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[[Imagem:Clasm Chludov.jpg|thumb|320px|Página do Saltério ''Chludov'' criticando a iconoclastia. No fundo há uma representação da crucificação de Jesus no [[Gólgota]]. O artista compara os soldados romanos maltratando Jesus com os patriarcas iconoclastas [[João Gramático]] e o [[Antônio I de Constantinopla]], destruindo o ícone de Cristo.]]
'''Iconoclastia''' ou '''Iconoclasmo''' (do [[idioma grego|grego]] εικών, [[Transliteração|transl.]] ''eikon'', "[[ícone]]", imagem, e κλαστειν, transl. ''klastein'', "quebrar", portando "quebrador de imagem") foi um movimento político-religioso contra a [[veneração]] de [[ícone]]s e imagens religiosas no [[Império Bizantino]] que começou no início do [[século VIII]] e perdurou até ao [[século {{séc|IX]]}}.
<ref>Иконоборчество. http://slovari.yandex.ru/dict/bse/article/00029/11700.htm?text=иконоборчество. Большая Советская Энциклопедия. издательство = Советская энциклопедия. 1969 — 1978</ref> Os iconoclastas acreditavam que as imagens sacras seriam [[ídolo]]s, e a [[veneração]] e o culto de ícones por conseqüência, - [[idolatria]].
 
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</ref>
 
Em [[730]], o imperador {{Lknb|Leão|III, o Isáurio}} proibiu a veneração de ícones. O resultado foi a destruição de milhares de ícones pelos iconoclastas, bem como [[mosaico]]s, [[afresco]]s, estátuas de santos, pinturas, ornamentos nos altares de igrejas, livros com gravuras e inumeráveis obras de arte. O iconoclasmo foi oficialmente reconhecida pelo [[Concílio de Hieria]] de [[754]], apoiado pelo imperador [[Constantino V]] e os iconófilos severamente combatidos, especialmente os monges. O concílio não teve a participação da Igreja Ocidental e foi desaprovado pelos [[papa]]s, provocando um novo [[cisma]]. Posteriormente a imperatriz [[Irene de Atenas|Irene]], viúva de {{Lknb|Leão|IV, o Cazar}}, em [[787]] convocou o [[Segundo Concílio de Niceia]], que aprovou o [[dogma]] da [[veneração|veneração dos ícones]], e recuperou a união com a Igreja Ocidental. Os imperadores que governaram após ela – [[Nicéforo I de Constantinopla|Nicéforo I]] e [[Miguel I Rangabe]] – seguiram com a veneração. No entanto, a derrota de Miguel I na guerra contra os [[búlgaros]] em [[813]], levou ao trono {{Lknb|Leão|V, o Arménio}}, que renovou a iconoclastia.
 
Durante a regência da imperatriz [[Teodora (esposa de Teófilo)|Teodora]], o iconoclasta patriarca de Constantinopla [[João VII de Constantinopla|João VII]] foi deposto, e em seu lugar erguido o defensor da veneração [[Metódio I de Constantinopla|Metódio I]]. Sob a sua presidência em 843, ocorreu outro concílio, que aprovou e subscreveu todas as definições do Segundo Concílio de Niceia e novamente excomungou os iconoclastas. Ao mesmo tempo foi definido (em [[11 de março]], data da reunião do concílio em 843) a proclamação da memória eterna da ortodoxia e o [[Anátema|anatematismo]] contra os hereges, ainda realizada na Igreja Ortodoxa atualmente como o "Domingo da Ortodoxia" (ou "[[Triunfo da Ortodoxia]]").
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[[Imagem:Ichthys.svg|thumb|200px|O símbolo do peixe ([[ICTYS]]), recorrente no início da [[iconografia]] cristã. O termo "peixe" em grego {{politônico|ἰχθύς}} (''ichthýs'') é o [[acrônimo]] de {{politônico|Ἰησοῦς Χριστός Θεοῦ Ὑιός Σωτήρ}} ('''''I'''ēsoùs '''C'''hristòs '''T'''heoù '''Y'''iòs '''S'''ōtèr''), Jesus Cristo Filho de Deus Salvador<ref>{{citar web|url=http://www.iujc.pt/compr/20/rev20-1.htm|titulo=Análise dos símbolos religiosos|trabalho=Compreender - Revista Cristã de Reflexão|lingua= português|acessodata=[[18 de Outubro]] de 2008}}</ref>.]]
 
