qualitativa do acervo arqueológico do Museu Paulista. É o caso da altamente relevante coleção de cerâmica arqueológica [[Tapajós|tapajônica]], adquirida em 1971 com recursos providos pela [[Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]]. Trata-se de uma coleção de mais de 8.000 peças [[cerâmica]]s, estatuetas e objetos líticos, formada a partir da agregação de duas coleções particulares, pertencentes a [[Ubirajara Bentes]] e [[José da Costa Pereira]], coletadas ao longo de mais de vinte anos em uma área que se estende de [[Santarém]] até o [[rio Xingu]].<ref name="Gomes 2002 521"> Gomes, 2002, pp. 521.</ref>
 
===O Acervo Plínio Ayrosa===
 
Um segundo núcleo importante de objetos hoje conservados no Museu de Arqueologia e Etnologia tem sua origem no extinto Museu de Etnografia fundado em [[1935]] pelo professor [[Plínio Ayrosa]], regente da Cadeira de Etnografia e Línguas Tupi-Guarani da [[Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo]]. O acervo do Museu de Etnografia começou a ser formado na [[década de 1930]], por meio de coletas e doações. Parte considerável desse acervo, por sua vez, tem origem nas coleções do Centro de Documentação Etnográfica e Social do Instituto de Educação da USP, destacando-se a Coleção Ramkokamekra-Canela. Essa preciosa coleção, composta por 391 objetos, fora formada por [[Curt Nimuendajú]] e doada por ele ao Centro de Documentação Etnográfica e Social em 1936. Com a extinção do centro, em 1938, todas as suas coleções foram transferidas para o Museu de Etnografia.<ref name="MP Tecidos"/><ref name="Dorta 26"> Dorta, 2000, pp. 26.</ref><ref name="MP Tecidos"/>
 
A partir da [[década de 1970]], em consonância com o maior desenvolvimento da etnologia no Brasil, o acervo do Museu de Etnografia registraria uma expressivo crescimento, chegando a 4.000 peças na época de sua incorporação ao MAE. Em função dessa conjectura histórica, a maioria dos objetos procedentes do Museu de Etnografia é composta por materiais relativamente recentes, coletados por pesquisadores do Departamento de Antropologia da USP e de outras instituições.<ref name="Dorta 26"/> Há, entretanto, pouca documentação histórica a respeito do Museu de Etnografia e muitos dos documentos são contrastantes entre si, a começar pela denominação da instituição, por vezes chamada de "Museu de Etnologia". Os registros internos da Universidade de São Paulo referem-se à coleção, desde ao menos o ano de 1975, sob a denominação "Acervo Plínio Ayrosa".<ref name="MP Tecidos"/>
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===O Instituto de Pré-História===
 
O Instituto de Pré-História (IPH) foi estabelecido em 1952 pelo intelectual [[Paulo Duarte]], após o seu retorno ao Brasil, quando do fim do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]]. Inicialmente denominado Comissão de Pré-História, o instituto esteve a princípio vinculado à [[Casa Civil (Brasil)|Casa Civil]].<ref name="Mendes 1">{{citar web | autor=Mendes, Erasmo Garcia| titulo= Paulo Duarte| publicado = Estudos Avançados| url=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000300018&script=sci_arttext&tlng=en| formato=| acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref> Inspirado na instituição homônima [[Paris|parisienseparis]]iense<ref name="Funari 2">{{citar web | autor=Funari, Pedro Paulo A.| titulo= Como se tornar um arqueólogo no Brasil| publicado = Universidade Federal de Juiz de Fora| url=http://www.ufjf.br/maea/files/2009/10/texto2.pdf| formato=PDF | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref> e contando com o apoio de [[Paul Rivet]], então diretor do [[Museu do Homem]]<ref name="HMR Paulo Duarte">{{citar web | autor=Funari, Pedro Paulo A.| titulo= Paulo Duarte e o Instituto de Pré-História: documentos inéditos| publicado = Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas| url=http://www.unicamp.br/nee/arqueologia/arquivos/historia_militar/duarte2.html| formato= | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref>, o IPH foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da arqueologia acadêmica brasileira, além de realizar inúmeras escavações e pesquisas científicas em diversas partes do território nacional.<ref name="Funari 2003 26"> Funari, 2003, pp. 26.</ref>
[[Ficheiro:Sambaqui, MAE-USP (2).JPG|180px|right|thumb|[[Sambaqui]] com restos humanos. Acervo do MAE-USP.]]
Entre seus feitos mais importantes, destacou-se a descoberta, em um [[sambaqui]] da [[Ilha de Santo Amaro]], dos mais antigos restos mortais humanos até então conhecidos na [[América do Sul]], o "Homem de Maratu", com cerca de oito mil anos, medidos pelo [[carbono-14]].<ref name="HMR Paulo Duarte"/> Atuaram no instituto profissionais como [[Joseph Emperaire]] e [[Annette Laming-Emperaire]], responsáveis por formar parcela considerável dos primeiros arqueólogos acadêmicos do Brasil.<ref name="Funari 2003 26"/>
 
