Nobreza da Itália: diferenças entre revisões

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A '''nobreza da Itália''' foi a [[classe social]] superior na Itália até o advento da [[República Italiana]]. Os nobres tinham um estatuto legal específico, e eram detentores da maior parte das riquezas e de diversos privilégios negados às outras classes, principalmente políticos. Na maioria dos antigos Estados italianos pré-[[unificação italiana|Unificação]] era a única classe que tinha acesso aos cargos de alto escalão do governo. Também praticamente monopolizaram por longo tempo os postos mais distinguidos nas milícias e na Igreja. Houve vários sistemas diferentes de nobreza ao longo do tempo e nas várias regiões.
 
Na [[Idade Média]], quando os imperadores germânicos dominavam boa parte do território italiano, a nobreza nem sempre foi hereditária, os nobres em geral não tinham títulos específicos, eram na maioria das vezes chefes militares e administradores imperiais de [[feudo]]s e cidades, os ''signori'' (senhores) ou ''domini'', na versão latina.<ref name="Mendola">Mendola, Louis. "Italian Titles of Nobility". In: Heraldry Society. ''The Coat of Arms'', 1997</ref> Nas [[cidade-estado|cidades-Estado]] medievais italianas, que eram [[república]]s independentes ou semi-independentes, formou-se o sistema do [[patriciado]], a classe governante, uma nobreza inespecífica e eminentemente urbana, hereditária e familiar, uma herança da [[antiga Roma]], onde os patrícios também existiram e tinham o mesmo prestígio e poder político. Na [[Idade Moderna]] generalizou-se o sistema da nobreza hereditária e extensível às famílias, surgindo titulações diversificadas, mas elas variaram conforme os Estados e os tempos. No entanto, nem todos os membros das famílias tituladas detinham os mesmos [[direitos políticos]]. Até a formação do [[Reino da Itália]] somente o chefe da Casa podia ostentar o título, herdado em geral pelo varãoseu primogênito varão; mesmo assim, todatodos aos descendência doseus fundadoroutros tituladofilhos, seja masculinahomens ou femininamulheres, eraeram consideradaconsiderados nobrenobres e recebiarecebiam a titulação informal de ''nobili'' (nobres), transmitindo nobreza à sua própria descendência perpetuamente, mas não transmitiam o título.<ref name="Mendola"/><ref name="Archivio"/><ref>Gregorovius, Ferdinand [1872]. ''History of the City of Rome in the Middle Ages'', Volume 3. Reimpressão Cambridge University Press, 2010 </ref><ref>Martines, Lauro. ''Power and Imagination: City-States in Renaissance Italy''. Taylor & Francis, 1988</ref><ref name="Visconti">Visconti, A. ''L’Italia nell’ epoca della Controrifor a dal 1516 al 1713''. Milão, 1958</ref><ref>Jocteau, Gian Carlo. “Un censimento della nobiltà italiana”. In: ''Meridiana'', 1994 (19)</ref> Nas cidades onde havia patriciado, a grande maioria, somente alguns poucos membros de cada família patrícia podiam casar e gerar prole legalmente, a fim de não ampliar demasiado a classe governante, e só esses tinham acesso efetivo ao governo, embora o patriciado fosse familiar. Multiplicaram-se assim ramos [[bastardo]]s, que não obstante era considerados nobres informalmente, casavam entre patrícios sem desonrá-los, mas eram privados de vários direitos políticos. É característica do sistema italiano a existência também de famílias que jamais receberam algum título nem foram patrícias, mas eram oficialmente nobres hereditários, e seus membros eram chamados também de ''nobili'', formando uma classe comparável à nobreza não titulada de outros países, como a Alemanha e os Países Baixos.<ref>Dursteler, Eric (ed.). ''A Companion to Venetian History, 1400-1797''. Brill, 2013</ref><ref name="Archivio">Archivio di Stato di Venezia [Mosto, Andrea da (ed.)]. ''L’Archivio di Stato di Venezia: Indice Generale, Storico, Descritivo''. Tomos I - II. Volume V della ''Biblioteca degli Annales Institutorum''. Biblioteca d’Arte Editrice, 1940</ref><ref name="Visconti"/>
 
Eram vários os critérios para que uma família ou indivíduo fossem enobrecidos. Na maioria dos Estados precisavam atestar o não envolvimento direto com atividades mecânicas e rudes, impróprias da nobreza, por várias gerações; em geral era exigida também tradição familiar consolidada e uma riqueza expressiva, baseada na posse da terra, mas também podiam ser enobrecidos [[plebeu]]s que se distinguissem nas armas, nas carreiras jurídicas e eclesiásticas, e mesmo no comércio e nas artes. Ao longo dos séculos muito se discutiu quais desses critérios eram mais ou menos justificáveis, se a mulher podia ser fonte de nobreza, e se a nobreza moral era equiparável à nobreza tradicional. A nobreza não estava necessariamente associada à riqueza ou à posse hereditária de um feudo, e muitas vezes não esteve. Mas como as honras oficiais e a maior parte das riquezas das famílias nobres passavam em geral aos homens, em particular ao primogênito, a concentração da herança na primogenitura fez com que inúmeros ramos cadetes empobrecessem. Isso podia acarretar a perda do estatuto. Da mesma maneira como havia exigências para enobrecimento, havia critérios, muitas vezes imprecisos, para a perda da nobreza, como a decadência moral, empobrecimento além de certo nível, envolvimento em crimes graves ou traição ao governo.<ref>Muzio, Girolamo. ''Il Gentilhuomo''. Valuassori & Micheli, 1575</ref><ref name="Visconti"/><ref>Lyman, Theodore. ''The Political State of Italy''. Wells and Lilly, 1820</ref><ref name="Ranke">Ranke, Leopold von. ''The history of the popes, their church and state and especially of their conflicts with Protestantism in the sixteenth & seventeenth centuries'', Volume 2. Henry G. Bohn, 1853</ref> A nobreza italiana foi numerosa. Von Ranke calculava que no século XVIII havia cerca de nove mil famílias nobres na Itália, com um total estimado de 144 mil indivíduos nobres, mas ele refere que eram poucos em relação a outros Estados europeus da época, como a [[Espanha]], que tinha uma população comparável mas quase três vezes mais nobres. Mesmo assim, sempre foi uma classe minoritária, e somente [[Milão]] no século XVII tinha cerca de 100 mil habitantes.<ref name="Ranke"/>