Registros das comunidades [[Igreja Primitiva|cristãs primitivas]], especialmente das [[catacumba romana|catacumbas]], indicam que estes representavam [[Jesus]] com imagens e [[iconografia]]s, como um [[Ictus|peixe]], cenas bíblicas, e outros ícones representando santos e anjos.<ref name= "New Advent">{{Citar web| url=http://www.newadvent.org/cathen/07664a.htm| último = | primeiro = | título = Veneration of Images| acessodata=2010-11-09 | obra = Catholic Encyclopedia; New Advent}}</ref> Nos dois primeiros séculos há poucas [[escultura]]s e [[estátua]]s, uma vez que elas eram mais difíceis de confeccionar, e custavam mais caro. Mas a partir do [[século {{séc|III]]}} surgem diversos exemplos de seu uso pelos fiéis<ref name= "New Advent"/>. Os cristãos também oravam pelos mortos e acreditavam na [[intercessão]] dos [[santo]]s,<ref>Gerald O' Collins and Mario Farrugia, ''Catholicism: the story of Catholic Christianity'' (Oxford: Oxford University Press, 2003) p. 36; George Cross, "The Differentiation of the Roman and Greek Catholic Views of the Future Life", in ''The Biblical World'' (1912) p. 106; cf. ''Pastor'' I, iii. 7, also Ambrose, ''De Excessu fratris Satyri'' 80</ref><ref>George Cross, "The Differentiation of the Roman and Greek Catholic Views of the Future Life", in ''The Biblical World'' (1912) p. 106</ref> essas práticas eram conhecidas por alguns antigos grupos [[judeus]], e especula-se que o cristianismo pode ter tomado a sua prática similar. Diversos [[Padres da Igreja]] atestam esta doutrina.<ref>Gerald O'Collins and Edward G. Farrugia, ''A Concise Dictionary of Theology'' (Edinburgh: T&T Clark, 2000) p. 27.</ref> No [[século {{séc|IV]]}}, as [[basílica]]s e os demais templos cristãos eram comumente decorados com ícones e mosaicos nas paredes. Nessa mesma época, [[Basílio, o Grande]], bispo da ''Cesareia'' (atual [[Kayseri]], referindo-se ao mártir Barlaam, incentiva os artistas a retratar vida de um santo, [[São João Crisóstomo]] também escreveu sobre a distribuição de imagens de [[São Melécio de Antioquia]] e [[Teodoreto de Ciro]], e relata que retratos de [[Simeão Estilita, o Velho|São Simeão]] eram vendidos em [[Roma]].<ref name= "Карташёв">Карташёв А. В. Вселенские соборы. Клин. 2004. pg. 574, 575, 576, 577, 601.</ref>
 
[[Imagem:Madonna catacomb.jpg|thumb|esquerda|240px|A mais antiga imagem conhecida de [[Maria (mãe de Jesus)|Maria]] com o Meninomenino [[Jesus Cristo]].<br />([[Século <small>{{séc|II]]}}, [[Catacumbas de Santa Priscila]], [[Roma]])</small>]]
 
Apesar deste apoio a representação de pessoas santos e acontecimentos da história bíblica e eclesiástica, no mesmo período, surgem as primeiras objeções contra o uso de ícones. Por exemplo, [[Eusébio de Cesareia]] fala negativamente sobre o desejo da irmã do imperador ter um ícone de Cristo. [[Epifânio]] ao ver na igreja um véu com a imagem de um homem, rasgou-o e o deu para cobrir o caixão de um mendigo. Na [[Espanha]], o [[Concílio de Elvira]] (início do [[século {{séc|IV]]}}) aprovou uma resolução contra as pinturas murais em igrejas<ref name= "Карташёв"/>:
{{ cquotecitação2|''As pinturas nas igrejas e o que é retratado nas paredes não são, e não devem ser objeto de culto e adoração.''}}
 
Até o início do [[século {{séc|VI]]}} surgiram outras posições iconoclastas, devido à expansão do [[monofisismo]]. O líder monofisista [[Severo de Antioquia]] era contra os ícones de Cristo, da [[Maria (mãe de Jesus)|Virgem Maria]], dos santos e até mesmo a imagem do [[Espírito Santo]] como uma pomba. Apesar da amplitude desse movimento, surgiram diversos santos e outras personalidades a favor da veneração de ícones, como [[Anastácio do Sinai]], que escreveu em defesa dos ícones, e [[Simeão Estilita, o Moço]] queixou-se ao Imperador [[Justiniano II]] de ofender os "''ícones do Filho de Deus e da Santíssima e Gloriosa Virgem''."<ref name= "Карташёв"/> Em algumas regiões, no final do [[século {{séc|VI]]}} e início do [[século {{séc|VII]]}} houve fortalecimento da iconoclastia, como em [[Marselha]], em que o bispo Soren em [[598]] destruiu todos os ícones da igreja, o [[Papa Gregório Magno]] escreveu a ele sobre isso, elogiando o zelo para a luta contra a superstição, mas exigiu que os ícones fossem restaurados, uma vez que os fiéis eram pessoas comuns, em vez de livros, à congregação compreendia o verdadeiro caminho através dos ícones.<ref name= "Карташёв"/>
 