O Instituto de Pré-História se estabeleceu como um dos centros difusores da chamada "escola francesa" de arqueologia, cuja minuciosa metodologia de trabalho de campo iria se chocar, pouco tempo depois, com a prática generalista da "escola norte-americana", adotada pelo [[Regime militar no Brasil (1964–1985)|regime militar]], financiada pelos [[Estados Unidos]] e posta em prática pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA).<ref name="Funari 2003 27"> Funari, 2003, pp. 27.</ref> Em 1962, o instituto foi incorporado à Universidade de São Paulo. Paulo Duarte permaneceu em sua direção até 1969.<ref name="Mendes 1"/> Sua posição crítica à metodologia científica do PRONAPA, que classificava como superficial e desumanizada, e, sobretudo, sua oposição frontal ao regime militar e ao aparelhamento da Universidade de São Paulo pelo aparato repressivo do Estado levaram ao seu afastamento da USP, pouco tempo após a promulgação do [[Ato Institucional Número Cinco|AI-5]].<ref name="Marli USP">{{citar web | autor=Hayashi, Marli Guimarães| titulo= A universidade brasileira: o caso da USP (1950-1977)| publicado = Thesis Revista Eletrônica| url=http://www.cantareira.br/thesis2/v4n1/marli.pdf| formato=PDF | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref> À sua cassação, seguiu-se uma tentativa infrutífera de extinguir o Instituto de Pré-História, incorporando-o ao antigo Museu de Arqueologia e Etnologia.<ref name="HMR Paulo Duarte"/><ref name="Funari 2003 27"/>
 
===O antigo Museu de Arqueologia e Etnologia===
[[Ficheiro:Tampa de urna funerária etrusca, MAE-USP (2).JPG|180px|right|thumb|Tampa de urna funerária etrusca. Acervo do MAE-USP.]]
Em 1963, foi fundado o Museu de Arte e Arqueologia da Universidade de São Paulo, renomeado Museu de Arqueologia e Etnologia após a reforma universitária de 1970.<ref name="MP Tecidos"/> O museu fora criado para abrigar as coleções arqueológicas relativas às das civilizações do [[Mar Mediterrâneo|Mediterrâneo]] e do [[Oriente Médio]] pertencentes à universidade. Funcionou durante muitos anos, ainda que sempre em caráter provisório, no edifício do Departamento de História e Geografia, sendo posteriormente transferido para o 5º andar de um dos edifícios do [[Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo]].<ref name="Bakos 2004 35"> Bakos, 2004, pp. 35.</ref>
 
Parte significativa do acervo do antigo MAE consistia em peças adquiridas por meio de doações e permutas, destacando-se, entre essas, a doação de 536 artefatos arqueológicos mediterrâneos e médio-orientais feita por museus [[Itália|italianos]] à Universidade de São Paulo em 1964.<ref name="MP Tecidos"/> Outras peças foram doadas por [[Ciccillo Matarazzo]], na mesma ocasião em que doou à USP o acervo de obras de arte que pertenciam ao [[Museu de Arte Moderna de São Paulo|Museu de Arte Moderna]] (acervo base do [[Museu de Arte Contemporânea da USP]])<ref name="MAC-USP">{{citar web | autor=Ajzenberg, Elza| titulo= Núcleo Histórico - Traços de Ciccillo | publicado = Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo| url=http://www.mac.usp.br/mac/templates/exposicoes/exposicao_mac_40anos/exposicao_mac_40anos_ciccillo.asp| formato= | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref>, por Vera Maluf, Edgardo Pires Ferreira, Ciro Flamarion Santana Cardoso, Oscar Landmann, entre outros.<ref name="Bakos 2004 36"> Bakos, 2004, pp. 36.</ref>
 