O crescimento da iconoclastia surgiu especialmente em áreas do império que faziam fronteira com os territórios dos árabes do [[Islã]] (que eram hostis a imagens). Nesses locais o [[sincretismo]] também originou diversas outras heresias cristãs, tais como o [[montanismo]] e [[marcionismo]]. Uma vez que os seguidores do [[Islã]] consideravam ícones ilegais, os imperadores bizantinos, buscando uma convivência pacífica com os muçulmanos, fizeram concessões iconoclastas. Assim, o imperador [[Filípico]] antes de sua expulsão em [[713]], aprovou uma lei contra a veneração dos ícones.<ref name= "Карташёв"/>
 
==Causas da iconoclastia==
Pesquisadores {{quem}} apontam as principais causas da iconoclastia em dois grupos:
* Associação com o [[judaísmo]] e o [[Islã]]: Através da iconoclastia os imperadores bizantinos desejam destruir um dos principais obstáculos para a aproximação cristã com os judeus e muçulmanos, que possuem uma atitude negativa para com os ícones, assim facilitando a subordinação dos povos do império que professavam essas religiões.<ref name="vasiliev1">Васильев А. А. Глава 5, раздел 4. Религиозные противоречия первого периода иконоборчества. История Византийской империи. 1. http://www.kulichki.com/~gumilev/VAA/vaa152.htm</ref>
* A luta contra a influencia da igreja: Até o [[século {{séc|VIII]]}}, a influência da Igreja no império cresceu substancialmente, havendo um aumento significativo na quantidade de propriedades da Igreja e dos mosteiros. Por esta razão, os imperadores iconoclastas desejavam desviar recursos humanos e dinheiro da igreja para o Estado. Uma vez que a influência econômica dos mosteiros provinha principalmente da confecção de imagens, foi proibida sua fabricação e veneração,<ref>''História Global Brasil e Geral''. Volume único. Gilberto Cotrim. ISBN 978-85-02-05256-7</ref> bem como muitas propriedades e mosteiros foram confiscados.<ref name="vasiliev1"/>
 
==Perseguição==
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[[Imagem:Persecution of monks from the Chronicle of John Skylitzes.jpg|thumb|350px|esquerda|Pintura do [[século XIII]]que mostra a execução de monges.<br><small>Crônica de [[João Escilitzes]], no manuscrito conhecido como "[[Escilitzes de Madrid]]".</small>]]
 
{{citação2|''Muitos chefes e soldados caluniaram o culto dos ícones, e comandaram várias execuções, e brutais torturas. Ele obrigou todos em seu reino a jurarem não cultuar ícones, e Constantino fez até o patriarca (...), subir ao púlpito, e (...) jurar que ele não acredita nos devotos dos santos ícones. Ele convenceu-o junto com outros monges, que [comemoravam] comendo carne e estando presente na mesa real com canções e danças.''|Narração de incidente iconoclasta segundo a tradição popular Cronograma de Feofana (766 anos)}}
 
O assédio dos iconoclastas em primeiro lugar, afetou o [[monaquismo]] bizantino: [[Constantino V]] publicamente tomou partido da iconoclastia, assim seus partidários maltrataram e perseguiram monges: "... muitos monges morreram golpeados por chicotes e até por espadas, incontáveis ficaram cegos, em alguns foi jogado cera e óleo na barba, e foi colocado fogo nela e, assim, foi queimado o rosto e cabeça. Depois de muitas torturas outros foram mandados para o exílio".<ref name= "Карташёв"/> Em uma das perseguições contra iconófilos, antes de sua execução, os monges foram forçados a comparar seus templos com o templo de [[Diocleciano]]. <ref name="ReferenceA">{{Citation|last =Карташёв А. В.|заглавие=Указ. соч|pages =601}}</ref> Em 25 de agosto de 766, vários iconófilos foram publicamente ridicularizados e 19 dignitários foram punidos. <ref>Хронография Феофана, год 6257 / 757 (766)</ref> Várias das vítimas da perseguição mais tarde foram canonizados (por exemplo, [[André de Creta]] e outros).
 
{{Referências|col=2}}
 
=={{ Ligações externas}} ==
{{wikcionário|iconoclastia}}
*[http://iconografiascristas.blogspot.com/ Iconografias Cristãs]