A maior parte da coleção, entretanto, foi adquirida com auxílio da [[Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]], visando consolidar um núcleo de pesquisas científicas em arqueologia mediterrânea e médio oriental.<ref name="Bakos 2004 36"/> É o caso da coleção [[Egito Antigo|egípcia]] pertencente a Vera Bezzi Guida, disputada pelo MAE e pelo [[Museu Britânico]], comprada pela USP em 1976.<ref name="Bakos 2004 35"/> Além de artefatos da arqueologia clássica e médio-oriental, o museu se dedicou à colecionar peças africanas e pré-colombianas.<ref name="MP Tecidos"/>
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===O atual Museu de Arqueologia e Etnologia===
[[Ficheiro:Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.JPG|180px|right|thumb|Logotipo do atual Museu de Arqueologia e Etnologia]]
O atual Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo foi oficialmente constituído em [[12 de agosto]] de [[1989]], por meio da resolução n.º 3.560, emitida durante o [[Reitor|reitoradoreitor]]ado de [[José Goldemberg]]. A medida foi tomada após apresentação de um relatório preparado por uma comissão presidida pelo professor José Jobson de Andrade Arruda, acerca do conceito de [[curadoria]] científica e de sua função organizadora em um museu universitário. A criação do novo MAE consistia, efetivamente, na incorporação dos acervos antropológicos dispersos em órgãos de integração e unidades de ensino em um novo centro científico-cultural. Foram fundidos o Instituto de Pré-História, o antigo Museu de Arqueologia e Etnologia (cujo nome a nova instituição manteve), os setores de arqueologia e etnologia do Museu Paulista (que passou a ter atuação exclusiva no campo da [[história]], em conformidade com o perfil esboçado por [[Afonso d'Escragnolle Taunay|Taunay]] na primeira metade do século XX<ref name="ANP integração"/>) e o Acervo Plínio Ayrosa (APA). O processo consistia não apenas na fusão dos acervos museológicos e bibliográficos dessas instituições, mas também de seus corpos docentes e técnico-administrativos.<ref name="Santos 1998 202"/><ref name="Arruda MAE">{{citar web | autor=Arruda, José Jobson de Andrade| titulo=O novo Museu de Arqueologia e Etnografia| publicado = Estudos Avançados| url=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000300086&script=sci_arttext&tlng=en| formato= | acessodata=[[26 de agosto]] de [[2010]]}}</ref>
 
Assim, embora relativamente recente, o museu já surgiu como detentor de um amplo patrimônio, composto por mais de 120 mil peças, constituindo-se em um dos mais importantes centros de preservação da memória arqueológica e etnográfica existentes no Brasil. Na condição de museu universitário, o MAE foi estruturado de forma a atender aos pilares fundamentais da vida acadêmica, isto é, a [[Pesquisa acadêmica|pesquisa]], o [[Ensino superior|ensino]] e a [[Extensão universitária|extensão]].<ref name="Santos 1998 202"/><ref name="Arruda MAE"/> No campo da pesquisa, o museu concentra atualmente o maior grupo de pesquisadores de arqueologia no país, dedicando-se, sobretudo, à arqueologia brasileira, responsáveis projetos em diferentes regiões do território nacional, em convênio com outras instituições. A docência abrange disciplinas optativas de graduação, cursos de extensão universitária e o mais antigo curso de pós-graduação em arqueologia do país, além do maior número de mestrandos e doutorandos na área.<ref name="Santos 1998 202"/><ref name="Zooarq USP">{{citar web | autor=Camilo, Camila| titulo=Zooarqueologia alia investigação e ciência para o estudo de civilizações pré-históricas| publicado = Universidade de São Paulo| url=http://www4.usp.br/index.php/sociedade/19635-zooarqueologia-traz-contribuicoes-para-a-historia-| formato= | acessodata=[[27 de agosto]] de [[2010]]}}</ref><ref name="Santos 1998 202"/>
 
O setor de difusão cultural é responsável pela condução de pesquisas aplicadas na área de [[museologia]] e educação, pela elaboração de exposições de curta e longa duração e pelas mostras itinerantes sediadas no próprio museu, bem como pela política de empréstimo de peças do acervo para outras instituições.<ref name="Santos 1998 204"/> As obras do MAE já foram expostas em diversas instituições de São Paulo, como o [[Centro Universitário Maria Antônia da Universidade de São Paulo|Centro Universitário Maria Antônia]], a [[Estação Ciência da Universidade de São Paulo|Estação Ciência]], o [[Itaú Cultural|Instituto Itaú Cultural]], o [[Centro Cultural São Paulo]] e o [[Conjunto Nacional]], entre outros.<ref name="CPC-USP 443"> Comissão do Patrimônio Cultural da USP, 2000, pp. 443.</ref><ref name="Conjunto Nacional MAE">{{citar web | autor=Agência USP| titulo=MAE promove exposição no Conjunto Nacional| publicado = Universidade de São Paulo| url=http://www4.usp.br/index.php/cultura/17581-mae-promove-exposicao-no-conjunto-nacional| formato= | acessodata=[[27 de agosto]] de [[2010]]}}</ref> O MAE foi responsável pela curadoria científica dos módulos de arqueologia brasileira e de arte afro-brasileira da ''[[Mostra do Redescobrimento]]'', organizada em comemoração aos 500 anos da [[descoberta do Brasil]] e sediada em diversas capitais brasileiras e em outros países.<ref name="Relatorio MAE">{{citar web | autor= | titulo=Relatório | publicado = Museu de Arqueologia e Etnologia| url=http://www.mae.usp.br/relat99/reelatorio99mae.doc| formato=DOC| acessodata=[[27 de agosto]] de [[2010]]}}</ref> Peças do museu também integraram a exposição ''Brasil, A Herança Africana'' sediada no [[Museu Dapper]] de [[Paris]].<ref name="Rev. Museu MAE Dapper">{{citar web | autor= | titulo=aris recebe obras afro-brasileiras no Musée Dapper| publicado = Revista Museu| url=http://www.revistamuseu.com.br/noticias/not.asp?id=6368&MES=/7/2005&max_por=10&max_ing=5| formato= | acessodata=[[27 de agosto]] de [[2010]]}}</ref> Entre 2001 e 2002, o MAE organizou, pela primeira vez fora de São Paulo, uma mostra exclusiva de peças do seu acervo, sediada em [[Brasília]], no [[Superior Tribunal de Justiça]], intitulada ''Brasil 50 mil anos''.<ref name="STJ MAE">{{citar web | autor=Coordenadoria de Editoria e Imprensa | titulo=Costa Leite abre exposição Brasil 50 mil Anos: Uma Viagem ao Passado Pré-Colonial | publicado = Superior Tribunal de Justiça| url=http://stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=68838| formato= | acessodata=[[27 de agosto]] de [[2010]]}}</ref>
 
====Instalações====
 
Desde 1993, o MAE encontra-se instalado em um edifício de aproximadamente 4.000 [[metro quadrado|metros quadrados]], ao lado da Prefeitura da [[Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira]], localizada na [[Zona Oeste de São Paulo|Zona Oeste da capital paulista]]. O local, anteriormente pertencente ao [[BID-Fundusp]], foi reformado e ampliado para recepcionar o museu durante o reitorado de [[Roberto Leal Lobo e Silva Filho|Roberto Lobo]].<ref name="Santos 1998 202"/> O espaço é equipado com [[laboratório]]s de conservação e restauro, pesquisa e fotografia, arquivo, biblioteca, áreas para ação educativo-cultural, espaços expositivos e reserva técnica. É, entretanto, considerado insuficiente para as necessidades do museu. Em função da falta de espaço físico, somente 1% de todo o acervo encontra-se em exposição permanente.<ref name="CPC-USP 442"> Comissão do Patrimônio Cultural da USP, 2000, pp. 442.</ref>
 
Em 1999, a Universidade de São Paulo apresentou projeto de construção de um complexo arquitetônico de de 120.000 metros quadrados, de autoria do arquiteto [[Paulo Mendes da Rocha]], conhecido como "Praça dos Museus", para onde seriam transferidos o MAE, o [[Museu de Zoologia da USP|Museu de Zoologia]] e o [[Museu de Ciências da Universidade de São Paulo|Museu de Ciências]], mas não foi levado adiante.<ref name="Relatorio MAE"/><ref name="Praça dos Museus">{{citar web | autor=Informativo da Comissão de Patrimônio Cultural | titulo=Notícias | publicado = Comissão de Patrimônio Cultural da USP| url=http://www.usp.br/cpc/cpcinfo/cpcinfo-0601.html| formato= | acessodata=[[27 de agosto]] de [[2010]]}}</ref><ref name="Relatorio MAE"/>
 
Mas, em 2010, o projeto voltou à tona, com base num acordo de compensação da dano de um sítio arqueológico no [[Itaim Bibi]] entre o [[Ministério Público Federal]], a USP, o IPHAN, e os empreendedores responsabilizados. Desse modo, o agora futuro "Parque dos museus" está sendo construído na [[Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira|Cidade Universitária]], com 53 mil m², incluindo apenas o MAE e o [[Museu de Zoologia da USP|Museu de Zoologia]], com finalização prevista para 2015.<ref name="Parque dos Museus1">{{citar web | autor=Procuradoria da República em São Paulo | titulo=Notícias PRSP > 26/11/10 | publicado = Ministério Público Federal| url=http://www.prsp.mpf.gov.br/sala-de-imprensa/noticias_prsp/26-11-10-2013-cidade-ganhara-ate-2015-parque-dos-museus-na-usp-como-compensacao-por-dano-arqueologico-ao-sitio-itaim| formato= | acessodata=[[30 de dezembro]] de [[2011]]}}</ref>
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== {{Ligações externas}} ==
* [http://www.mae.usp.br Página oficial do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP]
* [http://heracles.mae.usp.br/sistema/ Página do Portal Heracles - Biblioteca do MAE-USP]